Secret Diaries escrita por Cat Cullenn


Capítulo 2
CAPÍTULO II – O (re) Encontro




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POV DE EDWARD

Não fazia muito tempo que nós havíamos nos estabelecido em Londres.

Nós esperávamos um inverno rigoroso para que pudéssemos aproveitar as grandes metrópoles; a única maneira de podermos viver da forma mais normal possível, se é que normal é um adjetivo apropriado.

Nem havíamos nos matriculado em algum estabelecimento de ensino... Carlisle é que já havia começado a trabalhar; tendo em vista que era um ótimo profissional, e sempre que inventávamos que precisávamos nos mudar com urgência ele conseguia ótimas recomendações, para onde quer que fosse.

Estava nevando bastante. Olhei ao redor e todos estavam tranqüilos no enorme apartamento que havíamos alugado, a lareira acesa transmitia um ar de aconchego ao ambiente.

Não que sentíssemos frio, de jeito algum.

Mas o calor que emanava do fogo era agradável aos nossos corpos gélidos.

Eu tocava a música de Esme no maravilhoso piano de cauda branco que havia no meio da sala, enquanto ela estava sentada no banco ao meu lado.

Alice e Jasper estavam sentados no sofá, observando meus dedos correrem profissionalmente pelas teclas, assim como Carlisle, Rosalie e Emmet, em pé do lado oposto da sala.

Todos sorriam, e seus pensamentos acompanhavam a melodia que emanava do instrumento, e parecia exalar de meu prório corpo também.

Então, sem pensar, como se meus dedos agissem por puro instinto, a melodia desacelerou e transformou-se em outra música. Uma música que eu não tocava há mais de 50 anos.

A canção de ninar que eu havia composto para Bella.

Canção de Ninar

Pude perceber que todos ficaram surpresos e preocupados. Os sorrisos espontâneos de antes tornaram-se forçados, e os pensamentos livres e despreocupados teimavam em se perguntar o que eu estava fazendo, porquê eu havia enfim decidido voltar a tocar aquela canção.

A verdade é que nem eu mesmo sabia a resposta para essas dúvidas.

A única coisa que eu sabia era que estávamos no dia 13 de Setembro, e era aniversário de Bella. Ela estaria comemorando 68 anos.

Aquela, acredito eu, foi a única forma que meu cérebro encontrou de homenageá-la.

Quando acabei de tocar Esme afagou meu ombro, numa forma de demonstrar solidariedade... De dizer que também se lembrava daquela data e que também sentia saudades de Bella.

Fugi dos pensamentos de Jasper... Ele até hoje se culpava por eu ter me separado de Bella, mesmo após eu ter lhe explicado que não faria diferença... Nós nunca poderíamos ter ficado juntos mesmo, foi até melhor para Bella que tivesse acontecido logo.

Me levantei, coloquei um sobretudo, luvas e um cachecol (o que um humano faria se fosse sair naquelas condições) e saí, sem que ninguém me fizesse uma única pergunta.

A única coisa que ouvi foi o último pensamento de Alice.

“Por favor, apenas volte para casa.”

Fui seguindo o caminho pelo qual minhas pernas me levavam, sem ter um destino certo.

A noite de Londres estava fria.

Eu estava cansado de ficar em casa. Já não sabia mais o que fazer para matar o tempo, enfrentar a solidão.

Estava distraído, quando uma música me chamou a atenção...

Fazia mais de 50 anos que eu não a ouvia.

MÚSICA: Flightless Bird, American Mouth

I was a quick wet boy
Diving too deep for coins
All of your straight blind eyes
Wide on my plastic toys
And when the cops closed the fair
I cut my long baby hair
Stole me a dog-eared map
And called for you everywhere

Have I found you?
Flightless bird, jealous, weeping
Or lost you?
American mouth
Big bill looming

Now I'm a fat house cat
Cursing my sore blunt tongue
Watching the warm poison rats
Curl through the wide/white fence cracks
Kissing on magazine photos
Those fishing lures thrown in the cold and clean
Blood of Christ mountain stream

Have I found you?
Flightless bird, climbing, bleeding
Or lost you?
American mouth
Big bill, stuck going down



TRADUÇÃO: Pássaros Incapazes de voar, boca americana.

