Decifrando-a escrita por Nessye


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Para quem sonha com "JoanLock" aqui est um pouco de como eu gostaria que eles dois se relacionassem.



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Decifrando-a

Mais uma vez amanhecia em Nova Iorque e a temperatura insistia em cair naqueles últimos dias em que se antecipavam do Natal. Uma espessa camada de neve cobria a rua, os carros, as casas lá fora revelando que nevara com vontade durante a madrugada. No sobrado onde moravam os detetives consultores mais famosos da cidade ainda imperava a paz, o que para quem não os conhecia parecia normal, mas para quem realmente tinha a ciência de quem se tratavam sabia que essa tranquilidade não demoraria por muito tempo.

- Watson!!!

Resmungando como era típico, Joan espremeu os olhos orientais e se espreguiçou após o despertar já esperadamente brusco.

- Hã... você nunca vai perder esse hábito desagradável não é? – ela com muita relutância se pôs sentada na cama.

- Pensei que já tivesse acostumada com os meus hábitos? – e como mais um de seus infinitos e singulares hábitos, Sherlock foi direto para o closet da parceira, escolhendo sem hesitar as suas vestes daquele dia, sem esquecer é claro das roupas de baixo. – Vamos, vista-se rápido, pois temos pouco tempo.

- Até hoje eu não acredito que você faz isso – Joan franziu o cenho ao se lembrar dos últimos quase cinco anos em que se tornara uma talentosa detetive ao lado dele. Aquilo de certo modo ainda era estranho a seu ver.

- Você tem quinze minutos, vinte no máximo, Watson – dizendo isso ele se retirou com aquele seu jeito, sempre inquieto e particular de ser.

Watson olhou para as roupas cujas Sherlock havia escolhido e sorriu, pois o parceiro pelo menos tinha um bom gosto e sabia selecionar boas combinações de vestimentas, mais um de seus dons de análise.

Sem perder tempo Joan tratou logo de se trocar e enquanto vestia a blusa ouviu seu celular tocar.

- Alô? – disse ao atender.

- Joan?... Oi.

Aquela voz.

Sim, ela conhecia muito bem aquela voz.

-... Edgar? – replicou num tom moderado, porém sentia um nervosismo lhe subir ligeiramente.

- Eu... fico feliz em escutar a sua voz, Joan.

- O que quer de mim?

- Preciso da sua ajuda!

*****

- Ou você está com pressa de resolver esse caso antes mesmo de saber do que se trata ou está querendo quebrar um novo recorde de tempo – comentou o detetive estudando-a meticulosamente.

- Infelizmente não poderei ir com você, Sherlock – ela pegou seu casaco sem dá muitas explicações. – Aconteceu um imprevisto com um amigo e preciso ajudá-lo. Desculpe, assim que chegar eu ligo pra você.

- Watson? – pela primeira em anos de parceria, Sherlock ficou realmente surpreso. – Você...

- Preciso ir – e sem mais esperas Joan saiu pela porta da frente, deixando-o extremamente intrigado.

*****

A detetive entrou na ampla sala de estar da bonita mansão localizada em um dos bairros nobres de Nova Iorque e Edgar já a esperava.

- Joan – ele ficou nitidamente feliz ao vê-la. – Que bom que veio.

- Edgar – Joan sorriu de modo tímido ao ser abraçada por aquele homem que um dia fora muito importante em sua vida. – Como você está?

- Muito contente em vê-la, mas... ainda sem norte sem saber do paradeiro da Sarah.

- Quando foi a última vez em que a viu? – eles se sentaram e ela foi direto ao ponto.

- Foi há dois dias, eu a deixei na frente de seu trabalho e depois segui pro meu... – ele de repente vacilou em continuar e olhou profundamente para Watson. – Por favor, encontre-a, Joan. Encontre-a.

