República Evans escrita por Carol Lair


Capítulo 14
Religando os Fatos




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Capítulo 14 – Religando os Fatos

Num movimento brusco, Remus puxou as cortinas e abriu a janela do quarto, o qual foi invadido pela luz do sol instantaneamente. Com um resmungo, Sirius abriu uma fresta dos olhos cinzentos, mas rapidamente foi obrigado a cerrá-los de volta por conta da claridade. James apenas remexeu na cama e enterrou a cabeça embaixo do travesseiro.

– Qual é, Remus? – Sirius resmungou, sonolento.

– Já são duas horas da tarde. - ele constatou, um tanto sério.

– Eu cheguei às sete horas da manhã! – Sirius protestou, sentando-se em sua cama, com os cabelos totalmente despenteados. – O que aconteceu?

James logo percebeu que não conseguiria continuar dormindo, mesmo sob o travesseiro. Por fim, ele se sentou em sua cama e espremeu as pálpebras para enxergar os amigos. Remus atravessou o quarto e se largou sobre sua própria cama, aparentando cansaço. Os outros dois o encaravam com expressões interrogativas.

– Helena. – Remus respondeu, desanimado. – Ela não quer falar comigo.

– E o que eu tenho a ver com isso? – Sirius indagou, sem entender.

Remus soltou todo o ar de seus pulmões sonoramente, quase bufando.

– Olha, Sirius, eu entendo que você goste da adrenalina de ter mais de um encontro por noite e tudo o mais. – Remus olhava sério para o amigo sonolento. – Mas já que você passou boa parte da festa com a Marlene, você não podia ter se controlado depois que ela foi embora?

Sirius virou a cabeça lentamente e encontrou os olhos arregalados de James. Remus logo identificou que havia um ar cúmplice pairando na atmosfera do quarto: era como se os amigos conversassem telepaticamente.

– Merda. - Sirius murmurou, após finalmente se lembrar de tudo o que acontecera.

–--

Assim que Alice abrira os olhos, a primeira coisa que lhe ocorreu foi acordar Marlene e contar-lhe tudo o que descobrira com a ajuda de Lily e Anita antes que perdesse a coragem, mas logo percebeu que estava sozinha no quarto. As camas de Marlene e Helena estavam vazias.

Pouco tempo depois, Alice desceu as escadas para comer alguma coisa. Na sala, encontrou Sarah lixando as unhas freneticamente e falando sem parar ao telefone. Ao notar a presença da prima, Sarah baixou o tom de voz e virou-se, para que Alice não pudesse ouvir. Puxa, Sarah, eu estou tão curiosa para ouvir a sua conversa, Alice pensou, sarcástica, enquanto se encaminhava à cozinha.

E lá estava Marlene, sentada à mesa, com uma expressão abatida.

– Oi, Alice. - ela cumprimentou a recém-chegada, com a voz murcha.

– Oi, Lene. Tudo bem?

Foi então que Alice descobrira que não sabia como abordar o assunto.

– Ontem aconteceram tantas coisas, Alice. - Marlene começou.

– A Lily me contou. - Alice sentou-se ao lado da amiga. - Você está bem?

– Estou preocupada com o que pode acontecer. O Sirius ainda não me procurou e provavelmente não vai mais falar comigo. - Marlene apoiou o queixo em uma das mãos e suspirou. - Além do mais, a Helena me mandou uma mensagem agora há pouco pedindo para eu esperar por ela porque ela tem uma coisa muito importante para me contar. Você sabe de alguma coisa?

Alice vasculhou na memória e não encontrou nada.

– Não faço ideia, Lene. Mas voltando à festa... - Alice reparou que Marlene desviou o olhar, constrangida. - Bem, a Anita-

Mas a porta da cozinha se abriu e uma Bellatrix entrou, usando as mesmas roupas da noite anterior. Ela provavelmente havia acabado de chegar da casa Frank.

– Espero não estar atrapalhando. - falou, fingindo não ter percebido que as havia interrompido. - Eu tenho um aviso importante para passar. Minha irmã Narcissa me ligou e vai precisar passar uns dias aqui. Façam o favor de tirar suas bagunças da sala, é importante ter uma casa arrumada para visitas.

– Ela vem mesmo? - Alice não pôde esconder sua decepção.

Narcissa havia se formado no semestre anterior e morara na república até o início do verão. Sua presença era ainda mais insuportável do que a de Sarah e Bellatrix juntas: era uma mulher completamente esnobe e simplesmente não aceitava qualquer coisa que não estivesse do jeito que ela queria. Só de imaginar-se dividindo a casa com Narcissa novamente, Alice sentiu náuseas.

– Sim. - Bellatrix respondeu, secamente. - Ela resolveu trocar a cor das paredes do apartamento dela e precisa ficar uns dias fora.

