“Aprendi que não posso exigir o amor de ninguém... Posso apenas dar boas razões para que gostem de mim... E ter paciência para que a vida faça o resto...”

(William Shakespeare)

Não sabia mais o que fazer para consertar seus erros. Teve a mulher dos sonhos de qualquer homem ao seu lado, amando-o como se fosse o ser mais precioso da face da terra e não soube valorizá-la da forma merecida. Pelo contrário. Só a fazia sofrer com seu medo e receio de amar novamente. Mesmo com todo o cuidado em não deixá-la penetrar em sua vida, Bonnie Bennett acabou conquistando seu coração, fazendo moradia fixa nele. Mas infelizmente, só depois de perdê-la, conseguiu enxergar que sem ela, sua vida não teria mais sentido.

Agora restava correr contra o tempo e fazer a coisa certa.

Estava exausto, faminto e arrependido. As últimas três noites foram as piores de toda a sua existência. Desde que Kai colocou Elena em um sono profundo, há quatro anos, pensou que não existia dor pior que aquela sofrida com a “morte” dela, mas enganou-se. Perder a bruxinha estava doendo, machucando, oprimindo todas as células de seu coração e principalmente de sua alma.

Alma esta que nem sequer sabia existir, porém, Bonnie sempre esteve lá, ao seu lado, lembrando-o, que ele possuía, sim, uma.

Sua melhor amiga, que não pensava duas vezes antes de enfrentá-lo, que não temia sua ira e muito menos suas crises existenciais. Aquela que jamais tentou mudá-lo ou moldá-lo ao seu bel-prazer. Ela tonou-se sua âncora, a bússola que o guia, impedindo-o de se afundar ainda mais na escuridão na qual esteve a ponto de imergir de forma irreversível.

Tê-la ao seu lado era tão fácil.

Não tê-la ao alcance dos seus olhos fazia uma inquietude pulsante brotar em seu interior, pois, apesar de forte, Bonnie, ainda era apenas uma menina-mulher, que esperava o melhor de todos – inclusive dele – e isso sempre foi perigoso. A bruxinha era altruísta demais. Não pensava duas vezes antes de ajudar o próximo. Ela era aquela que deu a vida inúmeras vezes por aqueles que ama. Era seu dever cuidar daquela criatura teimosa e irritante.

Você é a luz, você é a noite

Você é a cor do meu sangue

Você é cura, você é a dor

Você é a única coisa que quero tocar

Eu nunca soube que poderia significar tanto, tanto

A amizade dos dois foi evoluindo pouco a pouco, as brigas com o passar do tempo acabavam em beijos. No começo disseram que foi apenas um momento de carência, mas a medida que os dias iam passando e os beijos se tornando cada vez mais frequentes e normais, deixaram-se levar. Sem cobranças de ambas as partes. Nada mudou entre os dois, apenas se tornaram mais... íntimos e cúmplices do que nunca.

Sua Little Witch, sem a menor sombra de dúvidas, era a mulher mais maravilhosa do mundo. Dona de um coração enorme e bondoso. Tão linda por dentro quanto por fora. Merecia somente o melhor. Por que teve que ser tão idiota? Por que não percebeu que Bonnie era sua nova chance de viver, que sem ela nada faria sentido? Quantas vezes ela já dissera que o amava, que ele a fazia a mulher mais feliz do mundo apenas por existir? E ele apenas sorria e a abraçava, incapaz de dizer o mesmo. Pois tinha medo. Medo de amar e sofrer mais uma perda.

Você é o medo, eu não ligo

Porque nunca estive tão fora de mim

Me siga até a escuridão

Deixe-me te levar além dos nossos satélites

Você pode ver o mundo que trouxe à vida, à vida

Como foi burro, cego e estúpido! A deixou sair de sua vida. E Bonnie tinha todo o direito de fazer isso, afinal, foram dois anos tentando ter seu amor correspondido. E o que ganhava em troca? Apenas algumas migalhas de atenção e carinho. Se pudesse voltar no tempo... Teria sido sincero e dito seus sentimentos, mostrado o quanto ela já havia penetrado em seu coração.

Ainda se lembrava do olhar cheio de mágoa e dor que ela lhe lançou naquela tarde. Mas não a culpava, no seu lugar teria feito exatamente a mesma coisa.

