Insonia escrita por Armamudi


Capítulo 15
Despertar - Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Bom pessoal, demorei muito tempo para postar a continuação de Insônia, mas...eis que ela surge!!
Essa é Despertar, uma alternativa de Insônia. Logo, postarei um capítulo de Penumbra. No mais, desejo a todos uma boa leitura!!!



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Despertar  - Capítulo 1

 

A luz do sol entrou pelas janelas do quarto, e o calor que irradiava, aqueceu a perna direita de Daniel que estava descoberta. Despertou com o ardor, e olhando automaticamente para o relógio em cima do criado-mudo(hábito adquirido pra confirmar o horário), viu que marcava 9 horas da manhã. Fazia muito tempo que não acordava tão tarde, e notou que Cíntia já tinha levantado. Com certeza ela teria levado as crianças para a escola, e estaria fazendo alguma comprinha. Levantou-se de um salto, e rapidamente tomou um banho, vestiu uma bermuda cáqui, camisa branca e uma sandália.

Descendo as escadas, escutou a voz de Ana vindo da cozinha, alta e fina. Ela não percebeu ele chegar.

 

- Bom dia Ana? Perguntou com uma voz forte e direta, assuntando ela.

- Senhor Daniel, o que o senhor tá fazendo aqui uma hora dessas? E deu um pulo para trás, jogando para cima um pano de prato.

- Calma Ana!- disse dando uma risada- Não queria te assustar. Cadê a Cíntia?

- Bem, ela disse que ia demorar um pouco. O senhor vai querer tomar café da manhã? Porquê eu já tava terminando de guardar a louça.

- Não vou querer, obrigado. Vou comer uma fruta e tomar um suco.

 

Pegou uma maçã e duas bananas que estavam na fruteira, e olhou para a porta e viu que Lester estava lá sentado, olhando avidamente para o dono. Abanava o rabo freneticamente, e seus olhos expressavam um pedido de “por favor passe a mão no meu pêlo!”. Daniel compreendeu o apelo do amigo, e chegando à porta, Lester arqueou as patas dianteiras e se apoiou na perna de Daniel. Ele o afagou, e o rabo de Lester balançava ainda mais rápido.

 

- Vamos dar uma volta amigão? E pegando a coleira que estava pendurada na chave de registro de água da varanda, passou ela pelo pescoço do cão, e saindo pelo portão dos fundos, disse para Ana: - Se a Cíntia chegar primeiro do que eu, peça para ela me ligar, tudo bem?

 

- Pode deixar senhor Daniel! E Ana voltou pra dentro da casa, surpresa ao ver pela primeira vez em três anos que trabalhava para a família, ver Daniel sair para dar uma volta com o cachorro. – O que será que aconteceu para ele mudar tão de repente?

 

Descendo três quadras da casa no fim da rua, um parque linear foi construído há mais de cinco anos no bairro. Era a primeira vez que Daniel entrava no parque, e ficou extasiado com a paisagem ali dentro. Nunca passara pela sua cabeça que uma área verde tão bem cuidada existisse ainda dentro da cidade, onde imperava o concreto, aço e a poluição. Grandes árvores rodeavam o parque, com quatro pequenos lagos cheios de peixes coloridos e plantas aquáticas; uma via verde circundava todo o parque, onde muitas pessoas caminhavam amistosamente, conversando e sorrindo; uma área para piquenique, com mesas e algumas churrasqueiras ficava quase no fim do parque, e havia placas de orientação, explicando como deviam proceder para guardar o lixo. Era uma utopia dentro de uma realidade totalmente controversa.

 

- Se eu soubesse que esse parque era tão bonito, teria vindo aqui antes com a Cíntia e os meninos, para passarmos o dia. – disse, enquanto caminhava com Lester todo imponente ao seu lado, adorando o passeio.

 

Deram a volta pela lagoa das aves, onde patos e gansos nadavam preguiçosos ao sabor de uma brisa leve a perfumada com eucalipto. Viu logo a frente, uma árvore grande e antiga, e se perguntou com quantos anos ela teria. Sentou-se embaixo de suas sombras, e Lester, cansado da caminhada, acompanhou o dono, deitando ao lado de Daniel. Ali tudo era calmo, e parecia que o tempo não imperava. Não havia o som frenético dos carros e motos do trânsito. Só tinha o farfalhar das folhas ao vento, do crocitar das aves, e das pessoas rindo e conversando alegremente. Pensou em um paraíso sobre a Terra, e aquele lugar era um forte candidato.

 

- É Daniel, tá na hora de você se dedicar à sua família. Você passou muito tempo longe deles, abandonando o seu dever como patriarca, disse para si mesmo, enquanto olhava para as árvores frondosas à sua frente.