– E ela não podia ficar na casa do Malfoy?

Alice recordara-se do quanto era gratificante quando Narcissa fazia suas malas e saía para passar o fim de semana na casa do namorado.

– Olha, Alice, eu só estou comunicando que ela vem, não estou pedindo sua permissão. - Bellatrix abriu um sorriso sem dentes. - Agora eu vou dormir porque minha noite foi muito cheia, estou acabada e preciso descansar. Não façam barulho.

E, assim, Bellatrix saiu da cozinha, deixando Alice borbulhando de raiva por dentro, embora por fora tivesse permanecido inalterada.

– Eu vou para a casa da Lily. – Alice decidiu, levantando-se da mesa. - E você deveria vir comigo.

Marlene se encolheu em sua cadeira

– Não! O-o Sirius está lá... e... o James também. Eu não vou, Alice.

– Marlene, não seja covarde. Nós temos muito o quê te contar também. Vamos!

–--

Foi Lily quem abriu a porta e rapidamente as convidou para entrar. Antes de dar o primeiro passo para dentro, Marlene esticou o pescoço para espiar o ambiente; constatou que única pessoa presente na sala era Anita, que lia sua inseparável Vogue. Aliviada, ela entrou.

– E aí, Alice, veio para agendar a data do coma? – Anita perguntou, colocando a revista de lado e abrindo um sorriso maligno.

Engraçadinha. - Alice jogou-se no sofá, ao lado da amiga. Marlene permaneceu imóvel, junto à porta recém cerrada, pronta para sair correndo caso alguém indesejável descesse as escadas. - Vim porque, como sempre, aqui é mil vezes mais agradável do que a minha casa.

– Você sabe que é sempre bem-vinda aqui! - Lily disse, tentando melhorar o clima.

– Outra boa notícia. – Alice recomeçou. – Narcissa Black vem passar uns dias na minha casa. Que ótimo.

Tanto Lily quanto Anita franziram o nariz ao ouvir aquele nome. Mais do que nunca, Lily sentiu pena da amiga.

Ca-ham. - Marlene pigarreou, a fim de atrair a atenção das outras. - Seria pedir demais se eu sugerisse para irmos para o seu quarto, Lily?

As outras três se entreolharam com o mesmo olhar interrogativo, perguntando-se o por quê daquele pedido. No entanto, quase imediatamente lembraram-se da noite anterior.

– Mas é claro, Lene! - Lily concordou no mesmo segundo. - Vamos subir.

Quando estavam no corredor, Marlene lançou um olhar aflito para a porta do quarto masculino, sendo observada pelas amigas. Assim que Anita abriu a porta do quarto da frente, Marlene foi a primeira a entrar.

Lorens ainda estava na cama, vestindo um pijama azul, com o notebook no colo. A morena abriu um enorme sorriso ao ver as quatro garotas entraram e se sentaram sobre as outras camas.

– A Alice veio agendar a data do coma. - Brincou Anita, fazendo Lorens cair na gargalhada.

– Vai ser na mesma data do da Lily? - Lorens perguntou, ainda rindo.

Lily cruzou os braços e olhou severamente para as amigas, enquanto Alice arqueou uma sobrancelha.

– O que vocês querem dizer com "coma"? - Marlene perguntou, confusa.

– Foi uma aposta, Lene. - Alice respondeu, deixando Marlene ainda sem entender, e virou-se para continuar: - Queridas Anita e Lorens, para a informação de vocês, eu não vou precisar beber uma gota de whisky. Vocês estavam ocupadas demais com seus respectivos para terem me visto com o maravilhoso Gideon Prewett, de Engenharia, ok?

– Você gosta de engenheiros, hein! - brincou Lorens, voltando a rir.

– Gideon Prewett? – Anita repetiu, boquiaberta. - Eu acho esse cara muito gato. Arrasou, Alice!

– Conta como foi! - Lily lhe pediu.

Alice contou resumidamente sobre a conversa que tiveram depois que Lily, Amos e Peter foram embora e, naturalmente, sobre o momento que tiveram a sós, tanto na festa, quanto no banco de trás do táxi. Haviam trocado números de celular e talvez saíssem naquela mesma noite, mais tarde.

– Eu gostei muito dele. - Alice terminava de narrar, com um sorriso. - Juro que já tinha até me conformado com a ideia de não ficar com ninguém na festa, mas ele apareceu do nada e foi tão...inesperado.

– Ufa, então só uma amiga vai entrar em coma! – Lorens disse, fazendo Anita e Alice rirem. - Menos mal.

Lily bufou.

– Não é justo! Eu não vou beber!

– Aposta é aposta. – Lorens falou, tranquilamente.

– Mas que aposta é essa? – Marlene resolvera perguntar, cansada de não entender nada.

