Tão frio quanto a Coréia escrita por Garota Errada


Capítulo 5
Temperatura -10


Notas iniciais do capítulo

Cada escritor tem sua maneira de criar vidas, mas todos os leitores tem o mesmo dom de revivê-las.
Comentário faz bem a vida, ao leitor e principalmente a inspiração do escritor. Comente!

Assistam ao trailer: https://www.youtube.com/watch?v=NwcbfYlir7M



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Não tinha grandes expectativas sobre como seria meu primeiro dia na Coréia. Não esperava que me levassem algum tour e tampouco que pudesse conhecer mais da cultura desse país. Na verdade a não espera de nada surgiu durante a manhã; ter apenas San Min como companheiro de café da manhã, demonstrou que meu dia seria tão solitário e sem tarefas, como a minha chegada.

San Min saiu para escola e antes de fazê-lo informou-me que seus pais trabalham e que sua avó também realiza um trabalho até as 4 da tarde; o que significa que ficaria sozinha. Caso tivesse acesso a internet e meu celular não tivesse ficado para trás na mudança repentina em minha vida, o fato de ficar só não me incomodaria. Eu ocuparia as minhas horas com afazeres cotidianos que realizava em outros tempos.

Entretanto até isso foi tirado de mim, até o direito de sufocar meus sentimentos e pensamentos com tecnologia me foi vedado; agora estou sentada defronte a escrivaninha do quarto que ocupo com um caderno aberto e um lápis ao lado. Tenho os meus pés sobre a cadeira e meus braços envolto as pernas, mirando as folhas em branco sem saber ao certo o que fazer.

Como na noite passada a tristeza está rondando-me cruelmente e sei se não ocupar a minha mente começarei a chorar, até sinto as primeiras lágrimas dar seu sinal.

O que devo fazer?

Claramente não tenho uma resposta satisfatória para esse impasse, a única coisa que vem a minha mente é ainda esse caderno. E o que se pode fazer num caderno? Escrever. E o que preciso escrever nele? Sobre mim. Pelo menos assim eu acho.

Então desfaço o abraço em torno de minhas pernas e repouso meu queixo entre as pernas a encarar intensamente o papel, enquanto levo o lápis sobre ele. As primeiras palavras que surgem nele não é nada animador, são palavras soltas sobre a minha dor.

‘Morte, acidente, viagem, mudança, pais, amigos, inverno, tristeza, medo e confusa’.

Olho todas as palavras, todas com sua ligação, porém com uma ideia vazia, sem realmente passar algum tipo de sentimento ao que está dentro de mim. Volto a escrever como um desafio a mim. ‘Escreva melhor’ digo em pensamento, ordenando-me a forçar as ideias e deixa-las esvair sobre a folha de papel; preencher corretamente cada uma dessas linhas.

Não chego a escrever mais nada, alguém bate à porta. Viro-me em direção a mesma, batem novamente. Não sei que horas são, posso ter ficado um longo tempo, como somente no máximo uma hora; por isso acho estranho.

Levanto-me cautelosa e sigo para a porta enquanto batem nessa mais uma vez. Não tenho certeza se é bom falar algo, por isso fico em silêncio. Como na noite anterior colo meu ouvido a porta o que acaba fazendo-me levar um susto (o que era obvio) quando voltam a bater. Meu grito que sai espontaneamente quebra a ideia de não fazer barulho.

–Comer. – a voz de San Min pronuncia do outro lado.

Respiro aliviada e abro a porta. Ele ainda está no seu uniforme escolar, mas sobre ele há um avental o que o torna uma figura fofa do garoto mal humorado.

Ele desaprova visivelmente meu sorriso diante a minha olhada analítica ao seu traje e se retira, sigo-o imediatamente.

–Já é hora do almoço? – pergunto.

–Sim.

–Você chega sempre nesse horário?

Ele volta-se para mim e faz que sim com a cabeça.

–Volto depois. – explica, sem muito detalhe.

–Para escola?

Novamente ele concorda com a cabeça.

–Onde estudava também era assim. – digo. – O que você tem agora, teatro, dança, ou o que?

Adentramos a casa, quando faço essa pergunta, ele me olha com estranheza.

–Estudo. – diz secamente.

–Estuda? Ah! As atividades extras são na parte da manhã?

Novamente aquele olhar sobre mim.

–Estudo manhã, estudo tarde. – explica, para então se sentar. – comer agora.

Sento defronte a ele, embora tenha colocado meu prato e tigela na cadeira ao lado desta.

–Só estuda, e isso não é cansativo?

Ele me encara demoradamente claramente ponderando as minhas palavras, mas não chega a responde-las simplesmente começa a comer; sinal para que também faço o mesmo e cale a minha boca. Entendo a minha vida nesse lugar realmente será vedado de tudo, até mesmo de uma conversa mais decente.


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Notas finais do capítulo

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