Almas Perdidas escrita por S Laufeyson


Capítulo 6
5. O Não Tão Querido Professor


Notas iniciais do capítulo

Olá gente! Tudo bem com vocês?? Então, depois de um bloqueio terrível, eis que eu volto com mais um capítulo para vocês. Espero que gostem e que me perdoem pela demora, mas é que percebi que não tenho mais conseguido escrever o Loki. Isso tem me matado e assim não tenho vontade alguma de escrever, mas ontem o nosso trapaceiro me visitou e me fez sentar a bunda na cadeira. Não sei se ficou bom, meus amores, mas fiz o melhor que consegui. Espero que gostem e até o próximo (que espero que seja o mais breve possível)...



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O soldado espiou pela porta, antes que informasse que o caminho estava livre e que ela poderia seguir tranquilamente. Antes que Sigyn pudesse passar, Tyr a puxou para perto outra vez e a beijou de maneira delicada. Uma despedida a altura do romantismo. Ela ajeitou a bandeja e seguiu na direção das escadas que a levaria até as masmorras.

Cumprimentou o companheiro do rapaz, que ainda mantinha guarda na entrada do lugar e esse lhe abriu a porta. Desceu as escadas, degrau por degrau, sem a menor pressa. Sabia que no momento em que entrasse naquela cela, teria que passar o dia inteiro com Loki. De repente percebeu que aquela era uma péssima ideia. Pensou em retornar e pedir para que Tyr ou o seu colega levasse o café da manhã para o príncipe, mas lembrou-se da promessa que fez a rainha. Infelizmente, devido a sua condição como deusa da fidelidade, ela não poderia voltar atrás em sua palavra.

Parou antes de chegar e respirou fundo.

— Eu sei que está aí — ouviu o deus comentar e engoliu secamente antes de retomar seu caminho. O olhou de soslaio, percebendo que estava sentado na poltrona, e subiu os primeiros degraus. Passou pela parede de energia e abaixou a cabeça em uma rápida reverência.

— Bom dia, alteza — falou enquanto colocava a bandeja, com o café da manhã, em cima da mesa. Percebeu os livros que Frigga lhe ensinava, empilhados em uma das pontas, e encarou o chão.

Loki levantou-se e parou bem de frente para ela. Sigyn apenas observava os pés do deus que se demorou muito em sua frente, sem dizer nenhuma palavra sequer. Passados alguns minutos constrangedores, ela finalmente resolveu erguer as vistas e ver o que o príncipe fazia. Quando seus olhos cinzas encontraram os verdes do deus, ele sorriu. O mesmo sorriso que estava pintado no quadro do salão. Sigyn sentiu-se exposta outra vez.

— Bom dia — respondeu finalmente. A mulher teve a certeza que aquilo não daria certo. Estava pronta para dar meia volta e sair correndo dali. Queria apenas deixar aquelas masmorras e espairecer. Quem sabe não voltaria mais tarde, depois do almoço? Porém essa não era a intenção de Loki, já que a segurou pelo punho quando ela tomou a iniciativa de sair. Não de maneira rude, mas gentil até.

— Não vai ficar para a aula? — perguntou. — Frigga já deixou todos os livros aqui comigo.

— Porque aceitou isso? — virou-se enquanto puxava a mão e abraçava o próprio corpo. Numa tentativa boba de autoproteção, como se fosse adiantar muita coisa. — Poderia ter simplesmente se negado a fazê-lo, mas no entanto aqui estamos nós. Porque?

— Foi um pedido de minha mãe. Não tive como negá-lo, mesmo que eu tenha que passar o dia ao seu lado — respondeu dando as costas para a deusa e pegando algumas uvas que estavam na bandeja e levando até a boca. Virou-se novamente enquanto mastigava.

— Isso foi rude, alteza — comentou enraivecida, prendendo um grito ou uma ofensa que, infelizmente, teve que guardar para si. Ele era o príncipe ali e ela nada mais era do que uma serva, uma dama da rainha.

— Não me agrada nada ter que te ensinar algo, mas se é assim que tem que ser, assim será.

— Apenas diga que me libera das aulas e eu saio daqui e nunca mais volto.

— Não estou lhe prendendo. Há poucos instantes estava disposta a ir — colocou as mãos para trás e ergueu o corpo em uma postura que expressava superioridade. — O que a impede agora?

— Lembraste-me o motivo de estar aqui e pela minha natureza sou obrigada a ficar, a não ser que me libere de tal compromisso — respondeu e o trapaceiro deixou um sorriso largo surgir em seus lábios.

— Qual é a sua natureza, Sigyn? — perguntou, dando ênfase em seu nome. Ao contrário de Tyr, que a fez rir descontraída, ser chamada pelo deus da trapaça e da mentira lhe dava arrepios. Ele sentou-se novamente na poltrona.