– Bom, nós quatro aqui estávamos com alguns probleminhas na vida amorosa. – Lorens resumiu. – Apostamos que quem não beijasse pelo menos uma boca naquela festa teria que beber uma garrafa de Whisky de Fogo inteira.

– Ah. - fez Marlene, entendendo. - Então todas vocês, menos a Lily, conseguiram? - ela fez uma pausa, lembrando-se de algo. - Espera! - virou-se para Lily. - Você ia ficar com o seu ex, não é, Lily?

– É... acho que ia. – a ruiva respondeu, sem jeito.

– Então não é justo que a Lily tenha que beber! Ela só não beijou o Louis porque eu atrapalhei tudo.

Lily abriu um sorriso orgulhoso. Nem tudo estava perdido. Lorens ostentava uma expressão de desentendimento no rosto, já que não estava sabendo do que havia acontecido entre Marlene e James.

– Não entendi. – Lorens concluiu. – Marlene, você está querendo ajudar a Lily, pensa que eu sou idiota, é? Podem parar!

– Não, Lorens. - Marlene disse, desanimada. - Infelizmente, não é isso. Ontem foi uma merda, deu tudo errado.

E então, Marlene narrou tudo o que acontecera depois que Sirius bebeu a fatídica tequila. Durante a narrativa, Lily, Anita e Alice trocavam olhares resignados, tentando combinar, mudamente, uma forma de contar à Marlene sobre suas suspeitas.

– Não creio! - Lorens estava boquiaberta. - E você, que nem estava na aposta, simplesmente pegou os dois caras mais cobiçados da faculdade! Meninas, temos uma vencedora!

A aparência descontente e abatida de Marlene apenas foi reforçada com o comentário de Lorens.

– Então, Lene... - Anita tomou a iniciativa, fazendo o possível para ser cautelosa. - Depois que você foi embora, eu encontrei o Sirius lá na festa.

Marlene olhou-a imediatamente, confusa.

– Mas à que horas, Anita? O James me falou que ele foi embora à meia-noite e-

– Lá pelas duas da manhã. - Anita respondeu, com firmeza.

Marlene não falou de imediato. Ela raciocinava, com os olhos inquietos.

– Que estranho. O James me disse que ele tinha ido embora com o Peter. Será que ele se sentiu melhor e acabou voltando? Eu não avisei a ele de que tinha ido para casa cedo também, talvez ele tenha pensado que eu ainda estaria por lá e-

– Eu acho que o Peter e o Sirius NÃO se encontraram durante a festa toda, Lene. - foi a vez de Alice explicar. - Quando ele, o Amos e o Gideon vieram falar comigo e com a Lily para nos oferecer carona, ele perguntou se nós sabíamos do Sirius e disse que procurou por ele à noite toda.

Lily confirmou com a cabeça.

– O que vocês querem dizer com isso? - o tom de Marlene soou agressivo.

– Calma, Lene. - pediu Anita. - Eu só achei a história mal explicada, mas é você quem tem que perguntar para ele, pode ser que o James tenha entendido errado mesmo.

– Você tem razão, o James pode ter entendido tudo errado. Aliás, será que o James, na verdade, inventou que o Sirius foi embora porque... - Marlene começou a supor, sentindo o coração disparar. - Porque gosta de mim e queria ficar comigo?

– Marlene, o Potter não gosta de ninguém a não ser dele mesmo. - Lily garantiu, segura.

– Você fala isso porque não gosta dele! - Marlene rebateu, convicta. - Mas faz sentido, não faz? Afinal, ele não se importou em perder a amizade do Sirius quando resolveu me beijar. Se vocês estiverem certas no que viram, então o James deve ser o culpado de tudo isso.

As amigas se entreolharam. Lily estava impressionada com a determinação de Marlene em negar a possibilidade de que Sirius tivesse qualquer tipo de culpa; pelo contrário, ela o vitimizava, transferindo toda a culpa para Potter ou para uma suposta falha de comunicação.

– Meninas, - Marlene voltou a falar, pensativa. - Será que se eu explicar tudo isso ao Sirius, ele vai entender e relevar?

As outras quatro amigas a olhavam, incertas sobre o que deveriam responder.

– Olha, Lene, primeiro converse com ele e faça ele explicar tudo o que aconteceu depois que o ele e o James saíram da pista de dança. - Lorens foi a única que teve coragem de enfrentar a cegueira de Marlene, que a ouvia com atenção. - Tem uma peça faltando aí.

– Além disso... - Anita tomou a palavra, respirando fundo. Aparentemente, Marlene só iria compreender a gravidade da situação quando soubesse que Sirius estava aos beijos com outra. Anita não queria ser a pessoa a contar aquele tipo de coisa à amiga, principalmente por conta de seu sentimento pela terceira pessoa envolvida na história, ou seja, por Sirius. Mas fora ela quem presenciara a cena, então não lhe restava alternativas. - Quando eu encontrei o Sirius, ele estava-

Naquele exato momento, a campainha da casa começou a tocar incessantemente. Lily se levantou e olhou através do vidro da janela. Era Helena.

