Espelhos escrita por AriDamascena


Capítulo 3
Segunda Camada


Notas iniciais do capítulo

Estou chateada por não ter tido comentários sobre o capítulo anterior. Sério, se tem alguém lendo, por favor me deixe saber! Não é muito agradável postar para as paredes :/

Se alguém estiver acompanhando, olá! Espero que goste do capítulo, não tenha medo/preguiça/vergonha de compartilhar sua opinião comigo. Façam críticas (construtivas!) ou elogios... Enfim, gosto de conversar com os leitores.



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"Como eu havia previsto, você agiu como você é. Oh, você parece tão descolado misturado com aquela cena, vestindo o que você acha que é forte. Eu posso vê-lo lutando, garoto. Não machuque seu cérebro pensando no que vai dizer, porque tudo é um jogo – sempre tente calcular." BANKS - Brain

* * *

Os dias eram cansativos, as noites eram longas. Durante o terceiro ano Minerva havia me dando um vira-tempo para que eu pudesse assistir a todas as aulas, apesar de adorar adquirir conhecimento, jamais havia me sentido tão exausta. Até agora.

Havia o comportamento estranho de Draco, lidar com todas as classes, suportar a insuportável Dolores Umbridge como professora de Artes das Trevas, tentar proteger Harry da estúpida professora com cara de sapo e ainda por cima evitar Ron, estava me dando dores de cabeça constante.

Quando o sol brilhava, eu tentava manter as coisas normais – mesmo com o meu novo passatempo: vigiar um determinado loiro na biblioteca – porém quando a noite caía, era impossível me manter sã. Harry, Ron e Draco tomavam conta da minha cabeça. Tentava ler um livro, e passava meia hora somente lendo uma frase; Tentava dormir, mas a única coisa com que conseguia sonhar era Draco; Quando fazia alguma lição ou trabalho, me lembrava do momento exato em que entrei no Salão Comunal da Grifinória dias atrás, e me deparei com Ron escrevendo em um pergaminho, minutos antes de ele ter massacrado o meu coração.

A vida estava confusa e fatigante. Tinha dias que, no instante em que eu abria os olhos, desejava apenas poder me desligar do mundo exterior e entrar em uma espécie de sono sem sonhos. Sinceramente, estava quase indo pedir uma poção para Madame Pomfrey. Como eu aguentaria os próximos meses sendo perseguida por Draco Malfoy e seu cheiro de pergaminhos velhos e colônia masculina em meus sonhos? A resposta é: eu não aguentaria.

O melhor a fazer seria confrontá-lo, saber por que ele havia sido tão gentil comigo naquele dia. Desde a última vez que eu reparei no ano passado, Malfoy ainda era um completo idiota, e agora ele começa o ano me consolando e querendo conferir se eu estava bem ou não. Ele deveria estar me chamando de sangue-ruim pelos corredores, então por que o bastardo estava ignorando minha presença como se eu estivesse usando a capa de invisibilidade de Harry? Por acaso estava eu presa em um sonho? Talvez ele tivesse batido a cabeça e ficado confuso, o senhor e a senhora Malfoy haviam o mandado para Hogwarts apenas para manter as aparências. Ok, isso era completamente sem sentido! Afinal de contas, Draco ainda era um dos melhores alunos de Hogwarts.

Quem estava confusa era eu, isso sim. Vigiando-o na mesa de sonserina enquanto comia, seguindo-o pelos corredores durante os intervalos das aulas e – o pior de todos, também conhecido como o fundo do abismo – contemplando-o na biblioteca. Eu tinha até mesmo montado um esquema para que não ficasse tão óbvio para todos o que eu estava fazendo.

Primeiro, eu sondava as estantes mais próximas dele. Depois de pegar o livro desejado, eu me sentava em uma mesa distante, mas que me desse a visão exata dele, e por fim, olhava-o em um intervalo de dez ou 15 minutos enquanto escrevia no pergaminho ou lia o livro.

Isso era extremamente patético.

A quem quero enganar? Eu era patética!

Confessando meu amor secreto para meu melhor amigo e em seguida ficando obcecada por um garoto que fez minha vida miserável desde que eu tinha onze anos, somente porque por algumas horas ele me deixou chorar em seu ombro.

Se não confrontasse Malfoy logo, meu estado mental tendia a piorar. Em minha cabeça, armava mil e uma situações diferentes. O que ele diria? Como ele agiria? Será que ele faria alguma coisa mesmo, ou somente iria dar as costas e seguir com a vida, exatamente como ele estava fazendo nas últimas duas semanas?

