Como era típico de Elena, a sua desconfiança estava junto com ela, mas naquele momento era pegar ou largar. Precisava chegar até o centro da cidade, mas se tivesse que esperar um táxi ou alguma carona, poderia correr o risco de ser pega novamente pelos caras da boate.

Entrou na caminhonete do homem e ele deu partida. O motor velho fez um ronco alto tomar conta do local, mas o veículo funcionava bem o suficiente para leva-los até a cidade.

_ Este é o centro de Martinsville. – disse o homem quando acabavam de chegar à cidade.

_ Eu nem sei como agradecer. – ela disse olhando para ele.

_ Não conte a ninguém que contou com a minha ajuda, certo? – ele pediu e imediatamente ela concordou, era o mínimo que poderia fazer.

_ Muito obrigada! – disse descendo do carro.

Elena viu o homem partir de volta para casa e sentiu-se extremamente incomodada com a sensação de estar sozinha novamente. Estava com seus sapatos de salto na mão e andando descalça pelas ruas da pequena cidade. Seu vestido curto estava ainda molhado. Soltou seu cabelo que ainda estava preso por causa da peruca, o que o deixou levemente marcado. Encarou a vitrine de uma loja e as pessoas olharam desconfiadas, ela estava com uma aparência horrível.

Buscou por um telefone público e o único que encontrou estava estragado. Pediu o telefone de uma loja de roupas e, apesar dos olhares de estranhamento, a dona deixou-a usá-lo sem problemas.

_ Estou no centro, em uma loja de roupas na rua principal.

_ Estou a uns oito quilômetros da cidade, não saia daí. – ele disse desligando.

Elena saiu da loja, não seria viável esperar lá dentro. Encontrou uma praça na quadra ao lado, caminhou por alguns minutos até encontrar um banco para sentar. Sentia-se exausta, estava com os pés doloridos e sujos, não havia dormido a noite toda. Seus pulsos estavam marcados pelas cordas também e seu anel estava todo torto. Ela poderia rir daquela situação, havia saído da cidade com o principal suspeito de um caso que ela foi paga para desvendar. Damon não poderia ter saído da cidade, muito menos com ela.

Damon estava ansioso por encontrar Elena, não sabia ao certo quando foi que a sua preocupação tomou dimensões extraordinárias e ele quis busca-la onde quer que estivesse. Talvez porque sabia que ela estava naquela situação por sua culpa, ou talvez fosse algo mais. Quando passou pela entrada da cidade seu coração começou a acelerar. Buscou em todas as placas encontrar uma rota para a rua principal da cidade. Inútil.

Elena estava sentada na praça, observando a cidade e, principalmente, atenciosa sobre qualquer movimentação suspeita que pudesse lhe colocar em perigo novamente. Não havia muitos carros por perto, o sol estava alto, provavelmente era horário do almoço. Mas um dos veículos lhe chamou atenção.

_ Damon! – ela gritou do outro lado da praça, mas ele não ouviu.

Ela correu ao redor da praça tentando chamar a sua atenção, e obteve sucesso. O moreno a viu correndo desesperadamente ao seu encontro, estacionou o carro de qualquer jeito e desceu para recebê-la.

Elena não compreendeu de imediato sua atitude, mas precisava daquilo. Assim que Damon se aproximou, ela correu para perto dele e o abraçou, sendo recebida da mesma maneira. Um abraço forte, aliviado. Ela sentia-se protegida.

_ Você está bem? – ele disse segurando o rosto dela entre suas mãos.

_ Estou bem. – ela disse eufórica. – Acabou. Eles me amarraram, me trouxeram para cá no porta-malas de um carro, eu consegui me soltar... – ela começou contando de forma atropelada e Damon a interrompeu.

_ Não vamos pensar nisso agora, ok? Vamos para casa. – ele disse já a guiando para o carro.

A viagem foi mais rápida na volta. Ambos sentiam-se tranquilos agora, estavam juntos novamente e nada poderia impedi-los de contar o que sabiam. Elena dormiu durante quase todo o trajeto, já se passava da uma hora da tarde quando finalmente chegaram ao hotel. Estavam famintos.

Depois de pedirem alguma coisa para comer ali no hotel mesmo, Damon contou a Elena que Richard havia ligado diversas vezes para ela.