Num outro tempo, ouvir esse pedido teria sido um imenso sofrimento, afinal um dia amara Edgar Taylor como jamais acontecera em sua vida. Agora, no entanto, as coisas eram tão diferentes, tão estranhas para voltar a pensar que ele fora seu noivo no passado. Seus caminhos haviam tomado rumos distintos e após tantos anos o que restou foram somente lembranças de uma época dolorosa. Dor essa causada por ele quando a abandonou para ficar com a prima de Joan, a Sarah.

Entretanto, Sarah precisava ser encontrada, uma vez que tinha a sequestrada de forma tão enigmática.

E aquilo era mais um caso para a detetive Watson resolver.

*******

Era final de tarde quando Joan entrou no sobrado carregando algumas pastas. Após tirar o grosso casaco de inverno, as luvas e boina, chegou à sala e se deparou com Sherlock fitando compenetrado outros tantos papéis espalhados pela parede logo acima da lareira. Ele estava sentado na sua poltrona favorita, com as pernas cruzadas e com as mãos sobre os braços estofados.

- Watson.

- Então como está o caso? – ela se aproximou depois de deixar as coisas em cima da mesa. – Esse é o suspeito? – olhou para a foto de modo a analisar tudo ali no paredão.

- Consegui encontrá-lo após comparar suas digitais com as digitais no computador da vítima, elas bateram, então soubemos que é só uma questão de tempo para que ele confesse o crime. Foi um caso relativamente fácil, praticamente se resolveu sozinho e isso me deixou muito irritado.

- Hm – simplesmente murmurou Joan. – Quem bom. Bem, eu vou subir e descansar um pouco.

Sherlock permaneceu imóvel, somente observando especulativo o comportamento de sua parceira e antes que ela pudesse subir as escadas a interpelou bruscamente:

- Por que está mentindo, Watson?

- Porque não quero dizer a verdade – a detetive já imaginava que ele deduziria isso facilmente, mas também não pretendia se esforçar para mentir. – Pelo menos não agora.

- Hum... – Holmes concordou com a cabeça e torceu a boca. – Pensei em pedir uma pizza para o jantar.

- Pode ser – Joan respondeu automaticamente e subiu.

Irrequieto, claro, Sherlock se colocou de pé e sem titubear vasculhou os papéis trazidos por Watson e descobriu que ela trabalhava num caso. Trabalhava num caso sem ele novamente.

******

Ela desceu a escada vestida com uma calça larga e um blusão cinza. Sua cabeça doía e por isso decidiu preparar um chá de alguma erva homeopática, pois não podia usar remédios sintéticos na casa. Mesmo sabendo que Holmes estava limpo há muito tempo, nunca deixou de ser precavida. Narcóticos não entravam naquele sobrado.

Pegou a chaleira e a encheu de água sem perceber que Sherlock se encontrava parado no canto.

- Sarah Taylor é sua prima que está desaparecida há quase três dias!

Levando um susto, Joan soltou a chaleira, provocando um barulho chato.

- Meu Deus, um dia você ainda vai me matar, Sherlock!

- Desculpe, mas eu tinha que fazer as perguntas o quanto antes.

- Será que pelo menos posso preparar um chá?

- Sente-se, eu preparo.

Ela não teimou, então puxou uma cadeira e se sentou. Sua expressão era puramente de cansaço, ele notou.

- Imagino como deva está se sentindo, Watson. Ela é da sua família – Sherlock acendeu o fogo e pousou a chaleira sobre as chamas. – Mas mesmo que não tenha pedido o meu auxílio “ainda”, estou disposto a ajudá-la no que puder.

- Não falo com a Sarah há muito tempo – disse Joan. – Nunca fomos muito próximas, mas sei que é o meu dever encontrá-la.

- Gostaria de saber os motivos para você não me contar o que está acontecendo, porém creio que tenho de ser paciente e espero que seja sincera, Watson – dessa vez ele a encarou fixamente.

- Quando estiver preparada eu conto.

