Colorful escrita por Isabelle


Capítulo 14
Capítulo 13 - Noah


Notas iniciais do capítulo

Você faz isso parecer mágica
Pois eu não vejo ninguém, ninguém
Além de você
— The Weeknd



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Cely esperava todos na festa com aquele sorriso lindo delineado por um batom vermelho. Seu cabelo estava preso em um coque frouxo, e havia maquiagem em seus olhos, maquiagem escura, coisa que eu raramente via ela utilizando. Estava usando uma fantasia de enfermeira bem colada ao corpo, que conseguia quase destacar sua pequena barriga por causa da gravidez, de qualquer jeito, não podiamos dizer que ela não tinha um corpão, mas de tanto ela me fitar com cara feia, por estar olhando o corpo dela, eu preferi parar de olhar. Will, estava ao seu lado recebendo as pessoas, usava uma fantasia de, eu não sabia bem do que era, mas parecia o Kem, da Barbie, só que moreno, e também parecia que ele estava pronto para um luau no Havaí. Os dois não estavam se falando, desde que Will, tinha dito algo para provocar Cely, e agora ela fingia o ignorar. Era um costume de muito tempo dos dois.

Estava pronto para sair fazia meia hora, tinha colocado aquela collan azul no corpo toda grudada, que fez Carla ficar me encarando até demais, e fazer Sally e até mesmo Cely revirar os olhos e bufar, mas eu apenas sorri para elas como se não tivesse percebido.Tinha aquele escudo do capitão america ao meu lado, e estava em profundo tédio esperando Sally que ainda não estava pronta. Tive que ficar sentado no sofá, conseguindo ver o apartamento deles, e o movimento; enquanto Carla, estava sentada com aquela mini fantasia de Minnie, que mal cobria toda sua bunda. Ela realmente olhava para mim com aquele olhar de desejo, mas eu realmente não havia naquela forma novamente. Era obvio que se caso acontecesse, não iria recusar de ficar com ela, mas não estava nenhum pouco disposto a dar em cima dela, da forma como já tinha feito uma vez. Ela havia encarado Will algumas vezes assim também, mas Cely, somente com um olhar, fez com que ela tivesse medo até de respirar.

Escutei o som da festa começar, e nenhum sinal de Sally. Celeste olhava para nós preocupada, e depois voltava a sorrir para os convidados, e eu resolvi subir para ver o que estava acontecendo. A porta do quarto estava semi aberta, e mostrava o quanto ela parecia descontente ao olhar no espelho e se ver na fantasia. Eu não tinha a visto com aquela fantasia, mas podia dizer simplesmente, que ela estava mais bonita do qualquer menina que eu já tinha visto.

Entrei no quarto, e ela olhou para mim com olhar de suplica, como se ela estivesse ridícula e precisasse de ajuda.

Ela usava um vestido preto tomara que caia que chegava até o chão, e tinha um fenda gigante na perna. Os cabelos negros estavam soltos com alguns cachos, e uma parte estava presa para tras, como se fosse um topete. Os olhos, verdes esmeraldas, estavam delineados com uma maquiagem preta e dourada, e um batom vermelho, mais vermelho que o de Cely, estampava seus labios carnudos. Havia um véu preto preso em seu cabelo, e para completar o visual, ela usava um salto trançado nas pernas.

― Você está linda, Sally. ― Eu disse e me aproximei dela.

― Não me sinto linda. ― Ela disse e voltou a se encarar no espelho.

― O que? ― Eu disse tentando entender. ― Você está maravilhosa.

― Me sinto uma gotica estranha.

Eu soltei uma risada.

― Aqui. ― Eu tirei aquele véu, a única coisa que realmente fazia sua fantasia parecer estranha, e a mostrei no espelho. Ela estava simplesmente linda. Não havia como negar.

― Tudo bem, agora me sinto somente gotica, não tão estranha. ― Ela soltou um sorriso de lado, e eu continuei a observando.

Meu coração palpitava, um pouco mais rapido do que o habitual. Era estranho aquilo. Me sentia estranho. As palmas de minhas mãos suavam, e alguma coisa se revirava no meu estômago. Ao mesmo tempo em que eu queria vomitar, eu gostava da adrenalina no sangue. Sally sorriu para mim, e eu sorri de volta, vendo que era ela que causava aquilo em mim.

Parei de encara-la, e comecei a andar, indo para o apartamento de Cely, não queria pensar sobre o que estava sentindo. Não poderia ser nada demais. Não seria nada demais. Eu era o Noah. Não sentia isso. Não poderia sentir isso.

― Ei, cara, quem é essa? ― Elliot foi entrando, e Carla revirou os olhos meio bufando ao ver Sally. ―Ei, Sally.

