Olhe-se escrita por Shayera


Capítulo 4
Capitulo 4


Notas iniciais do capítulo

Boa Leitura. E não esqueçam de ler as N.F



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A perfeição é um vício da nação

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Escrita por Shayera

A passarela bem iluminada, coberta por cerejeiras, dava a impressão de ser infinita. Por mais que caminhasse sobre os saltos agudos há um bom tempo, ela nunca chegava ao fim. Sua mãe a aplaudia eufórica com lágrimas nos olhos, e beijos eram enviados em direção da menina. Uma mão a tocou no ombro nu e Sakura olhou para o lado em busca do dono daquelas mãos macias.

Era ela mesma. Os mesmos olhos tristes, o mesmo cabelo rosado, porém as bochechas eram grandes, cheias de gorduras e oleosa. O corpo vultoso demais coberto somente por uma fina manta transparente que revelava sua nudez, e o excesso de gordura, fez Sakura levar as mãos até a boca para abafar o grito que escapara da garganta. Não era ela, não podia ser.

A mão inchada voltou a tocá-la, mas a menina se afastou rápido demais e seu corpo se chocou com alguém atrás de si.

Os olhos brilharam quando as lágrimas escaparam sem permissão. Pânico seria a palavra perfeita para descrever o estado em que Sakura se encontrava ao se deparar com a pessoa que a encarava.

Era ela, novamente. Os mesmos olhos e cabelos. Mas, dessa vez, o rosto estava magro demais. O corpo era magro demais. Osso e pele, literalmente. Sem curvas, sem seios e quadris, apenas os ossos eram visíveis ali. A barriga funda e as costelas amostra causaram náuseas em Sakura, e ela sentiu vontade de sair correndo daquele lugar.

As cópias da Haruno sorriram com escárnio, e o som das vozes finas e acusadoras fizeram as penas da rosada vacilar.

– Gorda! - Gritaram, com os dedos apertando os braços de Sakura.

As iris verdes banhadas de pavor procuraram por Mebuki, mas ela não estava mais ali. Tentou se soltar, correr e pedir por ajuda. Precisava fugir. Se esconder de tudo e todos, principalmente dela mesma. E foi quando a passarela se partiu no meio e tudo se apagou. Tudo sumiu. E mais uma vez Sakura estava sozinha.

– Eu quero meu papai. - O soluço do choro ecoou por todo lugar, e Sakura sentiu um arrepio percorrer sua espinha ao reconhecer aquela voz falha.

Forçou suas vistas a se acostumarem com a escuridão e tentou encontrar a criança que chorava. Algo dentro de Sakura clamava para que se afastasse dali, fechasse os olhos e esperasse pelo fim. Não queria, não estava preparada para o confronto que viria. Mas a outra parte não queria ser covarde, precisava ficar e encarar, mesmo sabendo que sairia mais quebrada do que já estava.

– Por quê? Por que você me deixou? Por que deixou que ela fizesse isso comigo, com você, com a gente? - Os soluços se tornaram mais altos e a culpa caiu sobre os ombros de Sakura.

O que ela havia feito?

Uma única luz iluminou um canto sujo da sala e a menina de estatura pequena, corpo delicado e nu, cabelos rosados e grudados no rosto suado, estava encolhida com lágrimas grossas em seus olhos terrivelmente verdes. Ela tremia de frio e, ao mesmo tempo, medo.

Sakura estudou a criança em sua frente como havia feito há anos atrás, quando observava seu reflexo em um grande espelho com sua mãe ao seu lado. Pressionou o peito com as duas mãos tremulas e se permitiu chorar. Chorou por tudo o que havia passado. Pela separação dos pais, a saída do homem que tanto havia lhe ensinado. Pela mãe que enlouquecera e, com tanta dedicação, transformara sua feliz vida em um completo inferno. Chorou pelas coroas ganhadas, amigos perdidos e principalmente pela perda dela mesma. Pelo vazio que habitava dentro de si. Por ter desistido de todos seus sonhos quando resolveu lutar pelo sonho e felicidade de sua mãe e esquecer a sua. Chorou por não ter sido forte o bastante para dizer um simples não e ter permitido que sua vida virasse de cabeça para baixo. Chorou e suplicou para que tudo aquilo tivesse um fim.

A sala vazia e escura nada mais era do que Sakura carregava em seu interior. Nada. Um espaço vago cheio de nada.

– Eu me odeio. - sussurrou.

– Eu odeio você! - Sakura deu um pulo de susto com o grito forte da criança. Ela a encarava com os olhos em fúria, e mordia os lábios para conter a ira. - Eu odeio você. Eu odeio você.

O urro se tornou mais forte e Sakura cambaleou para trás.

– Eu odeio você!

Paralisada e amedrontada, Sakura sentiu quando algo tocou seu corpo e a balançou freneticamente, mas não conseguia se mover e tirar os olhos da menina possuída pela fúria.

– Sakura! Sakura, querida. Acorde. - A luz forte fez a Haruno fechar os olhos com força e a imagem de sua mãe entrou em seu campo de visão quando voltou a abri-los - Meu bem?

– Eu odeio você. - sussurrou amargamente.

– O que? Sakura fale direito, eu odeio quando fica murmurando. Isso me irrit..

