Na manhã seguinte, acordamos cedo para tomar café da manhã no refeitório. Sentei-me a mesa com os garotos, Shay e as amigas. Eu estava um pouco distraído, mas pude ver Shayera xingando alguma coisa e Stefan perguntando algo. Eu tava sabendo que o ex dela viria para a academia, mas pelo que lembro era só na segunda-feira.

Ele agarrou a Shay na frente de todos nós e ficou falando um monte de coisas terríveis para ela. Só que ela o rejeitou e a insistência dele veio. Por muito pouco, eu não levantei e dei um belo soco nele. Cheguei a cerrar o punho, mas a Shay tratou de bater nele e depois ela saiu. Parecia precisar de um tempo sozinha.

Pior não foi a minha surpresa quando eu cheguei no Sxon e encontrei a Shay sentada no balcão conversando com o Rick. Cumprimentamo-nos com uma balançada de cabeça, sem que ela notasse, porque eu já sabia aonde devia ir: a garagem.

–O que a Shay faz aqui, afinal de contas? - indagou Athos

–Pressinto um porre... - respondi – Ela tá bolada com essa história do Brian.

–Brian? - Joseph soltou

–Deve ser aquele cara que agarrou ela no refeitório ainda agora. - Stefan respondeu – Ela resmungou antes dele falar com ela.

–É ele! Sem dúvidas! - afirmei

Chegamos a garagem e pude ver que o Rick deixara tudo arrumado. Havia uma bateria, duas guitarras, um baixo e um teclado montados e plugados nos amplificadores.

Rick apareceu rapidamente e falou com a gente, conhecendo os meus amigos e falando depois:

–Os níveis dos amplificadores estão todos ajustados e ligados. Façam essa casa tremer com o rock de vocês. Agora preciso ir, porque eu tenho uma pinguça lá no bar.

–Ela tá bem, Rick?

–Bebendo e fazendo mais careta impossível. Pode deixar que eu cuido dela, Niels.

Ele saiu e então nós ficamos uns minutos encarando os instrumentos, sem saber o que fazer. Como seria o nosso arranjo como banda de rock?

–Tá, Niels. Como que a gente vai fazer isso? - perguntou Joseph

–Podemos cada um escolher o instrumento que quer. Que tal?

–Por mim, tá de boas. - falou Athos – O que eu gosto ninguém vai querer mesmo.

–Ok! Bora. - ordenei

Enrolei uns segundos depois dos passos deles, deixando-os escolher. O que ficasse para mim tava ótimo. Joseph sentou na bateria e girou as baquetas na mão. Athos pegou o baixo e usou a faixa para colocá-lo no pescoço. Stefan foi até a guitarra, pendurou-a e pegou a paleta.

E diante do microfone do vocalista estava mais uma guitarra. Fui até ela, peguei junto com a paleta e me posicionei diante do pedestal do microfone. Eis que Niels ganha o vocal... de novo.

–Então essa é a nossa formação? - Stefan questionou

–Parece que sim.

–Então... - Athos tentou

–Eu sei lá! - reclamei

Eu, Stefan e Athos nos encaramos, sem saber por onde começar. Só ouvimos as baquetas que Joseph segurava fazerem “1,2,3” e ele começar a tocar. Stefan notou algo e começou uns acordes, sendo acompanhado por Athos no baixo apenas uns segundos depois.

Com todos os instrumentos em sintonia correta, reconheci a música: Architect de Terashima Takuma. Calculei o tempo e comecei a cantar a canção.

Depois da primeira parte, olhei para trás e pude ver os outros três sorrindo. Finalmente tinha encaixado. Eu me permiti sorrir também. Finalmente tínhamos nos encontrado. Eu tinha me encontrado. Sempre estive certo sobre o que queria para mim! Era isso mesmo.

Nas músicas seguintes eu consegui acompanhar o Stefan na guitarra. Nem precisamos de muito tempo para notar o quanto a Vollux funcionava bem melhor como uma banda de rock.

Sabe o melhor de tudo? Não tinha nenhum “uuhh” de backing vocal, não tinha ninguém escorregando e caindo durante um passo mais complicado. Só quatro garotos, uma garagem e um pouco de rock n' roll, ou quase.

Cara, isso é Jimmy Wayn até demais! Só falta mesmo meus dedos sangrarem por conta dos solos de guitarra. O mais triste é que eu não encarregado disso.

Cantamos quatro músicas em sequência e descansamos um pouco. Dava para ver como estávamos cansados e felizes.

Eu, Athos e Stefan estávamos de boas. Mas o Joseph estava suando bicas. Tocar bateria com muita vontade é isso ai mesmo!

