Eros escrita por Malina Endou, Kokoro Tsuki


Capítulo 10
Capítulo X


Notas iniciais do capítulo

Oi gente que ainda lê "Eros", tudo bom? Então, passando aqui só pra visar que eu não abandonei a fic, só passei um tempo sem escrever, okay? Hahaha
Esse cap tem uma pequena reviravolta lá por final, e eu espero que gostem, beijos ♥



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Capítulo X

Serena

Desde que a Malina se foi, que não consigo me concentrar nos estudos — como se desde a descoberta da gravidez dela eu estivesse conseguindo — pois meus pensamentos estavam todos voltados para ela, e para a atitude que iria tomar. Eu queria ter ido atrás dela assim que saiu, ou ter insistido para que ficasse, e assim pudéssemos conversar melhor, tentar chegar em um consenso. Mas ao mesmo tempo, eu sabia que ela precisava de um tempo sozinha. Querendo ou não, essa é uma decisão que apenas a própria Malina pode tomar.

Só espero que ela tome a decisão certa.

Suspirei pesadamente e toquei a tela do meu celular, esperando alguns segundo até que ela clareasse a me mostrasse as horas. Não haviam se passado nem dez minutos e isso fez com que eu suspirasse novamente. Tentei ligar para a ruiva irresponsável, sem sucesso. Ela provavelmente desligou o celular, ou deixou no silencioso... Ou quem sabe esteja descarregado?

Não sei direito o que pensar sobre a situação, sei apenas que definitivamente não vou conseguir me concentrar novamente na matéria da próxima prova — que ironicamente, é sobre reprodução humana —. Joguei meu corpo sobre a cadeira e fitei o teto branco acima de mim, enquanto pensamentos conflituosos se passavam pela minha cabeça. Qualquer que fosse a decisão da Malina, eu certamente a apoiaria e daria meu ombro para ela chorar.

Girei uma única vez na cadeira giratória e parei novamente na frente de meu computador, pensando em pesquisar roupinhas de bebê, mas achei que talvez não fosse uma atitude prudente para o momento, nem sei se ela vai decidir levar adiante essa gravidez. Passei as mãos pelos meus cabelos brancos, sentindo algumas gotículas de suor se formarem em meio aos fios. O dia estava estranhamente quente hoje, e parecia que lá fora estava o dia estava tranquilo.

Tirei meus óculos — que só uso para leitura, ao menos por enquanto — e o coloquei preso na gola de minha camiseta vermelha. Não sabia ao certo o que iria fazer hoje, já que pelo jeito estudar estava fora de cogitação. Joguei o livro para um canto e andei a passos lentos até minha cama, me jogando sobre a superfície macia. Minha vontade no momento era voltar a dormir, voltar a ser uma criança inocente embalada pelo calor dos braços da mãe.

Mas há oito anos eu não os tenho.

Ri sozinha, tentando afastar esse tipo de pensamentos. Oras, já tive uma semana melancólica demais e quero começar outra de forma mais alegre! Peguei meu celular e selecionei uma das pastas de imagens e comecei a passar por elas, e sorrir com as lembranças de dias felizes. As imagens passavam devagar, talvez pelo aparelho travar um pouco — preciso de outro urgente! —, mas ainda assim as recordações me faziam esquecer desse detalhe.

Embora houvesse uma que me fez parar no tempo no mesmo momento em que meus olhos azuis a miraram. Era uma foto tirada há cinco anos, de uma resolução não tão boas como as atuais. Eu ainda me lembrava daquele dia, lembrava daquele uniforme do lacinho azul, daquelas meia-calças escuras e do meio sorriso que dei aquele dia.

Um dos meus primeiros dias na Raimon, quando tinha acabado de conhecer a Malina, e vi que talvez a minha estadia no Japão não fosse tão ruim assim.

