EPDV Jacob

- Ela não está morta! - ele rosnou - Ela ficará bem.

Eu não estava certo se ele falava comigo mais. Virando-me, o deixando com sua morta, eu andei calmamente até a porta. Tão devagar. Eu não conseguia fazer meus pés se moverem mais rápido. Era isso, então. O oceano de dor. A outra costa tão longe através da fervente água que eu não conseguia imaginá-la, muito menos vê-la. Mas eu sabia que se conseguisse chegar até o outro lado eu teria Angel. Sim... minha Angel estaria lá para me confortar.

Eu queria correr e ir embora, descer as escadas dez degraus de cada vez e correr através da porta, mas meus pés estavam pesados como ferro e meu corpo estava mais cansado do que jamais esteve. Eu me arrastei pela escada abaixo como um inválido homem velho. Eu descansei no último degrau, reunindo minha força para passar pela porta. Rosalie estava no fim do limpo sofá branco, suas costas para mim, acalentando e murmurando para a coisa coberta em seus braços.

Minha força voltou quando eu ouvi o som dos pequenos carrascos se alimentando.

O coração deles estava batendo. O de Bella não.

A assassina me encarou por cima dos ombros da Rosalie, seu olhar mais focado do que qualquer olhar de um recém nascido devia ser. Olhos castanhos quentes, cor de chocolate com leite - exatamente a mesma cor que a Bella tinha.

 

Eu me aproximei e uma imensa curiosidade tomou conta de mim. Eu precisava ver aquela pequena aberração. Era quase como uma necessidade. Renesmee... seu rosto arredondado sorriu para mim. Eu cheguei mais perto e antes que eu pudesse focalizá-la percebi algo se movendo mais a frente - num desses cestos de vime havia um outro bebê, envolto em leves colchas de algodão – dois pequenos olhinhos me olhavam atentamente. Foi quando percebi que era um rosto um tanto familiar – pequenos olhos castanhos exatamente iguais ao de Bella, pele rosada e seus cabelos cor de bronze e desalinhados eram iguais ao do pai. Uma nova emoção varreu todo o ódio que senti há alguns segundos quando cheguei a pensar em tirar a vida daquelas criaturas tão inocentes e perfeitas, e deu lugar a algo completamente desconhecido por mim. Algo como admiração, quase orgulho.

- E.J.? – eu disse antes mesmo de perceber que já estava de joelhos ao seu lado.

- Ele realmente é adorável, não? – Rosalie perguntou retoricamente.

- Sim... – foi tudo que eu consegui pronunciar enquanto deslumbrava a beleza daquele pequeno bebê, talvez um vislumbre do que seria quando eu estivesse olhando para o meu próprio filho, eu pensei.

Um som parecido com o ronronar de um gato chamou minha atenção novamente, eu me virei e procurei por sua origem. Era Renesmee, ela também queria minha atenção e sorria largamente, suas bochechas coradas lembravam as de Angie. Foi quando me dei conta de que Angie não estava lá comigo admirando nossos novos sobrinhos.

- Onde está Angie, Rosalie?

- Humm... eu não sei! Quando desci, ela já não estava mais aqui. E Alice... também sumiu – eu não pude esperar que ela terminasse e corri para fora – aonde você vai, cão?

Nem mesmo a loira irritante poderia me distrair agora, eu precisava encontrar Angie. Eu não entendia por que ela não estava aqui, o que poderia tirá-la de perto das crianças, dos filhos de sua irmã. Sua irmã... onde estaria Angie enquanto o coração de Bella dava suas ultimas batidas? Eu corri até a floresta e consegui rastrear a trilha que o cheiro de Angie havia deixado, estava fraca e sinuosa, como se ela estivesse vagando por essas matas. Sozinha e assustada. Angie devia ter se assustado com a cena que testemunhara e deve ter saído para espairecer. Mas onde estaria Alice? Por que as duas sumiram sem dar explicações?

- Angie?? – eu comecei a gritar quando um pressentimento me atingiu, alguma coisa tinha acontecido, eu tinha certeza – Angie? Onde você esta amor?

E então um ruído veio até mim, parecia alguém que corria em minha direção, mas estava devagar como se estivesse sobrecarregado, carregando algo ou alguém. Estava longe, mas o cheiro era de Alice.

- Alice?

- Jake?!? – a voz de Alice estava alterada, algo que eu nunca tinha ouvido antes, Alice ou qualquer um dos outros vampiros raramente se alteravam ou mostravam qualquer tipo de emoção – Jake!

           

...

 

Seu corpo estava quente, muito quente. E isso me assustava muito, pois nada era quente para mim. Angie se debatia e depois ficava rígida como pedra, ela balbuciava coisas sem sentidos, chamava por mim, chamava por Bella.

- O que aconteceu Alice?

Alice parecia perdida e balançava a cabeça em negação e horror ao contemplar o estado de Angel, suas roupas estavam sujas de sangue e terra, as grandes marcas em seus braços evidenciaram que ela havia tido um confronto.

- Eu não sei Jacob! Eu estava aqui com Rose e os bebês, quando Angie simplesmente sumiu da minha mente...

- Sumiu?

- É! Sumiu Jake, sumiu! De repente eu não conseguia mais ver a Angel! – Alice já gritava, suas mãos levantavam em desespero. Rosalie se levantou com Renesmee em seu colo e alcançou E.J. que já chorava e os levou para a cozinha, tirando-os da discussão da sala – eu não sei como ela foi parar tão longe...