Eu era um garoto rápido e molhado
Mergulhando fundo por moedas
Diretamente nos seus olhos cegos
Largo nos meus brinquedos de plástico
E quando os policiais fecharam o parque de diversões
Eu cortei meu longo cabelo de bebe
Roubaram meu mapa marcado em paginas
E chamei por você em todos os lugares

Eu achei você?
Pássaro de fuga, invejoso, chorando
Ou perdi você?
Boca Americana
Grandes contas aparecendo

Agora eu sou um grande gato gordo
Amaldiçoando minha dolorida e cega lingua
Assistindo o quente veneno de ratos
Cachos pelas amplas / brancas fendas da cerca
Beijando uma foto de revista
Os que pescam iscas lançadas no frio e limpo
fluxo do sangue da Montanha de Cristo

Eu achei você?
Pássaro voador, cabelos castanhos sangrando
Ou perdi você?
Boca americana
Grande conta, emperrada caindo.



No mesmo instante uma onda de nostalgia percorreu meu corpo. Minha mente imediatamente remeteu-se a uma cena que ocorrera tantos anos atrás.

Um baile. Essa música. O amor da minha existência.

Bella.

Eu nunca consegui esquecê-la. Nunca superei a dor imensa, a falta que ela me fazia. Hoje, mais do que nunca, eu tinha absoluta noção disso.

Entrei no bar de onde a música fluia, ávido por absorver as últimas notas daquela canção que me trazia tantas lembranças magníficas.

O lugar estava calmo. Poucas pessoas nas mesas, algumas em volta de uma mesa de sinuca. As luzes eram fracas, e fariam do ambiente um lugar sombrio, não fosse a alegria que radiava dos jovens ali presentes.

Olhei para o palco, do lugar de onde vinha a música. Um jovem cantava no videokê, para uma platéia sorridente e calorosa.

" - Now I'm a fat house cat
Cursing my sore blunt tongue
Watching the warm poison rats
Curl through the wide/white fence cracks
Kissing on magazine photos
Those fishing lures thrown in the cold and clean
Blood of Christ mountain stream..."
- Ele fez uma pausa, esticando a mão para a platéia. - Bella! Hey, você mesmo! Venha aqui me ajudar!

Uma garota, na faixa de 18 anos, se levantou e subiu no palco, timidamente.

Eu parei de respirar.

Aquela Bella era a MINHA Bella.

Meu amor.

Eu não entendi nada. Haviam passado o quê? 50 anos?

Não importava. Eu PRECISAVA falar com ela.

“- Bella vai dar um show, agora, quer apostar?”

Os amigos sentados na mesa de frente para o palco falavam baixo, mas eu podia ouvi-los perfeitamente.

“- Rá. Com certeza. Sean sabe que ela odeia ser provocada, ainda mais em público.”

Bella pegou outro microfone, e com uma desenvoltura estonteante começou a cantar em dueto com Sean.

- “Have I found you?
Flightless bird, jealous, weeping
Or lost you?
American mouth
Big bill looming...”


Eu conseguia ler a mente de Sean... Via ele pensar na música, tentando recordar da letra.


Mas, como sempre, a mente de Bella era totalmente bloqueada para mim.

Eu me aproximei mais. Sabia que era perigoso. Lembrei da primeira vez que eu a vira, no colégio em Forks. Lembrei da vontade que eu tive de matá-la. Porque antes de mais nada, o sangue de Bella tinha um efeito quase irrefreável em meu instinto.

Mas mesmo assim, eu continuei me aproximando. Era mais forte do que eu.

Quando estava a poucos metros do palco, eu inspirei.

Uma onda de alívio percorreu meu corpo, juntamente com uma onda de desapontamento total, e de uma dúvida gigantesca.

Primeiro, porque o cheiro não invadiu meu corpo, minha garganta não ardeu violentamente em sinal de protesto e SEDE. Aquela não era a MINHA Bella.

O cheiro dela era gostoso, até mesmo levemente similar... Mas nem de longe causava o efeito devastador que o sangue de Bella tinha sobre mim, e eu agradeci a Deus por isso.

Segundo... Somente quando eu senti vontade de gritar de dor por detectar que aquela não era a minha Bella; por perceber que eu não iria até lá e tomá-la nos braços) por sentir vontade de desaparecer ao constatar que eu não havia matado a saudade de seu cheiro... Eu percebi o quanto minha alma ANSIAVA por vê-la de novo, mesmo que de longe.