- Certo – num giro rápido, Sherlock mudou de posição. – Enquanto você descansava li os papéis que deixou sobre a mesa e tenho algumas teorias. Espero que não se importe. Não claro que não, pois se não quisesse que eu os visse não teria os deixado sobre a mesa, enfim. Acredito que o sequestro de sua prima possa está ligado com uma série de outros três. A polícia trabalha com a hipótese de que seja uma quadrilha que sequestram mulheres bonitas e de famílias ricas.

Sherlock falava sem parar, mas Watson nada ouvia de fato. Sua mente estava vagando por seu passado e um sentimento mórbido se apossava de seu coração.

- Watson??

- O quê?

- Você está dispersa – muito incomodado o detetive aproximou o seu rosto do dela ao ponto de quase lhe tocar a ponta do nariz com o seu. – Eu acho bom me contar o que está acontecendo logo... antes que eu descubra.

- Já disse que não quero – se afastou ligeira.

- Sendo assim terei que usar algumas técnicas de persuasão com você.

- Você vai me amarrar e me bater por acaso?

- Existem alguns métodos de tortura que não envolvem dor física caso não saiba.

- Só que você não faria essas coisas comigo.

Ele nada disse por alguns segundos até suspirar frustrado.

- Não, não faria... Nunca.

- Então se contente em saber o que sabe agora – Joan pegou uma caneca e se serviu de chá. Sua cabeça martelava insistentemente.

- Pensei que após todo esse tempo, depois de tudo o que passamos, depois de todas as nossas crises... você confiasse mais em mim, Watson – na voz de Holmes havia resquícios de mágoa.

- Sherlock... eu – era difícil explicar para ele o que estava sentindo naquele momento, mas não queria deixá-lo chateado.

- Eu sei que sempre fui um homem egocêntrico, um tanto anti-social e que não suporto a maioria das pessoas, mas... eu sei também que nesses últimos anos eu mudei um pouco, mudei porque você entrou na minha vida – o olhar dele era genuíno. – Eu também me preocupo com você, Watson.

- Espere um minuto.

Joan largou a caneca na pia e foi direto para seu quarto, enquanto isso Sherlock a esperava ansioso para saber o que acontecia. Ela chegou alguns minutos depois carregando uma caixa branca.

- Talvez isso explique um pouco o que eu não consigo dizer – depositou sobre a grande mesa de carvalho maciço algumas muitas fotografias, cartas e uma roupinha de bebê.

Holmes analisou tudo detalhadamente e aos poucos as deduções aconteciam em seu cérebro.

- Você e o Dr. Taylor foram noivos.

- Nos conhecemos ainda na faculdade de Medicina, namoramos e então decidimos noivar. Eu tinha acabado de fazer a residência e estava caminhando para atuar como uma médica cirurgiã independente... – Watson parou e continuou assim que conseguiu respirar novamente. – Iríamos nos casar em Saint Patrick num domingo, eu estava tão feliz – sem se dá conta duas lágrimas desceram por seu rosto.

- Mas ele não ficou com você não é? – emendou Sherlock sofrendo internamente por vê-la assim. – Ao invés de casar com você, ele preferiu a sua prima Sarah.

- Sim – ela se empertigou e afastou as lembranças incomodas. – Ele me abandonou no altar. Eu estava lá, toda vestida de branco, com véu e grinalda na frente de todos os convidados e ele me abandonou.

- E isso foi um choque para você. Ser traída não só pelo noivo, mas também pela própria prima.

- Durante muito tempo eu me perguntei o que havia feito de errado até entender que não precisava responder a essa pergunta, eu simplesmente precisava esquecê-los e seguir em frente. Então me joguei de cabeça na minha carreira e estava bem, não pensava mais nisso... até hoje. Você não soube disso porque o meu pai fez questão de pagar para as mídias não comentarem sobre o assunto e com o tempo todos na cidade esqueceram.

- E como se sente com relação a isso?

Pela primeira vez, Sherlock repetiu uma pergunta que era sempre Joan a fazer.