Arquitetei a situação toda na minha cabeça. Preparei um texto ensaiado na frente do espelho sobre o que eu diria e também pensei em respostas inteligentes para qualquer zombaria que ele pudesse vir para cima de mim. E ele iria responder todas as minhas dúvidas! Caso contrário, voltaria a confrontá-lo, até que ele estivesse cansado ou irritado demais para me ignorar.

Só havia uma falha em meu plano. Uma pequenina falha... Onde iria acontecer esse confronto? Sabia que não podia simplesmente chegar a Draco e começar a conversar sobre o que aconteceu aquele dia. A melhor opção era a biblioteca, onde poucos estudantes marcavam presença no início do semestre.

Antes de toda essa loucura com Malfoy começar, jamais havia notado o quanto sua presença era constante na biblioteca. Praticamente todos os dias eu o via lá estudando, apesar de sentar sempre no fundo. Talvez fosse esse o motivo de que eu não notara sua presença antes. Ele estava sempre em um canto escuro, como se quisesse se esconder. Mas é claro, oh, o grande e popular Draco Malfoy, príncipe da sonserina, não queria ser visto como um nerd, rato de biblioteca – como eu. Tsk, tsk Malfoy.

Me esforcei para não rolar os olhos ao constatar que estava agora mesmo indo confrontar um garoto que tinha vergonha de ser reconhecido como uma pessoa inteligente. Aparentemente, sua imagem de ‘idiota’ era incrível de mais pra ser arruinado pelo quão inteligente ele poderia ser.

Eu não precisava nem conversar com o desgraçado para ser confundida por ele. Inferno de mente confusa!

Ignorei todos os pensamentos malucos que flutuavam em minha mente, e apenas continuei andando direção à mesa que ele estava sentado. Era tarde, hora do jantar, e havia somente alguns corvinais estudando em uma mesa distante. Era o cenário perfeito!

— Malfoy. – disse eu, para que ele reconhecesse minha presença, e assim ele fez. Levantou os olhos do livro e me deu o privilégio de encarar novamente aqueles olhos cinzas – Posso me sentar com você?

Ele franziu a testa, confuso. Antes que ele tivesse a chance de responder qualquer coisa, me sentei na cadeira em frente a sua. Era um pouco rude, mas eu tinha o cenário perfeito e não poderia me dar ao luxo de deixar passar a chance de conversar com ele.

— Se se sentaria de qualquer forma, não precisava ter se dado ao trabalho de me interromper para perguntar. – resmungou, voltando a atenção ao livro que lia.

Estiquei o pescoço para espiar sua leitura. Parecia ser um livro sobre poções, apesar de ter certeza, já que ele tampou as letras com a mão.

— Aliás, Granger, agradeceria bastante se você parece de me perseguir por aí.

— Não estou te perseguindo! – exclamei, ficando defensiva rapidamente – Isso é...

— A verdade. – completou.

— Eu ia dizer: idiotice. Isso é idiotice pura. De onde tirou isso? – forcei uma risada nervosa que somente serviu para desmascarar ainda mais minha mentira.

— Somente pare de seguir!

Dei um pequeno pulo na cadeira com uma explosão repentina. Ele não parecia necessariamente cruel, somente estressado. E eu me perguntei, por que ele não havia usando a palavra ‘sangue-ruim’ em nenhuma de suas frases ainda.

— Eu preciso falar com você sobre aquele dia. Por que você fez aquilo?

— Você não deveria estar me agradecendo ao invés de ficar me vigiando como se eu houvesse fazer algo horrível a qualquer instante?!

— Eu agradeci você! – minha voz subiu algumas oitavas, Malfoy olhou ao redor para conferir se havia chamado à atenção de alguém – Desculpe. Quer dizer, obrigada. Eu realmente aprecio o que você fez, mas por quê?

— Somente esqueça aquilo. – ele voltou sua atenção a mim e havia uma preocupação tão explicita em seus olhos que me fez olhar ao redor também. Ninguém estava olhando, não havia nada além dos jovens corvinais estudando. O que estava o deixando assim?

— Você pode fingir que aconteceu e me pedir para fazer o mesmo, mas isso não torna a situação menos real, Malfoy!

— Esqueça! – repetiu.

Em seguida, o loiro voltou a encarar as páginas amareladas do velho livro em suas mãos. Irritada, puxei o livro, fechando-o em um baque surdo.

