Touch, Feel, Use escrita por laah-way


Capítulo 3
Capítulo III


Notas iniciais do capítulo

Gente, não tô conseguindo responder as reviews do capítulo passado :/
Vou tentar à noite, ou amanhhã, ok? Obrigada pelas reviews, beijos!



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Havia alguma coisa naqueles olhos verdes. Alguma coisa que eu não sei explicar. Era arrebatador, era viciante, dilacerador. Não sei por quanto tempo fiquei olhando pra ele ali, sorrindo pra mim. Quando me dei conta, pisquei umas duas vezes, sorri, sem graça, e voltei a olhar pra bebida. Pude vê-lo pelo canto do olho, ainda sorrindo, voltando a olhar pra frente também. Olhei pra ele novamente.
- Oi.
- Oi. – Ele ainda estava sorrindo. Uau.
Voltei a olhar pra frente, visivelmente sem graça, sorrindo. Dessa vez, ele quebrou o silêncio, estendendo a mão para mim.
- Richard Clark.
- Carolina Johnson. – Apertei sua mão, com os olhos fixados nos dele.
- Está sozinha?
Bom, então, eu não sei por que eu fiz isso. Eu sei que eu não queria, mas eu não pude resistir. Sabe aquela frase “é melhor acordar arrependida do que dormir na vontade”? Então, foi pensando nela que eu fiz essa pergunta.
- Quer companhia pra essa noite?
A surpresa naqueles olhos verdes foi evidente. Ele não imaginava, sequer passou pela cabeça dele que eu fosse o que fosse. Prostituta. Não pude decifrar aquela rápida seqüência de emoções que passou por aquele rosto perfeito com feições grossas, mas suaves ao mesmo tempo, por aqueles pequenos olhos verdes que se encaixavam perfeitamente no nariz reto e nos lábios finos, emoldurado por um cavanhaque ralo, que combinava perfeitamente com aquela pele morena. Surpresa, vergonha, decepção? Talvez. As expressões foram embora tão rápidas como vieram, não me dando tempo suficiente para decifrá-las. Ele sorriu, disfarçando, hesitou por um segundo, pareceu pensar, mas finalmente disse:
- Quanto?
- Quinhentos.
Ele levantou as sobrancelhas, mas meneou a cabeça positivamente e fez menção de pegar a carteira.
- Agora não.
Ele pegou a carteira mesmo assim.
- Eu sei, vou pagar o barman pra podermos ir embora.
- Ah. – Que idiota, Carolina, que idiota.
Richard pagou nossas bebidas e fomos para um hotel algumas quadras adiante. Até que era luxuoso, mas eu já tinha ido a melhores. Era um três estrelas. Richard pegou um quarto com varanda e fomos pra lá, em silêncio. Desde que saímos da casa de festas até ali, não tínhamos dito uma palavra sequer. Entramos no quarto, e eu sentei na cama, colocando minha bolsa ali. Richard abriu as cortinas e as portas de vidro que davam para a varanda do quarto e foi pra lá.
Levantei-me e fui até a varanda. Richard virou-se e olhou pra mim. Olhei-o nos olhos, enquanto andava, abaixando com uma mão, a alça do vestido que havia ganhado mais cedo. Ou para ser mais exata, no dia anterior, já que já passava das três da manhã. Richard deu dois passos e chegou até mim. Foi aí que algo inesperado aconteceu. Richard colocou a alça de meu vestido que estava caída, de volta no lugar. Então, aproximou a boca bem perto do meu ouvido e sussurrou:
- Não quero te tocar.
Bom, eu não acreditei. Apenas olhei para ele, incrédula, sem saber como agir. Para todos os efeitos, eu era uma prostituta, certo? Ele estava me pagando por sexo, não era assim? Então, como assim “eu não quero te tocar”? E aí milhões e milhões de pensamentos passaram por minha cabeça nesse breve instante, desde duvidar da sexualidade de Richard até achar que ele era algum assassino, psicopata, ou coisa assim. Mas, ele apenas segurou minha mão e me conduziu a uma cadeira, ali mesmo na varanda, onde ficamos sentados um de frente para o outro, enquanto Richard nos servia de vinho, que não me dei o trabalho de olhar qual era, tamanha minha perplexidade.
- Bom, eu... Não estou entendendo.
- O quê? – Ele sorriu, enquanto enchia uma taça e olhava pra mim de relance, se fazendo de idiota.
- Como assim, “o quê”? Pra que você está me pagando?
- Pra conversar. – Ele colocou a garrafa de vinho onde estava e levantou a taça, como se propondo um brinde, e tomou um gole.
- Você está me pagando 500 euros pra conversar?
- É. – Ele sorriu novamente.
Por mais indignada, perplexa, surpresa e todas as outras sensações que eu estivesse sentindo, fui obrigada a rir da situação. Bom, se eu estava num lugar cheio de loucos, só me restava juntar-me a eles, certo? Embora o único louco aqui fosse Richard. Bom, aqueles olhos verdes me obrigaram a entrar nessa loucura, então, eu ri e peguei a outra taça de vinho e levemente levantei a taça também, tomando um gole.
- Então... Carolina, há quanto tempo você trabalha... Hum... Nisso?
Eu ri da falta de jeito de Richard de tocar no assunto.
- Três anos.
- Uau... Por quê?
- Porque o quê?
