– Coulson! - A voz apressada de May, informava a quantas batia seu frenético coração. - Onde raios você estava metido?

– Não consegui falar com Skye, May! - ele respondia desolado, do lado de fora da base, enquanto avistava Fitz-Simmons se aproximando do quinjet. - A essa altura já devem ter atacado o abrigo… Ela pode estar…

– Não se precipite, Phil – Melinda tocou sua mão, sentindo o chão gelado com a ponta dos dedos. – Skye não é mais a garota assustada que chegou até nós. Ela é uma agente bem treinada e leal. Ela vai dar um jeito de nos levar até ela. Como sempre faz.

– Espero que esteja certa.

Coulson suspirava cansado, encontrando os olhos escuros de Melinda que pareciam mais escuros ainda sob as faíscas que estalavam sobre suas cabeças. A base havia sido tomada por Gonzales e sua equipe, e a Coulson não restara nenhuma opção a não ser deixar o local com sua equipe, o que só foi possível graças à agilidade de Melinda ao encontrar uma passagem secreta. Agora, eles estavam se preparando para voar no único quinjet que havia no estacionamento, que quase havia sido inutilizado por Bobbi Morse. Estava difícil estabelecer limites entre o que era amigo ou inimigo.

– Graças aos céus, escapamos com vida. - Jemma colocava o cinto enquanto Fitz ainda suspirava ofegante ao lado dela.

– Por que Mack e Bobbi fariam isso? - Fitz olhava para Coulson com os olhos marejados.

– Teremos tempo para pensar nisso quando descobrirmos o paradeiro de Skye. Eles tinham ordens restritas para capturá-la. Precisamos chegar nela primeiro.

– Alguma dica de por onde nós começaremos?

– Não. Mas conheço alguém que pode querer se juntar a nós.

(…)

– Olá, Skye. Quanto tempo.

Ward cumprimentava descontraído, enquanto atirava contra os agentes que se escondiam atrás do quinjet. Bobbi e Cameron contra-atacavam, já percebendo que ele havia encontrado Skye.

– Interessante, o modo como sua agência te dá boas vindas – ele continuou, ignorando o fato dela tê-lo desprezado.

– Não é a minha equipe que está atirando contra mim. - ela respondeu amarga, abrigando-se atrás de uma árvore e sacando duas ICERS.

– Pensei que Bobbi e você estavam no mesmo time.

– Eu também. - ela suspirou e derrubou um agente com a ICER. - May tentou me avisar, mas ela também não sabia ao certo o que estava acontecendo.

– Existem duas Agências da S.H.I.E.L.D. então?

– Não. Só existe uma. – Skye o encarou séria por um segundo. – E a minha não costuma atirar antes de perguntar, então eu suponho que tem alguma coisa muito errada aí.

– Consegui. – Kara chamava a atenção dos dois agentes da linha de frente. – Desbloqueei a saída usando a biometria de Coulson. – ela desligou a nano-máscara e apontou para o jato que estava fora do perímetro. – podemos ir agora.

Os três correram em segurança até o quinjet onde Sunil Bakshi os esperava com um sorriso quase doentio. Parecia que a lavagem cerebral realmente havia transformado ele em um aliado bastante útil.

– De nada. – Ward lançou um olhar descarado para Skye enquanto subia no quinjet.

– Eu não agradeci nada.

– Pois deveria.

– Você deve estar louco se acha que sua pequena missão-resgate vai fazer eu me ajoelhar aos seus pés.

– Para ser sincero, eu não esperava menos de você. - ele admitiu, pela primeira vez se dirigindo a ela sem o sarcasmo.

– Ótimo. – ela cruzou os braços e o seguiu até a cabine, percebendo a tímida aproximação de Kara. – Para onde estamos indo?

– De volta para o hotel onde Kara e eu estamos hospedados.

“Kara e eu”

Skye não pôde deixar de sentir um tremor em seu coração. Era certo que ela o repugnava por tudo que Ward fizera, mas nunca havia pensado que ele a esqueceria em tão pouco tempo. Não depois de tudo que ele fez para tentar reconquistar sua confiança. Só era estranho pensar em Grant com outra mulher… E, aparentemente, gostando disso. Mas ela nunca deixaria isso transparecer em seu exterior.

– Perfeito. – ela respondeu ironicamente. – O mundo desabando ao redor, agentes da S.H.I.E.L.D. me perseguindo, mais traidores na minha base e você quer que eu relaxe em um hotel como se tivesse de férias?

– Relaxar é opcional. - ele a fitou com um olhar sugestivo.

– Você não vale nada. - Skye deu meia volta e saiu da cabine, quase esbarrando com Kara no caminho.

– Pensei que você ia ser minha co-piloto, hoje. - ele gritou de onde estava, quase certo de que Skye ouvira antes das turbinas tirarem o quinjet do chão.

Skye recusou-se a ocupar o assento do co-piloto e apenas apontou para que Kara se sentasse lá enquanto ela passaria o resto da viagem com um Bakshi meio sinistro do seu lado. Apertou os cintos com má vontade, tentando imaginar como faria para contatar Coulson sem que a outra S.H.I.E.L.D. interceptasse a comunicação.

– Que ótimo.