Ele usava uma fantasia de batman improvisada, com uma camiseta preta de frio, que eu tinha certeza que o cozinharia ali dentro. Uma calça preta grudada, e uma cueca por cima dela, que fez Sally soltar uma risada.

― Ei, Elliott. ― Ela disse, e fiquei imaginando de onde os dois poderiam se conhecer, ai me lembrei da minha festa surpresa.

― Essa é a Carla, ela é uma amiga. ― Disse, e ela se levantou sorrindo.

Elliot olhou para ela meio torto, gostando do que via, mas eu conseguia ver pelo canto dos olhos Sally dizendo para ele, por leitura labial, que ela era uma baranga. Quis rir, mas me controlei.

Fomos todos para a festa, e Cely nos recepcionou como sempre. Traduzindo, ela logo nos fez ajuda-la com a comida e tudo mais. Tinhamos tirado todos os moveis da sala, o que a transformou em um grande salão. Era incrivel como nossos apartamentos eram identicos, com pouquissimos detalhes diferentes.

Ela ficou muito feliz por ver Eliott, parecia que faziam anos que eles não se vinham, mas ela sempre havia se dado bem com ele. Os dois conversaram por um tempo, mas logo Elliot sumiu no meio da multidão, e não o vimos mais.

Varias pessoas dançavam, enquanto uma musica que eu não conhecia tocava. Sally e Cely conversavam, e riam, enquanto Carla parecia totalmente perdida. Resolvi não deixa-la tão sozinha, e fui até ela. O sorriso dela pareceu aumentar ao me ver, e eu sorri de volta.

― E aí, o que está achando? ― Perguntei meio gritando, já que era dificil conseguir escutar alguma coisa com todo aquele barulho e aquele tanto de pessoas conversando.

― Está muito bom, vocês fizeram um otimo trabalho.

― A maior parte das ideias foram de Cely e Sally. ― Disse, e percebi que era engraçado pronunciar os nomes das duas. Mesmo que um fosse “Séli” e o outro “Sáli”

Olhei envolta, e vi as faixas, e as fitas coloridas, com todas aquelas decorações de halloween; e sorri ao pensar em como as duas trabalhavam bem juntas.

― Elas realmente capricharam. ― Disse Carla, por fim.

― Você quer dançar? ― Perguntei, vendo que o clima estava meio estranho.

Um musica lenta começou a tocar, e ela passou as mãos por meu pescoço enquanto nós dois apenas balançamos pelo salão. Não me atrevi a olhar para Sally, ainda mesmo que estivesse dançando com Carla, conseguia me lembrar do perfume dela ao sair do apartamento. Do vestido e da fenda. Do sorriso que ela abriu para mim ao tirar o véu. Dos olhos dela em contato com os meus.

Porra!

Aquela menina tinha conseguido me ferrar.

A musica terminou, e Carla e eu fomos nos sentar em uns sofás vermelhos improvisados. Passamos alguns minutos conversando, até que Will me chamou para ajuda-lo com a bebida que havia acabado de chegar.

― Cara, você viu a Sally com aquele garoto? ― Ele me disse enquanto despejava o gelo no congelador.

― O que? ― Eu disse sentindo uma pontada de ciumes. ― Qual garoto? Eles ficaram? Eles ainda estão aqui?

― Eita, calma, papagaio louro do bico dourado, respira entre uma pergunta e outra. ― Will sorriu de lado, e terminou de ajeitar, batendo uma mão na outra para esquentar. ― Não sei bem, ele era alto, e loiro. Eles estão por algum canto ai, devem estar se pegando com certeza.

― Não, Sally não é assim. ― Eu disse, ainda com medo dela estar mesmo com outra pessoa.

― Cara, deixe eu ser bem sincero, você gosta dela, olha só, está morrendo de ciumes dela...

― Não é assim, isso é novo para mim, Will, eu não quero gostar dela entende? ― Eu disse e soquei de leve o balcão. ― É só que quando eu vejo ela, minha mão soa, e meu coração, ah cara, ela é muito gostosa.

― Não, não é só por isso, e você sabe. ― Will me olhou de lado. ― Entenda uma coisa, ― ele apontou para um canto em que eu a vi, conversando com um garoto. Ele parecia ter uns vinte e quatro anos, e usava uma fantasia do homem aranha, só que como eu, sem a parte que cobre a cabeça. ― Ela vai arrumar outra pessoa, Cely arrumou quando eu não lutei por ela, e te garanto depois que ela arrumar, é bem difícil de suportar, e de fazer ela voltar atrás.

― Tudo bem, romeu, agora me diga, sua fantasia é do namorado da Barbie?

― Não, ou sim. ― Ele olhou para si mesmo. ― Eu sei lá. Cely e eu nos vestimos assim na nossa primeira festa, e queríamos nos vestir assim de novo, mas mal estamos nos falando.