— Fidelidade — respondeu contra sua vontade. Odiava aquela ideia de que ali tinha que prestar respeito. Ele não era nada mais que um prisioneiro, que carregava um título de nobreza e que não o impediu de ir parar naquele lugar. Porque ainda lhe tratavam como realeza?

— Então tudo aquilo em que dá sua palavra, precisa ser cumprido — Loki concluiu, entendendo por fim o motivo dela ainda voltar sempre. Frigga a incumbiu de levar as refeições dele e ela prontamente aceitou. Estava fadada a voltar, mesmo contra sua vontade. A menos que a mãe a liberasse do compromisso. — Sendo assim, não a libero das aulas.

— O que? Porque? Acabou de dizer que não lhe agrada ser meu professor. Livre-se logo disso, visto que a sua natureza não lhe obriga a ser fiel à sua palavra.

— O que pensa que sabes sobre mim? — Loki levantou-se da poltrona e se adiantou para perto da mulher, que deu alguns passos atrás antes que o deus parasse bem próximo dela. Olhando-a nos olhos. — Ninguém nunca lhe ensinou a não tirar conclusões precipitadas sobre os outros?

— E ninguém nunca lhe ensinou a não ser rude e tratar as pessoas mal, só porque nasceu em uma família privilegiada? — rebateu. Arrependeu-se no instante seguinte. Não deveria responder, mas ele a tirava do sério. Esperou que o deus chamasse pelos guardas e a mandasse castigar por tratá-lo daquela forma, mas tudo o que ele fez foi rir e encará-la sem nem sequer piscar.

— Eu gostei de você — respondeu por fim e se afastou, aproximou-se da mesa onde estava os livros e pegou um deles. Também buscou uma das maças de Iduna, que estava na bandeja, e mordeu. — Então, até onde Frigga lhe ensinou?

Sigyn não sabia o que fazer. Loki tinha uma forma deturpada de lidar com a situação. Encerrou o assunto de uma forma tão repentina que ela simplesmente paralisou e, mesmo que o tenha desrespeitado, ainda estava disposto a levar aquela loucura de dar aulas adiante. Sentiu seu estomago embrulhar e achou que vomitaria a qualquer momento.

— Me ensinou as letras de “a” até o “j” — respondeu por fim enquanto ainda tremia.

— Isso vai demorar — respondeu o deus e lhe apontou a segunda cadeira ali. Sigyn soltou o ar dos pulmões e caminhou até ela, sentando-se em seguida. Tomou cuidado para que não ficasse muito longe da parede de energia. Qualquer coisa, bastava correr e ele não conseguiria ir atrás dela. Loki lhe entregou papel e caneta, desenhou o restante das letras no caderno e mandou que ela as copiasse. Ensinaria quais eram quando ela já soubesse escrevê-las.

Sigyn não teve outra alternativa a não ser fazer conforme o deus mandou. Endireitou-se na cadeira e apoiou seus braços na mesa. Enquanto rabiscava e tentava imitar o que o deus fizera, percebeu que ele pegou um dos livros que a rainha havia enviado e começou a ler em voz alta, enquanto seguia de um lado a outro do quarto.

Automaticamente Sigyn lembrou-se de seu sonho, dias atrás, quando viu o príncipe lendo para ela enquanto estavam sentados em um campo. Era o mesmo livro e a mesma passagem, até mesmo usava o vestido azul elegante que viu antes de sua avó ser morta. O que divergia era, simplesmente, o lugar e a felicidade, que ela não estava nem perto de ter.

...

Os dias que se seguiram foram os mais estranhos possíveis. Loki realmente se empenhou em ajudar a garota a ler e escrever e, ao findar a semana, ela já sabia bastante coisa. Sigyn chegava cedo, antes das oito da manhã, e saia apenas para pegar o almoço do príncipe e retornava. Levava também o seu, uma exigência do trapaceiro para que ela não demorasse. Os dois almoçavam juntos, todos os dias, e por mais que as coisas tenham sido complicadas no início, já não era mais um martírio. Para nenhum dos dois. Acabaram por se entender.

Os encontros com Tyr se tornaram frequentes. Todas as noites no banco onde ela estava sentada, no dia em que recebeu a rosa. O soldado pediu a discrição dos amigos e por isso nenhum outro boato sobre a dama se ouviu no castelo. Cada dia os dois seguiam se conhecendo cada vez mais e quanto mais se viam, mais apaixonados ficavam um pelo outro. Ao final da semana, Sigyn sabia que Tyr era o homem ideal para ela e que queria passar a eternidade ao seu lado.

Depois de um encontro, enquanto levava a bandeja de seu almoço e de Loki para a cozinha, a deusa retornou para a cela de seu professor honorário. Sentou-se na poltrona, com um livro nas mãos e começou a tentar juntar as silabas em busca das palavras.

