O silêncio preenchia todo o local, os olhares estavam presos nela, todas aquelas pessoas esperavam o melhor dela, esperavam ela abrir sua boca para dizer algo, mas ela nada dizia, ela nada fazia. Minha vontade era de levantar e abraçá-la, o homem parado à sua frente repetia a mesma pergunta, a juíza ao seu lado sempre a mandava responder.

– Senhorita Berry, responda. - o advogado de Elliot disse. - Você estuda na Pierce College com meu cliente, Elliot Szhor?

Rachel se encolheu ao ouvir o nome, Elliot estava ali, lhe encarando seriamente, parecendo querer lhe intimidar.

– Senhorita Berry, responda a pergunta. - a juíza mandou.

– Ela não vai responder. - murmurei, fazendo Millicent olhar para mim.

– Temos que tirar ela daqui. - ela disse, já se levantando.

Millicent se aproximou de um policial e disse algo a ele, o mesmo estranhou, se aproximou da juíza e disse algo a ela, a juíza afirmou com a cabeça e bateu o martelo na mesa, assustando alguns, até mesmo Rachel.

– Teremos cinco minutos de intervalo.

Me levantei rapidamente, Millicent sorriu para mim, afirmando com a cabeça, alguns saíram da sala, Rachel permaneceu parada no lugar, encarando suas mãos inquietas. Elliot se levantou do seu lugar e tentou se aproximar de Millicent, mas seu advogado não deixou, o advogado de Rachel, que Shelby havia pagado, se aproximou da loira insistente, eu me aproximei junto.

– Há algo de errado, senhorita? - ele perguntou, preocupado.

– Rachel é autista. - Millicent respondeu, o advogado cruzou seus braços, impaciente. - Acha mesmo que ela dirá alguma coisa em frente a esse pessoal todo?

– Millicent está certa. - eu disse. - Rachel mal consegue olhar para alguém estranho sem surtar, imagine dizer algo.

– E o que as senhoritas sugerem?

Millicent olhou para mim, eu olhei de volta, a vendo começar a sorrir.

***

O tribunal se encontrava mais cheio que antes, todos os olhares iam diretamente para a tela grande, Elliot estava inquieto, vez ou outra olhando para Millicent, que estava ao meu lado. A juíza continha um celular em mãos, a mesma disse algo no mesmo, todos deram total atenção à tela.

– Então, Rachel... - o advogado de Elliot disse, insistente. - Você estuda na Pierce College, com meu cliente Elliot Szhor?

Rachel olhou para suas mãos inquietas, afirmando com sua cabeça, assustada. Os dois se encontravam em uma sala média, longe de todas as pessoas, ideia de Millicent, podíamos assisti-los pela tela de televisão, em frente à mesa da juíza.

– Você e Millicent Szhor são amigas, certo? - Rachel afirmou com a cabeça novamente. - Suponho que ambas tenham inventado essa história sem cabimento sobre meu cliente e...

– Protesto! - o advogado de Rachel gritou, se levantando. - Ele está acusando minha cliente!

– Protesto concedido. - a juíza disse. - Prossiga, senhor River.

– Você é autista Rachel? - ele perguntou.

– Sim? - Rachel murmurou, incerta.

– Há algo que queira me dizer sobre seu autismo?

– O que você acha que eu deveria dizer? - ela perguntou. - Eu sou um problema. H-há algo dentro da minha mente que diz o que eu devo ou não fazer, na maioria das vezes ela erra, isso é frustrante!

– E o que ela diz agora?

Ela sorriu, mordeu seu lábio inferior e olhou para ele, como olhava para mim, quando quisesse dizer algo, mas não pudesse por ter pessoas por perto.

– Sua peruca está torta.

Todos em volta riram, o advogado de Elliot se levantou da cadeira e saiu da sala, Rachel soltou uma pequena risada, me fazendo sorrir. Por meros minutos, o advogado de Rachel entrou na sala, a mesma se ajeitou na cadeira, suspirando. Ele se sentou na cadeira de frente para ela, visivelmente tranquilo.

– Olá Rachel. - ele disse, com o sorriso sedutor que ele tem. - Sinto muito por você ter que passar por isso. - ele colocou um papel em cima da mesa, Rachel passou a encarar o papel. - Eu vou lhe fazer algumas perguntas, sinta-se à vontade para respondê-las como quiser, está bem?

– Tanto faz... - ela sussurrou, já impaciente.

– Muito bem... Quer me contar o que houve ontem, depois das suas aulas?

Rachel empalideceu um pouco, seus olhos estavam focados demais, Millicent segurou minha mão, chamando minha atenção. Pouco a pouco Rachel contou a história, Elliot tentava distorcê-la, ou inventar coisas. Ao terminar, seu advogado agradeceu, um policial entrou na sala e a tirou de lá, Elliot foi o próximo interrogado, eu saí do tribunal, Rachel se aproximou com o policial, logo me abraçou.

– Podemos ir para casa? - ela sussurrou, me abraçando mais forte. - Mamãe está fazendo o jantar e...

– Venha aqui. - a puxei para uma cadeira, me sentei e ela sentou em minhas pernas, ficando de lado. - Rachel, eu te amo, muito. - ela franziu sua testa, confusa. - Pensar em lhe ver nos braços de outro, ou até mesmo outra, me faz perder a cabeça. Lhe ver totalmente entregue à sua mãe, sabendo que posso estar com você, cuidar de você e te amar, me faz querer sumir.

