Insonia escrita por Armamudi


Capítulo 8
Capítulo 8


Notas iniciais do capítulo

Gente esse capítulo ficou um pouco extenso, mas faz necessário para descrever certas situações dos personas...por favor não me batam!!!rsrsrs
 Boa leitura pra todos!!!!



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Onze horas. O relógio que ficava em cima da porta trabalhava em seu ritmo próprio e eterno, dando seus infinitos círculos naquele disco de plástico. Preso em pensamentos e análises, Daniel nem viu o tempo passar, e num toque irritante, o telefone tocara. Era Elizabete, sua secretária e agenda humana ambulante. Não confundia aquela voz aguda e dolorida, típica de uma quarentona na flor de sua escassa beleza( e se Deus salvaguardou os homens que a cortejaram, ela ainda fosse virgem!). – Senhor Daniel- e voz perfurou seu ouvido direito, fazendo ele afastar uns dez centímetros o aparelho- a reunião com os clientes da Ivision já chegaram e o aguardam na sala de apresentações. - Diga a eles que estou descendo Elizabete- finalizou colocando o aparelho em sua posição inicial. Mas estava de esquecendo de algo. Antes que ele colocasse o aparelho no gancho, ele voltou e ordenou: - Elizabete, aproveite e ligue para o Roberto e peça a ele que faça as apresentações da empresa em meu lugar. - Sim senhor, disse com sua voz fina. Avisarei agora, obrigada.

Mas era pra eu dizer obrigado! Pensou ele, colocando o telefone no gancho. – Sinceramente, essa mulher precisa de um psiquiatra.

Atravessando o corredor do andar, e indo em direção do elevador, veio à mente de Daniel os acontecimentos da noite anterior. Não parava de ver Jhon segurando o gato morto-vivo e isso o fazia passar a mão no rosto o tempo todo. Aquelas imagens o incomodava, mas o que mais o aturdia era que nelas, a imagem daquele ser parecido com seu filho sorrindo e gesticulando, o remetia a uma dor profunda no estomago. - Maldito pesadelo aquele viu! Se queixou sozinho enquanto entrava no elevador. Apertou o botão dois, onde localizava a sala de apresentações e também o setor administrativo e financeiro da empresa. – Um lugar que te encanta, no outro você fecha o negócio e quase indo embora você paga, pensou enquanto chegava no andar. A Visual Graphics foi criada há mais de vinte anos pelo irmãos William e Beatriz  Silva Zargo, ambos ainda vivos e presidentes da empresa. Fundaram ela quando estavam terminando a faculdade de Design Gráfico, e com as economias que juntaram em quatro anos de estudos, eles montaram uma micro-empresa, em um cômodo comercial de duas portas. Passados quatro anos, em uma convenção de Designers Gráficos, os irmãos participaram de um concurso oferecido dentro do evento, no qual levaram o prêmio de quinze mil dólares. E isso não foi o bastante. O que veio depois foi melhor ainda.

Eles tiveram a oportunidade de conhecerem o mestre do Design Gráfico na época, “O mago dos desenhos” Steve Watson. Ele ficou fascinado com as artes feitas pelos dois, e imediatamente ofereceu um estágio de aprendizado pra ambos de seis meses em Nova York. Fizeram sucesso por lá, criando novos estilos gráficos e Steve queria contratá-los para fazerem parte da equipe. Mas eles não quiseram. Preferiram levar o próprio negócio à diante, e depois de dois anos de volta ao Brasil, e de muito trabalho e noites em claro criando e descartando idéias, a Visual Grafics, ganhou o status de empresa Cult no cenário gráfico brasileiro. 

A porta da sala de apresentações estava meio aberta, e ele pôde ver lá dentro um grupo de homens vestidos com ternos escuros e iguais, olhando para o fundo da sala, escutando Roberto contar a fábula da criação da “Fábrica de Sonhos Gráficos”. A porta dera uma rangida, denunciando a entrada de Daniel, e alguns dos clientes se voltaram para ver quem entrara. Roberto parou de dar seu discurso vigoroso e fez as apresentações.

- Senhores, é com orgulho que lhes apresento o chefe do setor de Design Gráfico da Visual Graphics, senhor Daniel de Oliveira Alcântara.

