Sick escrita por Mia Elle


Capítulo 11
Capítulo Onze


Notas iniciais do capítulo

Ok, esse capitulo é maior do que os outros, e a partir dele a história muda drasticamente. É um dos meus prediletos, e não me apedrejem depois de lê-lo. ))):



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Frank ainda dormia peito do maior, enquanto este, que acabara de acordar, acariciava seus cabelos. A chuva tinha dado uma trégua, mas o dia ainda estava nublado, provavelmente voltaria a chover novamente mais tarde.
De repente, Frank acordou. Sentiu os dedos do maior se mexerem em seu cabelo, e não abriu os olhos. Apenas lembrou-se de tudo que acontecera naquela manhã. Cada beijo, cada carícia...
Inevitavelmente sorriu.
- Frank? Acordou pequeno? – Gerard disse, baixinho, percebendo que os lábios do menor haviam se levantado.
Frank abriu os olhos.
- Ger, vamos tomar um café?
- Claro pequeno, antes de você me agarrar, era o que eu estava fazendo - disse, rindo.
O menor riu também e se sentou na cama, olhando para o namorado.
- Não, eu quis dizer, tomar um café ali na frente. – o pequeno apontou para a janela.
Gerard tombou a cabeça para o lado.
- Anh... Se você quiser eu te dou o dinheiro e você pode ir buscar e...
- Não, Ger, eu quero ir ao café com você. – Frank mordeu o lábio inferior, torcendo para o outro não ficar bravo.
Gerard sentou na cama também, franzindo o cenho.
- Frank, você sabe muito bem que eu não saio de casa.
- Mas é aí que eu quero chegar, Gee. Você já melhorou tanto sabe? E uma das coisas que você precisa fazer ainda é sair de casa. Tenho certeza que seu médico ficaria feliz com você – o maior não respondeu – e eu também – completou o pequeno.
- Frankie, eu não sei se eu...
- Gee, olha, não vai acontecer nada. A gente atravessa a rua, entra no café, faz o pedido, come, paga e volta pra cá. Simples – sorriu torto.
- Mas eu não sei como é a limpeza e...
- Gee, pára! Eu vivo indo lá e sou saudável.
- Você sabe qual é a minha opinião sobre a sua saúde – Frank revirou os olhos e Gerard prosseguiu – e as pessoas vão nos ver.
- Que se dane nas pessoas, vamos! – falou energético, levantando da cama e começando a se vestir.
Gerard, conhecendo Frank, sabia que ele não desistiria. Respirou fundo e fez o mesmo.
Depois de se vestirem, trancaram o apartamento e desceram as escadas juntos. Gerard se sentia muito, muito estranho. Mas estranho do que quando admitiu precisar de tratamento, de quando admitiu gostar de Frank, de quando teve sua primeira consulta com o psiquiatra... isso era definitivamente muito estranho.
Deixar as pessoas verem ele, e cochicharem sobre ele. O que as pessoas iam pensar de ver o ‘Cara Louco do Quinto Andar’ caminhando normalmente pela rua? Era ridículo até.
Mas Frank estava radiante, nem se importando com isso. Gerard respirou fundo e tentou pelo menos fingir que não se importava. Sua tentativa falhou miseravelmente quando viu a cara do Tom, o porteiro.
- Gerard? – tinha expressão de alguém que achava estar sonhando. Ele piscou os olhos freneticamente e repetiu, mais pausadamente – Gerard Way?
Frank riu e disse:
- Só vamos tomar um café – e pra piorar as coisas, segurou as mãos do maior, puxando-o para fora do prédio.
Gerard engoliu em seco e sorriu amarelo para Tom, murmurando um ‘Boa Tarde’ em uma voz fraca.
- Frank, que coisa é essa de segurar a minha mão? – disse baixo, porém irritado, quando saíram do prédio. O menino ignorou e continuou a andar, com as mãos atadas com as do outro.
Gerard sentia como se tivesse um holofote de luz em cima dos dois, era como se todos olhassem para eles. A senhora voltando da feira, o alfaiate na porta do seu ateliê, a garçonete do café, as pessoas na janela do prédio, o advogado com a maleta que descia do carro, Tom, que se levantara de sua cadeira e olhava atento pela janela da sua guarita, todos.
Todos assistiam a cena. Um menino sorridente – como se nunca tivesse estado tão feliz em toda a sua vida – puxando um homem mais velho, que tinha uma expressão de medo, e que todos conheciam como sendo Gerard Way, o cara rico e louco que vivia trancafiado em seu apartamento no quinto andar.
Depois do que pareceram horas para Gerard, ele finalmente ouviu um sininho tocar, indicando que eles acabavam de entrar no café. Não estava muito cheio, era por volta das duas da tarde. Mesmo assim, algumas pessoas os encararam.
Frank indicou uma mesa ao lado da janela, e se encaminharam para lá. Sentaram-se um de frente para o outro, e logo a garçonete apareceu, perguntando o que desejavam.

Linda aproveitara a trégua na chuva para voltar para casa. Ela teria que dirigir por cerca de uma hora da casa de sua mãe até em casa, e não gostava de pegar a estrada com chuva, então, logo depois do almoço, partira.
Esperou a garagem abrir, estacionou o carro e entrou em casa.
- Frank? – chamou enquanto subia as escadas – Frank? – o quarto do menino estava vazio. Franziu o cenho, depois se lembrou de que ele podia ter ido à casa de um amigo. Foi tomar um banho.