Skye suspirou, deixando a cabeça tombar para trás. Apenas fechou os olhos pesados com o cansaço como se tentando dissipar todos os acontecimentos das últimas duas horas. Aquela com certeza seria uma missão para se esquecer.

(…)

As portas rangiam aos bipes desenfreados do painel da base de Coulson. Gonzales esperava-os no final do corredor, precisando desesperadamente do relatório de Morse para se acalmar. Já havia sido ruim deixar Coulson e sua equipe escaparem com um quinjet completamente equipado com tecnologia de camuflagem, então, não podia pensar que sua equipe estava voltando do Abrigo sem Skye.

– Sinto muito, senhor. - Barbara aparecia na frente, ajudando um dos colegas feridos a caminhar. - Eles fugiram.

– Eles quem? Você foi enviada para capturar somente Skye. De que quem está falando?

– Grant Ward. - ele ajudava o companheiro a se deitar sobre a maca. - Ele estava lá. Provavelmente descobriu que iríamos pegá-la e se adiantou.

– E por que raios ele faria isso?

– Ele meio que tem uma obsessão por ela, senhor – Morse respondia, ligeiramente desconfortável.

– Quer dizer que vocês foram interceptados por um lunático traidor que resolveu bancar o Dom Juan?

– Por mais desprezível que seja, Grant Ward era um dos melhores agentes de operações da S.H.I.E.L.D, senhor. E, com todo respeito, temos outras preocupações no momento, que não incluem capturar a agente Skye. A H.I.D.R.A. ainda está por aí, apenas esperando o momento de contra-atacar. Não podemos nos dar ao luxo de…

– Entregar essas armas para eles. - Gonzales a interrompia, irritado.

– A Skye não é uma arma.

– Depende de que ângulo você está vendo isso.

Gonzales deixou Bobbi sozinha no laboratório, enquanto dirigia-se ao escritório de Coulson. Precisaria colocar o Bunker abaixo para extrair o máximo de informações possíveis sobre Coulson e sua a equipe.

(…)

– O que disse na portaria? - Kara aproximou-se de Grant e apoiou os dois cotovelos sobre o balcão.

– Que ela era minha prima e havia deixado a identidade em Wisconsin – ele deu uma mordida em um tomate que estava em cima da mesa. - Skye é ótima quando precisa improvisar.

– Parece que ela é ótima em várias coisas. - Kara não pôde evitar sentir ciúmes de vê-lo sorrindo apenas em falar o nome dela.

– Você está com ciúmes? - ele franziu a testa e largou o tomate no balcão.

– Eu não tenho porque sentir isso, Grant. Nós não temos nada um com o outro.

– Mas no outro dia, você…

– Eu apenas estava tentando achar uma forma de te recompensar por todo o bem que você fez a mim. Nada mais. - ela respondeu firme e Ward voltou sua atenção para o tomate. - Além do mais, foi ideia minha resgatar ela. Não faria sentido se eu ficasse com ciúmes.

– Tudo bem – ele levantou as mãos em sinal de inocência. - Não está mais aqui quem falou.

– Ela não reclamou por não ter conseguido um quarto separado?

– Nem podia. Está tudo lotado. É isso que dá ser uma fugitiva na época de alta estação.

– Ela não vai gostar nada disso.

– Eu posso passar a noite fora. Vocês duas ficariam melhor sem mim, por hoje. Teriam tempo pra fazer coisas de garota.

– Qual é, Grant – Kara deu um sorriso em deboche. – Não é como se Skye fosse se tornar minha melhor amiga só porque nós a salvamos.

– Ela seria melhor com você do que comigo.

– Não precisa se incomodar. – Skye saiu do banheiro com uma blusinha branca de algodão e uma calça preta de malha que Kara havia emprestado para ela – Eu que sou a intrusa aqui.

Ela passou pelos outros dois na cozinha e se jogou no sofá, deixando o braço tocar o carpete bege e macio. Seu cabelo estava molhado sobre seu rosto e sua expressão imprimia uma serenidade da qual o seu corpo discordava ferozmente.

– Eu estou falando sério. – Ward repetia, a despeito da indisposição de Skye em respondê-lo.

– Pode guardar seu cavalheirismo no bolso e queimar o paletó, Ward. – ela usou o braço para cobrir a luminosidade que atingia seus olhos, mesmo que fechados – Eu estou tão cansada que o seu fedor de traição nem consegue me incomodar mais.

– Bom, nesse caso, você vai dormir no quarto, com a Kara. Eu fico com o sofá.

Skye retirou o braço do rosto e sentou-se no sofá, se virando para os dois que estavam na cozinha. Ela achava incrível o fato de que ele ainda tentava agradá-la, mesmo ao lado daquela mulher – que estava na cara – que beijaria o chão em que ele pisasse.

– Eu aceito a oferta. - ela respondeu sorrindo e Ward arregalou os olhos em surpresa. - Mas só porque lá eu terei uma porta que tranca por dentro.

– Eu sabia que vinha alguma coisa nesse “sim”. - ele rebateu sorrindo.

Kara sorriu ao ver o modo como Skye o desprezava e, naquele momento, conseguiu captar algo que só uma pessoa apaixonada consegue perceber: o mesmo brilho no olhar de outra pessoa. Naquele momento, ela entendeu que por mais que Skye quisesse enterrar seus sentimentos, alguma parte dela queria que Grant nunca desaparecesse totalmente de sua vida.