- Porque, hum... Você decidiu ser prostituta? Sabe, você não parece o tipo de garota que nasceu pobre e precisou fazer isso pra sobreviver, pra comprar o pão de cada dia...
Fui obrigada a rir novamente.
- E realmente não fui. Eu era da classe média alta, eu nunca fiz faculdade e confiava sempre no sustento de “mamãe e papai”. Até o dia que eles morreram e me vi perdida, sem saber fazer nada, sem talento nenhum... O dinheiro já estava acabando, quando meu amigo Leonard me convidou pra morar aqui em Amsterdã. Até que um belo dia, passeando pela rua, um velho me ofereceu dinheiro pra transar com ele. Fiquei horrorizada e disse não, logo de cara. Mas aí eu passei dias pensando e cheguei a conclusão de que poderia ganhar dinheiro com meu corpo. Fim. – Obviamente resumi demais uma longa história, mas pelo menos dei o que Richard estava querendo.
- Você gosta? Quero dizer, você é feliz?
- Ninguém gosta, Richard, pode apostar. Bom, eu pelo menos faço o que sei fazer de melhor, - Richard riu – e tenho dinheiro para o sustento e para supérfluos.
- Entendo.
- E você, o que faz?
- Sou advogado de uma firma há alguns anos.
- Ah. E você nasceu rico ou conseguiu com o esforço?
- Nasci rico. – Richard não sorriu, como se isso não fosse um motivo pra se orgulhar.
- Imaginei.
- Por quê?
- Os... “novos ricos” costumam, como eu posso dizer? Economizar, entende? Como se o dinheiro fosse acabar ou coisa assim. Nenhum pagaria quinhentos euros para conversar com uma mulher. Nenhum.
Richard riu.
- Mas me diga, você sofreu algum trauma de infância ou coisa assim? Pra resolver vender o corpo? Porque sabe, a maioria das prostitutas sofreu algum tipo de assédio ou tiveram uma infância conturbada, sabe?
- Sei. Mas sinto muito Richard Clark, mas não vou contar minha infância obscura pra você.
- Nem um pouquinho?
- Não, não.
- Então,outra pergunta.
- Manda.
- Carolina é seu verdadeiro nome?
Foi minha vez de rir alto.
- Não. – E antes que ele pudesse falar alguma coisa, completei. – E não. Eu não vou te dizer.
- Droga. Mas me fala, qual a coisa mais bizarra que já te aconteceu? No trabalho? – Ele disse, passando a mão pelos cabelos negros, o que me fez lembrar de Leonard.
- Bom... – Fiquei pensando por alguns segundos – Certa vez, um louco me pagou pra conversar, acredita? – Ele riu. – Ok, de verdade. Bem, certa vez, na hora “H”, o cara parou pra tomar remédio de pressão.
- Sério?
- Sim! – Tomei outro gole de vinho. – Eu realmente queria te dizer algo do tipo “um cara teve um infarto”, mas isso nunca aconteceu.
- É uma pena.
Eu ri. Nossa, acho que fazia tempo que eu não me divertia daquele jeito com um homem.
- Realmente.
- Hum, já levou algum golpe?
- Como assim?
- De não te pagarem?
- Ah, alguns. Mas poucos. Costumo escolher com quem vou sair. – Falei isso e pisquei sugestivamente para Richard, que riu e rebateu:
- Devo sentir-me honrado então? Por estar num hotel com Carolina Johnson?
- Naturalmente. – Eu ri, e ajeitei o cabelo atrás da orelha. – Até porque, para os que não sabem, eu nunca saio com alguém por uma noite apenas. Nunca. São sempre dois dias ou três, então, você deveria se sentir duplamente honrado.
- Por isso não. Seria um prazer te ver amanhã.
- Me liga, então.
- Certo. – Richard olhou no relógio e fez cara de surpreso. – Você só pode estar brincando comigo.
- O quê? –Mas Richard não estava falando comigo, acho que com o tempo, não sei.
- Já vai dar quatro horas?
Olhei no meu relógio.
- É, pelo visto sim.
- Meu Deus! Desculpa Carol, aliás, posso te chamar assim? – Meneei a cabeça positivamente. - Ótimo. Olha, sairemos amanhã, conversaremos mais, mas eu realmente tenho que ir. – Ele falava rápido, levantou-se correndo. – Quer que eu te deixe em casa?
- Não precisa, eu pego um táxi. – Eu falava com calma, abafando o riso, achando graça de todo o desespero dele.
- Tem certeza?
-Sim.
- Quer o dinheiro pro táxi? – Ele falava muito rápido, nem parava pra respirar.
- Tchau, Richard.
- Tchau.
Ele levantou-se e saiu porta afora. Quando eu olho pro outro lado, balançando a cabeça e rindo, a porta abre novamente, e Richard entra correndo.
- O telefone.
- O quê? – Eu estava assustada, não estava esperando essa entrada triunfante.
- Seu telefone! Como eu vou te ligar amanhã se não peguei seu número?
Eu ri, mas fiz o possível para ser rápida, anotando meu número num guardanapo que eu havia achado ali por cima e com a caneta que Richard já estava na mão.
- Ok, tchau. – No meio do caminho, ele voltou correndo e deu um beijo na minha testa. – Obrigado, Carol, eu me diverti muito essa noite.
- Igualmente, Richard.
E ele foi embora.
Voltei a olhar pela varanda, tomando o último gole de vinho da taça, e sorrindo para o nada.
E eu não fazia idéia de que esse não era nem o primeiro, nem o último sorriso que Richard ia arrancar de mim.

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Notas finais do capítulo

Espero que gostem e reviews?