– A Helena está aqui embaixo.

E a campainha não parou de soar.

– Ela disse que queria falar comigo, eu a avisei de que estava vindo para cá. – Marlene suspirou e consultou o relógio do celular. - Ela disse que viria às três, ou seja, agora.

Helena continuou pressionando o botão da campainha incessantemente, fazendo com que Anita tampasse os ouvidos com ambas as mãos.

– Mas o que é isso?!

– Eu vou abrir a porta. - Lily decidiu, caminhando para a saída do quarto. Fechou a porta e encontrou Remus, no começo das escadas.

– Pode deixar comigo, Lily.

– É a Helena. - Lily contou, entre um soar alarmante da campainha e outro. - Aconteceu alguma coisa?

Remus mirou a amiga em silêncio.

– Eu imaginei que fosse ela, só ela poderia agir dessa forma. – Ele disse, referindo-se à campainha ininterrupta.

Mas Lily descera as escadas atrás de Remus. Por que Helena estaria agindo daquela forma tão desesperadamente mal educada? Remus abriu a porta e Helena já foi entrando, sem pedir licença ou sequer cumprimentá-los.

– Mas o que-

– Onde está a Marlene, Lily? - Helena a interrompeu, com os olhos cheios de raiva.

Remus tentou falar alguma coisa, mas Helena o mandou se calar. Lily deu um passo para trás, subitamente assustada com aquele comportamento desnecessariamente agressivo.

– N-no meu quarto. - a ruiva respondeu, gaguejando.

–--

A porta do quarto foi escancarada por Helena. Tal movimento brusco assustara Marlene, Alice, Anita e Lorens. Helena estava ofegante por ter subido as escadas tão rapidamente, mas apressou-se em falar, sem tirar os olhos de Marlene:

– Lene, tenho que te contar uma coisa muito séria.

Marlene se levantou, passou por Alice e Anita e parou ao lado da recém-chegada, preocupada.

– O que aconteceu com você, Helena? Está tudo bem?

– S-sim, mas precisamos conversar.

Remus adentrou da mesma maneira que a namorada o fizera, bruscamente, com Lily ao seu encalço. Ele tomou o braço fino de Helena em sua mão, obrigando-a a olhá-lo.

– Quer se acalmar, Helena? - ele ordenou, muito sério. - Que tipo de comportamento é esse?

– Me solta, Remus! Eu quero falar com a minha amiga!

Todos assistiam à Helena com um misto de preocupação com indignação.

– Mas o que aconteceu? - Alice estava começando a se preocupar.

Helena estava pronta para responder, quando a porta do quarto se abrira novamente. James e Sirius pararam junto ao batente da porta.

– Boa tarde, queridas. Remus. – Sirius abriu um sorriso. - Quem estava tocando a campainha daquele jeito?

– Fui eu, Black! - Helena quase gritou, fuzilando-o com o olhar. Remus apertou mais seu braço. - Mas eu só vim para falar com a Marlene. Somente com ela.

Àquela altura, Remus naturalmente já havia narrado para Sirius sobre a cena que Helena havia feito ao tê-lo visto com a outra garota na festa. Portanto, Sirius sabia que sua presença naquele momento era essencial para exercer controle sobre as consequências do relato de Helena. Olhou para Marlene e ela corou, sem jeito.

– Helena, nós precisamos conversar. – Remus interveio, com as sobrancelhas franzidas. Lily nunca o havia visto tão sério.

– Primeiro eu quero falar com a minha amiga! Pare de me encher, Remus!

– Então desembucha, amiga, eu também estou curiosa! – Anita exclamou, lá do fundo do quarto.

– Eu quero falar é com a Lene e não com você! – Helena respondeu, seca. - Marlene, vamos sair daqui?

Com a resposta ríspida, Anita se encolheu e trocou um olhar com Lorens, ambas não entendendo mais a gravidade da situação. Sirius e James lançavam olhares furtivos a Remus, mas ele não sabia mais o que fazer para conter a namorada.

– Querem saber? - Helena voltou a falar. - Acho que não tem problema se todo mundo ouvir, afinal, todos os envolvidos estão neste quarto. - E olhou severamente para Sirius.

– Então diga, Helena! - Marlene quase lhe implorou.

– Eu vou contar. - disse Helena, num tom desnecessariamente misterioso. - Foi assim: ontem eu estava na pista de dança com o Remus e-

Mas Helena não possuía condições psicológicas para continuar aquela frase. Ela engasgou-se e instantaneamente começou a soluçar. Na mesma hora, lágrimas e mais lágrimas começaram a brotar das extremidades de seus olhos.

