Worst Nightmare escrita por Kuroashi Boy


Capítulo 1
One shot




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20 anos atrás

Depois da minha cidade ser completamente destruída pelo Governo Mundial, fui obrigado a me esconder em um navio que passava por lá. Era um navio pirata, comandado pelo líder do submundo, Donquixote DoFlamingo.

Em busca de poder e vingança, passei minha infância junto a ele. Eu não gostava daquele homem. O jeito ruim dele, sua risada maquiavélica e debochada, a aura negra que ele portava e os constantes abusos psicológicos que ele me fazia passar... tudo isso era um inferno.

Por sorte ele não era o único ali. Junto ao bando, vivia seu irmão Rosinante, mais conhecido como Corazon.

Cora-san, como eu o chamo, é o motivo de eu continuar naquele navio. Ao mesmo tempo que DoFlamingo insistia em relembrar todo meu passado, junto com a morte de meus pais e da minha irmã, Cora-san permanecia me dando apoio e me fazendo voltar a querer viver.

Até que, em um dia qualquer, DoFlamingo passou dos limites.

Ele me chamou para seu quarto. Já estava de noite. Mesmo depois de anos passados, eu ainda lembro daquele dia fatídico como se tivesse acabado de acontecer. Até hoje tenho pesadelos com aquela cena, com aquele toque. Pesadelos horríveis que fazem meu corpo tremer de raiva.

"Law, vem cá..."

A voz. Eu me lembro da voz daquele homem. Uma voz incrivelmente assustadora, baixa, sussurrante e rouca. Uma voz que me arrepiava e me fazia ter vontade de morrer ali mesmo.

Eu era uma criança. Deveria ter quantos anos? Uns... nove?

Eu não tinha a menor ideia do que havia acontecido ali. Tudo o que eu sentia era um desconforto enorme no corpo inteiro, uma vontade louca de feri-lo, cortá-lo. Tudo o que eu queria era me desfazer do meu corpo e parar de lembrar daquilo.

Suas mãos enormes de adulto me tocavam. Eu tentei fugir, mas ele era mais forte. Enquanto fazia aquilo, para me aterrorizar ainda mais, ele continuava com o terror psicológico, sussurrando em meus ouvidos.

"Você é fraco, Law. Se você não fosse tão inútil assim, conseguiria ter salvo pelo menos um deles. Mas nem isso você é capaz de fazer. Você nunca será capaz de salvar alguém!"

Passado um tempo depois daquele pesadelo real, minha doença cada vez mais alastrava-se pelo meu corpo. Eu já estava cheio de manchas brancas e quase não se via mais meu rosto. Foi aí que Cora-san resolveu fugir dali e me levar junto, em busca de um hospital.

Os dias com ele eram muito melhores! Pela primeira vez eu fui capaz de sorrir, de ter esperanças de realmente ter uma vida. Uma vida longe daquele monstro loiro de óculos grandes.

Mesmo os médicos se recusando a me examinar, Cora-san não desistia de tentar me salvar. Eu pessoalmente não me importava em viver, só de passar um tempo com ele já me era suficiente, embora Cora-san não pensasse assim.

Tudo o que ele mais queria era curar-me desta maldita doença terminal. Ele sacrificava-se todo dia por mim, invadia hospitais, gritava com os médicos, tentava de toda forma me livrar do sofrimento diário. Tudo sem sucesso.

Até que ouviu-se um telefonema. Era meu pesadelo ligando, dizendo que tinha a chave para minha cura. Eu tentei fazer Cora-san não ir, sabia que era uma armadilha, mas ele não me ouvia.

Chegando no local demarcado, o plano era pegar a Ope Ope no Mi e dar o fora dali. Estava tudo dando certo, Cora-san se infiltrou e pegou a fruta e, com apenas uma mordida, minha doença se curou milagrosamente.

O estranho é que, geralmente quando tudo começa a dar certo no começo, o final é desastroso. Alguma coisa tem sempre que dar errado. E parece que eu tinha razão, já que o pássaro rosa não demorou muito para chegar.

Resultado? Ao descobrir a traição do irmão, DoFlamingo nos encurralou. Eu estava atrás de Cora-san, tentando me esconder em suas roupas, embora minha vontade fosse de matar aquele homem à nossa frente.

"Law, você será capaz de salvá-lo?"

Após dizer tais palavras com o mesmo tom de voz que costumara usar contra mim, ele puxou o gatilho. Cora-san caiu no chão com sua vida já pronta para terminar, abrindo um último sorriso no rosto e dirigindo suas últimas palavras a mim.

