A semana passou devagar, Felicity se sentia desanimada com a ausência de Oliver nas refeições, segundo Maria, ele preferia fazer as refeições em seu quarto, todos sabiam que na verdade ele estava fugindo de Felicity e principalmente de seus próprios sentimentos, mas eles sabiam que cedo ou tarde isso teria que mudar, pois a tristeza de Felicity estava se tornando puro orgulho ferido por ser tão ignorada daquele jeito.

Após três longos dias de espera, Felicity se cansou e decidiu agir, chegou em casa mais cedo e se dirigiu diretamente ao escritório, ela sabia que o encontraria lá, sem aviso, entrou sem bater.

– Oliver, precisamos conversar.

Oliver estava em pé, quase de frente a porta analisando uns papéis e foi pego completamente de surpresa pela presença de Felicity, ele baixou a cabeça, mas a posição determinada dela com os braços cruzados e rosto erguido deixou bem claro que ele não tinha fuga.

– Do que se trata, Srta. Smock?

– Srta. Smock? Sério Oliver? Vai ser assim agora?

Oliver suspirava irritado pela insistência de Felicity, ele esperava deixar claro que as coisas mudaram entre eles, mas ela não estava facilitando nem um pouco.

– O que você deseja? Seja direta, não tenho tempo a perder.

Ele disse sem encará-la, sentia que havia muita raiva em sua presença, mas que também havia decepção, porém, antes mesmo que pudesse dizer qualquer coisa para ser mais direto, ela adiantou.

– Pois bem, Sr. Queen. Eu vim até aqui para lhe dizer duas coisas. Uma é que o “senhor” não me decepcionou, ao contrário, eu continuo achando que é um homem muito, muito, muito bonito... e a segunda... a segunda... é que eu gostaria de saber porque se revelou para mim para depois se distanciar? Afinal, se decidiu me mostrar seu belo rosto era porque confiava em mim, então, eu questiono: o que mudou? Se decidiu que nossa relação voltaria a ser patrão/funcionária poderia ter tido a decência de me informar, mas, pelo visto, o erro foi meu que não percebi ou não quis aceitar os seus “sinais”.

A fala de Felicity estava carregada de dor e ressentimento, ela realmente estava confusa e infeliz com essa situação. Ela esperou pacientemente pela resposta de Oliver que se prendeu a lhe dar as costas e admirar a paisagem do lado de fora da janela com as mãos nos bolsos da calça, mas essa resposta não veio e ela já não suportava mais tanta dor, decidiu por um fim naquela situação.

– Muito bem, Sr. Queen. Quando precisar de meus serviços, estarei as suas ordens.

Antes que Oliver pudesse se virar para lhe apresentar toda sua arrogância, Felicity já havia batido a porta do escritório com força, ele sentiu tristeza e muita raiva, tanta raiva daquela situação e mais raiva ainda por não poder ter quem queria, maldita consciência que gritava que Felicity merece alguém melhor, que lhe proporcione momentos de divertimento e forme “um lindo casal” e não um cara feio e mal humorado com os sentimentos completamente instáveis. Quando se deu conta, sua mão estava sangrando por causa do murro que deu em sua mesa a fazendo amassar no local.

Jonh veio ao escritório para repassar o relatório da segurança e passou por ele uma Felicity apressada de cabeça erguida, mas como muitas lágrimas nos olhos, ele já sabia do que se tratava e foi direto ao ponto quando entrou no escritório de Oliver.

– Eu ainda me espanto com a sua capacidade de tentar afastar essa garota. Quando vai aceitar que a presença dela é como um presente pra você? Pra todos nós?

– Jonh, não estou com paciência para sermões.

– Oliver eu que não tenho mais paciência de tentar colocar na sua cabeça que você merece ser feliz e que a sua felicidade está naquela garota que você insisti em magoar.

– Sério, Jonh? Você acha que um cara amargurado, feio, cheio de feridas abertas e traumas não resolvidos merece alguém tão puro e lindo como Felicity? Acredite meu amigo, eu já abracei o meu destino, não há felicidade para mim, nem agora e talvez nunca. Minha felicidade morreu junto com a minha família e se sobrevivi não foi porque merecia, foi apenas um erro do destino... eu realmente não mereço ser feliz, Jonh e também não tenho direito de estragar a felicidade de Felicity.

