Eu não tenho a mínima idéia de como isso aconteceu. Tudo bem, eu sei que não sou nenhum "expert" em computadores, ninguém jamais sequer sonharia em me chamar de "hacker". Mas certas coisas você nunca imagina que podem vir a acontecer. Eu não sei qual o endereço da página que eu estava. Nem lembro, na verdade, o nome do arquivo que eu estava baixando. Talvez isso seja um hábito ruim que eu tenho. Depois de tanto tempo com uma conexão a cabo, e com programas de firewall e anti-virus cada vez mais eficientes, você acaba ficando menos cuidadoso.

Sei que sempre temos que checar se existe vírus em cada arquivo que baixamos, mais... Quem tem saco pra fazer isso sempre? Um vírus a mais, ou a menos... Não faria a mínima diferença. Então baixei o arquivo - seja lá qual foi. E assim que ele chegou, eu abri. Da próxima vez juro que uso o antivírus!

...Ou talvez não!

[ Computer Girl Bia ]

• O início de tudo.

Em um segundo, o meu computador parecia um liquidificador. Fazia um barulho enorme e irritante, eu juro que nunca tinha visto nada parecido! Em dois segundos, parecia não só um liquidificador, mas sim um liquidificador velho, quebrado, e com curto-circuito! Faíscas pulavam da tela como se fossem fogos de artifício! O gabinete tremia como se ele fosse se desmanchar a qualquer instante! E então... De repente, o quarto ficou todo azul, como se estivesse iluminado por uma luz oculta, ou talvez uma analogia melhor, como se estivesse debaixo d'água. Tudo parecia acontecer em câmera-lenta. Um vento enorme surgiu do nada, e começou a jogar tudo pelos ares. E o mais insano: parecia vir da tela do computador. E falando da tela, parecia também que mais alguma coisa estava saindo! Não dava para perceber o que, a situação era estranha demais, não conseguia raciocinar direito!

E no instante seguinte, tudo voltou ao normal. Bom, ou quase. O quarto tinha um cheiro forte de queimado. Tudo estava a maior bagunça. Ainda podia ver algumas faíscas, embora mínimas, saindo da tela do computador. E junto com isso, milhões de mensagens de erro. O aplicativo Explorer.exe provocou uma falha geral no módulo... "Que porcaria, um dia desses eu tiro essa droga de Windows e instalo um Linux. Juro que vou me vou me esforçar para aprender a usa-lo. É uma promessa."

Fechei todas as janelas, e as mensagens de erro. Bom, o computador parecia estar inteiro, apesar do cheiro e da imagem não estar muito boa - talvez um problema nas configurações de brilho ou contraste. "Que alívio! Pensei que meus últimos dois anos de economia tinham ido por água a baixo! Nunca vi um vírus fazer nada parecido! Aliás, nem sei se é possível que eles possam fazer algo assim. Mas definitivamente, alguma coisa aconteceu! Heh, vivendo e aprendendo..." Pra garantir, olhei os cabos atrás, olhei se o cooler estava funcionando, conferi tudo. E tudo funcionava perfeitamente. Então, eu vi algo estranho na tela. Algo que não estava ali um minuto atrás. Na parte superior da tela, aparecia uma pequena janela aberta, com as seguintes informações nela:

Computer Girl Bia ®

Versão 1.0.9 - Tradução versão 1.1.3

Compilação 2200.XpClient.040900-8900

Copyright © 1989 - 2002

Master Programmer

Tempo em funcionamento: 0h04m22s

E nessa mesma janela, na parte da direita, um estranho logotipo. Algo que parecia um "M" misturado com um "P", difícil de explicar. Tentei fechar a janela, e só descobri que não tinha como fazer isso. Pior que isso, é como se o programa que abriu a janela simplesmente não existisse no PC. Nem mesmo no Gerenciador de Tarefas do Windows ela aparecia! "Bom, pelo menos até agora nada sério parece ter acontecido."Pensei em dar um boot na máquina, mas tive medo que ela não ligasse mais. "Deixa isso aí, mais tarde eu dou um jeito."

Virei-me e encontrei meu quarto de pernas pro ar. "Deus do céu... E a diarista só vem sexta-feira! Não posso passar a semana toda com o meu quarto assim. Que saco!"Saí do quarto, e fui até a sala. Ah, esqueci de contar! Eu me chamo Rafael. Tenho 20 anos. Eu moro sozinho, em um apartamento quarto e sala. Na verdade, o apartamento não é meu, e sim de um tio. Quando ele se casou decidiu manter o apartamento, caso precisasse para alguma coisa. Um pouco depois que comecei a faculdade (Curso Produção Cultural na universidade Federal), decidi que iria morar sozinho. Essas coisas que todo mundo quer, ter liberdade, se sentir dono de sua vida... E ele ofereceu o seu apartamento para mim. Claro, ele não me deu, era um "empréstimo". Mas não muda o fato de que eu passei a morar aqui. E como é perto de onde eu estudo, aceitei.