Fizemos isso mais umas três vezes, pelo menos. A gente perdeu a noção da hora quase. Tínhamos que voltar para a Academia para o almoço. E tomar um banho também. A gente não podia chegar lá fedendo a rock, os diretores iam se doer todos. Haha

Voltamos ao bar e o Rick ainda estava lá com Shay, só que agora uma completamente bêbada. Após uma conversa rápida, acabei subindo com ela para o quarto. Eu devia tirá-la do estado de porre para que pudéssemos retornar a Von Elfstein sem nenhum problema.

E após a nossa conversa lá, eu finalmente percebi e dei voz a tudo aquilo o que sentia. Eu estou apaixonado por Shayera Salem! A caloura que não é mais caloura. A garota que tem a música no sangue e o sonho de seguir carreira solo. Foi ela a Garota Alaranjada que roubou o meu coração em um tempo tão curto e eu nem notei ou prestei atenção.

Foi ela que abriu os meus olhos para as possibilidades, que eu podia tomar as rédeas do meu destino para mim de novo. Tirou-me de uma depressão, me fez deixar de ser o Niels melancólico e desacreditado para um Niels completamente apaixonado e mais inspirado e com vontade do que nunca.

E acabou rolando entre a gente. Adiamos, adiamos, mas deixamos acontecer. Se eu pudesse ficaria deitado com ela o resto do dia, porém havia obrigações tanto minhas quanto dela para serem cumpridas. Nenhum aluno da Academia pode ficar tanto tempo fora assim. A não ser que ele explique e documente o que ele exatamente vai fazer do lado de fora. E... Bem... Estamos na surdina ensaiando. Melhor seguirmos essas regras pelo menos, porque todas as outras estamos quebrando e pisando nos cacos com salto agulha.

Ela estava estirada na cama e nua, com o rosto meio avermelhado, o que combinava bem com o cabelo dela. Ela parecia estar sonhando com o que acaba de acontecer.

–Shay! - chamei-a

–Oi, Nil. - sorriu

–Lamento te informar, mas temos que ir.

–Ah não. Fica mais!

–Eu queria. Só que não podemos. Eu ainda tenho mais uma reunião hoje.

–E como foi o ensaio?

–Foi ótimo! Melhor do que eu pensei que seria. A gente fica bem melhor como banda.

–Posso assistir o próximo show na primeira cadeira?

–Pode, Shay.

E ela se virou, resmungando, com se quisesse dormir. Cutuquei nela.

–Não é hora de dormir, mocinha. Aguente a caminhada até a Academia, ai te deixo com a Britt e a Miranda para que cuidem de você.

–Então é assim: Você me usa e depois me larga com minhas amigas? - falou em tom irônico e riu em seguida

–Eu vou tomar um banho e depois você vai.

–E por que eu tomaria banho, Nil?

–Porque vai ficar muito na cara o que fizemos aqui para quem está lá em baixo e para o resto da Von Elfstein toda.

–Quero mais que Brian saiba mesmo, para se pôr no lugar dele.

–Ele pode saber, mas não acha que seria mais divertido se fosse por um boato ou pela minha boca? - eu já sabia fazer esses joguetes com ela

–Adoraria ver a cena. - respondeu, maligna

–Então você vai comigo. - ri – Eu já volto.

–Posso tomar banho com você? - em um pulo, se levantou

Apenas assenti. Eu sai primeiro e desci na frente. Os outros três já estavam arrumados e de braços cruzados me esperando.

–Niels, por que demorou tanto?

–Porque a Shay demorou a levantar.

–Sua cara diz exatamente o contrário. - Rick se meteu – Aconteceu algo lá em cima.

–Não aconteceu nada. - retruquei

–Niels, não vem. Você ficou quase meia hora. - começou Stefan

–E tem esse cabelo desarrumado. - Athos completou – Sem contar essa calça aberta ai.

–Cara, eu acabei de sair do banho. Só esqueci de fechar!

Shayera desceu e foi bombardeada por perguntas também. Ela não conseguiu responder, só ficou risonha e mais vermelha ainda.

–Aê, Niels. Até que enfim em! Demorou!

–Shay deve ter ficado toda toda.

–Niels perdeu o cabaço. Parabéns!

–O óculos até embaçou.

Eu também não tive onde me esconder. Eu queria era só que eles parassem.

–Tá bom, gente. Chega!

–Deixa a gente te zoar um pouco, cara. Vive fazendo isso com a gente.

Fiz careta e falei:

–Desde que não seja até a Academia.

Antes de sairmos, Rick falou comigo:

–Você tomou cuidado, né, Niels?

–Claro! Eu nunca esqueço.

Ele só sorriu, feliz por saber que ainda existem jovens responsáveis neste mundo.

Shay foi cambaleando no caminho. A sorte foi que encontramos as amigas dela logo, que ficaram muito preocupadas e querendo saber o que houve.

–Ela só bebeu um pouco demais. Só isso! Mas tá bem. Vai sobreviver!

–Quanta sensibilidade, Nil. - me deu um tapa

–Também te amo! - respondi, dando um beijo em sua testa – Depois a gente conversa.