Estou sozinha em uma casinha num bairro calado, tento me esconder, mas onde vou sombras me perseguem, estão por toda parte, e então eu vejo como em todas as vezes, os olhos gélidos de serpente vindo em minha direção, e acordo com um grito rouco de medo saindo de minha boca.

— Filha, está tudo bem?

— Sim mamãe.

Minha mãe Sandra Sanchez, uma mulher linda, olhos castanhos e cabelos loiros, não sei porque desperdiça a vida sendo advogada, seria uma ótima modelo. Me orgulho dela e a amo mesmo sabendo que não sou sua filha de verdade.

— Foi mais um pesadelo querida?

— Foi o mesmo de sempre.

— A serpente?

— Não mamãe, os olhos de serpente.

— Ah minha pequena, eles vão acabar um dia.

— Não sei mamãe, antes era somente as vezes e agora todos os dias, e já faz um mês.

— É só até você descobrir o que quer dizer querida.

— Eu sei. Ah meu Deus, eu não acordei a Ari não é?

Ariana Sanchez, minha irmã caçula de 6 anos, olhos azuis e cabelos loiros, filha biológica de Sandra.

— Não, ela tem dormido feito pedra desde que se acostumou com seus pesadelos.

— Hum...

— Consegue voltar a dormir?

— Sempre consegui não é?

Sorrio e mamãe me dá um beijo na testa saindo e me deixando sozinha em meu quarto. Ele parece tão grande e vazio agora a noite, me encosto novamente no travesseiro e fico pensando.

Desde que me entendo por gente que tenho esses pesadelos, era assustador quando mais nova, mas a medida que cresci acabei me acostumando, mas ainda tenho arrepios ao lembrar daqueles olhos.

Ele vem ficando frequente, antes era uma vez a cada 3 meses, depois, uma vez a cada mês, uma vez na semana e agora todos os dias, papai diz que deve ter algo a ver com meus pais biológicos, a não ser que eles sejam duas serpentes ou tenham morrido por causa de uma tenho certeza que não.

Acabo pegando no sono e sonho algo novo, um homem de cabelos longos negros e olhos escuros, deles uma lágrima caia. Não pode ser meu pai, ele tem olhos claros e cabelos curtos. O homem parecia triste, mas quando seus olhos encontram os meus ele sorri e diz algo, não consigo escuta-lo e logo sou acordada.

— Vamos maninha, as férias já começaram, vamos levantar.

— Ari, me deixa dormir.

— Kay, levanta!

Ela cai da minha cama ao tentar puxar a coberta e eu levanto com preguiça.

— Tá bom Ari, mas sabe as férias começaram a umas semanas.

— Eu sei mas hoje vamos passear.

— Verdade, o parque, vou me arrumar.

Tomei um banho e me troquei demorei um pouco para decidir se prenderia os cabelos ou não, por fim optei por deixa-los soltos e desci as escadas.

— Bom dia Kay.

— Bom dia papai.

Meu pai, um homem alto e forte cabelos escuros e olhos azuis, um homem elegante, o grande advogado Robert Sanchez, é ele já tem mais o perfil de sua profissão.

Pela bela combinação dos dois, ninguém nunca suspeitou que fui adotada ainda mais com a Ariana sendo tão parecida comigo. Eles sempre me deixaram saber disso e deixam claro que me amam mesmo assim.

— E o pesadelo voltou?

— Não papai, desta vez sonhei com um homem triste, ele falava comigo mas eu não o escutava.

— Hum – ele diz enciumado – Com 10 anos e já sonha com homens tristes?

— Rob! Foi só um sonho!

— Tá bom querida.

Mamãe sempre bota ordem na casa, é engraçado, principalmente porque Rob sempre diz que manda aqui, só se for pra mandar Sandra dizer o que quer que ele faça para o jantar.

— Hum... – sinto um cheiro maravilhoso vindo em minha direção – Cheirinho de bacon.

— Ovos com bacon para o café da manhã.

— Que delicia, mas ainda prefiro torradas com a geleia de laranja que só a senhora sabe fazer mamãe.

— Amanhã eu faço querida.

Eram 10 horas da manhã quando saímos de casa. Passamos um dia bem divertido no parque e voltamos quando já estava anoitecendo.

— Kaya, veja as cartas para a mamãe enquanto dou banho na Ariana.

— Sim mamãe.

— Abra o que for para mim, e o que for para seu pai deixe-o abrir.

— Tá bom mãe.

Peguei um bolinho de cartas, tinha para o papai, para mamãe, papai, papai, papai e mais uma para mamãe.

Entreguei as cartas do meu pai para ele e fui ver as cartas da mamãe.

— Mamãe, carta da tia Caroline.

— Deixe aí que eu já vejo.

E tinha uma carta meio estranha, feita de papel antigo, muito antigo mesmo, não tinha remetente, só tinha meu endereço e o nome da minha mãe, abri e li seu conteúdo sem entender muito bem.

Londres, 10 de julho de 1992

Sandra e Robert,

Esse ano Kaya irá para uma escola de minha confiança, não são todas as crianças que são escolhidas para estudar lá, vocês bem sabem que acompanho a vida dela desde que lhe entreguei a vocês, sei que lá ela estará em total segurança.

Agradeço por cuidarem dela e peço que lhe permitam acesso a tal escola.

Para compra dos materiais irão até um bar no beco de um bairro calmo, passarei o endereço depois, apresentem a carta que ela receberá ao dono do bar e ele saberá guia-los.

Agradeço novamente

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Entreguei a carta a mamãe assim que ela chegou a cozinha.

— Rob!

— Diga querida.

— Leia isto.

Papai leu tão apreensivo que cheguei a ficar com medo.

— Bem, parece que você não vai mais a escola do fim da rua. Amor o que quer para o jantar? Pensei em comida italiana.

— Pode ser querido.

Durante o jantar não comentamos sobre a carta e somente Ariana falou. Quando estávamos terminando ouvi um barulho e olhei para a porta, uma carta havia sido passada por baixo dela, pedi licença e fui pega-la, era uma carta para mim.

Eu iria para uma escola de magia chamada Hogwarts, eu era uma bruxa, boazinha, como tive que explicar depois para Ariana.

Iriamos comprar os materiais no outro dia.

Fui dormir empolgada e dessa vez não tive o pesadelo, mas novamente o sonho com o homem triste exatamente igual, só que dessa vez eu pude ouvir um pouco do que ele dizia, e ele sussurrava o meu nome.