Flashback on:

— Você sabia onde estava se metendo desde o começo. Então não venha com essa história novamente. - Bagunçou os cabelos negros, enquanto tentava controlar a raiva de si mesmo. Por que Bonnie simplesmente não ia embora e o deixava sozinho? Pelo menos isso o impediria de falar alguma besteira.

— Você não entende! Eu já estou cansada disso! - Bonnie apertava as mãos em punhos, olhando-o com determinação. — Será que não percebe que esse seu comportamento está acabando com a gente? Droga, Damon! O que você sente por mim? Eu vou entender. Eu só quero ouvir isso da sua boca.- Percebia o quanto ela estava insegura e nervosa.

— Você é a minha melhor amiga. Nós temos algo... confortável. - Aquilo soava tão estranho. A respiração de Bonnie estava ainda mais forte, assim como as batidas de seu coração. Damon estava confuso e frustrado. — O que você quer de mim, Bonnie?

— Algo que você não pode me dar. - Ela mordeu o lábio inferior e desviou o olhar. Ele conhecia bem aquela mania. Bonnie sempre fazia aquilo quando queria se impedir de chorar. E aquilo apertava seu peito. Ser o causador do mal-estar da bruxinha não era algo agradável. — Você sempre vai amar a Elena, não é mesmo?

— Sim. - Respondeu sem pensar, mas algo gritava que ainda se arrependeria dessa afirmativa. Estava acostumado a afirmar seus sentimentos por Elena. Observou Bonnie balançar a cabeça e respirar fundo.

— Eu quero mais que isso, Damon. Estou cansada de ser apenas um estepe, enquanto ela não pode acordar. - Por que não conseguia dizer que ela não era nada disso? Uma queimação em sua garganta - que nada tinha a ver com a falta de sangue – se fazia presente, quase o impedindo de respirar. — Não consigo mais. Mereço mais que apenas migalhas. Eu te amo! Droga! Eu te amo mais do que deveria. E isso está acabando comigo. - E ela merecia somente o melhor. Ele sabia disso melhor que ninguém. Então por que era tão difícil deixá-la ir embora de sua vida? Simples, ele era um maldito egoísta.

— Você prometeu que sempre estaria ao meu lado! - Ralhou entredentes, incapaz de expressar a avalanche de emoções que conflitava em seu interior.

— A Bonnie amiga sempre estará aqui, quando você precisar. Porque os verdadeiros amigos sempre estarão lá para segurar sua mão. - A voz dela estava quebrada. E ele também estava rachando pouco a pouco. — Porém, a parte que te ama mais que um amigo, precisa se distanciar. Ela precisa de um tempo. Precisa pensar nela mesma. - Bonnie se aproximou, tocando seu rosto com carinho. Os olhos verdes cheios de lágrimas e sem o brilho que sempre o encantou. — Desejo do fundo do meu coração, que seja feliz ao lado dela quando chegar a hora. Com certeza não estarei mais aqui, no entanto, saiba que desejo que o amor dos dois finalmente seja capaz de se concretizar. E fique tranquilo que não o culpo por não corresponder meus sentimentos da forma que quero. Não mandamos em nossos corações. - Ela beijou seu rosto. — Seja feliz, Damon.

E ela se foi. Ele a deixou ir.

E algo em seu interior fragmentou-se. As paredes em volta de seu coração caindo dolorosamente, como se um pedaço seu estivesse sendo arrancado. Aquilo era mais doloroso que um banho de sol, ou de quando deu adeus a Elena.

O monstro dentro de si, rugia para ir atrás e fazê-la pagar por aquele ferimento. Mas Damon não podia, não devia, não faria isso.

Talvez cortar os laços com Bonnie fosse o melhor. Aquela história já tinha ido longe demais.

Flashback Off.

Três dias.

Haviam se passado somente três malditos dias e já estava mais que desesperado. Até parecia que a bruxinha havia o colocado sob um feitiço.

Bonnie infiltrou-se em sua vida, tornando-o um viciado de sua presença, cheiro, essência e mania. E deveria odiá-la por tê-lo transformado em um idiota. Parecia até o babaca do irmão agindo dessa forma.

Ele não deveria se importar tanto assim. Todavia, Damon se importava e a queria novamente ao seu lado. Porque querendo ou não, a Bruxa Má do Oeste, acabou conseguindo o que queria.

Aparecendo, desaparecendo

À beira do paraíso

Cada pedaço da sua pele é um santo graal que tenho que encontrar

Só você pode acender meu coração

Sim, vou te deixar determinar o ritmo

Porque não estou pensando direito

Minha cabeça está girando, não consigo mais ver com clareza

O que está esperando?