E terceiro. Se aquela não era a minha Bella... Quem era?

Eu continuei parado observando ela cantar. A voz também era similar, mas não era a mesma.

Então a garota se virou e seus olhos encontraram os meus.

Por um momento ela parou de cantar, seus olhos se fechando em fenda para me enxergar melhor, uma ruga vincando a testa.

Então ela piscou e sacudiu a cabeça, retornando à canção, mas seu olhar continuou fixo em mim.

Quando a música terminou seus amigos aplaudiram e Sean a segurou no colo pela cintura.

- Heeeey, Bells!!! Perfeito como sempre, amor! – Beijou-lhe descontraídamente os lábios e começou a descer do palco, dando-lhe a mão de apoio, para que descesse também.

Ela segurou a mão de Sean por hábito, pois seus olhos ainda sustentavam o meu olhar.

- Sean... – Ela falou baixo, mas foi perfeitamente audível para mim. – Amor, vai indo pra mesa... Eu acho que reconheci alguém... Um amigo. Ok?

Sean olhou para trás, seguindo o olhar de Bella, forçando a vista para me enxergar melhor. Eu não me movi.

- Ok. Não demora, tá? – Ele falou, e logo após ela lhe deu um beijo rápido e veio em minha direção.

Os cabelos cor de mogno balançavam suavemente enquanto ela caminhava, e uma mecha ficou presa em seus lábios quando ela virou para trás ara acenar uma última vez para Sean.

- Olá. – Ela falou, parando na minha frente e sorrindo. – Meu nome é Isabella. Mas todos me chamam de Bella. Desculpe mas... Eu conheço você de algum lugar?

Ela me analisava por completo; parecia que queria puxar da memória de onde me conhecia.

- Hum, acho que não, realmente.

- Estranho... Tenho a sensação de que seu rosto me é familiar...

- Devo ser uma pessoa comum. Você não é a primeira que me diz isso.

Ela continuava a me analisar.

- Qual o seu nome? – Perguntou, sem rodeios, tendo em vista que eu ainda não havia me apresentado.

- Edward Cullen. Muito prazer, Bella.

Pude ver que o corado até então presente em seu rosto se esvaiu completamente, e seu rosto demonstrava que ela não acreditava no que havia acabado de ouvir.

- Desculpe, você disse... Edward Cullen?

- Sim... – Respondi, agora bastante receoso. – Exatamente.

Então ela estendeu a mão para mim, e eu agradeci por estar de luvas.

- Muito prazer, Edward. Meu nome é Isabella Marie Black Uley.

Isabella Marie... Black... Uley?

O que diabos aquilo significava?

- Er... Edward? – Voltei de meus devaneios, e percebi que eu ainda segurava a mão de Bella.

- Desculpe-me eu... – Falei, ainda meio desnorteado, tentando assimilar aquela informação.

- Engraçado... Eu sempre pensei em como seria se um dia eu te encontrasse... No que falaria... Mas nunca acreditei que isso pudesse acontecer realmente.

Eu não estava entendendo absolutamente NADA do que ela dizia. E ela percebeu isso.

- Sei que você deve estar um tanto quanto... Confuso. Mas o fato é que... – Ela deu uma leve olhada para trás, e Sean estava nos observando. – Bem, eu não posso conversar agora. Perai.

Ela mexeu no bolso de trás da calça jeans que usava e tirou um papel. Cutucou um garçom que servia a mesa ao lado de onde estávamos parados e lhe pediu uma caneta.

- Aqui... Pronto. – Falou, enquanto anotava algo no papel. – Me liga pra gente conversar pessoalmente, ok? Vou ficar esperando...

Me entregou o papel meio amassado e se aproximou mais um passo.

- Sabe... Minha avó tinha razão quando disse que você deslumbrava as pessoas.

Ela se virou e saiu, e eu continuei ali, parado, sem conseguir mover um único músculo do meu corpo.

FIM DO POV DE EDWARD





POV DE BELLA B. U.

Eu reconheci o rosto do homem que me encarava de algum lugar, mas não sabia de onde.

