Insonia escrita por Armamudi


Capítulo 2
Capítulo 2




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- Como ele gosta de perder tempo com futilidades, pensou enquanto olhava aqueles horrorosos bonecos pulando de uma lado para o outro na tela brilhante do computador, que dera à Lucas no natal passado. Era incrível como o filho, que dormindo parecia um anjo, mas era o braço direito do Satan acordado, poderia fazer tanta coisa para desgradá-lo. O dito cujo, deitado na cama com a cabeceira lotada de adesivos dos mais variados temas e estilos, estava aninhado como um filhote de cachorro, manso, dormindo pacificamente.
Nem parece que é meu filho, e esse pensamento veio tão repentino, que ele se assustou, como quando a gente se assusta pensando certas bobagens. Mas era claro que ele era seu filho! Tinha visto no ultrassom quando Cintia estava com apenas três meses de gravidez. Parecia um cavalo-marinho, estranho, cabeça grande, braços pequenos; mas era seu filho. Quando nasceu, a mãe de Cíntia, dona Dolores, segurava Lucas como se fosse uma caixa com joías valiosíssimas. Ninguém pegava ele senão ela. Até Cíntia ficava pra segundo plano na vida da mãe.
- E agora está aí, esse marmanjo desnaturado, irresponsável e mal-educado, disse baixo, balançando a cabeça negativamente.

Deu as costas para o quarto de Lucas e seguindo em frente, deparou-se com o lance escadas que dava para o primeiro andar da casa. Desceu rapidamente, e lá na rua, os carros passavam velozes, e dava para ver pela grande porta de vidro, que as duas árvores na porta balançavam vigorosamente soltando folhas no jardim. Um frio começou a tomar conta da sala, e Daniel notou que uma cortina dançava solitária na janela de canto onde se sentava para ler o jornal. Devia ter esquecido ela aberta mais cedo, porque estava fazendo um calor terrível.
Foi em direção à janela, coçando a cabeça e dando um bocejo forçado( pois não sentia sono, e também não tinha niguém bocejando para ele imitar involuntariamente), e fechando a mesma, ele notou que algo estava estranho na imagem do lado de fora da casa. Logo ali. Depois das mesas em volta da piscina. Havia algo que estava deslocado ali. Bom, as cadeiras e as mesas estavam no lugar de sempre; a piscina também; as camas infláveis estavam boiando( novamente os amiguinhos do Jhon devem ter esquecido de esvaziá-las). Algo estava errado.
Foi então que ele notou. Havia uma parte dos arbustos que cercavam a piscina que estava em preto e branco. Preto e branco? Isso mesmo, em preto e branco. As folhas estavam negras e o chão era de um branco gelo (mas o chão ali era de pedras amareladas, e não daquele branco glacial!). Esfregou os olhos na tentativa deles estarem sujos ou pra colocar a retina no lugar. E nada. Continuava em preto e branco.
- Eu devo tá ficando loco por falta de sono. Só pode ser isso! disse pra si mesmo enquanto dava um leve tapa na testa. Eu vou tomar um café, quem sabe eu não melhore.

A passos largos, ele atravessou a sala de estar e passando por uma ampla porta em forma de arco, ele adentrou a cozinha que estava toda limpa. As luzes estavam apagadas, e como sempre o relógio digital do microondas iluminava grande parte dela com sua luzinha verde. Procurou pelo interruptor da parede do lado direito e acendeu as luzes que de imediato, deram o seu clarão funcional. Olhou sobre a bancada do outro lado do comodo e viu uma garrafa de café cromada cercada por quatro xícaras brancas em pires negros. Virou a garrafa velozmente na direção de uma das xícaras, e o líquido negro desceu fumegante até o recipiente. Ergueu somente a xícara, e levou-a até os lábios, sentindo o gosto forte e encorpado descer pela garganta, aquecendo o interior.
Olhando para fora da janela de madeira, ele viu o outro lado do quintal. Os arbustos chegavam até ali, e estes estavam verdes( Graças a Deus!). E verde também estava o gramado que cobria todo o chão. Lester estava deitado em sua casa de madeira, e dormia( assim como quase todos daquela casa, menos ele) sossegado.
- Até esse pulguento dorme mais do que eu, riu sozinho da piada que fizera do velho amigo.

Terminando seu café, ele apagou novamente as luzes, e retornando para o quarto, quase no fim da escada, precebeu que as luzes que estavam acesas apagaram de repente. A do quarto do Lucas(que era o monitor do computador), a do abajur do quarto de Jhon, e a do abajur do seu quarto. Merda. O quarto dele se encontrava no fim do corredor, mas sem luz, parecia que não havia nada ali.Só o escuro.

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