– Você quer que mamãe vá embora?

– Eu quero que...

Os passos rápidos nos assustaram, Rachel se levantou rapidamente e sorriu, me fazendo sorrir junto.

– Papai! - ela gritou, correndo para abraçar o homem. - O que está fazendo aqui?

– Eu liguei para ele. - Shelby respondeu, aparecendo atrás do homem. - O que há de errado com vocês, quando pensaram em vir para cá sem me avisarem?

Rachel olhou para mim, diminuindo seu sorriso, eu encolhi meus ombros, a deixando livre. Hiram beijou a cabeça de Rachel e a soltou, a mesma se aproximou de mim.

– O que eles disseram? - Hiram perguntou, preocupado.

– A audiência ainda não terminou. - respondi, me levantando. - Olá, senhor Berry.

– Lopez... - ele murmurou, estendendo sua mão, eu a aceitei. - Eu preciso conversar com você.

Me afastei de Rachel tranquilamente, ela tentou segurar minha mão, mas eu não deixei, Shelby a abraçou em seguida, enquanto Hiram e eu nos afastávamos das duas.

– Senhor Berry, eu...

– Você realmente ama minha filha, Santana? - ele perguntou, parando em minha frente. - A ama tanto, como amei minhas duas mulheres?

– Isso pode parecer um pouco clichê, mas... eu a amo mais do que a mim mesma.

– Rachel é um pouco complicada. - ele sorriu, me fazendo sorrir. - Sabemos que nunca fui um ótimo pai, nunca tive capacidade para cuidar das minhas filhas, e tenho orgulho de suas mães por terem feito isso. Shelby é uma mulher guerreira, por ter cuidado de Rachel perfeitamente, mas sabemos que ela consegue ser irritante quando quer.

– Olhe...

– Não precisa arrumar argumentos, Santana. Quando Shelby me ligou e disse o que aconteceu com Rachel, eu perguntei o que você havia feito sobre, ela respondeu que não sabia, mas que tinha certeza de que você era a culpada. Eu sei que você pode cuidar de Rachel sozinha, sei que ela está cada vez melhor vivendo aqui com você. Shelby não é a única que me liga, quando se preocupa com a filha, tenho duas espiãs aqui. - ele riu um pouco, me fazendo corar. - Escute, eu posso dar um jeito em Shelby, posso garantir que ela não atrapalhará vocês, mas você deve me prometer que cuidará de Rachel.

– Faço tudo por Rachel. - ele colocou uma de suas mãos em meu ombro. - Obrigada, senhor Berry.

– Pare com isso. - Hiram reclamou, rindo. - Sei que sou o pai de sua namorada, mas não gosto de todas essas formalidades. Isso faz me sentir velho.

Eu ri, o sentindo me abraçar, logo a porta da audiência se abriu, Millicent saiu um pouco exaltada, logo correndo até Rachel.

– Conseguimos, Rachel! - ela gritou, animada. - Ele foi considerado culpado! Elliot não causará problemas dentro da cadeia.

– Millicent, isso é ótimo! - Rachel comemorou, sorrindo.

– Senhorita Berry. - um homem alto murmurou, se aproximando, Rachel empalideceu um pouco.

– P-papai? - Millicent sussurrou, se aproximando mais de Rachel, eu fiz o mesmo.

– Millicent, fique fora disso. - o homem ordenou, a puxando para longe de Rachel. - Senhorito Berry, precisamos conversar sobre o ocorrido e...

– O senhor não ficará sozinho com minha filha, considerando o que seu filho fez com ela. - Shelby disse. - Se tem algo a dizer, diga agora.

– Certo... - ele ajeitou seu terno, suspirando. - O que Elliot fez é imperdoável, e não apenas como pai dele, mas também como diretor da Pierce College, tenho o dever de garantir total proteção a você, e a Millicent também. - ele pegou um cartão de papel do bolso de sua calça, entregando à Rachel em seguida. - Se você precisar de algo e não conseguir me encontrar, precisa apenas ligar para mim e...

– Nós não precisamos da sua bondade. - Shelby resmungou. - Rachel e eu...

– Shelby! - Hiram gritou, assustando a todos. - Cale a boca e deixe-o falar!

– Não se exaltem, senhores. - o homem disse, ajeitando seu terno novamente. - Senhorita Berry, como Elliot era o rebatedor do time de Baseball e não poderá mais participar do time, creio que você tenha o direito de entrar no lugar dele.

– Como? - me espantei.

– Millicent havia dito algo sobre Rachel ser uma ótima rebatedora, e ela tem esse direito. O que acha?

– E-eu acho que... sim. - Rachel sussurrou, sorrindo minimamente.

O pai de Millicent sorriu e se foi, levando a filha junto, Shelby tentou abraçar Rachel, mas a mesma não deixou.

– Vamos para casa, querida. - Shelby disse, carinhosamente.

– Mamãe... eu fico feliz por você se preocupar comigo, mas... acho que Santana e eu podemos ir para casa, assim como papai e você podem voltar para Ohio.

– Rachel...

– Me desculpe, mamãe. Eu sou uma adulta agora, e tenho alguém para cuidar de mim.

– Se você acha mesmo que pode... - Shelby abaixou um pouco sua cabeça, suspirando. - Me desculpem. Acho que está na hora de voltar mesmo.

Rachel me abraçou sorrindo, beijei sua testa e sorri para Hiram, eu sabia que ele me ajudaria dali para frente.