E ele simplesmente ficou ali, parado, enquanto eu cantava com Sean. Não sei como não perdi toda a concentração.

Resultado? Quando a música acabou eu TIVE que ir falar com ele.

E quando eu descobri quem ele era... Juro por Deus, quase morri do coração, foi por MUITO POUCO.

Eu não queria deixá-lo ir... Queria ficar ali e conversar com ele, ouvir o que ele tinha para falar... Mas eu sabia que a essa altura Sean estaria quase parindo um filho pelo ouvido, só de me ver conversando com um homem que ele não conhecia.

E QUE HOMEM. Tenho que admitir, minha avó tinha bom gosto.

Bem... Ele não era humano, na verdade, e eu sabia.

Então o máximo que pude fazer foi escrever meu telefone num pedaço de papel e entregar para ele, e começar a rezar para que ele não sumisse, que simplesmente me ligasse.

Voltei para a mesa e Sean estava com uma cara completamente emburrada. Tive até que achar engraçado. As vezes Sean era ciumento ao extremo.

- Ah, até que enfim o seu amiguinho te liberou, né? – Ele foi falando antes mesmo que eu me sentasse. – Quem é o cara? Você conhece ele de onde, Bells?

- Ih, Sean! Uma pergunta de cada vez, baby! – respondi, tomando um gole da cerveja que já havia praticamente esquentado totalmente. – Ele é um amigo que conheci da última vez que vim à Londres...

Nós estávamos fazendo intercâmbio de seis meses na cidade, que iria acabar no próximo mês. Mas eu já havia feito uma viagem sozinha, estilo mochileira, nas minhas últimas férias do colégio.

- Hum. Você nunca me falou que tinha feito amizades aqui...

- Ai, Sean! Porque não pensei que precisasse fazer um relatório de tudo o que já aconteceu na minha vida, quando comecei a namorar você!

- Gente, e convenhamos, interrompendo... – Martha se inclinou sobre a mesa para falar conosco, mas a atenção de todos estava voltada para a nossa conversa. – QUE AMIGO LINDO! O homem é um Deus grego, Bells! Te cuida, hein Sean! Hahahahaha!

- Rá. Rá. Rá. Muito engraçadinha você, Martha. – Sean não estava achando graça nenhuma naquela conversa, e isso era explícito em sua fisionomia. – Não acho graça nenhuma nesse cara. É o tipo de beleza óbvia. Pff.

- Ahhhh, sim! – Martha continuou, adorando colocar pilha em Sean. – Porque as belezas ÓBVIAS são as piores, né? Aquelas que estão ali, bem na sua cara, que você não precisa se esforçar pra ver? Porque o booom mesmo é você ficar procurando, arduamente, até achar alguém bonito. Esse é o graaande charme da conquista! – Ela estava sendo irônica, claro. – Ah, fala sério, Sean! O cara é perfeito!

- Gente, gente... – Interrompi, antes que Sean tivesse uma síncope nervosa, o que eu sabia que não estava longe de acontecer. – Para com isso! Sean, amor... Não tem nada a ver! Acredita em mim, tá? Ele é realmente um amigo que eu não via há muito tempo, e que eu nem pensei que fosse encontrar um dia!

Sean assentiu com a cabeça, mas eu sabia que estava contrariado. Essa história ainda ia render um bocado em meu ouvido.

Ficamos ainda mais um tempo no Pub... Quando todos estavam cansados, e um tanto quanto alegres devido à cerveja, resolvemos ir para o apartamento que alugávamos. Agradeci a Deus por ser sábado e poder dormir até tarde no dia seguinte.

Quando saí do banho, Sean já estava completamente apagado na cama, a bochecha achatada sobre o travesseiro, e apenas o abajour do meu lado iluminava o quarto.

Fui até o armário e peguei uma caixa de sapatos na parte de cima, com cuidado, agindo devagar para não fazer nenhum barulho e acordar Sean.

Retirei de dentro da caixa um pequeno livro de couro preto, já bastante envelhecido pelo tempo e do tamanho de uma agenda, e me sentei na cama, perto do abajour.

Eu já havia lido e relido aquelas palavras milhares de vezes. Já praticamente as sabia de cor. Mas nunca me cansava de reler.

Hoje, então, eu ANSIAVA por elas.

