*Flashback on*

Alex tinha dançado comigo duas músicas, as duas lentas. Seus braços em volta de mim com delicadeza e gentileza, o rosto encostado ao meu pescoço. Sua respiração batia em meu pescoço e penetrava no meu cabelo.

– Alex? - perguntei baixinho.

Ele levantou a cabeça, seus cabelos estavam um pouco arrepiados. Não precisava me importar com isso no momento.

– Sim? - perguntou ele, um sorriso de lado na face. Ele parecia nervoso?

– Você está bem? - perguntei.

– Eu estou ótimo.

– Tem certeza? - perguntei. - você está parecendo um pouco ansioso.

– Eu estou ótimo, Mia. - Alex depositou um beijo na testa. - não precisa se preocupar com nada.

Levantei minha mão de seus ombros e deslizei meu polegar por uma de suas maçãs do rosto. Ele suspirou e suavizou-se, um sorriso surgindo em seus lábios.

– Alex... - comecei, mas ele não me deixou terminar. Seu dedo estava na frente dos meus lábios.

– Eu estou ótimo. - sua voz saiu tranquila.

Seus dedo deslizou pelos meus lábios e parou no meu queixo, levantando-o gentilmente para ele. - Mia, você não deveria se importar comigo.

– Você é meu namorado. - resmungei. - eu devo me preocupar.

Ele se contraiu levemente, mas baixou a guarda assim quando começou a se curvar em minhas direção.

Seus lábios encostaram com tanta gentileza, que cheguei a pensar que ao menor toque os meus lábios iriam ruir por completo. Alex passou as mãos com força pela minha cintura e eu deslizei meus dedos pelo seu pescoço, me detendo por algum tempo com os cabelos de sua nuca. Seu hálito era uma mistura de hortelã e ponche de morango com framboesa. Alex só se soltou quando eu estava dando sinais de estar com falta de ar.

– Peguei pesado? - ele perguntou com os lábios próximos ao meu ouvido. Um arrepio percorreu toda a minha coluna.

– N-n-não. - gaguejei.

Ele riu.

– Senti falta de ouvir você gaguejar.

– Eu achei que já tivesse superado isso. - resmunguei.

– Você deveria saber os efeitos que eu causo em você, minha Rui... Mia.

Fingi ignorar, mas uma pequena pontada doeu em meu peito.

Ele continuou a me guiar pela pista de dança, as mãos em minha cintura novamente. Silêncio reinava sobre nós. A música terminou pouco tempo depois e Alex me levou novamente para nossa mesa.

– Eu vou ao banheiro. - ele se levantou da cadeira e passou as mãos pelo cabelo, tomando o máximo cuidado para não os bagunçar.

– Tudo bem. - falei enquanto bebia mais um gole de ponche.

Alex deu um passo em direção ao banheiro, mas voltou novamente para perto de mim.

– Mia? - chamou.

– O que foi? - perguntei, seus olhos castanhos estavam ilegíveis.

– Eu te amo. - ele me beijou, como havia feito antes, de uma forma mais quente e mais inesquecível.

– E-eu também te amo. - falei assim que não separamos. - muito.

– Você é perfeita. - ele resmungou enquanto passava um cacho do meus cabelo para trás do meu ombro. - nunca mude.

Alex se levantou e retornou o caminho para o banheiro.

X-X

Já fazia 15 minutos que Alex não voltava e eu já estava incomodada. Cada casal que passava por mim, cada um, parecia me odiar por apenas estar presente sozinha naquela porcaria do baile. Todos pareciam estar felizes, também parecia que eu interfira nesse sentimento.

Olhei para os lados e suspirei, não conseguiria continuar sentada por muito mais tempo. Levantei da cadeira e tomei o caminho para os banheiros, queria apenas encontrar Alex.

Os saltos ecoavam pelo piso de mármore e o vestido se mexia com cada passo que eu dava. Eu estava bonita, tinha que admitir isso, as vezes, apenas as vezes, Ethan pode ter razão. Ele sempre me disse que eu era linda.