- Eu... pensei que sentiria ressentimentos, mas sinto apenas pena. Eu só quero encontrar a Sarah.

- Nós iremos encontrá-la, Watson.

- Sim, iremos – mais tranquila, a detetive recolheu as fotos, colocando-as de volta na caixa, porém Holmes pegou a roupinha.

- E você estava grávida... De quantos meses?

- Dois – Joan fitou por demorados minutos o macacão azul de lã e franziu o cenho. – Eu tenho certeza que foi por isso que ele aceitou se casar comigo. Hoje percebo a besteira que ia fazer.

- Um grande idiota esse Dr. Taylor!

- Sim.

- Com você perdeu a criança?

- Minha gravidez era de risco e uma semana depois de Edgar me abandonar no altar, sofri um abortamento espontâneo.

- Sinto muito, Watson.

- Tudo bem, foi melhor assim, reconheço agora – pegando de volta a roupinha, ela a guardou e fechou a caixa. – Agora, o que você conseguiu? Alguma pista importante?

- Primeiro você precisa comer, depois vamos ao trabalho – ele sacou o celular para pedir a pizza.

Era esquisito vê-lo se preocupar assim, contudo, ela gostava. Bizarramente gostava.

*******

Encontrar pistas e analisá-las muito bem já não era um problema para a ex-doutora Joan Watson, os anos como aprendiz do famoso detetive consultor Sherlock Holmes foram muito mais do que uma escola para uma nova profissão, foi a melhor coisa a acontecer em sua vida. Sabia que achara o seu rumo a partir do momento no qual colocou os pés no sobrado. O sobrado passou a ser o seu lar, sentia-se muito bem ali, reconhecia o quanto ele fez falta quando num tempo atrás decidira mudar para o seu próprio apartamento. A relação com Sherlock também era algo a jamais esquecer, afinal o inglês arrogante e de fala rápida se tornou o seu melhor amigo além de parceiro. Eles tiveram alguns altos e baixos, se lembrava, mas no fim sempre retomavam a sua amizade singular e atípica. Havia sido Sherlock mesmo a pedir que ela voltasse para o sobrado e essa memória ainda pairava na cabeça de Watson com uma indagação “por que ele fez isso?”. Definitivamente algumas perguntas permaneciam sem respostas ou será mesmo que ela não sabia responder àquelas dúvidas?

Naquele minuto, porém, piscava um tanto surpresa por estar pensando nisso ao invés de se atentar ao caso de sua prima. Havia se passado dois dias e Joan sabia que estava perto de encontrá-la ou encontrar o seu raptor. O seu tempo estava se esgotando, talvez por isso se encontrasse tão tensa. A detetive olhou para os papéis, fotos e mais um monte de pistas sobre sua mesa de trabalho e se questionou sobre o que faltava para aquele quebra-cabeça finalmente acabar. Revisou outra vez e mais outra vez até empurrar a papelada, jogando-a pelo chão da sala.

Estava exausta, esse caso exigia não só do seu lado racional, mas emocional e sabia bem por quê. Queria mostrar a Edgar que se tornara uma mulher incrível. Queria mostrar a ele que sobreviveu e muito bem.

Frustrada, Joan massageou as têmporas e fechou os olhos tentando relaxar.

- Pensei que era o único que tinha esses ataques súbitos – Sherlock chegou ao cômodo e erguei a sobrancelha ao vê-la daquela maneira. – Mas acho que talvez seja a minha influência, afinal.

- Eu só... fiquei com raiva – disse Watson suspirando e se levantando para pegar os papéis espalhados.

- Deixe-os aí. A sensação é mais prazerosa – ele sugeriu. – Vá dormir um pouco, já passou das três... Quer que eu a coloque na cama?

Joan se virou rapidamente para encará-lo com uma expressão de espanto.

- Você anda tão estranho, Sherlock. Quero dizer em níveis mais elevados claro.