Palavras eternizadas por minha avó, Bella Swan Black, em seus diários.

“16 de Setembro de 2005.

Minha vida está acabada.

O amor, a vida, o significado... Acabados.

Edward foi embora. Prometeu que nunca mais irá voltar, e que será para mim como se ele nunca houvesse existido.

E sei que é verdade. Que ele cumprirá sua promessa.

Ele levara com ele as lembranças físicas que provavam sua existência. O álbum de fotos que Renée me deu de aniversário estava no mesmo lugar em que eu havia deixado, mas após eu abrir nem precisei passar da primeira página.

As pequenas cantoneiras de metal não prendiam mais nenhuma foto. A página estava vazia, a não ser por minha própria letra rabiscada na parte de baixo:

“Edward Cullen, cozinha do Charlie, 13 de setembro.”

Não me dei ao trabalho de continuar olhando. Sabia, dentro de mim, que ele teria feito o serviço completo.

Deitei no chão de madeira, esperando apagar ali mesmo, sem ânimo de deitar em minha cama. Infelizmente, não perdi a consciência, e por isso decidi escrever nesse caderno, para tentar amenizar um pouco essa dor que sufoca meu peito e mata minha alma em doses aceleradas.

Sei que isso não deverá adiantar.

Minha alma foi embora junto com Edward.”


Todas as vezes que lia aquelas palavras meu coração ficava apertado em meu peito, como se uma mão os esmagasse lentamente.


Era como se eu sentisse a dor e a mágoa que minha avó sentira... Como se ela me fizesse sentir todo o sofrimento por que passou, sozinha, sem ter com quem conversar.

Continuei, virando a página.

“Janeiro de 2006.

Só estou voltando a escrever agora, pois só agora minha mente começou a acordar de algo pior do que a própria morte.

Eu me enclausurei dentro de mim mesma nos últimos meses. Não me lembro de como vivi, ou melhor, de como sobrevivi nesse tempo. Mas sei que estou aqui.

E hoje, um novo fato me deu um pouco de alegria.

Eu OUVI Edward.

Descobri que posso ouvi-lo quando me coloco em situações ameaçadoras e perigosas.

Então já sei o que preciso fazer para que ele fique comigo, para que eu continue, pelo menos, sendo presenteada com o embalar reconfortante de sua voz.

Se é perigo que eu preciso encontrar para isso... É perigo que irei procurar.”


Suspirei fundo e fechei o livro.

Não conseguia entender como alguém poderia amar tanto um outro ser, mais do que a si próprio. Como poderia se colocar em risco de morte apenas para ouvir uma voz, uma criação de sua cabeça?

Reabri o livro, já algumas páginas a frente.

“Janeiro de 2006.

Hoje uma luz clareou minha mente, de repente, quando eu menos esperava.

Estava no refeitório com os outros, e eles conversavam sobre trivialidades, e mais uma vez minha mente começou a vagar para longe.

Para ELE.

Eu ainda não consigo pronunciar seu nome, e nem ao menos consigo escrevê-lo.

Levantei sem tocar em minha comida, deixando para trás os olhares curiosos de Mike, Jéssica e Ângela, e me dirigi à secretaria.

Ele cometera uma falha.

Quando foi embora, levou todas as lembranças físicas com ele... As fotos que eu havia tirado... O CD que havia me dado de aniversário...

Mas ele esqueceu uma coisa.

A foto que tiramos no baile.

Quando peguei o envelope pardo na secretaria senti meu coração bater tão forte dentro do meu peito, que minhas costelas chegaram a DOER.

Não tive coragem de abrir ali.

Saí e fui para a minha picape, e somente quando já estava lá dentro, me sentindo minimamente protegida e completamente sozinha, rasguei a ponta do envelope e delicadamente retirei de lá de dentro a foto colorida.

Meu coração falhou uma batida.

Senti como se desfalecesse; como se minha alma saísse do meu corpo, e observasse tudo de longe, como um telespectador curioso e receoso.

Ele era ainda mais perfeito do que meu cérebro humano e ineficaz se lembrava.

Eu era ridiculamente normal e insossa ao seu lado.

Ambos sorríamos, eu terrivelmente sem graça e contrariada, ele olhando para mim, achando graça da situação.