- Onde ela estava? O que aconteceu com ela Alice?

- Quando eu cheguei... – se Alice pudesse chorar, eu tenho certeza que estaria aos prantos agora – havia um homem... um lobo... eu não sei! Acho que era um lobisomem – eu encarava Alice enquanto sentia meu sangue pulsando violentamente em minhas veias prontas para explodir – ele estava atacando Angel, ele estava em cima dela! E havia tanto sangue! Sangue de Angel por todos os lados! Eu não fui rápida o bastante! Eu não consegui proteger Angel! Eu tentei impedir Jake! Eu juro que tentei...

Seus olhos cheios de dor pareciam implorar por perdão. Mas eu não precisava perdoar Alice.

- Alice! – eu a chamei e me aproximei tocando seu delicado rosto, para uma vampira Alice até que era bem doce e amável – você não precisa se culpar por nada disso. Porque a culpa de tudo isso é minha e somente minha! Eu deveria ter protegido Angel!

- Será que vocês dois poderiam deixar esse assunto para mais tarde? Poderemos decidir de quem é a culpa depois – Rosalie dizia friamente enquanto retornava a sala já sem os bebês – Angel precisa de nós. Alice vá chamar Edward e veja se ele pode descer e nos ajudar.

 

...

 

- O veneno já se espalhou... – Edward me disse e me olhava sem emoção.

Não!! Eu gritei em minha mente para que Angie não ouvisse meu desespero e me afastei. Ela não pode! O que vai acontecer? O que podemos fazer? Eu procurei por Edward, mas ele não disse nada, apenas olhava em meus olhos, nenhuma emoção nos seus. E então Angel despertou repentinamente e gritou com toda sua força:

- Tirem-no agora!!!

Num instante Rosalie já pairava ao seu lado, um bisturi reluzia em sua mão firme. Mas o que... antes mesmo que eu pudesse protestar, senti os dedos frios de Edward tocarem meu ombro esquerdo, ele tentava me acalmar e dizia tudo muito baixo e muito rápido.

- Nós precisamos tirar o bebê de dentro dela agora Jacob, ou ele ficara preso para sempre – eu não conseguia entender aquelas palavras, tudo parecia errado. Era cedo, ainda era cedo demais para o bebê, eu pensava. Minhas mãos seguraram Edward, ele se virou e me encarou novamente – nós não podemos correr o risco. A transformação já começou. Mas ainda existe uma chance de que o veneno não tenha invadido o sistema do bebê Jake! Não temos mais tempo, eu preciso tirar o bebê agora mesmo.

Edward se soltou sem esforço e rumou até onde Rosalie o aguardava.

- Não! Morfina primeiro! Dê morfina Edward! – foi tudo que eu consegui dizer em meio ao pânico que mobilizava meu corpo.

Alice se posicionou ao meu lado, suas mãos de gelo seguraram as minhas com força e eu senti seu carinho e apoio me confortando.

          

 

...

 

Edward tirou o bebê de dentro de Angie e tentou fazê-lo chorar limpando sua boca minúscula. Era um menino! Eu tinha um menino. Nate...

Ele não chorou e seu pequenino corpo pendia inerte nas mãos novamente cheias de sangue de Edward. Era inacreditável que em apenas um dia tanta coisa podia acontecer. Primeiro Bella é destroçada e praticamente morta por seus próprios filhos. Depois um bando de lobisomens atacam minha família e agora Angie! Minha Angie estava morrendo diante de mim e eu não podia fazer nada! E meu filho! Nate não se mexe!

Edward deitou o corpo sem vida do pequeno Nate no colo de Angie, ela recobrou a consciência por um instante, somente para que pudesse ver nosso bebê.

- Nate... – sua voz regozijante apesar de fraca, um sorriso fino percorreu seus lábios e depois lagrimas escaparam de seus olhos ao perceber que o veneno também já havia invadido Nate. As mãos dela alcançaram então o rosto de Edward que a fitava dolorosamente – Salve-o – Angel deu um longo suspiro antes de perder totalmente a consciência – faça qualquer coisa, mas salve-o!

 

...

         

- Você me deve isso Edward! Você me deve!

- Mas Jake, nós não sabemos o que vai acontecer! – Edward me implorava indecisão e medo em seus olhos.

- Existe uma chance Edward.

- Fique fora disso Rosalie – ele gritou com sua irmã, seus dentes a mostra dessa vez.

- Não! Ela esta certa Edward! – eu me pus entre os dois, não que eu quisesse proteger a sanguessuga, só que ela estava certa dessa vez - Existe uma chance.

- Jake... você não entende... em teoria isso poderia dar certo, mas tudo deu errado na pratica! Ele pode morrer! Eu posso matar o seu filho Jake!

- Se isso acontecer... eu saberei que você tentou! Eu saberei que você fez tudo o que pode para salvar Nate. Eu não vou ser capaz de ver meu filho ser um bebê para toda a eternidade Edward!

Edward se afastou, suas mãos tremiam inacreditavelmente enquanto passavam por seu rosto atormentado tentando arrancar a dor.

- Eu não posso...

- Você me deve isso! – eu gritei e o puxei pelo braço, o arrastando até Angie – Eu salvei os seus filhos e agora é a sua vez de salvar o meu!