É uma noite fria. Annie adora noites frias. Noites frias de primavera são agradáveis para ela. Isso porque essas noites são frias e solitárias. Esperam ansiosamente pela chegada do dia. Um dia quente que possa aquecer o coração frio da noite. Annie pode tentar negar, mas é como uma noite fria de primavera.

A afilhada de Atena muda os canais da TV, procurando algum jogo de futebol ao vivo, apesar de saber que a essa hora não teria nenhum. Mas talvez um jogo de vôlei. Ou basquete. Ou tênis. Mas nada. Ela para de passar os canais quando clica em um canal de filmes sem querer. O filme que está passando mostra uma garotinha perdida. Isso a faz lembrar do primeiro dia que foi ao parque da Literary School.

Era um dia quente de verão. Os tipos de dias que Annie mais detesta. Parece que suas sensações de desmaios ficam mais fortes (mais uma vez, obrigada, Jason). Annie estava ocupada, lutando contra o mapa. E como se isso não bastasse, alguém tinha que ir incomodá-la.

–Ora, ora. Annie...

Annie se virou para encarar Henry Sea. Eles já haviam tido aquela briga que fez Annie querer socar a cara dele cada vez que o via. Eles eram bons amigos na verdade. Mas aquela briga tinha que acontecer. Annie se lembrou do momento da discussão quando se virou para encarar o afilhado de Poseidon.

–O que quer, Sea?

–O que foi, Annie? Não consegue ler o mapa?

Não. Ela não conseguia. Mas não diria isso para ele. Ainda mais porque ele abriu aquele sorriso irônico e desafiador dele. Mais um daqueles sorrisos que fazem seus olhos verdes brilharem como estrelas e fazem qualquer garota se derreter. Menos Annie. Na verdade, ela se recusa a admitir para qualquer um, inclusive ela mesma, que seu coração dispara quando ele sorri.

–Lugar de animal é na floresta, não no parque. É melhor ir para lá antes que faça as crianças entrarem em pânico.

–Olha só...parece que alguém acordou criativa hoje.

Annie se limitou a revirar os olhos e voltar a se concentrar no mapa. Mas era muito difícil. Aquele emaranhado de caminhos parecia miojo. Henry ria das tentativas da garota de compreender os caminhos.

–Você é um chato sabia?-Annie perguntou.

–É, já ouvi isso. Mas, olhe pelo lado bom. Sou irresistível.

–Aham...me avise quando você acordar do sonho e voltar para a realidade.

–Assim você fere meu ego. Sabe...isso não é muito saudável para ele.

Annie exibiu um sorriso irônico.

–Seu ego está bem, obrigada. Você não devia alimentar tanto seu ego. Se crescer mais não vai caber nesse universo.

–É para isso que existem outros universos.

Annie revirou os olhos e voltou para o mapa. Tinha algo escrito que ela não estava conseguindo ler direito, já que seus óculos não estavam com ela.

Henry, que olhava por cima do ombro da garota, perguntou:

–O que não consegue ler?

Annie tentou pronunciar o que achava que era a palavra, mas não conseguiu.

–É isso...

Ela colocou a mão em cima da palavra, mas Henry, que tinha entendido mais ou menos o que ela disse, teve a mesma ideia.

Annie pode sentir o choque térmico quando a mão quente de Henry e sua mão fria se tocaram. Ambos tiraram a mão do mapa rapidamente. Henry não sabia o que fazer a seguir mas, por sorte, um de seus amigos salvou sua pele.

–Hey, Sea, venha ver isto!-disse o amigo dele.

–Estou indo!-gritou Henry em resposta.

Ele deu meia volta e correu em direção aos seus amigos. Annie balançou a cabeça e voltou ao mapa. Henry parou no meio do caminho e chamou-a.

–Annie!

Ela se virou e ergueu as sobrancelhas ao vê-lo. Henry exibiu o sorriso irônico-desafiador novamente.

–O mapa está de cabeça para baixo.

E, dito isso, ele caminhou até seus amigos.

O barulho de um tiro na TV faz Annie voltar à realidade. A lembrança fez Annie pensar, mesmo que por apenas por um segundo e mesmo que não fosse admitir para Nic, a afilhada de Zeus estava certa em algo que te disse certa vez: quem ama implica.