Me aproximei lentamente, sabendo que ela poderia me morder.

Não, não é uma cadela. É um computador. Mais especificamente, uma rede, ou seja lá como chamam.

Enfim, é a internet.

Me aproximei do modem. Ele estava quente. Devia estar revoltado com alguma coisa.

– Oi, modem... - arrisquei. Ele olhou para mim, desconfiado. - Tudo bem? Então... Lembra daquele texto que eu devia ter postado há dois dias, mas que você não deixou?

– Não fui eu que não deixei. Foi o sinal da Internet - ele se defendeu, encolhendo-se ante à Sra. Internet, que surgiu triunfalmente entre nós dois.

Ela olhou para mim e, depois, para o lado, petulante, e eu percebi que tinha um sorrisinho no canto dos seus lábios.

Cretina.

– Eu sei - me respondeu como quem não quer nada. - O que tem?

Me encolhi, um pouco sem graça por ter que pedir de novo, mas sentindo raiva e incredulidade borbulharem com cada vez mais intensidade dentro de mim.

Como ela podia ser tão má?!

– Você poderia funcionar para que eu o postasse? - minha voz saiu fina e baixa, como eu me sentia no momento.

Ela me encarou e seus olhos brilharam, planejando alguma coisa.

Droga.

– É claro! - respondeu.

– O quê?! - foi minha resposta automática.

Ela ergueu uma sobrancelha.

– Ué, você não quer que eu...

– NÃO SE MOVA! - gritei, correndo para frente da tela a fim de postar o texto. Finalmente. Finalmente!

Internet me olhou frivolamente por ter gritado com ela.

– Hã, me desculpe. - pedi, sem graça.

Eu não devia ter feito isso.

Bem, tarde demais para reclamar. Tudo em que eu pensava era em conseguir postar aquele texto. Escrevi os comentários que vêm antes e depois do texto, copiei e colei o texto na caixa em que devia ser colado. Ajeitei todos os parágrafos e consertei eventuais erros que meus olhos captaram.

Por fim.

Por fim!

O sentimento de gratidão e de prazer pelo trabalho realizado começaram a brotar e, então, com um largo sorriso, apertei o botão "Concluir".

E aí.

E aí...

E aí apareceu aquele maldito dinossauro do Google Chrome dizendo: "Não há conexão com a internet".

Fiquei encarando aquela tela tolamente, me sentindo completamente estúpida e incompetente.

– Miserável - murmurei entre dentes. - Traidora!

E a internet riu, riu maldosamente, e aquele sinal que era amarelo de que havia algum erro com a internet tornou-se um x vermelho, cortando completamente qualquer chance de a conexão voltar a funcionar.

E a internet desapareceu.

Filha da mãe.

– Você pode ter ganhado esta batalha - falei baixo para o ar, esperando que ela me ouvisse. -, mas não vai ganhar a guerra! - gritei ao mesmo tempo em que dava um soco raivoso na mesa do computador.

Infeliz.

Miserável.

Impiedosa.

Fim.