Bom, feitas as explicações, vamos voltar aos acontecimentos! Me joguei no sofá, e comecei a olhar para o teto. "Que droga, hoje não é mesmo o meu dia..." Nessa mesma manhã, eu havia tido problemas com algumas matérias na faculdade. E logo as de matrícula anual. Ou seja, se eu perdesse a matéria... No mínimo, atrasaria um ano de minha formatura. Nada tão grave para mim, mas digamos que eu teria problemas diplomáticos com os meus pais.

"Sinto como se minha vida estivesse se desmoronando pouco a pouco. Cada coisa que considero importante parece sumir. Não tenho jeito mesmo. E o pior é que pensar isso por causa de um problema com o computador é a prova de que cheguei no fundo do poço!" Depois de passar alguns minutos inerte, decidi voltar para o quarto e começar a arrumar tudo, ou ao menos deixar o quarto em um estado aceitável. Isso é, sem contar que ainda não fazia a mínima idéia de como é que um problema no computador tinha feito tudo aquilo! Na verdade, eu não queria pensar muito nisso, como eu não conseguia chegar a uma conclusão racional para o que tinha acontecido estava simplesmente ignorando tudo. Chegando lá, a primeira coisa que olhei foi o computador. Me sentei na cadeira, e pensei: "Ainda está ligado. Parece que está funcionando bem." A janela ainda estava ali.

Só que agora, abaixo do logo estranho, estava escrito "Ativada". Voltei a olhar o Gerenciador de Tarefas, mas nada. "Vou resetar essa porcaria mesmo. Se der problema, eu mando essa droga pro técnico..." Quando estava quase tocando no botão de reset, ouço uma voz:

(Voz) - Nãããããão!!!

E como se não bastasse o grito, levei um empurrão tão forte que me fez cair da cadeira de cara no chão - uma cena patética. A primeira coisa que senti foi uma dor terrível no nariz, achei até que tivesse quebrado - o que para minha sorte não aconteceu. Fiquei alguns instantes atordoado, tentando me apoiar no chão para me levantar, até que lembrei do óbvio: eu moro sozinho! Nisso me virei rapidamente, já preparado para pular e dar um murro na primeira coisa que eu visse, e quando dei por mim tinha uma garota em pé do lado do computador, com um olhar preocupado.

(Rafa) - Quem é você???

(Garota) - Me desculpe o empurrão... Você se machucou?

Ela tinha uma voz doce... Um ar familiar, um jeito meigo. Só de a ouvir falar comigo as preocupações que eu tinha no momento desapareceram. E nossa, como ela era linda! Aparentava ter uns 18 anos. Tinha cabelos negros lisos, um pouco abaixo do ombro. Olhos de uma cor que eu não conseguia identificar. Seu rosto tinha traços suaves, delicados; como se tivesse sido desenhado! Pele bem clarinha, quase pálida, com sardas praticamente imperceptíveis. (E sinceramente estou me sentido um pouco ridículo descrevendo a minha reação nesse momento... Mas fazer o que?) Devia ser um pouco mais baixa que eu, ter cerca de 1,68. E usava uma roupa estranha. Algo futurista, com cores chamativas; prateado, amarelo, laranja... Dava para perceber que seu corpo não ficava muito atrás da beleza do rosto! Depois de longos instantes de deslumbramento, voltei a realidade. Ou quase isso. Me levantei ainda meio tonto. Fiquei sem reação.

(Rafa) - Não, não... Eu estou bem.

(Garota) - Que bom, eu fiquei assustada!

Então ela sorriu para mim. Juro que nunca tinha visto um sorriso tão lindo!

(Rafa) - Mas quem... O que... Por que você me empurrou?

(Garota) - Ah... Mais uma vez desculpa por isso. É que eu não podia deixar que você desligasse o computador.

(Rafa) - Desligar o computador?

(Garota) - Porque se você fizer isso... Eu vou sumir... *Abaixando a cabeça, como que envergonhada*

"Sumir? Do que essa garota está falando afinal?"

(Rafa) - Como assim sumir? E... Quem é você afinal de contas? O que faz em meu quarto?

(Bia) - Eu sou uma Computer Girl... Me chamo Bia. Bom, e por que eu estou aqui? Acho que é porque você precisa de mim. Não é isso?

Ah, mas claaaaro!