– "Law... não deixe que isso lhe afete... a culpa não é sua... eu amo você."

Segundos depois de terminar a frase, ele faleceu. Meus olhos, mais uma vez, perderam-se na escuridão. Eu estava diante do cadáver da pessoa que eu mais admirava, morta pela pessoa que eu mais odiava. Raiva, ódio, solidão. Era isso que eu sentia.

Aquele homem ainda tinha o maldito sorriso malicioso de sempre. O sorriso que mostrava o gosto pelo sofrimento alheio. Eu tinha certeza que ele iria me matar ali, por comer a fruta que ele tanto buscou, mas...

Não satisfeito, ele resolveu brincar comigo mais uma vez. Antes de virar-se e ir embora, ele novamente disse com uma voz baixa e rouca:

"Seus pais, sua irmã, seus amigos... você não foi capaz de salvar ninguém aquele dia. Eu pensei que você tivesse aprendido a lição, mas você deixou que Rosinante morresse na sua frente. Você não se arrepende? De ser um inútil, incapaz de proteger alguém, Law?"

,~ X ~

15 anos depois

Eu lembro de estar em Sabaody, reunido com meus nakamas. Mesmo a presença deles me fazendo feliz, eu não conseguia esquecer tudo aquilo, não importa quanto tempo tenha se passado.

Toda noite eu tinha pesadelos com DoFlamingo me tocando, com ele falando aquelas palavras com aquela voz medonha e aquele sorriso sádico. Toda noite eu lembrava de Cora-san, de seu sorriso, suas lágrimas, suas palavras, sua declaração.

Naquele local tinham outros piratas como eu, conhecido como Supernovas. Entre eles estava a pessoa que eu costumava odiar, um garoto jovem que, como Cora-san, sorria o tempo todo.

Diferente do homem que eu admirava, o sorriso dele me dava raiva, ódio. Ele sempre estava com aquele chapéu de palha irritante e aquela mania de não levar nada a sério. Me dava ódio pensar que aquela pessoa vivia uma vida tão feliz e colorida, enquanto eu permanecia escondido nas sombras do passado.

No fundo, eu tinha inveja. Inveja de sua felicidade.

Eu andava pelo arquipélago em busca de algo para distrair-me. Cheguei a ir em um desses leilões que lá havia, simplesmente para matar o tédio. E o pior é que eu sabia que o comandante daquele leilão, nada mais era que o próprio DoFlamingo.

Amo ver aquele palco a minha frente, não sei por quê. Provavelmente por puro trauma, mas o rosto dos escravos ao serem postos naquele local me fazia ter lembranças. Talvez eu tenha herdado o sadismo do Flamingo?

O rosto de sofrimento, ódio, raiva... o rosto daqueles escravos me lembravam eu criança, quando eu morava com ele. Ver as pessoas em estados ruins, angustiantes, acalmava meu coração. Eu odiava o sorriso, a felicidade alheia. Gostava de ver pessoas sofrendo o que eu sofri.

Luffy, por outro lado, tinha essa incrível capacidade de sorrir por qualquer motivo. Ele tinha o mesmo sorriso de Cora-san, o que me dava ódio. Odiava vê-lo, odiava ver pessoas rindo enquanto eu permanecia nas trevas.

Mais do que tudo, eu gostaria de poder sorrir daquele jeito novamente.

Do mesmo jeito que eu conseguia sorrir quando estava perto do Cora-san.

Que a dor suma logo do meu peito... é tudo isso que eu desejo.

A vontade de vê-lo novamente é mais forte que eu.

Minha vida então só se resumia a lembranças ruins?

Vida essa que foi salva pelo homem que eu mais amei.

.~ X ~

Após a Guerra de Marine Ford

Não sei o que deu em mim. Não sei mesmo. Depois de ver o dono do sorriso que eu mais odiava, Monkey D. Luffy, quase morto após a morte do irmão, eu senti na obrigação de tentar salvá-lo.

Ele estava no meu submarino, todo cheio de curativos e arranhões, totalmente inconsciente. De certo, a estimativa de vida desse garoto é extremamente curta e ele corre risco de nem mesmo chegar a acordar novamente.

Então por que eu fazia questão de tentar salvá-lo?

Era por causa do sorriso dele? O sorriso que parecia o de Cora-san. Era por causa dele ter perdido o irmão? Do mesmo jeito que eu perdi o Cora-san. De alguma maneira, aquele garoto do chapéu de palha, ele me lembra...

"Eu... onde eu estou..?"

