Prisoner escrita por bitterends


Capítulo 28
Sombras


Notas iniciais do capítulo

"Entregue-se às sombras que continuam te chamando esta noite"

Estamos na reta final, após 4 anos. É o primeiro capítulo com pouco diálogo e muita narrativa, espero que não esteja cansativo e que, acima de tudo, gostem!

Beijos e boa leitura!



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Os meses pareceram se arrastar para Alice, que desde o desaparecimento de Lorenzo, retraiu-se à dor da perda e ao cansaço da gravidez.

Khalil fingia tão bem que era pai do bebê que a esposa esperava, que fez questão de promover um jantar com todas as pessoas socialmente importantes que conhecia quando a barriga dela já parecia abrigar uma criança. E Alice encenou bem também. Na verdade, naquele momento ela até esteve feliz, erradiava a beleza que a mulher adquire junto com os hormônios na geração de uma nova vida. 

O marido a olhava com a admiração que tinha desaparecido em muito tempo e não conseguiu trancafiá-la como gostaria, especialmente quando ninguém mais soube sobre o amante dela, sequer foi  necessário, pois ela mesma se recolheu à solidão. Alice estava realmente sofrendo, o que deixava Khalil bastante satisfeito na realidade.

Ele acompanhava com atenção cada avanço do feto no ventre da mulher, acariciava e emocionou-se quando sentiu o primeiro chute, viu um sorriso tímido brotar nos lábios de sua esposa naquele momento em muitos meses.

Os pais de Alice não cabiam em si de tamanha felicidade pelo primeiro neto a caminho, que amenizava a tristeza deixada pelo sumiço de Lorenzo. Estavam sempre presentes, o que às vezes causava ainda mais sofrimento na moça por precisar demonstrar uma felicidade que era inexistente em sua vida. Eles sempre estavam em sua casa, pois ela não saia de lá.

Khalil realizou um outro grande banquete quando descobriram o sexo do bebê: um menino. Parecia genuinamente feliz.

Aos sete meses de gestação, Khalil deixou de lado as viagens e assinou uma procuração para que um de seus advogados o representasse em negociações mais distantes. 

"Meu filho pode nascer prematuro, o garoto está muito grande! Não quero perder um segundo de vida dele." Disse, sem sequer receber questionamentos a respeito de sua decisão.

De repente, Alice percebeu que o marido estava obcecado pelo seu bebê e não parecia se importar mais com ela. Todos os momentos que seus olhos pairavam sobre Khalil, ele estava vidrado no tamanho de sua barriga. Quando conversava com ela, era só para falar sobre enxoval, possíveis nomes e a saúde dos dois. "Ele tem que crescer muito forte", dizia. Qualquer mal estar que ela sentia, ele estava preocupado.

No fim do oitavo mês de gestação eles tiveram um diálogo que envolvia as vidas dos três e devaneios de um passado que não existiu.

— Eu sinto muito que nossas vidas não tenham conserto. Só quero que a gente se esforce para que o bebê tenha um futuro bom. - Disse o homem, massageando as pernas completamente inchadas de Alice.

— Você tem vivido para ele… 

— Sim, ele é o meu filho. 

— Você sabe que ele não… - Alice não terminou a sentença porque o marido lhe tampou os lábios.

— Nunca mais diga isso. 

— Eu sonhei com esta vida para nós há alguns anos atrás. Irônico, estou tendo o que sonhei e não estou feliz.

— Eu penso, Alice, será que somos capazes de viver em harmonia e felicidade?

— Nunca serei feliz, Lorenzo está morto. Estou presa a você e agora, um bebê a caminho. E eu preciso saber, você fez isso? Você matou Lorenzo?

— Sinceramente, não fiz. Ele está desaparecido, é diferente de estar morto.

— Ele está, já faz muito tempo que ele sumiu. Espero que você nunca machuque meu filho. Gostaria de estar longe de você.

— Eu nunca farei mal ao nosso filho. Você teve a chance de ficar longe para sempre, eu ia te dar o divórcio… mas você me trouxe de volta.

— Nosso maior problema,  Khalil Abdu, foi ressuscitar o que estava morto.

Assim que falou isso, o gato de Khalil subiu na cama. O gato que carregava o mesmo nome do primeiro animalzinho do homem e possuía as mesmas características, corroborando com a frase da mulher.

 

***

Em janeiro de 2010, nasceu Hathor Abdu. Khalil escolheu seu nome, que significa “ o patrono do amor”, porque ele estranhamente sentia amor pela criança.

O menino rosado tinha os cabelos negros como os de Alice e ainda não dava para saber a cor de seus olhos, que provavelmente seriam azuis - e o homem torcia para que não fossem.

A presença de Khalil era sufocante para a esposa depois do nascimento do filho, pois ele estava perto a todo momento; era ele quem levantava para acudir o choro noturno, era ele quem ninava a criança, ele era quem levava-o para o banho de sol. Era doloroso para a moça ver que seu carrasco estava mais feliz com seu filho do que ela mesma.

Além de toda a dor, Alice estava completamente desapontada com a aparência de seu filho, que nada parecia Lorenzo. Os cabelos eram negros como os dela, os olhos eram mais acinzentados do que azulados e ele era imenso, não possuía nenhum dos traços angelicais que seu pai tinha. Ela tentava refletir de que ainda era muito cedo, ele era muito novo para se parecer com alguém, mas essa angústia e decepção profunda era involuntária.

Alice passou a sentar nas pedras do quintal e observar o mar durante horas, num estado de catatonia que ninguém parecia se preocupar o bastante.

 

O que ninguém sabia é que na mente da mulher, ela já tinha planejado todas as formas de pular no mar e em como seria uma queda fatal quando ela decidisse de fato saltar dali.

 


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