Café com Leite escrita por Ananda Ayira


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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Estou sonhando com você.

No meu sonho eu estou entrando num palco vazio, as cortinas abertas, ninguém na plateia, ninguém me olhando da coxia, sem tempo, sem música, conto o 5, o 6, o 7 e o 8. Meus pés estremecem, a meia-ponta vira ponta, o coupé vira passé, o passé vira arabesque. Meus passos, eu não os controlo. Meu corpo não responde mais à minha mente. Minha mente eu perdi, há poucos oitos atrás.

Uma pirueta, duas, três. Junto com o corpo vira minha cabeça, vira meu mundo. Meu coração, eu o sinto queimar por dentro. Esta chama me consome e me dá vida, e me movimenta no seu ritmo. Não preciso de música, só a batida do teu coração me basta. Estou saindo do controle. Posso dançar para sempre. Mas o sonho não vai durar tudo isso. Meu port de bras escreve teu nome no ar.

E por um momento eu paro. Eu vi você na plateia, no meio do corredor. Você estava aí o tempo todo? Como foi parar aí? Como eu não te vi? E se eu não tivesse parado, teria te visto? Eu estava dançando, e você me olhando. Se eu não estivesse dançando, você continuaria a me olhar?

Não vou arriscar, vou continuar dançando pra você me olhar.

Mas, de repente, o gesso da ponta não me sustenta mais. O linóleo do palco endurece minha queda. E nenhuma bailarina é permitida a chorar no palco. Uma mão no meu ombro, segura meu braço e me levanta. É você! Como chegou aqui? Não estava na plateia?

De frente pra você, eu olho nos seus olhos castanho-claros, eles me dão força pra tentar recomeçar. Me apoio em você e encontro forças para mais um arabesque. E sinto que você continua ali. E me sinto segura para me deixar cair no seu braço. E você me sustenta e segue meu ritmo. Me gira, me ergue no ar. Como você aprendeu a dançar, eu não sei. Mas sei que quero que esse pas de deux seja eterno. Você sempre foi mais tipo hip-hop e usava camiseta e tênis enquanto eu falava de sapatilhas e collants.

Seus braços na minha cintura, as minhas mão nas suas me sustentando em mim mesma. Mesmo sabendo que acordar algum momento, eu só quero dançar para sempre. Com você. Pode parecer loucura. Pode parecer um erro. Pode parecer fraqueza. Pode até parecer ridículo. Mas devia ser certo, é o que me mantém resistindo o dia, até poder te ver. Mas admito, sanidade, eu nunca tive e você só me fez piorar.

Um fouetté, dois, três. E eu paro de frente pra você. Você retribuindo meu olhar nós dois sabemos o que sentimos, sabemos o que vai acontecer, sabemos um do outro, sabemos tudo. Meu rosto perto do seu. Seu rosto perto do meu. Você ainda está me segurando? Porque sinto que posso voar.

Sem descer das pontas. Enrolo meus braços no seu pescoço, quero ficar mais perto. Você cerrou seus olhos, então eu também cerro os meus. Eu contei o 5, o 6, o 7 e o 8. E sem dizermos nada, na mesma contagem, eu e você. Só eu e você. E eu sinto o teu gosto, você tem gosto de café com leite. Espero que você ainda esteja me segurando por que posso cair e me desmanchar no seu abraço a qualquer momento.

E se eu pudesse ficaria ali nos teus lábios, nos teus braços, no teu corpo, na nossa dança, no nosso silêncio, no nosso ritmo, na nossa contagem, nos nossos passos, no palco vazio, sem ninguém ver o mais belo espetáculo que eu já dancei. Eu dancei com você.

E eu poderia ter dançado para sempre, se meu despertador não tivesse tocado...


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado. Deixem comentários pra saber se gostaram ou não. ^^Um grande beijo.



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