- Eu só estou oferecendo minha educada ajuda, Watson – sorrindo, Sherlock a viu bocejar. – Principalmente pelo fato de você está praticamente dormindo.

- Eu sei cuidar de mim, Sherlock – quase desmaiando de sono, Joan seguiu para a escada quase se arrastando pelos degraus.

Entretanto, repentinamente, Holmes a pegou no colo e subiu devagar a escadaria com a parceira nos braços. O cheiro dela era um dos seus cheiros favoritos.

- O que está fazendo?

- Ora cale a boca e não precisa agradecer.

- Sempre tão arrogante.

- Sempre. Já deveria está acostumada, Watson.

Em piloto automático, Joan se deixou ser levada até seu quarto, não reclamou nem tinha força para tal. Só queria ficar ali, quietinha junto do corpo de Sherlock, mas ele a deitou na cama com cuidado, tirou suas botas e seu casaco de lã, puxou as cobertas e a cobriu.

- Sherlock?

- O quê?

- Obrigada – sussurrou a detetive sendo derrotada pelo cansaço.

- Eu disse que não precisava agradecer.

Quando a viu adormecer profundamente, Holmes se permitiu acariciar de leve os cabelos negros e finos de Joan. O que ela se tornou em sua vida? Sua amiga, sua companheira sóbria, sua parceira fiel? Não. Fora muito mais, Watson significava muito mais, disso tinha plena certeza.

Jamais imaginou que outra mulher além de Irene Adler o faria se sentir assim novamente. Porém, Irene ou Moriarty o enganou, o iludiu ao ponto de atirá-la num mundo de escuridão e Joan, por outro lado, o trouxe para a luz novamente, ela sempre o trazia. Joan Watson era corajosa, uma investigadora excepcional e capaz, um ser humano bom e uma mulher bonita. Nem de longe possuía os mesmos atributos de Irene e era isso que o encantava. Joan assim como ele teve um passado meio doloroso e conseguiu superar. Sherlock tinha orgulho dela.

Abruptamente aborrecido, ele fechou a cara e se retirou do quarto.

******

Jogando um pesado catálogo de fotos e arquivos sobre a mesa, Joan acordou Sherlock.

- Eu sempre quis fazer isso – disse sorrindo.

- Certo... eu mereci – ele se recuperava do susto. – Que horas são?

- Seis da manhã.

- Você descobriu algo – era uma afirmação.

- Sim. Enquanto dormia sonhei com coisas estranhas o que me fez acordar e decidi levantar, então revi as informações cronologicamente desde o primeiro sequestro da quadrilha, mas percebi que a Sarah não fazia parte de uma ordem de sequestros em si, pois a ordem já estava completa. Ela foi uma decisão a mais, pois acredito que os integrantes devem ter brigado entre si, talvez por questões financeiras ou de liderança. Essa é uma das teorias. Só que Sarah além de ser uma vítima a mais, ela também não entra na lista de comparações com as outras vítimas. As outras três são loiras, tem olhos azuis e são recém-formadas. Sarah é morena, tem olhos castanhos e já se formou há anos.

- Isso tudo eu já sabia, Watson, caso não lembre – Sherlock piscou inquieto.

- Sim, mas não sabia que há alguns anos Sarah era loira, usava lentes azuis e se formou em Literatura – cruzando os braços, Joan o olhou altiva.

- E por que não disse isso antes?

- Porque estava com raiva da vaca da minha prima!... Deixei a raiva me cegar, confesso.

Realmente surpreso ele a encarou, então se levantou.

- Bem... isso quer dizer que esse sequestro pode ter sido premeditado há anos, mas só executado agora... E quem deveria ter interesse na vaca da sua prima?

- Existe uma pessoa em potencial que pode ter sido capaz de ter feito isso, Sven Trots – aos poucos tudo se encaixava na mente da detetive. – Sven Trots era sócio do pai da Sarah na época e parece que foi passado para trás quando as ações da empresa do meu tio foram vendidas – ela correu para o computador e buscou tudo sobre o caso. – Trots ficou revoltado e obcecado em querer se vingar do meu tio, mas ele sumiu de repente, ninguém tinha noção do que tinha acontecido com ele.

