Touch, Feel, Use escrita por laah-way


Capítulo 15
Capítulo XV


Notas iniciais do capítulo

Ah seus lindos



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Richard estava surpreso por eu estar ali, mas não perguntou o que tinha me levado a bater à sua porta.  Ele deu espaço para eu passar e me pediu que entrasse. Desconcertado, ele levou a mão à nuca e pediu desculpas pela bagunça. Devo admitir, depois da prova concreta do que era o estado daquele apartamento eu não precisava de nenhuma confirmação de que Richard não estava numa situação tão melhor que a minha. Claro que ele trabalhava, então ele provavelmente levantava, comia, tomava banho... Mas o apartamento estava uma zona.  Garrafas de cerveja, embalagens de pizza e comida chinesa espalhados por todo o lugar, a televisão ligada, um livro na mesa de centro, assim como um porta-retrato jogado com a foto de sua família.

Parei no meio da sala e o encarei, enquanto ele me olhava com dúvida. Vendo que eu tinha dificuldade em falar, ele mesmo começou.

– Você não usou o cheque que eu te deixei.

– Eu rasguei.

Ele assentiu, calado.

– Richard, eu... – Comecei com ar confiante e decidido, mas parei, sem saber ao certo o que diria. Ele ainda me encarava, sem emitir uma palavra. O silêncio era desconfortável. Respirei fundo, sentindo minhas forças se esvaírem e perdendo o ar confiante. – Eu só queria ouvir você dizer que... – As lágrimas embargaram minha voz e eu sabia que estava fazendo um papel ridículo, mas não pude evitar. Tentei me recompor, e disse, com a voz entrecortada, mas com um pouco mais de confiança agora. – Só quero ouvir você dizer pela última vez que não me quer mais. Apenas diga isso, e eu prometo que vou embora e nunca mais te importuno.

Ainda em silêncio, Richard aproximou-se de mim até ficar a apenas um passo de onde eu estava. Então, olhando para baixo, falou:

– Gostaria de te dizer isso, Carol. Mas... – Ele então levantou o olhar e me encarou. – Não é o que eu sinto.

Um breve lampejo de felicidade passou por meus olhos e surgiu uma pontada de esperança em mim.

– Não?

Então, sem dizer palavra, Richard segurou meus dois braços e beijou-me levemente. Como eu sentia falta daqueles lábios! Resisti ao impulso de passar os braços por seu pescoço e beijá-lo louca, apaixonada e saudosamente, limitando-me a encara-lo enquanto ele rapidamente se afastava..

– Eu sinto a sua falta, Carol. – A voz dele saiu suplicante. – E esse tempo longe de você só serviu pra me mostrar isso.

Então, depois de muitas semanas sem fazer isso, eu sorri. A felicidade batera na minha porta de novo.

– Eu te amo, Richard. – Disse, sem me mover, como numa espécie de transe.

– Não consigo ficar longe de você, meu amor. – Ele também sorriu.

Vendo que eu continuava parada, Richard, meio inseguro, avançou e me beijou novamente. Senti todo o meu corpo tremer, ansiando pelo dele.  Colei nossos corpos, e o segurei com força, temendo que ele fosse embora de novo.

Segurando-me pela cintura, Richard deu alguns passos para trás e bateu a perna na mesa de centro, arrancando algumas risadas de nós dois. Estávamos irradiando felicidade. Se o alarme de incêndio soasse e começasse a jorrar água de todos os lugares, estaríamos provavelmente rindo, achando tudo muito cômico. Eu mal podia me controlar com tanta emoção misturada.

Contornando a mesa de centro, Richard deitou-se sobre o sofá, levando-me junto com ele, e, quando dei por mim, eu estava arrancando sua blusa com ferocidade. Não queria que nosso contato fosse interrompido nem por um segundo. Minha boca procurava a dele quase que por instinto.  Richard me prendia entre seus braços e pernas, como se, seguindo o mesmo medo que eu tinha, não quisesse me deixar ir embora nunca mais.

E só o que posso dizer é que foi lindo. Fizemos amor, e de novo e de novo. Como nunca fizemos antes. Como um drogado que fica em abstinência por um longo mês acha sua heroína novamente. Eu precisava dele, precisava de seu amor, de seu corpo. Ele sentia o mesmo. E lá estávamos nós, felizes, ofegantes e sorridentes.

Ainda por cima dele, deitei sobre seu peito e fiquei ali, escutando seu coração bater acelerado, sua respiração descompassada, sentindo suas mãos fazerem desenhos desconexos em minhas costas. Até que meus olhos fixaram-se no porta-retrato com a foto de sua família na mesa de centro. Não disse nada, mas como se Richard também tivesse acabado de se dar conta daquela foto ali, esticou seu braço e o abaixou, de forma que não fosse visto.

– Somos só eu e você agora.

Levantei o rosto e fui até o de Richard, colando nossos lábios levemente.  Afaguei seu cabelo, olhei-o nos olhos e sussurrei:

– Há males que vêm para bem.

– É. – Ele disse, mas ainda pude sentir uma pontada de dor em sua voz. Não o recriminei. Só se passara um mês, talvez levassem anos para que Richard se recuperasse totalmente da perda que sofrera. Mas tenho que admitir, ele escondia sua dor muito bem. – Nada pode nos impedir de ficar juntos.

Com essa última frase, uma idéia repentina apareceu em minha cabeça. Mas ela era tão maluca que preferi guardar para mim. Richard, porém, percebeu minha parada súbita.

– O que houve?

– Nada. – Sorri tentando disfarçar e voltei a apoiar minha cabeça em seu peito.

– Ah, não... O que houve, Carol?

– Foi só uma... Idéia maluca.

– Conte-me.

– Não, Richard... Esquece.

– Por favor. – Ele falou em tom suplicante, e quando levantei o rosto para encará-lo aqueles olhos novamente me convenceram.

Suspirei.

– Eu pensei... Se nada pode nos impedir agora... O que nos prende aqui?

– Como assim?

– Poderíamos... Morar juntos, por exemplo.

Richard comprimiu os lábios.

– Não posso, meu amor.

– Por quê? – Eu disse, em tom decepcionado.

– Não agora, pelo menos. – Ele se apressou em corrigir. – Ainda é muito cedo, desde a morte... Deles. O que as pessoas iam pensar se um mês depois eu estivesse morando com outra mulher? Minha família, a família de Diana... Eles não aprovariam. É cedo.

– Mas... Não quero dizer aqui. Poderíamos comprar uma casa no interior, aquelas casas de campo, isoladas de todos. Nada nos impede. Só o seu trabalho...

– Eu trabalho em casa agora.

– Então! Viveríamos apenas um para o outro. – Olhei-o com esperança.

Richard tirou seus olhos de mim e fitou o vazio.

– O que me diz? Não vou ficar chateada se não quiser.

– Eu vou pensar, amor. – Ele beijou minha testa, mas parecia distante.

Eu sorri, e novamente apoiei a cabeça em seu peito.

Não me importava, na verdade, se ele ia dizer sim ou não. A única coisa que importava agora é que eu tinha Richard só para mim, e nada ia mudar isso. A felicidade me fora restituída. Eu o amava, e eu o tinha!

Mas eu não fazia idéia de que talvez o meu “feliz para sempre” estivesse mais longe do que eu imaginava.


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Notas finais do capítulo

Espero que gostem *-* Reviews? ♥