 

Enquanto divagava sobre o que pensara, uma leve dor de cabeça surgiu, e de repente fechou os olhos, e não gostou do que viu.

                    **************

 

Cíntia chegara em casa depois de uma hora que Daniel havia saído. Encontrou Ana preparando-se para começar o almoço, lavando as verduras e escutando seu rádio com suas músicas modernas.

 

- Bom dia Ana, o Daniel já levantou?

- Já sim senhora, e pediu para que ligasse para ele, caso precise de alguma coisa, respondeu pegando as sacolas que Cíntia trouxera com mantimentos.

- Obrigada.

 

Cíntia saiu da cozinha e foi para a sala, para descansar um pouco. Tinha levado as crianças ao colégio, pago algumas contas e ainda passou no supermercado para comprar alguns condimentos que estavam faltando. E tudo isso em menos de três horas! Um recorde para ela.

Pensou em Daniel e em sua tentativa de mudar com os filhos, principalmente com Lucas. Eça não aceitava o modo como pai e filho se entendiam, firmando uma trégua, mas é era o modo deles de tentar se entender. Pensou em Jhon, e no episodio da escola, onde ele entrara em choque ao ver o amigo sangrando. Não saía da sua mente, a vontade de procurar pelo terapeuta familiar, indicado pelo Dr. Antonio. Seria uma boa idéia de todos participarem, e colocarem seus defeitos e angústias; expulsarem seus demônios interiores e enfrentá-los frente a frente.

De súbito, pegou o celular e procurou pelo numero de Daniel. Apertou o botão de chamada, e ouvindo duas vezes o telefone tocar, desligou. Era bobagem ligar para ele só para falar sobre isso, e além do mais, Daniel estava de férias e teriam muito tempo para discutir sobre o assunto.

O dia lá fora estava ensolarado e quente, com uma brisa fresca e gostosa, que entrava pelas janelas aberta da sala. Sentiu um calafrio percorrer seu corpo, e sentiu medo. Veio em sua cabeça, que algo de ruim estava para acontecer, mas não sabia o que. Seria com Jhon ou Lucas? Fechou os olhos e começou a rezar.

                       ****************

Tudo a sua volta começou a se tornar cinza. As folhas das arvores, a grama; as águas dos lagos ficaram turvas, e os peixes começavam a boiar mortos. No lugar dos pássaros, corvos e abutres voavam nervosamente no céu cinzento com nuvens negras, e o vento era gélido, carregado por um odor pútrido. Daniel sabia o que era isso. Ele sentia que o lugar era familiar, convidativo. Raios cortavam os céus, e ele automaticamente tapou os ouvidos, para não escutar o barulho dos trovões que viriam em seguida, mas não veio. Lester dormia calmamente ao seu lado, e tentando acordá-lo, viu que de nada adiantava. Estava sozinho no reino das trevas novamente.

 

Seu corpo tremia violentamente pelo frio, e olhando entre as árvores, viu o vulto de alguém familiar. Era o monstro que o atormentava havia alguns dias. Viu ele levantar o braço direito, fazendo um sinal para que o seguisse. Suas pernas começaram a movimentar sem ele perceber, indo em direção à criatura. Passou por quase toda a via verde( agora cinzenta), e quase ao fim dela, uma caverna grotesca aparecia, com sua enorme entrada em forma boca grotesca. Parado na porta, o monstro esperou Daniel se aproximar mais um pouco, e logo tomou a dianteira. Ele não queria estar ali. Pediu a Deus para tirá-lo dali, mas de nada adiantou. Uma parte dele queria fugir, mas outra desejava conversar com o monstro. Entrando na caverna, a umidade e o ar quente era nauseante, e por duas vezes quase desmaiou. O caminho era duro, cheio de pedras e lodo nas paredes. Raízes podres pendiam do teto, e ele ouviu o barulho de morcegos ecoando pelo caminho. Por quinze minutos ele andou pelo corredor da caverna, tateando, caindo e levantando. Sua roupa estava suja e molhada. Seus olhos ardiam por causa do ar quente e úmido. Quando estava pensando em desistir, viu pardamente uma luz fraca no que parecia ser o fim do túnel. Veio em sua mente uma matéria que lera sobre experiências de quase-morte, onde pessoas viam uma luz no fim do túnel. Estaria vivenciando tal fenômeno?

 Escorregou num certo momento, mas teve habilidade para não cair. Ao ver a luz se aproximando, acelerou o passo, e chegando à porta, levou a mão à boca para conter o grito. Não acreditava no que via.   


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