- Então ele pode ter orquestrado todos esses sequestros para parecer que era obra de uma quadrilha para no fim chegar à sua prima finalmente. Mas como ela não seguiu o padrão das outras três, isso despistou a polícia.

- Precisamos ir, Sherlock!

*******

Sarah abraçava Edgar no meio da sala de estar da casa deles e Joan desviou o olhar.

- Graças a Deus! Você está viva – doutor Taylor falava para a esposa enquanto a beijava chorando.

- Eu devo tudo a você, Joan – a prima recém encontrada se virou para a detetive. – Obrigada por me salvar.

- O trabalho não foi só meu, Sherlock também me ajudou – ela estava nervosa e queria sair o quanto antes dali.

- Mas foi a Watson quem conduziu as investigações, então o mérito maior é dela – frisou Sherlock num tom pragmático.

- Bem, acho que está na hora de irmos.

- Joan - Sarah se aproximou e a abraçou carinhosamente. - Eu fico tão feliz por você... Se tornou melhor que todos nós – sussurrou para Watson.

Joan nada disse, simplesmente fez uma mesura e se retirou.

- Ela está cansada, esses dias foram... estressantes – explicou Holmes amigavelmente falso. – Senhores.

- Eu o acompanho até a porta, senhor Holmes – disse Edgar o encaminhando para a saída.

- Dr. Taylor gostaria de dizer algo que está me corroendo.

- Diga.

- Eu o odeio!

- Oh puxa... – perplexo, o médico ergueu as sobrancelhas. – Posso saber o motivo?

- Pelo que fez a Joan – o olhar de Sherlock era letal.

- Ah, ela... contou.

- Mas ao tempo gosto do senhor.

- Hã?

- Porque a deixou, pois se não tivesse feito isso, Joan não estaria comigo agora – o detetive inglês ficou com o corpo ereto, com os braços retos e a expressão inquieta. – Ah ia me esquecendo, o senhor é um idiota também.

- Você a ama!

Ouvir uma pessoa estranha dizer aquilo foi com levar um tabefe repentino para ver se acordava finalmente.

- Passar bem, Dr. Taylor – assim Holmes saiu dali ligeiramente.

*******

Enquanto Joan recolhia os papéis de mais um caso solucionado, Sherlock se aproximou e a estudou.

- Quer me dizer alguma coisa?

- Não – ele respondeu.

- Então pare de me olhar assim.

- Porque você não me deixou quando teve a oportunidade, Joan?

Poucas vezes na vida ela o escutara pronunciar o seu primeiro nome e isso a fez ter toda a sua atenção.

- Eu já falei... Conversamos sobre isso na época, Sherlock.

- Sim, mas eu quero saber o real motivo – ele se balançava nos calcanhares, típico de quando estava bastante tenso.

- Eu... – Watson desviou os olhos e decidiu contar a verdade – eu senti que o que faço com você, tudo o que me tornei era o faltava na minha vida. Uma vez me disse que era melhor comigo e eu digo o mesmo em relação a você.

- Engana-se – Holmes caminhou até a parceira ficando a centímetros de distância. – Você sempre esteve melhor sem mim, mas comigo conseguiu dá um propósito a sua vida e é isso que me deixa... feliz, saber que de alguma forma eu contribuo para isso.

- Se você está falando isso por causa do Edgar e Sarah, quero que saiba que já enterrei isso no meu passado, agora eles não me interessam mais – dando de ombros ela voltou a tirar papel por papel da parede.

- Eu falei isso tudo por mim, Watson!

Outra vez pega de surpresa, Joan franziu o cenho ao fitá-la nos olhos azuis.

- Por você?

- Porque eu amo você!

Então Sherlock falou aquilo de modo brusco e nada sutil, deixando a mulher à sua frente boquiaberta e sem ar.