— Não! Ignorar não irá desfazer o que aconteceu, e muito menos, me fazer esquecer. – mesmo que minha voz mantinha-se em um tom baixo, era forte e estava cheia de determinação – O que está feito, está feito.

Em um gesto nervoso, ele esfregou a mão pelo cabelo platinado. Suas narinas estavam dilatadas e a respiração pesada, sabia que ele estava reprimindo uma série de palavrões, pois seus lábios estavam crispados em uma linha fina.

Malfoy esticou a mão e agarrou o livro que eu havia tomado de suas mãos em um puxão forte e rápido.

— Tem razão, Granger! O que está feito, está feito. – rugiu antes de me virar as costas e ir embora.

— Espere! – chamei, correndo em sua direção antes que alcançasse a porta.

Para nossa sorte, os corvinais já haviam se retirado e somente Madame Pince me deu um olhar de reprovação, que fez minhas bochechas corarem em um vermelho profundo. Draco virou apenas a cabeça para mim, os ombros rígidos.

— Que foi agora, Granger? – sua voz não era fria como antes, agora era um tom cansado. Exausto, na verdade.

— Só... – dei outra olhada para Pince, me aproximando mais alguns passos em sua direção, até que tivesse certeza de que somente o loiro poderia ouvir o que eu diria – Só me diga por quê.

— Antes, me diga algo, Granger, – ele virou o corpo todo em minha direção e estar cara a cara com Malfoy fez com que eu me sentisse desconfortável, pois aquele Draco era o mesmo Draco que eu tinha visto semanas atrás – por que você não pode simplesmente esquecer isso e seguir com a vida? Eu te vi naquele dia, você não parecia nada satisfeita. Não é algo que você gostaria de esquecer?

Porque esquecer significaria nunca mais ver aquele rapaz novamente, e isso, de alguma coisa que eu não consigo entender, me faz sentir doente. Porque você anda me perseguindo todas as noites quando eu fecho os olhos. Porque eu não sei lidar com o fato de não saber por que de um dia para o outro você se tornou alguém que eu apreciaria a presença. Por que eu não posso esquecer. Eu não posso e não quero. Porque eu não vou esquecer.

Queria dizer isso para ele. Eu quase disse isso a ele. Mas a parte sã do meu cérebro me mandou calar a boca antes que qualquer bobeira saísse dali. Por isso, apenas balancei a cabeça e respondi algo que a Hermione Granger normal e sensata diria: — Você me deixou intrigada.

Ele sorriu um sorriso bonito. Era fraco, pequeno e tinha a mesma essência cansada de sempre, no entanto, o que tornava o sorriso bonito, era o fato de que ele alcançou os olhos de tempestade. O mar revolto parecia calmo e bonito agora, como um dia quente na praia. Era de alguma forma refrescante.

— Você não respondeu minha pergunta ainda. Por que, depois de tantos anos sendo terrível para mim, você foi gentil comigo?

— Coisas acontecem, Granger. – respondeu ele enigmaticamente, o sorriso bonito ainda pintado em seus lábios pálidos.

— Isso não responde minha pergunta. – insisti, trocando o peso de uma perna para a outra – O que aconteceu?

O riso que escapou dos seus lábios me deixou sem palavras. O som me pegou de surpresa.

— Se você quer ter alguma espécie de intimidade comigo, comece com perguntas simples, como... Minha cor preferida ou algo do tipo. – agora em seus lábios estavam estampado um sorriso malicioso. Era impossível não me sentir desconfortável ou corar – Isso se chama arte da conquista, Granger.

O desgraçado teve a audácia de piscar para mim! Sim, ele piscou para mim com aquele sorriso e olhar malicioso... E o pior de tudo é que eu havia ficado corada como uma idiota! Droga, droga, droga, droga!! Um milhão de vezes, droga!

Não sabia se dava um tapa na cara dele ou na minha! Como o meu corpo pôde me trair dessa maneira?!

Quando me recuperei, Malfoy já havia saído da biblioteca.

Ele tinha me distraído por enquanto, mas tudo bem. Ele tinha me mostrado sua verdadeira face novamente depois de duas semanas de gelo e ignoradas, isso significa que eu havia descascado outra camada.


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Notas finais do capítulo

Explicação rápida, antes de causar qualquer confusão: Nessa história Harry passou a maior parte do verão na Toca, junto Mione e Ron. Não teve julgamento, expulsão, dementador ou patrono. Exceto isso, a história é a mesma.