– Eu odeio você! Tire as mãos de mim. Eu odeio você! - Perdida na bagunça assustadora que era em seu interior, Sakura começou a se debater no banco e nos braços da mãe.

Ela a odiava e se odiava por isso. Como poderia odiar a própria mãe? Mas, que mãe faria o que Mebuki fez com a própria filha?

Mebuki se afastou de Sakura e assistiu quando Suigetsu embalou sua filha em seus braços e a consolou de um jeito que nunca ela havia tentado. Com tanto cuidado, como se a qualquer momento a menina fosse quebrar.

Sakura ainda tentou se debater algumas vezes, mas acabou não resistindo e deixou o calor do corpo de Suigetsu acalmar seus nervos.

– Está mais calma? - perguntou o menino, acariciando os cabelos rosados. Sakura balançou a cabeça e se aconchegou mais ao Hozuki. - Que bom. Agora tenta dormir mais um pouco, falta um tempinho para chegarmos.

– Não quero dormir. - respondeu com a voz fraca. O medo de encontrar suas “cópias” era maior do que ela.

– Mas eu estou aqui, pequena. Não vou deixar nenhum pesadelo idiota atrapalhar seu sono. Pode ficar tranquila.

As esmeraldas brilharam com lágrimas ameaçando cair novamente e observaram o garoto que abraçava seu corpo com tanta ternura e proteção e, algo dentro da Haruno mais nova, pela primeira vez depois de anos, se aqueceu.

– Dorme. - Os lábios macios tocaram a testa da menina e, sentindo-se segura, Sakura adormeceu.

*****

As paredes que um dia haviam sido pintadas de roxo agora eram douradas, com gardênias delicadamente desenhadas dando um ar de pureza ao quarto. Ele estava maior, ela percebera, encarando o enorme closet que tomava metade do cômodo.

As mãos acariciaram a madeira bem-polida da cama enorme enquanto caminhava para o centro do aposento. Uma prateleira de madeira branca guardava as inúmeras coroas que Sakura havia ganhado nos concursos que participara. Ela odiava aquelas coroas, e o sentimento de repulsa se instalou dentro da menina.

– Gostou? - Perguntou Mebuki, ainda temerosa pelo episódio de mais cedo no avião.

– O que aconteceu com ele?

– Sua mãe me ligou há uns meses atrás e ordenou que chamasse uns pedreiros - respondeu Chiyo que estava parada a porta ao lado de Mebuki - Derrubaram a parede que separa o seu quarto e o do lado e fizeram esse closet.

Sakura resmungou e andou em direção ao closet entupido de roupas. Um espelho grande desenhou sua imagem e a de Mebuki, que andou em direção a Sakura e prendeu uma coroa em seus fios rosados.

– Minha princesa. - disse a Haruno, sorrindo orgulhosamente enquanto contemplava a filha. - Minha menina linda.

A mulher se distanciou e Sakura observou pelo espelho as pessoas que acompanhavam sua mãe.

Chiyo estava do mesmo jeitinho, talvez com alguns fios mais prateados. Com os olhos grudados em si banhados de saudade, preocupação e tristeza.

Suigetsu estava mais atrás e também encarava suas costas. Mas, quando seus olhos se encontraram, Sakura pode enxergar ternura, companheirismo e proteção. Talvez o bote salva-vidas que havia procurado dentro de seu quarto na França. Quem sabe?! Porém a raiva voltou em seus olhos quando estudou a mãe. Olhos tão cheios de egoísmo, angústia, ambição e futilidade.

Sua mãe, a mulher a quem devia respeito. A Eva que lhe dera a luz. Quem deveria amar e idolatrar pelo resto de sua vida.

Mebuki Haruno, a mulher que roubara sua infância, seus amigos, sua casa e sua vida. Quem tomou tudo de si, e, até aquele momento, continuava a sugando.

A coroa que descansava sobre sua cabeça era de prata, com pequeninos cristais ao redor e uma pedra de esmeralda no centro. Era linda, e a preferia da Haruno mais velha.

Sakura inclinou a cabeça para o lado e seu corpo pesou e, de repente, tudo aconteceu em câmera lenta.

Uma lágrima solitária escorreu no mesmo ritmo em que a coroa se desprendia de seus cabelos e ia de encontro ao chão. Sakura observava o cair da coroa em êxtase, paralisada, ouvindo o grito agudo de sua mãe. A coroa quicou duas vezes e parou ao lado dos pés de Sakura.


E ali, parada em frente ao espelho, com um dos motivos de sua infelicidade ao chão, a rosada soube que não era apenas a queda de uma simples coroa, mas a queda dela mesma.

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"Não sei como parar de comer. ... Preciso ser mais forte e mudar a imagem no espelho. Porque, no momento, ODEIO MINHA APARÊNCIA!..." - Tara, 14 anos.


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Notas finais do capítulo

Meninas, não sei como me desculpar pela pela demora. Infelizmente eu tive um problema com o capitulo. Ele estava completo e só faltava algumas coisinhas, mas meu not comeu o capitulo e eu perdi tudo, fiquei muito chateada e perdi a inspiração. Mas graças a Deus consegui terminar.

Como já havia comunicado a vocês, eu estudo muito e faço estágio, então peço que entendam.

Estarei respondendo todos os comentário e espero que tenham gostado do capitulo de hoje. Ficou pequeno, mas fiz com todo carinho. Comentem

Beijos



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