Era um dia de primavera, e haviam algumas pétalas de cerejeiras despencando pelo chão, cobrindo tudo com seu tom rosado. Eu estava a frente da sala, tentando não demonstrar o quanto me sentia envergonhada e com vontade de ir embora. Meu nome escrito na lousa com grafia ocidental, que fazia boa parte daquelas pessoas estranharem. Afinal, o que alguém saída da Inglaterra fazia ali?

O professor me mandou sentar, e eu ouvia um ou outro comentário a respeito do meu sotaque britânico, tido como engraçado para muitos dos alunos. Tentei ignorá-los, porque afinal, não queria qualquer confusão ou desavença em meu primeiro dia de aula no que chamávamos de fundamental em meu antigo país, mas que aqui era o ginásio.

Passei boa parte do dia sentada em meu novo lugar, próximo à janela e voltado para o campo de futebol, esporte que não me interessava nem um pouco. Estava calada, sem me importar em falar com nenhum dos alunos ali — que só queriam tirar alguma palavra de mim para ouvir a forma com que as palavras soavam diferentes — mesmo quando me chamavam.

Não ligava se fosse chamada de "a calada" o resto do ano como foi naquela semana.

Bem... Pelo menos foi assim até que ela chegou, na segunda-feira da próxima semana. Sorridente, andando lado a lado com o garoto de faixa laranja que falava alto demais. A ruiva olhou para mim e sorriu de forma doce. Não retribuí no momento. Não queria amigos. Queria voltar para casa.

A aula parecia passar normalmente, com alguns garotos insistindo em me encher durante os minutos em que o professor falava. Eu só conseguia pensar no quanto odiava aquela classe, o quanto odiava aquele país. Isto é, até que o sinal do intervalo tocou e ela veio até mim assim que notou que eu não sairia da sala.

— Qual o seu nome? — perguntou e arqueei uma sobrancelha, um tanto descrente com a questão que ela levantou. Estávamos na mesma sala, e mais cedo o educador havia feito a chamada. Das duas uma: ou a ruiva não prestara atenção, ou só queria um motivo para falar comigo.

— Serena. — respondi, tentando, de certa forma, ocultar meu sotaque inglês.

— Oh, que nome bonito. — ela sorriu, e parei de dar atenção, voltando a me distrair com meus lápis. Com o canto dos olhos, notei que a ruiva fez uma careta. — Eu sou Malina, Endou Malina. — dei de ombros, um pouco desinteressada. — Você entrou hoje? O professor não te apresentou.

Suspirei com um toque de cansaço e tédio, mas resolvi dar-lhe uma resposta. Na época, eu pensava que isso a faria me deixar em paz — ainda bem que não fez.

— Não. Entrei semana passada. — disse e Malina entreabriu os lábios levemente, se voltando para o garoto de cabelos castanhos e faixa laranja. A ruiva fechou a expressão e elevou o tom de voz.

— Mamoru! Por que não me contou que tinhámos uma aluna nova?

Ele lia alguma coisa, um livro de capa velha e azulada, bem gasta. Pareceu despertar apenas naquele momento, e encarou a ambas, atônito.

— Eh? Temos uma aluna nova? — e finalmente pariu para fitar somente a mim, enquanto a garota parecia indignada com sua atitude um tanto quanto desleixada. Eu estava ali desde o começo da semana anterior. — Ah, sim! Você! Não tinha te visto, desculpa! — e abriu um sorriso enorme, seria encantador se não fosse idiota.

— Isso não é algo que se diga. — Malina murmurou, entredentes e respirei fundo quando a vi passar uma mecha de seu cabelo para trás da orelha. Gesto que eu costumava fazer quando nervosa, e de forma inconsciente, copiei. — Desculpe por ele, Serena. — se virou para mim, e abriu um largo e doce sorriso. — Espero que sejamos boas amigas.