_ O que eu digo? – ela perguntou pegando o celular em mãos.

_ O que ele está esperando você dizer. – ele deu de ombro fingindo não ligar para o assunto.

_ Eu não vou retornar. – ela avisou.

_ Olha, Elena, me desculpe por ter te colocado nessa. Eu nem deveria ter falado sobre as empresas. – ele pediu.

_ Você está brincando? – ela riu. – O que eu descobri é fantástico. Há um fornecimento de produtos da ClearQuimic para uma fábrica de produtos tóxicos. – ela disse contando o que viu.

_ O que? – ele questionou empolgado com a história.

_ Isso mesmo. A ClearQuimic está fornecendo produtos para uma fábrica de produtos químicos perigosos, e algo me diz que alguém lá dentro sabe disso. – contou.

_ Mas quem? – ele perguntou incomodado com aquilo.

_ Isso é o que eu vou descobrir. - ela disse entrando no chuveiro.

Minutos depois, Elena saiu do banho com a toalha envolta no cabelo e outra em torno de seu corpo. Sem esperar, Damon entrou no quarto e a encontrou daquela maneira, surpreendendo-a. Ele a encarou descaradamente de cima a baixo e não se desculpou por isso.

_ Poderia, por favor, me deixar sozinha? – ela pediu depois de recuperar-se do momento constrangedor.

_ Não. – ele disse simplesmente, jogando-se na cama.

_ Então ao menos vire de costas. – ela disse e ele fechou os olhos. – Ok, Damon, eu uso o banheiro.

Elena havia deixado o hotel com Damon há poucas horas e estavam agora seguindo de volta para casa. A morena ligou para Richard que atendeu o telefone irritado com a falta de resposta dela.

_ Imagino que tenha me ligado para autorizar a prisão daquele marginal. – ele disse.

_ Errado. – falou. – Estou prestes a descobrir que este assassinato tem muitas outras informações envolvidas que podem apontar para o verdadeiro culpado.

_ Pare de falar asneiras, Elena. Seu chefe ligou e expusemos o caso, ele disse para você ficar fora da investigação. – Richard contou deixando-a furiosa.

_ Em primeiro lugar, meu chefe não ligaria para você. E em segundo lugar, a possibilidade de prender Damon está fora de cogitação!

_ O mandado de prisão já foi dado, ele será preso ainda hoje. – Richard contou desligando o telefone.

_ Pare o carro! – Elena mandou deixando Damon confuso.

_ O que? – ele perguntou.

_ Richard autorizou seu mandado de prisão, você não pode voltar para a cidade! – ela disse de forma desesperada.

_ Está louca? Eu não posso sair da cidade, minha acusação terá mais um motivo a favor. – ele disse seguindo viagem.

_ Nós temos que achar outra forma. – ela disse afundando-se no banco.

_ Por que você acha que eu sou inocente? – ele questionou depois e um tempo de silêncio.

_ Eu não acho. – ela disse. – Eu só acredito que precisamos de mais informações para decidir qualquer coisa. – ela repetiu o que já havia dito.

Depois de chegarem à cidade, Damon parou seu carro em frente à sua casa e encarou Elena sem demonstrar nada. Ela sentiu-se confusa com aquela situação, não conseguia decifrá-lo.

_ Você repete isto desde a nossa primeira conversa, mas eu sei que no fundo você acredita em mim. – ele disse se aproximando perigosamente dela.

_ Você não sabe o que diz. – ela afirmou desnorteada.

Elena podia sentir o hálito de Damon bater em seu rosto. Ela apoiou-se na porta para abri-la e escapar dali, mas estava tão confusa que não conseguiu encontrar a fechadura. Damon colocou as mãos no porta-luvas do carro, Elena não viu o que ele tirou dali, ela só percebeu o que estava acontecendo depois que sentiu que um ferro gelado estava encostado em seu abdômen.

_ O que está fazendo? – ela perguntou receosa.

_ Salvando a sua vida. – ele cochichou.

Damon depositou sobre os lábios de Elena um beijo singelo, um leve encostar de lábios, provocante e assustador ao mesmo tempo. Ela nem havia notado que seus olhos se fecharam com o contato, mas estava com raiva de si mesma por ter gostado do que aconteceu.