Aguenta Coração! escrita por Gyane


Capítulo 49
Capítulo 49




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Eu abri meus olhos ainda zonza de sono, um choro fraco e distante preenchia todo o ar. Eu levei alguns segundo para perceber o que estava acontecendo.

—Bom dia. —A Voz do Thiago soou no meu ouvido como musica, mas a minha confusão só aumentou.

—Thiago. —Eu murmurei confusa olhando em volta. Definitivamente aquele não era o meu quarto, não havia como ser. O quarto era amplo com grandes janelas cobertas por cortinas azuis, no lado esquerdo havia um grande mural com inúmeras fotos e pôsteres, havia algumas roupas espalhadas pelo chão.

—Você dormiu um pouco demais ruivinha. —Ele disse sorrindo mais seus olhos estavam cansados.

—Amanda? —Eu resmunguei relembrando do pesadelo da noite passada, o que havia acontecido? Porque eu não conseguia me lembrar.

—Ela... —O Thiago balançou a cabeça virando o rosto para o lado, como se quisesse se esconder de mim. —As coisas não deveriam ter acontecido assim...

Eu congelei com aquelas palavras, minha ultima lembrança da noite passada era de mim andando de um lado para o outro no corredor enquanto esperava os malditos médicos saírem daquele quarto, só que eles não saíram. Então eu apaguei.

—Ela morreu não?—Eu perguntei desesperada já segurando as minhas lágrimas.

—Não Sarah. — O Thiago respondeu tranquilamente. —Deus não ia permitir que isso acontecesse. Não agora.

Eu respirei aliviada, parecia que o mundo tinha sido tirado de cima de mim.

—O que eu estou fazendo aqui? —Eu perguntei ainda confusa.

—Você não queria sair do hospital, ai você ficou cansada e acabou dormindo, eu trouxe você para cá. —Ele explicou pacientemente.

Aquilo resolveu meio quilo de confusão que eu tinha na minha mente

Meus pensamentos foram interrompidos por um choro bem fraquinho que vinha de algum canto do quarto que eu não identifiquei, o Thiago se levantou rapidamente indo em direção a porta, perto da entrada havia um carrinho de bebê, eu senti meu coração apertar, ao ver o Thiago retirando o bebê cuidadosamente, com toda certeza ele seria um bom pai.

—Eu quero que você conheça uma pessoa especial. —Seu sorriso aumentou ainda mais quando trouxe o bebê para perto de mim. —Sarah Cristina essa aqui é Vitoria Cristina.

Eu arregalei os olhos marejados de lágrimas, eu não podia me conter diante daquilo.

—Obrigado Sarah por salva-la.

—Oh... —Eu não sabia o que dizer, apenas olhei aquele rostinho angelical tão indefeso fazia meu coração se emocionar. —eu não acho que seja necessário...

—Sarah, foi escolha da Amanda, e não é nada mais justo. —Ele disse calmamente. —Não é absolutamente nada comparada ao que você fez por ela, é só uma maneira de agradecer por tudo.

—Não precisava. —Agora as lágrimas caiam descaradamente por minha face, eu não conseguia ao menos me controlar.

—Mas também não é para ficar assim. —Ele disse se sentando na cama com Victoria no colo que não parava de choramingar.

—Parece que alguém acordou com fome. —Uma voz agradável de mulher chegou até nós me obrigando a controlar meu choro. Eu a reconheci imediatamente era a mãe do Thiago, ela tinha uma expressão tão serena que até parecia que era uma fada.

—Interrompo... —Ela perguntou olhando de mim para o Thiago.

—Não mãe. —O Thiago disse se levantando da cama com o bebê nos braços. —Victoria já estava começando a ficar desesperada. —Ele disse lhe entregando a pequena garotinha. —Você já conhece a Sarah?

—Claro que sim. —Ela disse simpaticamente sorrindo para mim. —Sei até a sua cor preferida.

Eu olhei para ela sem entender do que ela falava.

—O Thiago falava o tempo todo de você...

—Mãe. —O Thiago a interrompeu repreendendo.

—Oh, desculpa. —Ela disse como se só agora tivesse percebido o que havia falado. Victoria se remexeu impaciente em seus braços. —Acho que alguém não agüenta mais esperar. —Ela disse saindo do quarto e levando Victoria junto.

—Ignore ela. —Ele murmurou com um sorriso tímido, eu sorri com aquilo, não era fácil ver o Thiago intimidado como agora.