Eu usava o vestido azul que Alice havia me emprestado, e uma bota de gesso contrastava com o salto fino em meu outro pé, e por esse motivo ele segurava a minha cintura gentilmente, me dando apoio e coragem.

Meus olhos transbordaram em questão de segundos e eu apertei a foto no meu peito, imediatamente sentindo o buraco se abrir, o vazio tomar conta do meu ser.

Ele quebrou a promessa que havia feito.

Jamais seria como se ele nunca tivesse existido, então.”


Peguei a foto, já meio desbotada, que encontrava-se em meio as páginas.

Eles formavam um belo casal. Era notável o olhar apaixonado de Edward enquanto olhava para minha avó, o sorriso meio torto imaculadamente registrado pela máquina.

Era difícil acreditar que ele tivesse a deixado daquela forma, depois de tudo o que havia lutado para ficar junto de minha avó, para mantê-la VIVA.

Eram diversos diários escritos por ela durante toda a sua vida. No início, eu não entendia bem o que havia acontecido, porque ele a havia deixado.

Não entendia porque ela dizia que do lado dele ela era apenas uma humana insossa.

Fui descobrir a história de vampiros e lobos mais para frente, e, assim como minha avó, não fiquei chocada com nada. Nada me surpreendia com facilidade.

Folheei mais algumas páginas a frente e voltei a ler.

“Fevereiro de 2006.

Eu descobri algo que pode mudar minha vida.

Eu amo Jacob.

Desobri que preciso dele como uma droga. Eu o usei como muleta durante muito tempo, e fui mais fundo do que pretendia ir com qualquer outro.

Eu JAMAIS quis amar Jacob. Isso é algo que eu tenho certeza – sei disso na boca do estômago, no cerne de meus ossos, sei disso do alto de minha cabeça à sola dos meus pés, sei no fundo do meu peito vazio e dolorido – o amor dá as pessoas o poder abrasador de despedaçar conosco.

Agora sofro duas vezes.

Pois também sofro agora por saber que magoarei Jacob, alguém que NUNCA, JAMAIS gostaria de fazer sofrer.

Mal consigo suportar a idéia de magoá-lo, mas ao mesmo tempo não consigo visualizar uma maneira de não fazê-lo. Ele acha que o tempo e a paciência me farão mudar.

E embora eu saiba, dentro de mim, que ele está tremendamente enganado, sei também que o deixarei tentar, e que isso irá aumentar ainda mais suas esperanças.

Ele é meu melhor amigo. Meu sol. Eu sempre o amarei dessa forma, e isso nunca, jamais será o suficiente para ele.”


Sorri após ler aquelas palavras escritas numa caligrafia tão parecida com a minha. Eu mesmo me surpreendia em como eu e minha avó éramos tão parecidas, não só fisicamente, mas em tantas outras coisas.

E em como éramos tão diferentes em outras, também.

Porque eu JAMAIS iria me deixar abater de forma tão maléfica por alguém que me abandonara, após me prometer amor eterno, após prometer me proteger de tudo e de todos.

Alguém que me enganara tão cruelmente quanto Edward fizera com ela.

E sorri também por ver que quando escrevera aquelas palavras minha avó REALMENTE acreditava ser impossível amar Jacob de uma forma diferente, a não ser como um bom amigo.

Ela nunca imaginaria que poderia amá-lo como HOMEM, tê-lo como companheiro, e que seria sua mulher pelo resto da vida.

Realmente, a vida as vezes nos surpreende.

Eu ia reabrir o diário quando meu celular que estava no modo silencioso sobre a mesinha de cabeceira acendeu.

“Chamada de número PRIVADO.”

Olhei para Sean, que estava em sono profundo, e me levantei sorrateiramente da cama, levando o diário comigo, entrando no banheiro e fechando devagar a porta atrás de mim.

Espirei fundo e atendi.

- Alô?

- Er... Bella?

Aquela voz.

- Olá, Edward.

- Olá... Desculpe por estar ligando a essa hora... É que eu REALMENTE necessitava conversar com você.

- Sim, sim... Eu também. – Fiz uma pausa, e ele também não falou nada, então continuei. – Mas agora não posso, estou sussurrando porque senão meu namorado acorda... Mas podemos nos encontrar amanhã, o que você acha?