[…]

Ela era burra, idiota, estúpida e todos os demais sinônimos dessas palavras. Sempre metendo os pés pelas mãos. Não que ela se arrependesse de ter ficado ao lado de Damon, isso jamais, pois ele necessitava dela, tanto, quanto ela dele.

Incrível como o mundo dá voltas. Um dia odiava aquele maldito vampiro por ser tão cruel, frio, orgulhoso e um assassino, e vários meses depois, encontrava-se completa e perdidamente apaixonada por ele.

Não. Amor. O amor mais puro e profundo que poderia existir. Um amor de amigo, que acabou evoluindo para algo intenso e verdadeiro. Foi tão fácil amá-lo, tão simples quanto respirar. Seria capaz de dar sua vida pela dele. Se isso não fosse amor, não saberia como nomear um sentimento tão puro, que já fazia parte de seu ser. Mas ele não a amava. Nunca corresponderia seus sentimentos, pois seu coração sempre pertenceria a Elena. E Damon não se importaria em esperar algumas décadas para tê-la ao seu lado novamente.

O dia que eu te conheci

Você me disse que nunca iria se apaixonar

Agora que eu te entendo

Eu sei que era medo na verdade

Agora estamos aqui, tão perto

Contudo tão longe, não passei no teste?

Quando você perceberá

Amor, eu não sou como o resto

E Bonnie não podia evitar que seu coração quebrasse em pequeníssimos cacos. Ficar longe dele doía tanto, era como se uma mão invisível apertasse seu peito.

Não podia quebrar!

Ela já não era aquela garotinha fraca, que corria para o colo da vovó quando se machucava. Agora, Bonnie só tinha a si própria para curar suas feridas.

— Eu sou uma completa idiota, Mr. Cuddles. - Abraçou o urso com força.

Todas as lembranças que compartilhou ao lado de Damon fervilhavam em sua mente: os meses que passaram sozinhos no Outro Lado, as brincadeiras, implicâncias, brigas, conversas, o dia em que ele abriu mão do amor de Elena, para que ela vivesse, os meses seguintes em que fez de tudo para que ele não se perdesse na dor e escuridão, o primeiro beijo, a primeira vez que fizeram amor, todas as vezes em que estiveram juntos...

Por que o amor era tão complicado? Por que amar machucava tanto? Lembrou-se de uma frase de Shakespeare: “Tarde demais o conheci, por fim; cedo demais, sem conhecê-lo, amei-o.”

Não quero quebrar seu coração

Quero dar um tempo ao seu coração

Eu sei que você está com medo, que é errado

Como se você fosse cometer um erro

Há apenas uma vida para viver

E não há tempo a perder, perder

Então, me deixe dar um tempo ao seu coração

Dar um tempo ao seu coração

Deixe-me dar um tempo ao seu coração, um tempo ao seu coração

Suspirou pela enésima vez.

Sentiu um vento frio tocar sua pele. Nem precisava abrir os olhos para saber quem era, a corrente elétrica estava lá. Somente ele tinha esse poder absurdo sobre ela.

— Não sabe bater na porta como alguém normal? - Indagou indiferente, como se a presença dele não a afetasse.

— Precisamos conversar, Bonnie. - Abriu os olhos ao detectar a seriedade na voz dele. Sentou-se na cama, com Mr. Cuddles em seus braços. Damon parecia cansado, havia olheiras profundas em seu belo rosto. Mesmo assim ele continuava lindo. — Você vai me escutar em silêncio e só após eu ter dito tudo, poderá falar o que quiser. - Ela somente arqueou a sobrancelha sem entender, mas deu de ombros. Ele parecia demasiadamente perturbado e conhecendo-o como conhecia, sabia que precisava desabafar. Só rezava que não fosse algo que a quebrasse mais ainda. — Eu sou um completo idiota. - Ele se senta a sua frente, olhando-a intensamente. — Você sabe que não sou bom com palavras. Então escuta, porque direi só uma vez.

Bonnie apertou Mr. Cuddles em seus braços, como se o pequeno ursinho fosse capaz de protegê-la de qualquer mal.