Ele começou a acordar, pelo menos morto não estava. Eu disse a ele sua situação, a morte de seu irmão... tudo que ele precisava saber.

"Me diz uma coisa, Torao... por que eu sou tão inútil...?"

Aquelas palavras acertaram meu coração como uma flecha. O garoto sorridente agora parecia destruído, assim como eu estava há quinze anos atrás. Luffy chorava, gritava... totalmente sem esperanças de viver. Arrasado por não ter conseguido salvar o irmão.

Normalmente eu teria ficado feliz ao ver suas lágrimas de dor, mas dessa vez eu simplesmente sentia vontade de chorar junto com ele. Falar "eu te entendo, não se preocupe" e abraçá-lo bem forte; mas preferi apenas perguntar como ele se sentia, já que eu era seu médico.

"Sinto como se eu fosse inútil, fraco. Se eu não consegui proteger nem o Ace, como eu posso proteger meus nakamas?"

Luffy queria ficar forte a todo custo para proteger as pessoas que lhe eram importante, assim como eu. No final, acho que eu acabei me identificando com ele. Vendo-o chorar daquela maneira, me fez lembrar de quando eu perdi o Cora-san.

"Assim que eu sair daqui, Torao, você acha que eu vou conseguir treinar até ficar forte o suficiente para proteger todo mundo?"

Acho, eu realmente acho que ele vá conseguir. Ele é diferente de mim, ao invés de desejar o mal dos outros depois de todo sofrimento, ele só se preocupava em proteger todo mundo. Isso me dá um certo alívio.

Fiquei observando aquele garoto, sentindo um aperto no meu peito. O que era essa sensação? Era como se... eu quisesse protegê-lo. Ou melhor, como se eu precisasse protegê-lo.

Antes que eu pudesse me dar conta, uma lágrima começou a descer do meu rosto.

"Também está chorando, Torao?... Você sabe como eu me sinto, não é?"

Sim, eu sei como você se sente... a dor de perder alguém que você ama, ela é terrível, não é? É o pior pesadelo que uma pessoa pode ter.

Lágrimas foram escorrendo cada vez mais de meus olhos, até eu não conseguir mais conter o choro. Ver aquele garoto naquele estado fazia eu me sentir estranho, igual a como eu me senti quando eu perdi o Cora-san.

"Torao."

Ele disse meu nome e me abraçou. Nós dois chorávamos juntos, como duas crianças com saudades da mãe. Eu não consegui dizer mais nada enquanto estava com ele naquela posição, só consegui sentir seu cheiro. A maciez de seu cabelo, o toque de sua pele. Era tudo maravilhoso.

Nós fomos nos afastando do abraço e eu consegui ver seu rosto triste bem de perto. Com minha mão, fui enxugando suas lágrimas e um pequeno sorriso começou a se formar em meu rosto. Depois de ver que Luffy não tinha mais nenhuma lágrima, comecei a me aproximar bem lentamente, até nossos lábios se tocarem.

Não foi um beijo profundo. Aliás, nem sei se isso pode ser considerado beijo. Foi só uma leve aproximação de duas pessoas que entendiam o sofrimento uma das outras.

E foi com essa aproximação que eu tive certeza: eu me apaixonei por esse garoto.

~ X ~

Dois anos depois, Punk Hazard.

Depois daquele dia no submarino, eu parei de ter pesadelos todos os dias. Meu sono estava bem mais leve. Antes eu tinha medo de dormir e sonhar com aquilo novamente, mas desde que eu pude conversar com Luffy, meus pesadelos acabaram. Eu comecei a gostar de dormir.

Eu amava dormir, simplesmente para poder sonhar com seu sorriso de novo.

Atualmente, eu estou pensando em um plano para terminar de vez com isso. Assim que tudo estiver pronto, partirei em direção a Dressrosa para ter minha vingança. Eu só precisava saber quando seria a hora certa.

E foi lá que eu vi. A razão da minha existência, o motivo de eu ter finalmente saído da escuridão. Era ele, a pessoa dona do sorriso mais lindo do mundo, a pessoa que me fazia lembrar o Cora-san.

"Torao!"

Luffy... é você? Depois de dois anos sem aparecer nos jornais, encontrar-me com ele justo agora em que eu estava quase partindo... é o destino?

Eu amo esse garoto e ele provavelmente nem desconfia disso. Eu ficava me perguntando se algum dia eu iria ter realmente coragem de me confessar pra ele, ou se tudo isso iria ficar só na minha cabeça.