- Ótimo. Amanhã seria ótimo. – Pude perceber um toque de ansiedade em sua voz.

- Ok, então. Você me liga e eu te digo aonde me encontrar, certo?

- Sim, certo. – Mais uma vez silêncio na linha. – E.... Bella?

- Sim?

- Sua... avó... – Ele engoliu em seco para pronunciar a última palavra, pude perceber. – Ela está... bem? Ela está VIVA?

Dessa vez quem ficou em silêncio foi eu.

- Acho que será melhor conversarmos pessoalmente, Edward. Estou sussurrando dentro do meu banheiro, no meio da madrugada. Tudo bem?

Ele soltou o ar pesadamente, demonstrando sua frustração.

- Ok. Me desculpe, eu... Tudo bem.

- Ok, então. Até amanhã. Boa noite, Edward. Apesar deu saber que você não vai pregar o olho, não é mesmo?

Silêncio, pela terceira vez em menos de dois minutos.

- Ok. Boa noite, Bella. Até amanhã. Durma bem.

Desliguei o telefone, guardei o diário e fui dormir. Amanhã será um longo dia.

Eu ainda tinha que pensar no que eu faria para despistar Sean; afinal, seria domingo, não teríamos aula.

Coloquei o diário e o celular dentro da gaveta na mesinha de cabeceira ao meu lado, apaguei a lâmpada do abajour e deitei vagarosamente na cama, tentando ser silenciosa para não acordar Sean.

Entrei sob os edredons, de costas para ele, que imediatamente passou o braço sobre mim, e encostei a cabeça no travesseiro.

Esperei um segundo, e percebi que a respiração de Sean continuava tranqüila. Fechei os olhos.

- Com quem você falava no celular?

Levei um susto tão grande coma pergunta de Sean que quase engasguei com minha própria saliva.

- Pensei que você estivesse dormindo. – Falei, voltando a fechar os olhos e tentando acalmar minha respiração.

- É, eu sei que você pensou. – Mordi o lábio inferior com aquela afirmação de Sean. – Mas e aí... Não vai me responder? Quem era no telefone, Bells?

- Era minha mãe. – Menti, rezando para que ele não tivesse ouvido a conversa e me pego no flagra. – Ela disse que havia tentado falar comigo de dia, e como não conseguiu ficou preocupada e ligou de novo.

- Sua mãe? – Mesmo no escuro e de costas para ele podia sentir a desconfiança em sua voz. – Hum. E está tudo bem em La Push?

- Sim, sim... Está. Está tudo na mesma.

Ficamos em silêncio por alguns segundos, Sean provavelmente pensando se finalmente acreditava em minha versão.

- Hum. Que bom, então. – Ele me puxou mais para junto de si. – Boa noite, amor.

Soltei o ar, aliviada.

- Boa noite, Sean.

Edward não me deu sossego. Esteve presente em meus sonhos durante todos os segundos da longa noite.

E exatamente por esse motivo dormi mal. Me remexi a noite toda e acabei praticamente caindo da cama, tão cedo acordei, principalmente para uma manhã de domingo.

Sean parercia REALMENTE em sono solto dessa vez. Vesti uma roupa rápida e saí antes mesmo de ir ao banheiro, levando meu celular comigo.

Parei no corredor na porta ao lado do meu quarto e enviei uma mensagem.

“Martha...

Tá podendo sair rapidinho? Carl tá acordado?

Tô aqui na porta do teu quarto, vou esperar dez minutos, ok?

Bella.”

Cruzei os braços e rezei para que Sean não acordasse e sentisse a minha falta.

Edward não me deu sossego. Esteve presente em meus sonhos durante todos os segundos da longa noite.

E exatamente por esse motivo dormi mal. Me remexi a noite toda e acabei praticamente caindo da cama, tão cedo acordei, principalmente para uma manhã de domingo.

Sean parercia REALMENTE em sono solto dessa vez. Vesti uma roupa rápida e saí antes mesmo de ir ao banheiro, levando meu celular comigo.

Parei no corredor na porta ao lado do meu quarto e enviei uma mensagem.

“Martha...

Tá podendo sair rapidinho? Carl tá acordado?

Tô aqui na porta do teu quarto, vou esperar dez minutos, ok?

Bella.”