—Sua mãe parece tão feliz. —Eu observei.

—E ela esta. —Ele sorriu se lembrando de algo. —Ela sempre gostou muito de crianças e nunca se conformou em não poder ter mais de um filho, por causa da sua saúde fraca, acho que Victoria veio para acalentar esse vazio dentro dela.

Então ficamos ali, parados olhando um para outro sem mais nada para dizer. Sem amais nada a fazer.

—Eu vou te levar para o colégio. —O Thiago disse desviando o olhar de mim para a janela.

—Claro. — Eu disse me levantando da cama. —Eu só preciso...

—Segunda porta. —Ele disse sem ainda me encarar.

Eu entrei dentro do banheiro totalmente confusa, O que havia acontecido com o Thiago? A poucos minutos ele havia voltado a ser o mesmo cara de sempre, carinhoso prestativo, maroto e agora parecia frio como pedra de gelo.

Eu demorei mais tempo do que necessário para lavar meu rosto. Eu sabia o que havia acontecido com o Thiago, por mais que eu tentasse me recusar a enxergar, as coisas nunca seriam como foi um dia.

Ele provavelmente estava lembrando da mentira que havia contado para ele quando havia perdido a memória. Eu sai do banheiro e o Thiago ainda estava no mesmo lugar que eu o havia deixado olhando para o nada, com as mãos no bolso da calça jeans.

—Podemos ir. —Eu forcei a minha voz sair.

—Claro. —Ele disse indo até o criado mudo pegando uma carteira e chaves.

—Sarah você acha que seria capaz de esquecer o Theo? —Ele me perguntou de repente.

Eu olhei para ele confusa, o que ele queria dizer com aquilo.

—Esquecer o Theo? —Eu levantei minhas sobrancelhas imaginado o que ele queria dizer com aquilo.

—Esquece. —Ele disse balançando a cabeça e saindo do quarto eu o segui.

O todo o percurso de volta para escola foi silencioso e torturante. Quando finalmente ele estacionou o carro no estacionamento da escola, eu senti que estava preste a perdê-lo para sempre. Aquilo me soou bastante irônico, você não pode perder algo que não tem.

—Chegamos. —Ele disse suspirando como se tivesse aliviado, novamente senti meu coração se partindo.

—É. —Eu concordei em um murmuro fraco. —Você não vai voltar? —Aquela não podia ser a ultima vez que eu o veria, eu queria ter certeza que iria encontrá-lo todos os dias, como se fazia durante o ano inteiro.

—Isso importa. —Ele perguntou ríspido, sua fúria me assustou eu o encarei querendo encontrar dentro de seus olhos verdes a resposta para aquilo. Eu precisava saber o que eu tinha feito.

—Importa. —Claro que importava, importava mais do que eu era capaz de suportar.

Ele olhou para mim espantado, como se aquela não fosse à resposta que ele esperava ouvir de mim.

—Thiago eu sei que errei quando escondi de você a verdade, eu sei que você não acredita na historia toda... —Eu disse finalmente criando coragem para colocar tudo para fora, não havia mais nada para perder, meu coração já estava esmagado. Eu achava que era impossível sofrer mais do que eu estava sofrendo. —Mas se você realmente quer saber a verdade...

—Eu sei a verdade. —Ele me interrompeu novamente. — A Amanda me contou tudo.

Minha boca se abriu e meus olhos se arregalaram com aquela afirmação. Como assim ele sabia da verdade?

—Eu sei da chantagem, eu sei como sofri aquele acidente, eu sei por que sonhava com você quase todas as noites, eu sei do seu namoro com o Theo...

Eu senti minha cabeça pulsar. A Amanda realmente tinha dito toda a verdade, ela realmente havia sido sincera em relação ao seu arrependimento, eu senti o alivio me invadir.

—Deste de quando você sabe? —Eu não pude esconder um sorriso.

—Alguns dias. —Ele respondeu vagamente.

Nesse momento alguém bateu no vidro do carro, o Thiago e eu nos viramos, para ver o Beto parado do lado de fora com o maior sorriso do mundo.

—Então quem é vivo sempre aparece. —O Beto disse quando saímos do carro, dando um abraço no Thiago.

As coisas finalmente havia dando certo, o Thiago havia acreditado na Amanda, porque senão não estaria conversando amigavelmente com o Beto. Mas se era assim, então porque ele estava sendo tão frio comigo?