Ho-rá-cio diz que tu-do é fan-ta-si-a nos-sa — lia em voz alta, fazendo as pausas entre uma silaba e outra. Loki bocejou pela centésima vez, mas se mantinha sentado em frente a garota, observando-a esforçar-se para ler. Já era bastante o que fizera por ela, mas ainda assim queria vê-la fazer aquilo perfeitamente. Era como um retorno particular. Vê-la lendo alimentava seu ego, mas a demora da garota o fazia perder a paciência. Talvez tenha sido por isso que ele se levantou da cadeira rapidamente e lhe estendeu a mão.

— Acho que já chega por hoje — Pedia o livro com o título de “Hamlet” que sua mãe havia trazido para ele, de Midgard. A garota assentiu e lhe entregou o livro, mas fez uma careta confusa.

— Nem bem iniciamos a tarde — ela questionou e o homem voltou para perto dela, depois de guardar o livro junto com os outros.

— Engraçado é que estive lhe analisando durante toda essa semana, Sigyn, e acabei percebendo algo que me chamou bastante atenção — A deusa corou violentamente. Ela não estava habituada a ouvi-lo falar daquela maneira.

— O que? — gaguejou.

— Você tem bastante energia e aposto que passa horas pensando no dia, deitada em sua cama, antes de dormir. Esperando que o sono chegue milagrosamente até você — A jovem respirou fundo e apenas limitou-se a não negar e nem confirmar. — Dessa forma, temos que arranjar uma outra forma de extravasar toda essa energia — Loki encostou-se na mesa e sorriu. As suas palavras saíram exatamente como ele queria. Com infinitas possibilidades de entendimento.

Sigyn levantou-se da cadeira e novamente fez o movimento de autoproteção, abraçando o corpo com os próprios braços, enquanto dava volta na cadeira e se aproximava mais da barreira de energia. Havia dias que o príncipe não a deixava tão desconfortável como naquele momento.

— Já ouviu falar em usar a energia para praticar a magia? — Loki concluiu, prendendo um riso ao vê-la relaxar a postura.

— Não.

— Quero testar uma coisa com você — ele, por fim, concluiu. Fez um aceno, mostrando a Sigyn onde deveria estar, e parou ao lado da mesa. Um dos livros grossos, que Frigga havia lhe enviado, estava diretamente em cima da pilha. No instante seguinte, ele apareceu no centro da mesa, bem em frente a deusa menor. — Quero que faça a mesma coisa que fiz e mande o livro de volta para a pilha.

— Como?

— Apenas imagine que você o está segurando e o coloque de volta onde estava — explicou da maneira mais fácil para que ela entendesse. — Concentre-se no livro e no que você quer. É fácil.

— Deve ser para você — respondeu, mas rapidamente se corrigiu. — Para vossa alteza.

— Tente, antes de reclamar que não consegue — ele sussurrou ao ouvido da garota que sentiu os pelos do corpo arrepiarem com a aproximação. Ela o acompanhou de soslaio, enquanto ele dava a volta ao seu redor e parava de seu lado direito. Concentrou-se no livro e ali permaneceu: parada, encarando a grande capa de couro marrom, até que ele se ergueu alguns centímetros e caiu de volta na mesa. A deusa arfou quando ouviu o estrondo. Usar a magia cansava bastante. Imaginou se era assim com Loki também, mesmo sabendo que ele era o melhor feiticeiro que já existiu em toda a Asgard. Superando até mesmo a sua própria mãe. — De novo. Erga-o e domine-o, antes de qualquer coisa.

A deusa novamente concentrou-se, imaginando que haviam braços invisíveis segurando o objeto. Assim, conseguiu leva-lo até a pilha, mas estava exausta quando ele finalmente encostou nos outros livros. Ela desequilibrou-se, mas antes que chegasse ao chão, o deus a segurou pela cintura e impediu que caísse.

Os olhos cinzas se demoraram nele, extasiada, por ter sido pega. Não achou que o príncipe se disporia a cuidar de uma dama. Achou mesmo que permitiria que ela se esborrachasse no chão, mas não foi isso que aconteceu. Os olhos verdes corriam pelo rosto dela, analisando a palidez repentina. Loki lembrava-se de suas primeiras aulas e de como ficava péssimo depois delas. Diria depois que melhoraria como o tempo. Não sentiria mais nada conforme fosse treinando e tornando-se mais forte.

A colocou de volta ao chão e afastou-se quando viu que ela já poderia se virar sozinha. Sigyn ajeitou o vestido no corpo e, mesmo que ainda sentisse uma leve tontura, afirmou que estava bem. No exato momento, a figura de Frigga apareceu na cela. A imagem enviada através das chamas. A rainha havia retornado e queria saber, exatamente, o que ocorreu durante sua ausência. Não podia ter ficado mais feliz, com a cena que encontrou.


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Notas finais do capítulo

Beijoooos!!!