Todos os outros presentes se entreolharam, confusos. Remus suspirou e a puxou contra seu peito, o que a fez chorar ainda mais alto, acreditando que a caixa torácica do rapaz pudesse realmente abafar o som de seu choro. Que situação.

– Eu acho que a Helena está um pouco nervosa. – Sirius sugeriu, gentil demais para ser natural.

Ele deu alguns passos na direção de Helena, que interrompeu seu choro quase infantil para observá-lo. Não encontrou palavras para contestá-lo ao notar o sorriso sedutor nos lábios dele.

– Vamos, você precisa se acalmar, não acha? – Sirius perguntou, se aproximando. Pegou a mão da garota, que o encarava um tanto hipnotizada, com o rosto úmido pelas lágrimas. – Vamos sair daqui desse quarto para você tomar um ar.

Helena se deixou ser guiada fácil e obedientemente. Quando compreendeu o método que Sirius utilizava para conversar com ela em particular, Remus lançou-lhe um olhar definitivamente reprovador, mas Sirius o ignorou e continuou trazendo Helena para fora do quarto. Todos os assistiam em silêncio, ainda mais confusos do que antes.

–--

Quando finalmente estavam sozinhos no corredor, Sirius desfez seu sorriso e Helena saiu do transe, caindo em si imediatamente.

– Então você já sabe o que eu vou contar, não é? – sua voz era um tanto agressiva. – Se você acha que vai me convencer a não contar, está muito enganado, Black!

– O Remus me contou o que você viu. - Sirius começou, arqueando uma sobrancelha. - Você precisa mesmo fazer esse escândalo, Helena? Precisa colocar a Marlene nessa situação tão humilhante?

– Foi você quem a humilhou, seu idiota! Ela precisa saber quem é você de verdade!

– E você achou que eu não iria contar para ela? - Sirius disse, como se fosse óbvio. Afinal, fora exatamente por conta disso que o plano envolvendo James fora arquitetado. Helena simplesmente não podia estragar tudo. - Você achou mesmo que ela não saberia?

Helena soltou uma risada nervosa.

– Ora, me poupe, Black! Quer bancar o honesto para cima de mim, é? - ela estreitou os olhos castanhos. - Pois então, conte sua versão a ela mais tarde, porque agora ela vai ter que ouvir aminha. Porque assim, quando você contar uma história completamente parcial e manipuladora, ela vai saber que você está mentindo!

Sirius revirou os olhos.

– Ok, Helena. Já percebi que você quer dar um show. Então vá em frente.

– A questão não é dar um show, Black. A questão é que a Marlene está completamente apaixonada por você e precisa saber quem você é antes que seja tarde demais!

Ao ouvir àquela última sentença, Sirius interrompeu seus pensamentos e a encarou. Ela estava a ponto de começar a chorar.

– Ela... está apaixonada por mim?

Uma lágrima escorreu pelo rosto de Helena.

– Mas é claro, seu idiota! Como você não percebeu?

Mas Sirius não respondera. Como assim, ela estava apaixonada por ele? Não era possível que uma mulher tão meiga e inteligente como Marlene pudesse ver nele, Sirius Black, alguém por quem alimentar sentimentos. Marlene não era como as garotas com quem ele costumava sair, que o enalteciam cegamente e aceitavam tudo o que ele propunha. Aquela informação simplesmente não condizia com a personalidade de Marlene.

– Agora, se me dá licença, eu vou voltar para o quarto e contar tudo o que vi. Se você puder se atirar pela janela enquanto isso, Black, seria ótimo!

E Helena retornou ao quarto feminino, batendo a porta. Foi então que Sirius concluiu que, na verdade, eram as outras que não eram apaixonadas por ele. Eram as outras que só queriam sair com ele para exibi-lo para as amigas, para tirar uma foto e publicar nas redes sociais. Marlene não tinha nada daquilo, o que significava que, possivelmente, ela era a única que se interessava por ele além do que se referia a sua aparência.

–--

– Helena, você vai me matar do coração! – Marlene exclamou assim que a amiga voltara ao quarto. – Você já tomou um ar, está se sentindo melhor?

– E-estou.

– Então fala logo! O que aconteceu? Por que tudo isso?

– Você vai entender. Ontem-

Sirius também voltara ao quarto, interrompendo Helena mais uma vez. Ela o olhou feio novamente, respirou fundo e virou-se de frente para Marlene. Uma troca de olhares entre James e Sirius passou despercebida pelos demais.

– Estávamos nós quatro na pista até que o Potter chegou e levou o Black com ele, lembra? - Marlene acenou com a cabeça, com ar de preocupação. - Pois então, depois eles sumiram e você foi atrás deles. Mais tarde, eu ainda estava com o Remus na pista e... - Helena olhou para todos os presentes, subitamente constrangida por ser o centro das atenções. Marlene a olhava sem piscar. Pobre Lene, ela não merecia isso. - E eu vi... o Black.