—Ah cabeça de fósforo você esta ai?— O Beto disse passando um braço sobre os meus ombros. —Eu estava imaginando se alguém não tinha colocado fogo em você.

—Você é tão sem graça Beto. —Eu disse mostrando a língua para ele.

—Você vai ficar? —O Beto perguntou para o Thiago me ignorando.

—Não, hoje não. —Ele disse olhando sobre os meus ombros.

—Vocês já conversaram? —Porque o Beto tinha que agir como se eu não estivesse ali.

—Não. — O Thiago disse dando de ombros.

—Como não?— O Beto protestou como se fosse à coisa mais absurda do mundo. —Você precisa resolver isso de vez.

—Eu estou aqui. —Eu também protestei. —Pare de agir como se eu não pudesse ouvir o que vocês estão falando.
—Ah desculpa ruivinha. — O Beto disse olhando para mim. — Assim esta melhor. —Ele perguntou colocando as duas mãos sobre os meus ouvidos.

—Não. —Eu disse tirando ela irritada. —O Que você quer falar comigo Thiago? —Eu perguntei impaciente.

O Thiago olhou para o Beto carrancudo.

—Acho que isso não é de minha ossada. — O Beto disse levantando a mão em sinal de rendição. —Vejo vocês depois.

—Vamos fale logo Thiago. —Eu exigi colocando as mãos na cintura.

Ele sorriu abertamente para mim.

—O que? —Eu perguntei irritada ficando vermelha.

—Você parece àquela garota de cabelos vermelhos que vivia gritando comigo o tempo todo. —Ele disse se lembrando de quando nos conhecemos.

Eu corei com aquela lembrança. Parecia que havia sido há tanto tempo.

—Você esta querendo me distrair. —Eu disse me concentrando novamente na conversa. —O que você quer falar comigo?

Eu perguntei na esperança que ele iria me dizer que me amava, eu precisava ouvi-lo dizer isso.

—Eu não acho que agora seja a hora de conversar sobre isso. —Ele disse relutante.

—Nem pense em me trapacear. —Eu estava agindo como uma criança mimada e egoísta, mas eu precisava disso. —Fale logo.

—Ok. —Ele disse passando as mãos pelo cabelo, um sinal evidente de como ele estava nervoso, eu fiquei imaginando se isso realmente era bom.

Ele pegou na minha mão suavemente e olhou para mim com os olhos triste.

—Eu queria poder evitar isso. —Sua voz estava dura de novo.

—Não evite. —Eu não sabia o que estava dizendo, mas a agonia estava me corroendo mais do que eu podia suportar. —Comece a falar. — eu disse. Isso soou mais corajoso do

que eu me sentia.

Ele respirou fundo começando a falar.

—Eu não queria ser egoísta a esse ponto de estar feliz com tudo que aconteceu, mas eu não posso negar que estou. —Ele continuou a falar, e eu me esforçava a cada palavras sua para poder entende-lo.

—Eu sei que é difícil para qualquer pessoa ver a pessoa que a gente gosta com outra. — Ele falou palavras lentamente e precisamente.

Houve uma pausa enquanto eu repetia as palavras na minha cabeça algumas vezes, analisando elas pra saber seu verdadeiro significado, mas nada se encaixa eu não fazia a menor idéia do que ele estava querendo dizer. Não tinha sentido.

—Eu sei que também vai ser duro para você. — Eu não conseguia me dar conta do que ele estava me dizendo. Ainda não fazia nenhum sentido. Ele olhou para longe quando falou de novo. —Mas às vezes precisamos abri mão de algumas coisas. De pessoas que gostamos...

A verdade estava bem ali na minha cara, mas eu me recusava em acreditar. Ele não podia estar fazendo isso comigo, quer dizer não havia lógica naquilo tudo.

—Eu acho que a Amanda merece ser feliz Sarah. —Ele parecia convicto de suas palavras. —Por tudo que ela passou, eu sei que ela não foi justa com você. Mas ela se arrependeu e pediu perdão.

—E Eu a perdoei.— minha voz era só um sussurro agora; a verdade

estava começando a correr com ácido pelas minhas veias.

—Sim eu sei disso. — Ele sorriu; o sorriso era tranqüilo e não tocou seus olhos. — Por isso quando ela se recuperar, não tente impedir o noivado. —Ele pediu com a voz fria olhando para um ponto distante.

Eu senti meu estomago revirar com aquelas palavras, por um incrível momento eu pensei que tivesse entendi errado, mas a dureza dentro de seus olhos me fez ver que não. Mas como isso era possível? Ele não podia... Ele não a amava...