Uma salva de aplausos ecoou pela grande sala, e enquanto ele se dirigia ao palco de apresentações, podia ver os olhos dos homens brilhando de curiosidade sobre ele. Daniel gostava quando os olhos dos clientes tinham aquele brilho. Era ambição à vista, dizia ele quando os clientes saiam da sala extasiados.

- Bom dia senhores- disse cortes para os homens à sua frente- Por favor tomem seus lugares. Os homens se sentaram e afoitos, queriam logo ver o que ele havia preparado para alavancar as vendas de suas TVs. Fez-se um silêncio na sala, e ele o manteve por um momento, analisando cada um rapidamente. – Cambada de empresários sem vergonhas, pensou dando um leve sorriso enquanto olhava para eles, mal sabem o que fiz para que ganhem ainda mais dinheiro. - E então senhor Daniel, disse um dos engravatados, que segurava uma pasta de couro preta. O que o senhor tem para nos oferecer e fazer com que fechemos o contrato com vocês?  Daniel olhou-o por um instante e com uma tranqüilidade divina, respondeu: - Bom senhores, eu trarei para vocês o conceito que todos esperam sobre televisão em 3D- Deu um pigarro e prosseguiu- Eu lhes mostrarei o paraíso. O inferno e o céu, o dia e a noite, o vento sobre o gramado. Lhes darei prazer, emoção e repulsa mesclados em imagens que vão ficar marcados em suas mentes por um bom tempo. – Pode iniciar os slides Roberto, por favor.

Do outro lado da cidade, em uma tradicional escola particular, uma senhora de cabelos amarfanhados e um conjunto de saia de veludo azul-marinho e uma camisa de linho creme, fazia anotações bruscas com um giz no quadro negro. Estava cansada de dar aulas, não comia direito há uma semana, e tinha um problema à dois metros e uma carteira atrás dela. E ele se chamava Lucas. Ela se voltou para a sala, e dando sua explicação de História das Cruzadas, viu que o dito cujo estava lendo um livro de Shakespeare, MacBeth. Uma veia saltou do lado direito de seu rosto, a mesma que sempre salta quando ela está terrivelmente irritada, e os alunos sabem que quando ela está nesse estado, abrir a boca seria mortal. - Espero que a explicação sobre as Cruzadas não esteja entediando sua mente senhor Lucas- zombou a professora- Pois está muito concentrado em uma leitura que não condiz com o tema abordado nessa aula.

Ele levantou os olhos do livro, e os fixou no rosto dela. Ele podia ver a veia alta no rosto da professora, e sabia que tinha conseguido tirá-la do sério.- Um a zero pra mim, disse em pensamento, e preciso aumentar esse placar. Com indiferença e um olhar cínico( o que a tirava ainda mais do sério) ele respondeu... - Pois não professora?  - Já que você estava tão concentrado na aula, acho que me sinto no direito de fazer perguntas relativas a matéria. Caso você responda corretamente, deixarei ficar em minha aula contanto que me entregue o livro e preste atenção nela. Mas se você não responder- os olhos dela brilharam maleficamente para ele- lhe mandarei para a diretoria, e ficará suspenso de minhas aulas por dez dias! Sentenciou. - Pode fazer sua pergunta professora Regina. E o cinismo tomou conta novamente dele. - Segundo relatos históricos, Leonor de Aquitânia, fizera algo extremamente nobre durante a terceira cruzada. Que ato foi esse?