– Você viu o Sirius? – Marlene franziu as sobrancelhas. – ? – como num estalo, tudo fez sentido e ela se virou pra ele: - Aliás, você não tinha ido embora?

Sirius deu um passo a frente, tranquilamente.

– Pois é, Lene. Eu estava indo embora, mas não fui.

– Mas-

– Deixa eu acabar de contar! – Helena os interrompeu, se controlando para não chorar. – Isso não é tudo, Lene! Ele estava beijando outra mulher, na frente de todo mundo!

Marlene arregalou os olhos, mas não ousou olhar para Sirius ou Helena. Apenas abaixou o olhar, notavelmente em choque, enquanto absorvia a informação. Os outros presentes não emitiram um único som, até que Remus resolveu quebrar o silêncio.

– Precisamos conversar, Helena. – ele murmurou, sério.

Helena virou-se para ele, irritada.

– Ora, sobre o quê? Não temos nada para falar!

Remus ignorou tudo o que ela havia dito e a puxou pelo braço em direção à saída. Helena cedeu e o acompanhou para fora, bufando. Quando o casal cerrou a porta atrás de si, todos os olhares se revezavam entre Marlene e Sirius. Anita sentia-se um tanto aliviada por não ter precisado contar aquilo à amiga, Helene poupara-lhe de passar por tal situação constrangedora. Agora, ela apenas esperava que Marlene juntasse todas as peças do quebra-cabeça e percebesse que era Sirius o verdadeiro culpado por tudo o que havia acontecido na noite anterior.

– Isso é verdade? – Marlene conseguiu perguntar, após um longo período de silêncio.

– Acho que sim... – Sirius respondeu, sua voz soava firme e convincente. – Depois que eu saí do banheiro, Lene, quase não me lembro de muita coisa, se é que me entende.

Marlene finalmente encarou James. Como ele pôde abandonar o amigo passando mal no banheiro, ter mentido sobre ele ter ido embora e ainda tê-la beijado num momento no qual ela estava altamente vulnerável? Sirius precisava saber quem era James. Ele também precisava saber sobre o beijo, disso ela tinha certeza. E, tendo ciência de que ele também havia cometido um deslize, a ideia de contar a Sirius sobre o ocorrido parecia consideravelmente mais aceitável.

– Sirius, nós precisamos conversar. – Marlene decidiu, olhando no fundo dos olhos dele.

Sirius abriu um sorriso compreensivo.

– Tudo bem.

– E o James pode vir também?

Os dois se entreolharam.

– Claro! – Sirius concordou, com naturalidade.

E, sem dizerem mais nada, o trio saiu do quarto, atravessou o corredor e entrou no quarto da frente. Após um segundo de silêncio, Lorens se jogou sobre sua cama, absorvendo todas as informações despejadas nos últimos minutos. Alice era a mais apreensiva dentre as garotas: seu rosto redondo tinha um semblante inegavelmente preocupado.

– E agora, o que vocês acham que vai acontecer? – Ela perguntou, pensativa.

– Se o Potter e o Sirius realmente tiverem combinado alguma coisa, eles nunca vão contar para a Marlene. - Lily respondeu.

– Querem saber o que eu acho? – Anita se pronunciou, ainda formando suas próprias conclusões. – Nós estamos vendo a situação de fora e por isso é tudo tão óbvio. Mas a Marlene não, ela simplesmente não enxerga a possibilidade do Sirius ter planejado tudo com o James. Primeiro porque ela gosta do Sirius e jamais esperaria algo do tipo vindo dele, segundo porque ela é mais ingênua do que o normal. Então eu acho que não vai acontecer nada. O Sirius vai contar que foi um acidente, o James também vai dizer que foi um acidente e ela vai acreditar em tudo. Eles vão continuar saindo e essa história vai ser esquecida.

– Então nós temos que contar tudo para ela! - Alice disse, aflita. - Se ela cair no papo deles, nós temos que falar!

– Mas quais provas nós temos? - Lily rebateu, sem esperanças. Virou-se para Lorens, que ainda não havia dado sua opinião - O que você acha, Lorens?

A morena suspirou.

– Eu acho que a Anita tem razão. A Lene nunca vai se dar conta sozinha. - e, com um sorriso, acrescentou: - E também acho que a Helena se daria muito bem em Artes Cênicas! Que dramalhão foi aquele, hein?

–--

– Então, estamos todos quites? – Sirius perguntou, após terminar de contar sua versão da história. Marlene ainda estava em silêncio, parecendo aflita. - Acho que o melhor a fazer é esquecermos isso.

– Com certeza. - James concordou, desejando que tudo acabasse logo.