—Fique longe. —Ele pediu com a voz fria.

—Eu vou ficar. — eu disse. Parecia que havia algo enfiado na minha garganta, como se eu estivesse sufocando.

—Isso é só. —Ele parecia aliviado quando concluiu, como se esperava uma explosão minha.

—Não. —Eu reagi no mesmo instante, eu precisa saber o que estava acontecendo, eu não iria perdê-lo novamente sem lutar dessa vez. —Porque esta fazendo isso? Não há amor... não pode se casar sem amor. —Eu perguntei furiosa.

—Eu sei que é duro. —Ele começou a explicar rapidamente. —Pode parecer difícil acreditar... —Ele parou de falar e olhou para mim, com os olhos suplicantes. —Ah amor, a muito amor nisso. A Amanda apreendeu a lição, ela não faria nada se não tivesse certeza que existisse muito amor dos dois lados.

—Não, não pode ser. —Eu me recusava acreditar nisso. Ele só estava fazendo isso por causa de Victoria, eu tinha certeza ele não podia me sacrificar por uma decisão sua... —Thiago...

—Chega Sarah. —Ele me cortou bruscamente. —Nada vai muda, pra que prolongar isso. —Ele respirou profundamente como se estivesse cansado.

Eu estava tento uma batalha interna, eu queria implora para que ele ficasse comigo, eu imploraria se ele permitisse. Ele não me amava.

Ele não me amava. Eu não conseguia acreditar naquelas palavras, era como elas não tivessem nenhum sentido. Não depois de tudo que havíamos passados. Não, não e não, eu me recusava acreditar.

—Quanto? —Uma vontade mórbida de saber a verdade começou a me corroer, eu precisava de resposta, eu precisava saber a verdade, eu tinha que me convencer que aquilo não era parte de um pesadelo.

—Quanto? —Ele repetiu confuso.

—Quanto começou... quando descobriu... —Eu queria perguntar eu queria saber quando ele descobriu o seu amor por ela, mas eu não conseguia formular as palavras, era como se tivesse um nó na minha garganta.

Ele respirou fundo e encarou, sem ver nada, o chão por um momento. A boca dele se contorceu só um pouquinho.

—Acho que foi logo após o nascimento de Victoria. —Ele disse dando de ombros.

Claro. Quando eles ficaram mais próximos. Dividindo a mesma dor, aquilo era propicio demais para surgiu amor. Não havia com o que lutar, não havia como lutar. Eu me rendi cansada e distruida.

—Esta tudo bem. —Sua voz de veludo chegou ao meu ouvido fazendo meu coração sangrar, nada estaria bem daqui pra frente. MAS eu apenas acenei com a cabeça.

Ele pareceu satisfeito com a minha resposta.

—Você deve entrar agora.—Ele ordenou carinhosamente.

—Eu vou. —Eu concordei imaginando como juntaria as partes do meu coração.

Ele pareceu relaxar só um pouco.

—Não se preocupe, isso vai passar rápido. —Ele falou suavemente me dando um beijo na testa e se afastando lentamente.

Eu observei cada passo que ele dava para longe de mim, para sempre. Eu senti como se tivesse arrancando parte de mim. Eu me sentia jogada fora da realidade em um mundo de pesadelo, eu podia  sentir as lagrimas escorrendo por minha face. Enquanto um buraco enorme se abria dentro do meu peito. Até mesmo o ar passando pelos meus pulmões pareciam que iam me explodir.

Ele não me amava. Não havia amor. Eu senti o chão sumir sobre os meus pés, minha vida havia acabado, desaparecido, estava completamente vazia e sem sentido... Eu tentei respirar normalmente. Eu tentei me concentrar, pra encontrar uma forma de sair desse pesadelo, mas não havia saída eu estaria para sempre presa nele.

“Ah amor, a muito amor nisso.” As palavras dele começaram a rondar minha cabeça com cenas de um filme de terror, eu senti meu joelhos fraquejarem sobre o peso do meu corpo. Eu o havia perdido, e não havia como recuperá-lo, ele não seria nunca mais meu. Aquele simples pensamento fazia que o meu corpo tremesse como se tivesse recebido uma avalanche de espinhos perfurando a minha pele, não era muito pior, era como morrer lentamente e sem esperança.

Nada mais importava.


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Notas finais do capítulo

AHhhh gente não esquece do meus reviews



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