Gerard e Frank terminaram seus cafés algum tempo depois, e as pessoas já não os encaravam mais.
- Ger, quero que você conheça a minha casa – Frank disse, sorrindo e puxando o maior pelo braço quando saíram do café, indo em direção a casa do pequeno.
Frank destrancou a porta, feliz, e segurou-a para Gerard entrar. O mais velho olhou, sorrindo, para o que ele ainda achava ser um antro de bactérias. Reparou na poeira em alguns cantos e depois chacoalhou a cabeça, lembrando que aquilo não faria mal a ele. Ou pelo menos é o que o médico dizia.
Frank puxou-o de novo dizendo:
- Vem, vou te mostrar meu quarto.
Subiram as escadas, e Frank reparou que a porta do quarto de sua mãe estava aberta. Não teve tempo de dizer ‘porra’, nem de largar a mão de Gerard, nem mesmo de pensar no que podia acontecer. Por que, naquele instante, Linda saiu do banheiro de roupão, e disse:
- Frank querido, você... – e depois se interrompeu. Seus olhos focalizaram Gerard, e depois nas mãos entrelaçadas. E depois, um grito – Você! O que você está fazendo na minha casa? – ela ficou muito vermelha, estava descontrolada.
Gerard sentiu a mão do menino tremer na sua, ele parecia apavorado. Linda veio correndo, descontrolada e separou as mãos dos dois, ainda xingando Gerard de todos os nomes possíveis. Ela virou-se para ele e começou a apontar para a direção da rua, gritando:
- Fora! Não sei o que você fez com o meu filho, mas eu quero você fora daqui! Eu sempre soube que... – Gerard parou de ouvir, tinha a atenção toda em Frank, que estava encostado na parede, com os olhos parados. Abriu a boca para avisar Linda, mas nesse instante o menino caiu, causando um barulho. Seus olhos reviravam, seu corpo todo tremia e tinha saliva saindo excessivamente de sua boca. Ele não parecia estar consciente.
- Frank! – Gerard gritou, dando a volta na mulher e se ajoelhando ao lado do menino.
- O que você fez com ele? O que vo...? – a mulher gritava mais alto ainda, se isso fosse possível.
- Eu não fiz nada com ele! Me trás uma toalha e um travesseiro – a mulher hesitou – rápido! – Linda saiu correndo em busca do que Gerard pedira.
O homem perdera a conta de quantas vezes vira isso acontecer com seu pai, e quantas vezes ele, ou Mikey, tivera que sair correndo para buscar toalhas e travesseiros quando a mãe pedia. Ele sabia que nada aconteceria, que em alguns minutos o menino estaria bem, mas não deixava de estar preocupado.
Apenas segurou a cabeça do menino, para que não causasse nenhuma lesão, e esperou Linda voltar, enquanto as lágrimas caiam e ele apenas murmurava:
- Eu sabia, eu sempre soube, sempre soube, sempre soube...
Não podia ser que apenas a algumas horas atrás eles estivesse mais juntos do que nunca naquela cama e agora tudo desmoronasse dessa forma. Ele não sabia se podia agüentar tudo de novo...
Linda voltou entregando a toalha, que foi usada para limpar o excesso de saliva, e o travesseiro, que foi colocado sob a cabeça do menino, que parava de tremer gradativamente. O ataque cessou por completo depois de cerca de um minuto, e o menino caiu num sono profundo.
Gerard respirou fundo e sentou no chão. Linda perguntou calmamente, porém com raiva no olhar:
- O que você fez com ele?
- Eu não fiz nada com ele. Ele apenas teve uma convulsão epiléptica. – Gerard respondeu, ainda com os olhos parados, ainda em estado de choque.
- E por que o meu filho teve uma convulsão epiléptica? – ela perguntou irônica, arqueando as sobrancelhas.
- Não sei. Ele deve ser doente, é isso. Meu pai tinha epilepsia, mas ele pode ter outra coisa também...
- Meu filho não é doente! - Gerard não se conteve e riu – qual a graça?
- Você nunca percebeu? Desmaios, perda de sentido momentâneas, vômitos, quedas sem motivo aparente... – Gerard disse, enumerando com os dedos, arqueou as sobrancelhas e olhou para a mulher, que aparentemente estava sem resposta.
- Eu... Como é que você sabe de tudo isso?
- Frank vive mais na minha casa do que aqui.
- Fora! Eu não sei o que você andou fazendo com meu filho, mas saia daqui! Ele nunca mais vai entrar naquele... Apartamento! Fora! Agora! – Ela apontava freneticamente para a porta, seu rosto começou a ficar vermelho novamente.
- Tudo bem, estou indo – disse, sabendo que não poderia argumentar – a senhora devia levá-lo pro hospital imediatamente. Ele teve uma das formas de ataque epilético mais graves.
Dizendo isso, desceu as escadas e voltou para seu apartamento, as lágrimas começando a rolar quentes por seu rosto. Não respondeu as indagações de Tom, apenas voltou ao seu apartamento e ficou na janela até ouvir as sirenes de ambulância, e depois Frank saindo em uma maca.
Escondeu-se atrás das cortinas antes que Linda o visse.

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