Para Neil escrita por Ethereal Serenade


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Desejo uma boa leitura. tomei a liberdade para criar uma personagem, para assim permitir o andamento da história. Espero que gostem =)



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— Eva, eu gostaria de lhe pedir um favor...

Eva manteve-se em silêncio, esperando as palavras seguinte.

— Quero que... seja você a conceber meu último pedido.

***

— Está feito.

Eva abriu os olhos, sentindo-se um pouco zonza. Removeu o capacete, colocando-o sobre o colo enquanto desligava o equipamento. Aquele fora um dos raros casos em que se sentia absurdamente cansada. Havia sido, sem dúvida alguma, um dos mais complexos trabalhos a ser realizado em toda sua carreira na Sigmund Corp.

A tela de vidro onde os controles se projetavam se recolheu, sobrepondo-se uma sobre a outra. O suporte que elevava as telas se recolheu, diminuindo até o interior da maleta. Eva colocou o capacete em um compartimento interno da bagagem, recostando-se novamente na cadeira, soltando um profundo suspiro.

Os bipes que indicavam os batimentos cardíacos, que antes ecoavam no cômodo, se tornaram um constante bip. Dois funcionários de um hospital local se encontravam na sala, tão logo desconectaram os fios que estavam presos à pele do paciente. Um deles chamou um terceiro funcionário, que estava do lado de fora. Este adentrou no ambiente, trazendo consigo uma maca. Os outros dois colocaram o corpo inerte sobre a esquife para o transporte de desfalecidos, cobrindo-o com um tecido escuro. Guiaram para fora, deixando a Dra. Rosalene sozinha.

— Isso foi genial.

A Dra. Rosalene se virou, e encontrou o Dr. Wolgast, um dos mais antigos especialistas da Sigmund atrás de si. Era um senhor de idade, de cabelos e barbas grisalhos, com olhos muito escuros. Sequer lembrava-se de sua presença ali; ele estava para auxiliar na concepção do pedido.

— Foi um trabalho absurdo, isso sim.

Ryan Wolgast lhe sorriu, condescendente.

— Não deixa de ser verdade, Dra. — Comentou, colocando o capacete que trazia em mãos dentro da maleta, fechando-a em seguida. — Mas devo lhe parabenizar, a ideia de apagar a jovem River... Foi uma insanidade. Uma insanidade que, devo admitir, foi incrível.

Eva sentiu um pequeno aperto no peito, o que a faz manter a cabeça baixa. Fechou os olhos por alguns instantes, e massageou suas mãos no tempo em que se manteve em silêncio.

— Uma pena que Neil nunca concordou com isso... — Disse, por fim, com profundo pesar.

Wolgast não deixou de notar a culpa claramente visível no semblante de Rosalene. Colocou gentilmente uma mão sobre seu ombro, afagando num gesto de conforto.

— Dra., você ainda sente culpa pelas escolhas dele?

Aquela pergunta atingiu Eva Rosalene profundamente, fazendo-a sentir um pequeno calafrio, e um peso sobre suas entranhas. Levou tempo para que respondesse.

— Não sei... Eu só... Acho que eu poderia ter feito diferente. — Pausou brevemente, respirando fundo. Sentia seus olhos se encherem de lágrimas, e a última coisa que gostaria era de evidenciar o que sentia na frente de alguém. — Como fiz no pedido que ele nos solicitou.

— E você o fez, não?

— Ryan, você não percebeu que eu falhei com um cliente? O Sr. Wyles, no fim, morreu com as lembranças confusas. Era meio que uma obrigação minha conceber uma morte feliz ao Neil. Ele merecia, depois de tudo.

— E porque você se culpa?

Eva se levantou abruptamente, o que fez Wolgast dar alguns passos para trás. Andou até a janela da sala, observando a vista do lado de fora. Cruzou os braços, e, depois de considerar sobre o que exatamente responder à Ryan, falou, num tom baixo:

— Eu... Eu falhei. Com Wyles. Com Neil. — Sua voz vacilou neste instante. — Ele passou o tempo todo se culpando depois, era o mínimo que podia fazer, depois de sequer ter dado algum apoio a ele.