“Quando Elena se “foi”, prometi a mim mesmo que a esperaria, não importasse o tempo de passasse. Esperei mais de um século. O que seriam décadas comparadas a isso? No começo achei que enlouqueceria, mas você sempre está lá, mesmo quando eu ajo como um completo idiota.” Os dois sorriem. “Você se tornou minha melhor amiga, alguém que jurei proteger até de mim mesmo. Pouco a pouco foi conquistando um espaço em meu coração, bruxinha.” Ela tinha os olhos cheios de lágrimas. Seu coração batendo forte. “Você é de longe a melhor pessoa que já entrou em minha vida. E já não consigo me imaginar sem você. No entanto, o tempo está passando mais rápido do que deveria.” Ela entendia perfeitamente o que Damon queria dizer. Falar sobre o tempo era um tabu para os dois. “Sei que não sou o príncipe encantado, montado no cavalo branco, até porque isso é bem... estilo aquele livro de vampiros que brilham no sol, que as garotas tanto gostam. Aliás, não sei de onde tiraram essa coisa tão... - Bonnie deu um tapa no braço de Damon, fazendo-o revirar os olhos. “Certo... então, o que me diz?”

— Primeiramente, Crepúsculo não é uma história idiota. - Mordeu o lábio inferior e franziu o cenho. — E só para constar, prefiro você com todos os seus defeitos e manias que na maioria das vezes me fazem querer matá-lo. Mas aí eu lembro que tudo seria ainda mais chato e sem sentido se não o tivesse na minha vida. - Entrelaçou seus dedos aos dele. — E você ainda não disse as palavrinhas mágicas.

Ela não facilitaria as coisas. Não mesmo. Já que ele estava na chuva, não literalmente, deveria se molhar e dizer o que verdadeiramente sentia por ela, pois agora, sabia que não era apenas carência ou carinho, havia sentimentos fortes dentro daquele vampiro intempestivo e possessivo.

— Você deveria apenas dizer: “Eu aceito, Damon. Vou fazer tudo o que você quiser e não questionarei nenhuma das suas ordens.”. - Bonnie apenas revirou os olhos e apertou mais Mr. Cuddles contra o peito. Damon bagunçou os cabelos e olhou com desgosto para o pequeno urso. — Não sei que tipo de magia fez Pequena Bruxinha do Oeste, porém, eu... estou apaixonado por você.

— Oh... você está corando? - Sussurrou surpresa. Quando na vida ela imaginaria que um dia veria Damon Salvatore corar? — Que lindo!!! - Apertou a bochecha dele, ganhando um olhar atravessado em troca. — E só para deixar bem claro... eu também SOU apaixonada por você. Mesmo que não seja tão perfeito quanto Carlisle. - Deixou Mr. Cuddles de lado e jogou-se nos braços de Damon, beijando-o com paixão.

Quando os seus lábios estão nos meus lábios

Então, nossos corações batem como um só

Como amava aquele vampiro turrão!

— E eu posso saber quem é esse tal de Carlisle? - Ele interrompeu o beijo e Bonnie somente riu ao detectar o tom de ciúme na voz do moreno. — O que tem de engraçado, Bonnie Bennett?

— Digamos que Carlisle é o médico dos sonhos de todas mulheres. - Beijou os lábios de Damon, que já estava mais que irritado. — Certo... Certo... Digamos que ele é um dos "vampiros que brilha". Satisfeito?

Damon não respondeu, apenas a deitou na cama e colocou-se sobre a morena, colando seu corpo ao dela, beijando-a intensamente, entrelaçando suas línguas, retirando suas roupas, como se quisesse demarcar seu território.

Oh, sim! Como o amava!!! E sabia que seria assim até o fim de sua vida. Viveria um dia de cada vez, sem se importar com o que o futuro reservava para os dois. Apenas o presente ao lado de Damon era o que verdadeiramente importava. E teria paciência. Sabia que logo, logo, quando menos esperasse, Damon Salvatore diria as três palavrinhas mágicas, porque ele era seu Damon e o conhecia melhor que qualquer pessoa.



Há apenas uma vida para viver

E não há tempo a perder, perder

Então me deixe dar um tempo ao seu coração

Porque você foi ferido antes

Eu posso ver isso nos seus olhos

Você tenta afugentar isso com um sorriso

Algumas coisas não se disfarçam

Não quero quebrar seu coração

Talvez eu consiga aliviar a dor, a dor

Então, me deixe dar um tempo ao seu coração

Dar um tempo ao seu coração

Me deixe dar um tempo ao seu coração, um tempo ao seu coração

Você não vai aguentar tudo sozinho

Dar um tempo ao seu coração