Marlene estava repassando mentalmente tudo o que Sirius havia lhe contado. Segundo seu relato, ele realmente estava indo para casa com Peter quando o perdera de vista e retornara à pista de dança para procurá-lo. E, sem saber exatamente como, ele se flagrara com Justine, uma garota cuja reputação Marlene conhecia muito bem, uma vez que Sarah "deixava escapar" várias fofocas a respeito de suas amigas para Bellatrix, em casa. E, depois de toda a narrativa, Marlene não estava nem um pouco chateada com Sirius; pelo contrário. Se ele também não tivesse se deixado levar pelos efeitos do álcool e do momento, como ele a perdoaria por ter feito o mesmo com James? Afinal, aquele gim estava definitivamente forte e certamente a influenciara a permitir o flerte com James pouco antes do beijo.

– V-Você jura que está tudo bem? - Marlene perguntou, suspirando aliviada. Ela mal havia conseguido dormir pensando nas possíveis reações decepcionadas de Sirius. Imaginou que ele simplesmente a mandaria embora.

– Lene, vamos esquecer. Não vamos deixar uma noite alcoolizada nos afetar. - Sirius sorriu. Aquele sorriso maravilhoso que a fazia congelar. - Além disso, eu não consigo ficar bravo com você ou com o James.

A nítida expressão aliviada de Marlene fez a consciência de James pesar ligeiramente. Ele não imaginara que ela fosse tão ingênua. Durante ambas as narrativas, tanto a de Marlene, quanto a de Sirius, James não fizera qualquer comentário a fim de não prolongar mais aquele momento: ele simplesmente ouvira a tudo de cabeça baixa, perguntando-se por que havia se metido em tal situação. A versão de Marlene o fizera parecer um vilão de novela barata. O que eu fiz para merecer isso? Pegou-se lembrando das palavras de Evans na noite anterior: "Você só pensa em você e nos seus interesses. Se você não mudar suas atitudes, Potter, você vai acabar afastando todas as pessoas boas de você [...] É isso que você procura, Potter? Porque se é, então você está no caminho certo!". Não, Evans, não é isso o que eu quero, mas posso entender seus motivos para pensar isso de mim.

Quando voltou a si, James viu que Marlene havia se levantado e atravessado o quarto para abraçar Sirius.

– Obrigada, Sirius!

Depois do abraço, Sirius a beijou, ignorando completamente a presença de James, que se apressou em sair do ambiente antes que tudo se tornasse ainda mais constrangedor.

–--

Após toda a confusão, Alice não demorou para voltar para casa, alegando que precisava arrumar algumas coisas para a chegada de Narcissa. Sirius e Marlene permaneceram o resto do dia trancados no quarto. No fim da tarde, James saíra com Peter, Amos e Frank para um pub qualquer, enquanto Remus fora obrigado a recusar porque teve de discutir a relação com Helena durante à tarde inteira.

Antes de ir dormir, Anita estava digitando no celular freneticamente, enquanto Lily lia sob a luz do abajur.

– Acredita que o cara que eu peguei ontem é o maior otário? - Anita resmungou, olhando para o celular. - Ele não tem nada para falar além de descrever os treinos dele na academia e contar o quanto de massa muscular ele ganhou nos últimos meses. Aliás, juro que não me lembro quando foi que eu perguntei qualquer coisa sobre assunto. Seria muita falta de educação se eu simplesmente parasse de responder?

Lily riu, fechando o livro.

– Olha, Anita, você não é obrigada. Eu já teria parado de responder faz tempo!

Anita digitou mais alguma coisa e colocou o aparelho de lado, respirando aliviada.

– Bloqueei e deletei o número. - a loira se ajeitou na cama. - Agora posso dormir com a consciência tranquila. Boa noite!

Lily rira mais uma vez. Logo em seguida, Lorens entrou no quarto.

– Só uma coisinha, Lily. - ela disse, assim que cerrou a porta.

– O que foi?

– Não pense que você vai escapar, ouviu bem? Eu mesma vou providenciar sua garrafa de Whisky de Fogo. Muito em breve.

– NEM PENSAR!

– Lily, você entrou na aposta porque quis!

Lily olhou severamente para a amiga.

– Você não considerou o que a Marlene contou? Não foi minha culpa!

– Você teve a festa inteira para agarrar o cara, não agarrou porque não quis! – a morena retrucou, andando até sua cama e puxando o edredom.

– Eu não o encontrei!

– Mas pode deixar que nós vamos ser legais com você, queridinha. Você não vai precisar beber a garrafa inteira, afinal, ninguém aqui quer que você entre em coma, nós só queremos te ver bêbada uma vez na vida! – Lorens tinha um sorriso maldosamente grande.

Veremos.

