O tempo estava frio em Mystic Falls naquela quinta, de modo que eu peguei meu casaco mais bonito para andar por aí.
Eu simplesmente não conseguia entender porque aquilo acontecera. Como seria possível eu depender de Klaus para conseguir ter uma vida saudável, sem desmaios e sombras ao meu redor?
Bufei e decidi parar num parque para pensar melhor. Apesar de estar começando a ficar nublado, o sol ainda me atingia com total força, de modo que fazia com que eu virasse a cabeça para o outro lado em alguns momentos.
-Está se sentindo bem?
Rapidamente me virei para olhá-lo. Eu conhecia muito bem aquela voz e esperava não encontrar aquela pessoa ali, naquela tarde chata.
-Não. Apenas me deixe em paz! —exclamei.
Obviamente, ele não me obedeceu. Mas como ele poderia? Originais não obedeciam ninguém.
-Eu fiquei sabendo sobre a magia —Elijah disse. —É tão bizarra que em todos esses anos eu nunca havia visto nada igual.
Sorri ironicamente e fingi estar interessada em um dos anéis que estava no meu dedo.
-Isso não me deixou mais calma.
Ele suspirou e pegou minha mão, o que me surpreendeu.
-Nós precisamos de você, Caroline. Niklaus precisa de você mais do que nunca. Ele está ficando maluco. Já ameaçou enfiar uma estaca em Rebekah.
-O que? —perguntei, realmente mais surpresa do que quando ele me chamara de vadia. —Pensei que ele tinha parado com isso!
-Quando estava ao seu lado, sim. Agora, com parte da memória perdida, ele é simplesmente um assassino.
De repente todos os momentos que passei com Niklaus voltaram a minha mente. Todos nos mínimos detalhes.
Eu precisava o deixar. Precisava fazer com que ele fosse feliz de algum modo, longe de mim. Ele tinha que recuperar a sanidade em algum momento e não importava o tempo que demorasse para a sua memória voltar. Nós tínhamos a eternidade toda para esperar isso acontecer. No entanto, ele me chamara de vadia e eu não iria dar a ele o meu perdão até que meu velho Klaus voltasse. E isso demoraria muito tempo.
Olhei para Elijah, com a decisão tomada.
-Eu vou sair de Mystic Falls. Não suporto mais isso —falei já com lágrimas nos olhos —Eu o amo, Elijah. E é por isso que tenho que libertá-lo. Tenho que fazer com que ele pense que não me ama, porque assim tudo acabará bem.
-O que? —ele perguntou, confuso —Não, Caroline. Não o deixe!
Num pulo me levantei, começando a andar em direção à minha casa para fazer as malas.
Ele me seguiu.
-Você vai realmente fazer isso? Poderemos encontrar uma maneira de fazer com que aquele Klaus volte. Não é impossível e você não pode deixar meu irmão sozinho! Não saberemos o que fazer.
Com a visão embaçada por causa das lágrimas, tratei de passar as mãos nos olhos para voltar ao normal.
-Não sou a única que pode fazer ele sentir o amor.
-Sim, é sim. Nem mesmo pela Cami ou pela Hayley ele sentiu o que sente por você. Você, a Hope e a Rebekah são as mulheres da vida dele, não me entende?
-Ele me chamou de vadia, Elijah! —gritei, parando para observá-lo —Ele me odeia e você não sabe o quanto machuca saber disso. Éramos uma família, mas nem tudo é normal nessa droga de Mystic Falls! Eu vou embora e tenho certeza que tudo ficará bem. É assim que tem que ser.
Dei as costas para ele e com a minha velocidade sobrenatural, deixei o local, agradecida por não ter quase ninguém ali.
Cheguei na minha casa e sem precisar pensar duas vezes, peguei as malas e fui colocando todas as roupas nela.
Eu dependia de Klaus para viver, mas eu piorava quando estava ao seu lado. As sombras se tornavam mais agressivas e os desmaios tinham mais efeito. Ah, e além disso, vinha o que mais me torturava, o que mais doía: meu velho coração partido.
A conversa que tive com Bonnie ontem me veio a mente. Ela dissera que por eu ter ficado tanto tempo com o veneno de lobisomem no meu corpo, ele acabou virando uma parte de mim. Uma parte que fazia muito mal e que apenas Klaus era capaz de curar, dando seu sangue para uma bruxa fazer o feitiço. Mas não era apenas isso: a bruxa que o fizesse, morreria durante o processo.
E todas que eu conhecia eram importantes demais para morrer por mim. Aliás, toda pessoa era importante para alguém, mesmo não sendo para mim. Cada vida era preciosa e eu entendia tanto isso, que sairia daquela cidade antes de alguém se sacrificar por mim.
Bonnie oferecera, mas eu não deixara ela fazer nada, nada disso. Ela já se sacrificou bastante por nós. Da próxima vez ela podia simplesmente não voltar, e eu não conseguiria ser feliz com uma das minhas melhores amigas morta. Seria egoísmo deixar que ela fizesse isso por mim e eu a protegeria porque eu a amava. Crescemos juntas e eu entendo o valor de uma amizade.
Quanto a Klaus... esse merecia ser feliz apesar de tudo que já fez e vinha fazendo. Ele era capaz de amar, e apesar de ter matado tantas pessoas, isso mostrava que ele era bom.
Meus outros amigos eram tão importantes quanto Bonnie e eu os amava também. Não deixaria que ninguém sofresse por mim. Essa seria a nova regra da minha vida. Eu teria que sofrer tudo sozinha para descobrir como me curar sem precisar ficar de luto.
Peguei minhas malas já prontas e coloquei no carro.
Da minha casa, dirigi até o aeroporto, onde eu tinha fé que conseguiria um voo de última hora.
A única coisa que eu não esperava era que o carro fosse parar no meio da estrada.
-Droga! —exclamei, saindo do carro.
Eu esquecera de abastecer.
Num impulso, acabei dando um murro no carro, o que o amassou um pouco.
-Por que fez isso, loirinha? Era um carro maravilhoso!
-Enzo? —me virei para olhá-lo. —O que faz aqui? Vá embora!
-Estava indo fugir? —ele perguntou, curioso.
-Vá embora! —repeti.
-Acho que não —ele disse, com um sorrisinho no rosto.
Mal pude perceber quando ele passou por mim, quebrando meu pescoço.
A última coisa que pude ouvir, me deixou completamente nervosa antes de desmaiar.
-Desculpe, mas tenho que cumprir ordens!