— O que você aprontou dessa vez, seu babaca? — Lidy perguntou, rindo quando percebeu que me deixara sem jeito.

Sentei-me ao seu lado e trancei em seu cabelo as flores que havia colhido.

— Não sou sempre mau, princesa. — Lembrei-lhe, aludindo à nossa discussão mais recente.

— Só 99, 9% do tempo. — Ela rebateu, mas em seguida ficou séria e desviou o olhar. — Falando sério, esqueça aquilo. Eu estava furiosa e ... Não, eu não vou ser a primeira a dizer. Afinal, a culpa não foi minha.

— Ok, ok, você tem razão. Sinto muito por ter sido um idiota.

— Tudo bem. — Lidya sorriu. — Você sempre é. Me desculpe por reagir tão mal.

Ficamos deitados sob a macieira, de mãos dadas, olhando as nuvens e bebendo uísque. Depois de um tempo, estávamos podres de bêbados.

— Olha lá. — Lidy apontou. — Aquela nuvem parece um pato.

— Então é uma nuvem esquisita, que nem você. — Logo depois vi a nuvem que ela apontara. — E não é que parece um pato mesmo?

— Eu te disse.

— Por falar em "eu te disse", já te contei que namorei com a Éris?

— Nope. Ela contou.

— Ainda acho estranho vocês duas se dando bem. Fico imaginando quando vão sair na porrada de novo.

Ela riu.

— Eu também. — Confessou, girando e se apoiando em um cotovelo. Ela descansou a cabeça na mão para me olhar. — Mas e aí, como foi namorar com ela?

— Infernal. Éris é a mulher mais doida varrida que já conheci, mesmo contando você. Acho que ela vive de TPM.

— Deusas não tem TPM, Cabeção.

— Ela tem. Com certeza tem. TPM eterna.

— Por falar em TPM, lembra da despedida de solteiro de Hades?

— E como! Deméter quase arrancou minha orelha. — Lembrei, rindo.

— Você mereceu. Colocou aquela aranha enorme na taça de Atena.

— Isso aí. E depois teve o rato ...

— Nas calças de Zeus. — Minha esposa completou. — Sinceramente, não sei como ele não aniquilou você por essa.

— Pois é. Lembra que eu rasguei a parte de trás do vestido da Ártemis?

— Como esquecer? Ela jogou uma tempestade de flechas em você. Foi um caos.

— A parte mais legal foi colocar gelo no decote de Héstia. Ela parecia uma minhoca se contorcendo. Ouch, daquela vez eu me dei mal mesmo.

— E como! Ela quase incinerou você.

— É, mas o prêmio vai para quando Anfitrite apareceu com aquela cobra e você disse "não sabia que você tinha uma irmã gêmea, Anfitrite".

— Nada legal. — Fiz uma careta. — Ainda tenho a cicatriz.

— Foi a coisa mais engraçada que eu já vi.

— Nem de longe. A melhor foi a sua cara quando coloquei tinta verde no chuveiro.

— Precisava mesmo me lembrar disso? Hermes passou um mês me chamando de Fiona.

— É, e você quebrou o nariz dele.

— Foi um soco bem merecido.

— Claro que foi.

Continuamos ali, relembrando as muita coisas que já tínhamos aprontado. Ríamos tanto que mal conseguíamos respirar.

Por mim, eu ficaria para sempre ali. Lidya sempre tivera uma risada linda. Não que eu fosse sequer pensar em dizer isso, é claro.