Lily bufou e se deitou. Pouco tempo depois, a ruiva já havia adormecido. Mais tarde, Anita estava segura de que era a única ainda acordada no quarto. Simplesmente não conseguia descansar sua mente, sabendo que Sirius e Marlene ainda estavam no quarto da frente, sozinhos. Ela sabia que Sirius Black nunca passaria o dia inteiro dentro de um quarto apenas conversando com uma mulher. Anita rolou na cama, com os olhos abertos na escuridão. A jovem resolvera não comentar nada a respeito com Lily ou Lorens. Havia concluído que quanto menos se queixasse ou falasse do assunto, maiores eram suas chances de esquecê-lo. Contudo, só de imaginar Marlene nos braços dele, sob o corpo dele, tudo o que Anita queria era se levantar dali e sair correndo para longe.

Quantas vezes ele já não havia trazido outras mulheres para dormir ali? Anita já havia perdido as contas. Mas, pela primeira vez em dois anos, ela se sentia absolutamente péssima com a situação. Jamais imaginara sentir tamanho ciúme dentro de seu peito.

–--

James abriu a porta da casa no meio da madrugada, imaginando que adoraria matar a aula do dia seguinte para poder dormir até mais tarde. Encontrou Remus dormindo no sofá, estranhou, mas mesmo assim resolveu se dirigir para o andar superior. Talvez o amigo tivesse adormecido enquanto assistia a um filme.

No entanto, quando James colocou um pé sobre o primeiro degrau, Remus despertou.

– Hey, James! – chamou ele, sonolento.

James deu meia volta.

– O quê?

Remus se sentou no sofá e coçou os olhos.

– Meia na maçaneta. - e, notando que o amigo não entendera o que ele quisera dizer, completou: - o Sirius e a Marlene estão dormindo lá em cima.

James arregalou os olhos enquanto sua boca se alargava num sorriso malicioso.

Wow! Finalmente, hein? Já estava achando que ele nunca fosse conseguir.

– Ah, eu peguei um cobertor para você também. – Remus indicou com a cabeça o outro edredom dobrado sobre o sofá perpendicular àquele em que estava ocupando. – E eu tenho outra coisa para contar.

– Diga.

– A Helena me contou que a Narcissa vai passar uns dias aqui na casa dela.

– Narcissa, a prima do Sirius? – James arregalou os olhos.

– A própria.

James contornou o sofá vazio e se jogou sobre ele, perdido em lembranças do passado.

– Faz um tempão que eu não a vejo.

James conhecia Sirius desde que eram crianças e, por consequência, ele conhecera praticamente a família inteira do amigo. Andrômeda, Narcissa e Bellatrix eram irmãs e primas de Sirius. Quando criança, James costumava brincar com elas quando as encontrava nos eventos familiares da família Black. No começo da adolescência, James teve uma queda passageira de verão por Narcissa, que era inegavelmente a mais bonita dentre as três.

– Será que ela continua a mesma de antes? Você sabe se ela continua noiva? - Ao ver que Remus chacoalhara os ombros, James completou: - Eu sei que você já saiu com ela, Remus!

– Eu não saí com ela, eu fiquei com ela numa festa dois anos atrás. E isso só aconteceu porque ela estava desesperada para chamar a atenção do Malfoy, num dos intervalos do namoro deles. - ele riu. - Você quem teve um rolo com ela que eu sei! Ou foi o Sirius?

James riu e bagunçou os cabelos, distraído.

– Fui eu. E não foi bem assim. Nós estávamos de férias na casa de praia dos pais do Sirius e ficamos "juntos" por uma semana. Mas olha, devo dizer que aprendi muito com ela. Eu tinha quinze anos e ela, uns dezoito. Na época ela tinha sido a mulher mais velha com quem eu tive alguma coisa. Estou ansioso para vê-la, vai ser divertido.

– Agora eu vou voltar a dormir porque em três horas eu tenho que estar na aula. Boa noite.

Remus voltou a se deitar, enquanto James ficou pensativo. Mas não estava pensando em Narcissa Black. Sua mente dava voltas no mesmo pensamento, o mesmo que dominara sua mente enquanto estava com Sirius e Marlene algumas horas antes. Evans estava certa e ele detestava ter de admitir isso. Por que aquelas palavras mexeram tanto comigo?


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Notas finais do capítulo

Oi, amados, como vocês estão? Passei uma semana horrível de trabalho + provas e quase morri, mas como foi quase, consegui voltar para postar um novo capítulo.

E aí, o que acharam? Essas atitudes escandalosas de Helena vão fazê-la perder o Remus? Sirius e Marlene vão dar certo depois de tudo? James está repensando seu modo de viver? Lily e Louis deveriam tentar mais uma vez?

Bom, espero que gostem! Um ótimo fim de semana para todos vocês!
Beijos,
Carol Lair