Uma lágrima solitária escorregou por minhas bochechas ao me lembrar daquele dia, e mais que rapidamente eu me apressei em secá-la. Não podia ficar pensando nisso, ficar com a cabeça no passado quando meus problemas de verdade estão no futuro. Me levantei da cama, decidida a não voltar meu dias para os estudos — até porque eu não conseguia me concentrar nos livros — e fui até meu guarda-roupas.

Peguei uma camiseta azul claro e uma saia jeans simples, como eram quase todas as minha roupas, na verdade, já que vendi a maioria das de marca assim que comecei a morar sozinha, para assim arrecadar algum dinheiro sem necessitar tanto do meu pai. Claro, que ainda preservei algumas comigo, mas a maior parte eu havia me livrado.

Saí, sem sequer olhar para trás, e estranhamente sentindo a fome me abater. Há dias que não comia direito. Não uma comida caseira e realmente saudável, já que há um bom tempo vinha me alimentando de lanches, para recuperar as notas perdidas nas últimas provas.

 Não vi a hora antes de sair de casa, e mantive meu celular em meu bolso no modo vibratório. Caminhei pelas ruas de Inazuma como há muito tempo não fazia, sentindo o ar fresco da cidade bater contra meu rosto, o acariciando de leve, e me fazendo esquecer a fome pouco a pouco. Acho que foram horas andando, tanto que cheguei a passar na frente de minha antiga escola, e parei durante um tempo para admirá-la.

A Raimon podia mudar a pintura, mudar partes da infraestrutura, mas nunca iria mudar completamente. Mesmo depois de já ter sido destruída uma vez — uma pequena ocorrência com aliens falsos, coisas do Japão — ela continuava linda, imponente, e pensar nisso me fez sorrir. Quantos momentos bons eu não vivi ali?

Depois de bons minutos apenas encarando a fachada do grande prédio, resolvi atravessar a rua que levava para a sorveteria em frente. A cor amarelada estava um pouco mais desgastada que de costume, mas ainda assim é tão bonita quanto eu me lembrava. Não venho aqui desde que comecei a cursar Medicina, e estar em um lugar que me trás tantas recordações boas me deixava com um forte sentimento de nostalgia.

Entrei e fui direto até o vidro gelado onde estavam as opções. Eram tanas cores, algumas que eu não conhecia, que tornava a tarefa de escolher um extremamente difícil.

— Você demora bastante pra tomar uma decisão.

Por um breve momento momento eu duvidei que fosse comigo, mas ao perceber que tirando a mim, e a pessoa que falara não havia mais ninguém, tive certeza que a fala fora dirigida a minha pessoa e endireitei a postura, arqueando  de leve uma sobrancelha para o sorriso irritante que ele estampava nos lábios.

— Você está me perseguindo.  — a afirmei, séria. A verdade é que eu não pensava em falar novamente com o Mamoru depois da noite passa.

— É, talvez. — deu de ombros, relaxado.

— Não foi uma pergunta. — eu disse, mas ele pareceu ignorar, olhando as opções de massa. Qual é o problema dele?

— Hm, eu vou querer uma casquinha de duas bolas, de creme e chocolate! — falou a vendedora, e apenas observei seus movimentos suaves. — E duas de chocolate com menta e fritas vermelhas para a moça que está comigo. — o que? — Não se preocupe, é bom. — o que de novo?

— Assim espero. — respondi, passando minhas mãos nos bolsos da saia, e peguei meu cartão de crédito. Depois de ter sido assaltada uma vez, parei de andar com dinheiro. No entanto, antes que eu o estendesse para a atendente, senti o toque quente dele em minha mão. — O que foi?

— Pode deixar — sorriu. E me perguntei se ele não conseguia tirar aquele sorriso idiota da cara. — eu pago.

O que?

 

***

 

Eu poderia dizer que a sugestão que me foi dada para a escolha do sorvete — ou a escolha que ele fez por mim, diga-se de passagem — foi ótima, já que apesar do receio em provar algo que nunca havia tomada, eu senti como se cada pelo do meu corpo se arrepiasse com aquele gosto maravilhoso, cheguei até mesmo a elogia-lo pela dica.