- Ah... hã.

- Provavelmente você já deve ter percebido ou pelo menos suspeitado, mas nunca ousaria externar tal ideia. Eu no seu lugar faria o mesmo, mas... – engolindo em seco, Sherlock apertou os olhos com os dedos e suspirou – mas não gosto de ficar com sentimentos entalados aqui – apontou para a garganta e em seguida para o peito – e aqui. Se eu continuar assim, vou explodir!

- Sherlock...

- Eu sei que isso é uma surpresa, porém também foi uma imensa surpresa para mim – ele passou a falar sem parar, atropelando as palavras. – Venho pensando nisso há tanto tempo que já estou ficando angustiado, eu...

- Sherlock! – gritou Joan. – Cala a boca!

Num impulso voraz ela largou os papéis e emoldurou o rosto do parceiro com as mãos e roçou seus lábios nos dele.

Ambos ficaram se olhando em silêncio depois que se afastaram.

Sherlock naquele instante teve a maior e a melhor de suas deduções. Ele descobriu que Watson também o amava.

Agressivo e nada gentil, ele enfiou as mãos pelos cabelos dela e a beijou com fervor até que suas almas gritassem por oxigênio.

*******

Amanhecia em Nova Iorque. Era véspera de natal e Joan despertava de uma noite de sono muito gostosa. Ao se remexer sentiu a presença ao seu lado, o corpo quente e os braços tatuados a envolviam de modo protetor. Watson estava feliz. Sim, muito feliz por finalmente estar com o homem que amava, não que não estivesse antes, mas agora eles haviam se entregado um ao outro, haviam se permitido finalmente. Eles se pertenciam.

Sorridente, Joan virou o rosto para vislumbrá-lo dormindo, porém Sherlock já o observava.

- Pensei que havia acordado primeiro.

- Acho que não – ele sorriu e a beijou de leve.

- É véspera de natal e está nevando.

- Mais um bom motivo para permanecermos entre os lençóis.

- Mas eu não posso, prometi a Em que passaria a véspera com ela e os outros – se levantando, ela pegou o roupão para cobrir a nudez.

- Eu... posso ir com você?

- Você quer ir? Quer socializar com outras pessoas? – Joan arqueou uma sobrancelha enquanto amarrava a faixa à cintura. – Nossa. Isso deve ser algum milagre de natal.

- Você sabe que eu não acredito nesse tipo de coisa – saindo da cama, Sherlock a abraçou por trás e depositou um beijinho no pescoço dela. – Se você estiver lá eu até canto músicas natalinas.

- Seria uma cena realmente interessante – Watson riu, mas logo se pós de frente para Holmes. – Você acha que podemos dá certo?

- Nós já damos certo, Watson.

- Mas agora é diferente... nós...

- Fizemos sexo! Sim, mas eu sei que podemos conciliar essa nova relação física e sentimental ao que já somos, parceiros na vida.

- Ainda sim preciso de um tempo para me acostumar.

- O que acha de usarmos a visita na casa de Em como um primeiro teste? Você viveu muito tempo no meu mundo, agora preciso e quero viver um pouco no seu, Joan.

- Gosto quando fala o meu primeiro nome – ela abriu um grande sorriso fazendo seus olhos orientais se estreitarem ainda mais.

- Posso falar para sempre. Joan, Joan, Joan – ele lhe sussurrava ao ouvido sedutoramente.

- Agora preciso tomar banho, senão nunca iremos – Joan deu um selinho nele e se desvencilhou dos seus braços, já caminhando para o banheiro.

Sherlock sorriu e percebeu que ter uma relação amorosa com sua parceira e ex-acompanhante sóbria seria um grande desafio, contudo, Sherlock Holmes adorava desafios.

De repente o seu celular tocou e ao olhar a tela viu que era uma mensagem do Capitão Gregson.

- Watson!!!


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Notas finais do capítulo

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