Cruzei os braços e rezei para que Sean não acordasse e sentisse a minha falta.


Quando os dez minutos estavam chegando ao fim, a porta do quarto de Martha se abriu.

- Oiii, Bells... – Ela cochichava, enquanto fechava a porta com cuidado atrás de si. – Bom diaaaaa! Caiu da cama?

- É... Pois é... – Eu também falava baixo. – Martha... Desculpa te acordar a essa hora... Mas é que estava precisando REALMENTE de um favorzinho...

Ela cruzou os braços e me olhou, a expressão curiosa.

- Eu tava precisando dar uma saída agora de manhã... SOzINHA. – Martha arqueou a sombrancelha com essa última colocação. – E como a gente está precisando fazer as compras do mês, já que nossa dispensa está praticamente vazia... Estava pensando se você poderia me convidar para ir contigo, e enquanto você fazia as compras eu resolvia a minha situação...

Martha passou a mão nos cabelos.

- E a sua... “situação”... Por acaso é alta, esbelta e tem os cabelos mais lindos que eu já vi na vida?

Suspirei fundo. Se eu precisava de um favor, Martha não podia se sentir enganada.

- Sim... Tem a ver, sim. – Ela sorriu maliciosamente, ao que eu tratei de concluir. – Mas não da maneira que você está pensando...

- Eu? – Ela arregalou os olhos, a mão no peito, com ar de indignação. – Eu não estou pensando NADA, Bella. Ai de mim. – Me olhou, sorrindo. – Tudo bem. Daqui a meia hora bato lá e faço uma cena, certo?

Assenti com a cabeça e voltei para meu quarto, encontrando um Sean completamente apagado.

Tomei banho e coloquei uma roupa, e cronometradamente em meia hora Martha bateu à porta, me convocando para ajudá-la com as compras do mês.

Perguntei, já sabendo a resposta, é claro, se Sean não queria ir conosco, para nos ajudar, afinal sempre íamos enfrentar o mercado sozinha.

Ao que ele, prontamente, disse que estava indisposto, que ia ficar com Carl esperando nosso retorno para almoçarmos juntos.

Peguei um casaco pesado; tinha olhado pela janela e o tempo estava feio, uma tempestade de neve prevista para a tarde, e saí acompanhada de Martha.

Assim que chegamos ao calor que fazia dentro do carro, Martha falou.

- E aí? Você vai me encontrar aonde, então? E que horas?

Eu realmente não fazia idéia . Ainda tinha que esperar Edward entrar em contato comigo. Eu nem podia retornar a ligação, já que o número que constava era privado.

- Eu te ligo assim que acabar. – Falei, e ela me olhou de lado, momentaneamente se desviando da direção. – Não deve demorar.

- Espero mesmo que não... Não gostaria de ficar horas enrolando dentro do supermercado, sozinha... E além do mais, se passarmos muito do tempo de costume os meninos irão desconfiar. Sean já está com a pulga atrás da orelha.

Assenti com a cabeça e olhei para fora da janela. Havia poucas pessoas nas ruas... Todas estavam aproveitando aquela fria manhã de domingo para colocar o sono em dia.

Assim que Martha estacionou o carro, e que havíamos acabado de nos despedir, meu celular tocou.

- Alô? – Minha voz saiu ansiosa.

- Bom dia, Bella. – Edward, ao contrário, parecia calmo e sereno.

- Bom dia.

Ficamos alguns segundos em silêncio, até que ele finalmente quebrou o silêncio.

- O nosso encontro de hoje ainda está de pé?

- Sim, sim. Inclusive, eu estaria livre agora. Você poderia me encontrar?

- Com certeza. Onde você quiser.

- Hum... Que tal no parque perto do Rio? Com esse tempo, deve estar bem tranqüilo por lá.

- Estarei lá em dez minutos.

- Ok, te encontro lá.

Enfim chegara o momento.

O momento em que eu conheceria realmente Edward Cullen, tão citado em todos os diários de minha avó Isabella, que eu havia encontrado há anos atrás, no porão da casa de minha mãe.

O momento de encontrar com quem, eu acredito, foi o único e verdadeiro amor de minha avó.

O momento de encontrar o homem que a abandonara sofrendo, sem jamais olhar para trás.

FIM DO POV DE BELLA. B. U.

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