Deixei que andasse junto a mim por um tempo, enquanto conversávamos  como nunca conversamos antes, apesar de tudo o que dizíamos ser um tanto quanto... Superficial. Não éramos tão íntimos assim para falarmos de nossas vidas pessoais, apesar de eu ter a impressão de que ele tentava saber mais sobre mim.

Bem, desde que eu me mudei para o Japão, nós nos conhecemos, mas nunca conversamos muito, mesmo que eu sempre estivesse ao lado de sua prima, conversando e a aconselhando sobre todo e qualquer assunto — principalmente quando o motivo era Goenji, o amor da vida dela.

— Serena. — ouvi-o me chamar e levantei os olhos azuis para encará-lo, ao passo que a massa gelada começava a acabar. — Quer vir comigo até a torre de Inazuma? — perguntou, e por um momento eu arqueei uma sobrancelha, tanto surpresa quanto assustada. Sequer conseguia acreditar no pedido que me foi feito.

Não sei por quanto tempo eu fiquei o encarando, pasma, e pela minha cabeça apenas se passavam perguntas como "o que ele quer?"; "o que ele vai fazer?"; "eu devo aceitar?". E em meio a confusão, a minha conclusão apenas chegou no momento em que senti sua mão aveludada tocando meu ombro. Suspirei e o segui.

Eu devia ser uma idiota mesmo.

E durante o caminho, por vezes nós tentamos falar com a Malina, rimos, e até mesmo discutimos assuntos da faculdade, e brigamos por alguns motivos superficiais. Na verdade, eu começava a mudar meus pensamentos por ele naquele exato momento. Mamoru Endou talvez não fosse o rapaz chato e irritante, com a vida totalmente voltada para futebol. Era como se eu tivesse me enganado contra o moreno.

Mal havíamos chegado próximo a torre, e ele disse algo como "vamos apostar uma corrida até lá em cima?", e assim que sugeriu, disparou na minha frente, aos risos, enquanto a mim restava gritar de volta "isso não vale" e segui-lo. A realidade era que eu estava gostando de ter a companhia de Mamoru por perto.

Ao finalmente alcançar o topo eu me sentia ofegante, enquanto o jovem só fazia rir. É claro, ele vive correndo nos campos esportivos da cidade, por que uma corridinha daquela seria muito ao outro? Acabei por rir desse pensamento, ao passo que ele caminhava em direção a um pneu amarrado no galho de uma árvore, e eu me encostava na mesma.

— Sabe... — Mamoru começou, deixando que seus dedos longos escorressem pelo material do objeto enorme. — Eu costuma treinar aqui, com este pneu quando nós éramos mais jovens.

— É, eu sei disso. — respondi, dando levemente de ombros enquanto sorria. — Eu vinha aqui com a Malina as vezes, depois das aulas. Você realmente gosta de futebol.

— É, eu gosto. — ele disse, baixo, e parou de mover o pneu, caminhando até mim. — Mas sei lá, conforme eu fui crescendo, aprendi que tenho também outros gostos.

— Ah é? — arqueei uma sobrancelha, brincalhona. — Então me dê um exemplo de "outro gosto".

Talvez eu tivesse dito aquilo porque não sabia o que viria depois, não imaginaria ele se aproximando o suficiente para entrelaçar seus dedos nos meus, e deitar sua cabeça na curva do meu pescoço, enquanto o rubor tomava conta de minhas bochechas e um arrepio percorria meu corpo, quando em meu ouvido sussurrou:

— Você.

E naquele momento apenas um pensamento se passava em minha cabeça: eu precisava ir embora dali.

 


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Notas finais do capítulo

Sim, eu passei seis fucking meses escrevendo isso, e só faltava finalizar :v Enfim, espero que tenham gostado ( o gif não parece em nada com a Serena, mas ok) :3 E até o cap da Malina ♥

Beijos na bunda ♥



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