— Eu ainda não compreendo sua culpa...

— Wolgast, eu falhei quando podia ter feito a coisa certa. Eu vacilei quando Neil disse que era loucura apagar River Wyles das lembranças de John. Eu o ouvi, quando não deveria. E no fim, ele se culpou, quando foi eu que errei. Entende isso?

Wolgast não respondeu prontamente, restringindo-se ao silêncio. Eva o olhou por mais alguns instantes, e depois voltou-se para a vista além da janela. Não conseguiu evitar que uma lágrima solitária escorresse por seu rosto. Levou a mão até a bochecha, limpando-a rapidamente.

— E então — Disse o Dr. —, presumo, ele se culpou pelo fracasso com o desejo de John Wyles, e por conta disso começou a tomar todas aquelas doses de analgésicos... — Ryan massageou os olhos. Não como era para Eva, mas para ele, a morte de Neil e o seu último pedido lhe causavam uma profunda tristeza. — Deus, eu nunca esperaria algo assim do jovem Watts.

— Os médicos disseram que ele morreria jovem, de qualquer forma. — Eva falou, fungando discretamente. — Aneurisma, na idade, dele, e no estágio em que se encontrava, era apenas uma questão de tempo. Os analgésicos em excesso foram apenas um estopim.

Wolgast não sabia o que dizer. A Dra. Rosalene, por sua vez, levou a mão a boca, para conter um soluço que já não era mais capaz de segurar.

— Eva — Wolgast tocou-a nos ombros, se aproximando. — A culpa não é sua. E nem de ninguém. John pode ter morrido com tudo numa balburdia, mas e quanto a Neil? Ele, pelo que pude perceber, parecia feliz. Você também deveria estar. Você deu a ele sua catarse.

— Catarse... — a palavra lhe soou estranha, embora um pouquinho reconfortante.

— É, catarse. Ele teve uma morte feliz, e eu aposto que ele se perdoou também. Você deveria fazer o mesmo. Você fez Wyles realizar seu desejo, e assim Neil também teve seu desejo realizado, que era ver o sucesso no pedido de Wyles. Você conseguiu cumprir os dois, Eva.

— Não, eu não consegui.

— Conseguiu sim. Você deu a Neil o que ele queria, e, indiretamente, o do Sr. Wyles. Você mesma dizia que o que vale são os meios, e não os fins, não foi?

Eva nada disse, mantendo-se em silêncio. Limpou os olhos, enquanto respirava profundamente, na tentativa de conter soluços que lhe insistiam em escapar da boca.

— Todos nós estamos sujeitos ao erro nesse trabalho. Não cometa o erro de achar que somos perfeitos, ou de se sentir culpada por isso.

Wolgast sorriu mais uma vez, num gesto confortador. Deu um gentil aperto do ombro de Eva, e se dirigiu a saída. Antes, porém, de se retirar, voltou-se para Rosalene.

— Ah, Dra., há um novo paciente na espera no seu turno. No estado que se encontra, posso solicitar uma substituição para essa madrugada.

— Não precisa, eu posso ir.

— Tem certeza?

— Absoluta. — E sorriu, embora tristemente. — Eu não posso me dar ao luxo de deixar outras pessoas tristes enquanto fico me remoendo aqui. Neil não gostaria nem um pouco disso.

Pois vou encontrar minha própria catarse.

Minha própria ida a Lua.


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Notas finais do capítulo

Eu coloquei que o que causava as dores de cabeça do Neil era ocasionada por aneurisma pro ser uma doença que pode levar ao óbito, que se manisfesta por dores e por exigir analgésicos fortes ^^ Acho que caiu muito bem com a teoria. Caso tenha ficado confuso, peço perdão. Eu fiz tudo na pressa, porque se deixasse para depois ia ficar nervosa e acabaria por esquecer a ideia. Mas é isso.Espero que tenham curtido.o/



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