Oliver tinha fúria pura em suas palavras, Jonh sentiu que o caso do seu amigo estava piorando, pois ele não conseguia se enxergar com os olhos daqueles que o amavam, Oliver definitivamente era alguém sem amor próprio, preenchido pela dor e pelo ressentimento e aquilo precisava mudar, definitivamente a mudança havia chegado àquela casa, finalmente o amigo tinha em suas mãos a solução pra o problema do outro e nada o impediria de lutar para ver a felicidade de duas pessoas tão queridas: Oliver e Felicity.

Jonh deixou Oliver sozinho com seus pensamentos irritados e amargurados e se dirigiu até Maria para juntos traçarem um plano para amolecer o coração de Oliver e incentivar Felicity a lutar por todo amor que ele pode dar a ela.

Outro dia amanheceu e Felicity precisou caprichar na maquiagem para disfarçar os olhos inchados de tanto chorar, mas como fazia nos dias difíceis, ela mentalizava seus pais felizes e saudáveis levando uma vida de casal que tanto mereciam. Se arrumou e desceu para tomar o café na cozinha com Maria e Jonh que logo notaram a tristeza disfarçada da garota. Para quebrar o clima tenso que se formou, Jonh adiantou.

– Então Felicity, está sabendo sobre o baile beneficente que a empresa fará esse final de semana?

– Ouvi alguns comentários Jonh, mas não tenho vontade de comparecer.

Disse ela mexendo sem vontade na comida em sua frente, foi a vez de Maria declarar.

– Como assim, minha menina? Como representante do dono da empresa você tem que está sempre e é certo que terá que discursar. A não ser que aconteça um milagre e o menino Oliver resolva ir...

Felicity riu sem humor enquanto Jonh e Maria trocavam olhares cúmplices entre si. Maria continuou.

– Jonh leve Felicity para escolher um lindo vestido e uma bela máscara, eu providencio a maquiagem e o penteado naquele salão que fica perto da empresa.

Felicity olhou assustada por ver tudo tão planejado e não conseguiu dizer nada, apenas seguiu Jonh até o helicóptero como fazia todas as manhãs, porém quando pousaram na empresa, eles foram direto para o estacionamento e de lá seguiram para uma avenida de lojas bem chiques, grifes caras, nada do que Felicity estava acostumada. Jonh se divertia ao ver a moça toda encolhida enquanto várias atendentes mostravam várias peças a ela, porém, uma parecia se destacar em todas: tratava-se de um vestido longo verde escuro com detalhes em paetê e um corte que deixava qualquer mulher fatal aos olhos de um homem, Jonh sabia que seu amigo não conseguiria resistir e insistiu para que Felicity escolhesse aquele, ela provou e no provador se sentiu linda, sexy, mas preferiu guardar aqueles pensamentos só pra ela, saiu do provador com o vestido em mãos acenando que aquele era o eleito.

Jonh fez o pagamento e eles saíram em direção à loja de máscaras, Felicity estava admirada por tanto luxo e delicadeza em cada peça do mostruário, mas seus olhos ganharam um brilho especial diante de uma na cor preta que combinava muito bem com seu vestido, mostrou a Jonh que sorriu satisfeito, depois eles foram a algumas lojas de vestidos simples, pois Felicity precisava de peças novas para seu guarda-roupa de executiva. O dia passou rápido e Felicity estava mais sorridente, leve, satisfeita com as compras e com o dia divertido que teve com seu amigo, ao chegar à mansão foi direto para cozinha chamar Maria para ver o que ela havia comprado enquanto Jonh carregava as sacolas para seu quarto, o que ela não esperava era esbarrar com Oliver ao enrolar para entrar na cozinha.

– Me desculpe, eu estava distraída, não devia estar correndo, Sr. Queen.

– Tudo bem, Felicity. Mas aconteceu alguma coisa? Precisa de ajuda?

Felicity se assustou com a atitude de Oliver, “ora, ele agora é bipolar?” Questionava ela, porém, só conseguiu pronunciar um “humhum” para ele que sorriu e caminhou em direção contrária a da garota que ficou paralisada. Definitivamente algo havia acontecido, mas ela já havia prometido pra si mesma que não perderia mais tempo tentando entender aquele homem, continuou seu caminho, mas dessa vez andando normalmente.