Os alunos se curvaram na direção dele, e viram que Lucas fechou os olhos na busca de algo guardado em sua mente. Respirou fundo e abrindo os olhos novamente, se endireitou na carteira e começou seu discurso. “ Leonor de Aquitania é tida como uma das mulheres mais influentes de seu tempo. Letrada, falava oito línguas, incluindo o francês( sua língua natural), inglês e germânico. Era a regente de Aquitania, seu condado e futuramente se casou com o rei Luis VII da França, unificando suas terras ao reino da antiga Normandia. Depois disso, vieram uma série de fatos que não vem ao caso agora não é mesmo professora- e deu uma risadinha vaga. Os alunos olhavam maravilhados para Lucas como se ele fosse o professor e não ela! – Bom continuando: - Após um conturbado casamento com Luis VII, ela se separou do marido e algum tempo depois se casou com o rei Henrique II da Inglaterra tendo três filhos com ele, Geofrey, Ricardo Coração de Leão e João Sem Terra. Esses dois últimos participaram das Cruzadas diretamente, João levando uma legião de pobres e vassalos até a Terra Santa, com a intenção de dar aos servos de Deus a salvação dos pecados dessa vida. Já a de Ricardo, era possuir mais terras e tesouros afim de engordar e expandir seu império. Leonor ficou presa por dezesseis anos na Inglaterra, ficando enclausurada em vários castelos. Enquanto isso, Ricardo conquistava status na Terra Santa, e inimigos poderosos também, incluindo o Duque Leopoldo V da Áustria, que não se esquecendo dos insultos que recebera de Ricardo, o prendeu quando ele voltava para casa em 1192. Sua mãe Leonor, liberta na Inglaterra e regente provisória no lugar de Ricardo, ficou sabendo que ele estava cativo na Áustria  pelo imperador Henrique V do Sacro Império, e que este pedira um resgate de 150.000 marcos, o que correspondia a metade do tesouro do reino. Ela pagou o resgate, e seu filho voltou a salvo para a Inglaterra, e para seu povo em 1194. Sua mãe morrera dez anos depois em 1204 na Inglaterra e encontra-se sepultada na Abadia de Fontevraud, junto ao seu ex-marido Henrique II e seu filho Ricardo Coração de Leão.- Está correto a resposta professora?

Os olhos nas órbitas dela estavam tão vermelhos que pareciam de um alienígena. Os alunos ficaram tão eufóricos com o modo que Lucas dera a resposta que se pudessem, o aplaudiria de pé.

- Bem senhor Lucas, disse nervosamente Regina- Me dê esse livro e vá a diretoria agora. Irei em seguida. - Como quiser senhora! E entregou o livro para ela que o pegou brutamente das mãos dele.

Se levantou da mesa e foi em direção à sala da diretoria, onde sua querida amiga, a senhora Luise Perfeito, o receberia com a mesma expressão de preocupação, e a mesma frase: - O que foi que você fez de novo Lucas?

Na escola de Jhon,  ele e seus coleguinhas de sala estão se preparando para a última aula do dia, que era a de natação. Todos eles adoravam a aula, pois podem extravasar com seus nados desordenados e brincadeiras na grande piscina azul. Os alunos estava com seus trajes de banho e a professora mandou que todos colocassem as bóias para que não afundassem. Todos menos o Adriano, seu amiguinho que era a teimosia em pessoa. Olhou para a professora que estava de costas para eles, e fazendo uma careta para ela, virou-se para Jhon e disse: - Ei Jhon, quer ver eu dar um salto de ponta na piscina? - Não faz isso sem a bóia, senão a tia vai ficar brava com você! Repreendeu Jhon. - Que nada- zombou ele- eu vou dar um salto e na hora ela pula pra me pegar. Depois ela vai me dar um rala, mas num dá nada.

Ele ficou olhando para o amigo se preparar para pular na piscina, e viu que ele saiu correndo em direção do trampolim, que ficava do outro lado da piscina. O trampolim tinha duas pranchas, uma que ficava a 1 metro de altura da margem da piscina e a outra a 3 metros, somente autorizada pelos alunos da terceira e quarta séries, sob supervisão da professora de natação. Adriano subira na segunda correndo. As crianças começaram a gritar pelo nome dele, e de imediato a professora de natação olhou na direção dos trampolins, vendo o aluno subindo  na segunda prancha. Ela mandou ele descer do trampolim e de nada adiantou. Ele saiu em disparada para o fim da prancha arqueando os braços para trás, para dar mais impulso. Foi quando ele escorregou e bateu a cabeça na ponta da prancha, caindo desacordado no fundo da piscina. Desesperada, a professora caiu na água e mergulhou pegando o menino no fundo. Uma mancha vermelha começou a manchar a piscina, e logo a professora trouxe Adriano à tona.

Ela pediu para um dos meninos chamarem o zelador, que estava no almoxarifado, próximo à área da piscina. Deitou Adriano no chão e chamou pelo nome dele. Não veio resposta. O sangue começou a escorrer pelo chão, e o desespero tomou conta dela. Começou a chorar, e algumas das crianças a seguira. Jhon olhava aquele sangue todo e os olhos do amigo revirados. Começou a gritar, e logo estava em estado de choque.


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