Estava na entrada do corredor do banheiro masculino quando me arrependi amargamente. Meus olhos começaram a despejar lágrimas antes mesmo de conseguir entender tudo que acontecia na minha frente.

Alex estava se agarrando a uma líder de torcida que eu desconhecia o nome. Uma das mãos dele pegava na bunda da garota, a puxando cada vez para mais perto, a outra apalpava com tanta força um de seus seios que parecia que ia o amassar. A garota tinha os cabelos loiros oxigenados, que caiam sobre o rosto de Alex sempre que ela tentava enfiar cada vez mais fundo a lingua em sua boca. Ela tinha as mãos no cabelo dele, no exato ponto em que as minhas estavam pouco tempo antes. Ambos pareciam gostar demasiadamente do que faziam.

Deixei um soluço escapar pelos meus lábios.

Alex levantou olhos, praticamente cuspiu a lingua da garota de dentro da boca assim que me viu. Seus olhos estavam procurando algo atrás de mim, não chegavam nem a olhar no meu rosto, muito menos para meus olhos. A garota continuava perto dele, os peitos demasiados encostados no peito de Alex.

Ele tomou postura e deu um passo a frente. Eu já havia começado a correr antes mesmo dele encostar o pé no chão.

Meu coração parecia se quebrar mais a cada passo.

*flashback off*

Emma me olhava horrorizada, sua boca torcida em uma careta e os punhos fechados no lençol da cama.

– Aquele... Aquele... Aquele cretino! -gritou ela. O lindo vestido havia sido trocado por um dos seus pijamas. Eu ainda continuava usando o vestido do baile, as flores que enfeitavam a estampa agora me fazia sentir péssima, uma mistura de ânsia de vomito e tristeza. - Alex vai se arrepender por tudo, por tudo mesmo! Ele te disse que te amava, que amava e que queria passar o máximo de tempo que pudesse com você! Como alguém pode ser tão hipócrita?!

Abracei ainda mais forte o travesseiro e encostei a cabeça em uma das pontas macias. Por que eu queria chorar tanto? Por que eu não estava com raiva como Emma? Meu coração doía a cada batida por causa da resposta.

– Mia? - chamou Emma, a voz calma e gentil. Ela passava os dedos pelos meus cabelos.

– S-sim? - eu chorava novamente, dessa vez deixei as lágrimas rolarem sem me importar se Emma me observava.

Ela passou os braços por mim e me abraçou, minha cabeça encostando eu seu ombro, procurando o apoio que somente conseguiria dela.

– Tudo vai ficar bem... - resmungou ela, o queixo apoiado na minha cabeça.

– Eu deveria ter ouvido você e o Ethan. - solucei. - vocês sempre tiveram razão.

– Mia. - ela falou com tanta gentileza. - você não pode se culpar por isso, você foi...

– Estúpida. - a cortei tão rápido que ela pareceu ficar assustada. - estúpida, essa palavra resume tudo o que eu sou! Eu, apenas eu, continuei levando tudo a sério, eu me enganei, mesmo sabendo... Mesmo sabendo das histórias sobre ele.

Emma me afastou com cuidado, as mãos em meu rosto e os dedos secando minhas lágrimas. Emma também chorava.

– Eu também tive uma das piores noites da minha vida, possivelmente a pior de todas, mas não irá mudar nada se ficarmos chorando aqui sentadas. Eles não merecem nenhuma das nossas lágrimas. Por que você não toma um banho e dorme um pouco? Amanhã talvez se sinta melhor.

– Emma, eu não acho... - comecei.

– Eu não quero dizer que minha dor é maior que a sua, ela não é, mas eu já passei por muitos momentos como esse e você me ajudou em todos eles. É a minha vez de servir de ombro amigo e de te amparar.

Um sorriso brotou em meus lábios, nunca achei que os lados da mesa virariam de tal modo.

– Faça o que eu digo ao menos uma vez, ok? - sua voz era sincera, do modo que apenas eu em momentos mais difíceis já ouvia escutado.

– OK. - respondi.