Ele veio correndo em minha direção com um casaco branco e vermelho e aquele velho chapéu de palha. Acabei não conseguindo conter o sorriso em meus lábios, minha alegria ao finalmente vê-lo depois de tanto tempo. Luffy percebeu minha felicidade ao reencontrá-lo retribuiu-me mostrando o sorriso que eu mais amava.

Em seguida, ele pulou em meus braços, e nós dois pudemos finalmente sentir nossos corpos juntos em um abraço bem apertado. Assim que eu o puis no chão novamente, Luffy me olhou bem nos olhos e falou com uma voz nostálgica e uma risada suave.

"Você parece bem mais feliz nesses dois anos, Torao! Kishishishi"

Antes que eu pudesse responder que a razão dessa felicidade era ele, Luffy envolveu seus braços pelo meu pescoço e deu-me o mesmo beijo que eu havia dado nele há dois anos atrás.

"Obrigado por cuidar de mim, Torao!"

Eu é que lhe agradeço, meu anjo de asas brancas, por me fazer voltar a acreditar em um futuro. Por não me deixar cair na escuridão, por me fazer esquecer todos os momentos ruins que eu tive. Luffy, obrigado por tudo!

Nós dois entramos na minha casa em Punk Hazard enquanto nossos companheiros estavam do lado de fora. Eu decidi finalmente contar tudo para ele.

Contei a minha história com DoFlamingo, meu trauma, meu relacionamento com Cora-san, minha raiva pós sua morte e o jeito como ele me salvou da escuridão. Finalizei com os simples dizeres, mas que sempre tinham um grande significado.

"Eu amo você, Luffy."

Ele se mostrou surpreso com minha história e pareceu compartilhar minha raiva do DoFlamingo. Ele também me disse que me ajudaria em tudo, que faria de tudo para que eu voltasse a sorrir como antes. Ele prometeu ser meu anjo da guarda. Prometeu ficar comigo para sempre. Prometeu que iria me salvar das trevas. Prometeu que iria me fazer feliz.

"Eu também te amo, Torao!"

Quase chorei ao ouvir tais palavras, tal declaração de carinho. E quando eu finalmente fui contar para ele meu plano de destruir DoFlamingo, ele mudou sua aparência. Foi a primeira vez que eu o vi ficando sério.

"Não faça isso!"

Como assim? Por que ele me disse isso? Ele parecia estar com tanta raiva do DoFlamingo quanto eu, mas... de onde surgiu essa frase? Se ele tivesse a oportunidade de matar o assassino de seu irmão, ele não faria?

"Mas... se você ficar correndo atrás de vingança, você vai acabar perdendo o sorriso de novo! Você iria acabar se afogando em mais ódio, Torao."

~ X ~

Atualmente

Ontem completou três anos desde que eu iniciei um namoro com Luffy. Conforme ele havia me pedido, eu não tive minha vingança contra DoFlamingo. Foi difícil resistir a tentação de finalmente poder matá-lo, mas Luffy estava certo. Se eu tivesse feito aquilo, Cora-san me perdoaria por ser um assassino? Ele mesmo me pediu, em seus últimos suspiros, para que isso não me afetasse.

Basicamente, nós dois começamos o namoro após sentirmos emoções parecidas. Nós dois perdemos pessoas importantes por não estarmos preparados para um confronto e então fizemos uma promessa de treinar juntos todo dia para ficarmos mais fortes.

Resolvemos também que iríamos continuar com nossas respectivas tripulações, já que seria injusto abandoná-los, e cada um teria suas próprias aventuras. Mas nós sempre acabávamos nos encontramos em alguma ilha pelo mar.

Ignoramos todo preconceito sofrido por sermos capitães, teoricamente rivais, e mesmo assim namorarmos. Nem eu e nem muito menos ele ligávamos para que os outros pensavam. Nós apenas sabíamos que nos amávamos.

Guardei todas as lembranças ruins do passado em um baú trancado bem fundo em minha mente, de uma maneira que essas lembranças não conseguiriam me afetar de agora em diante.

Apesar de todo passado ruim que eu tive, da morte dos meus pais, irmã e amigos, o meu futuro realmente foi bom, como Cora-san disse que seria. Afinal, seria injusto que a pessoa que deu sua vida por mim me visse triste pro resto da vida, não é?

Depois de tudo isso, fico realmente feliz de ter ficado vivo, mesmo tendo passando por tanta coisa.

Obrigado por me mostrar seu sorriso naquele dia, Luffy. Você salvou minha vida.


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Notas finais do capítulo

Tem três frases escondidas no texto, como mensagens subliminares. Você consegue achá-las? Dãn dãn dãaaaaan. ~musica de mistério~



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