― Você sabe que é só drama, depois que todos formos embora, as portas se fecharem e vocês forem para os quartos.... ― Eu olhei para ele com malícia e ele riu.

― Espero que consiga isso com a sua garota também. ― Ele deu um leve tapinha nas minhas costas, e nós fomos até Cely, que estava conversando com algumas amigas. Uma delas, era loira dos olhos bem claros, ela estava vestida de barbie, ela sorriu para mim simpaticamente, uma coisa que ela não aparentava ser.

― Noah, essa é a Emily, mais conhecida como Emily. ― Cely disse. ― Emy, este é o Noah.

― Ah, então você é o tão falado Noah, que vai acabar dando uma ulcera para a Cely. ― Ela sorriu, com aqueles dentes super alinhados.

― Ele é o terrível Noah, que não consegue me deixar em paz com uma babá.

― A culpa não é minha que você só escolhe mulher bonita e gostosa, onde estão as mulheres velhas e gordas, como aquela primeira.

― Aquela é a minha avó. ― Will disse, insultado.

― Meu Deus, cara, me desculpe. ― Senti minha pele ruborizar.

― Minha vó morreu, Noah. ― Will disse, e Celeste tentou esconder a risada que estava prestes a vir. ― Você sabe que é péssima em ficar brava comigo.

― Cala a boca. ― Cely disse.

― Você é um idiota. ― Eu disse, e olhei novamente para Sally que dava risada com o tal do homem aranha.

― Então, Noah, você é policial. ― Emy disse, me encarando, enquanto eu não conseguia me focar.

― Sim, eu faço faculdade de direito, para virar perito, acho que estou perto. ― Ele estava mais perto dela agora, quase colando o corpo ao dela.

― Uau, um perito, tudo que essa cidade precisa, fiquei sabendo dos assassinatos, deve estar sendo frustrante para você.

― É, está mesmo. ― Eu disse, sem prestar atenção.

― O Noah, ― Will balbuciou, e eu tirei minha atenção dos dois. ― tem que dar uma volta por ai, chamar alguém para vir aqui, tirar pessoas de perto de outras pessoas, essas coisas habituais que todos nós fazemos em festas, vocês sabem...

Todos olharam para ele como se ele fosse estranho, e eu sorri para todos indo em direção a Sally, que não estava mais ali. Procurei em meio a todos, mas não a via mais, e me senti com tanto ciumes, de uma forma que eu nunca havia me sentido.

Uma musica com batidas firmes começou a tocar, e senti dedos tocarem minhas costas. Ela estava parada lá, toda certinha com a perna aparecendo por entre a fenda. A música continuava com as batidas firmes e rítmicas, enquanto ela andava lentamente envolta de mim. Seus olhos seguiam os meus lentamente, e seu corpo girou lentamente, dando um passo para mais perto de mim.

― Não vai dançar comigo? ― Ela sussurrou.

― Não sei se devo, acho que seu namorado vai ficar com ciumes. ― Eu disse, enquanto a voz do cara começou a cantar.

― Acho que não é ele que esta com ciúmes. ― Ela sorriu maliciosamente, e fez os passos lentamente.

Eu apenas sorri sem graça, e ela rodopiou mais uma vez, e fez uma dança com as pernas, como se fizesse um caminho lentamente para mim. Seu corpo ficou bem próximo ao meu, e ela levantou os braços bem devagar, e os desceu lentamente até encontrarem minha cintura. A respiração dela encontrava meu pescoço, e suas mãos levantaram as minhas até uma ficar na sua cintura, e a outra em minha mão. Os passos dela eram lentos e precisos, e eu apenas ia a guiando. Olhei para os nossos sapatos, e os pés dela estavam deslizando, mas sua mão levantou meu rosto, e nossos olhares se encontraram ali. Sua boca estava próxima da minha, mas logo se afastou quando ela fez um tipo de arco com a minha ajuda. Era estranho, mas parecia tão simples, como se dançar com ela fosse fácil.

Ela deu um giro, e rodopiou de volta a mim, mas desta vez de costas. Minha respiração batia em seu pescoço e eu vi sua pele se arrepiando ao meu toque. Ela se virou novamente, e trouxe o corpo para perto de mim.

Meus Deus, como eu queria beija-la. Ela estava bem ali. Tão próxima, com o corpo tão próximo. Os meus braços rodiavam sua cintura. Sua respiração. E seus lábios. Vermelhos. Bem ali. Proximos. Meu corpo se arrepiou. Eu precisava daquela mulher. Eu nunca iria admitir, mas, meu Deus.

Porra.

Que droga.

Meu Deus.

Eu estava apaixonado.

Ela continuou dançando, bem próxima, nossos lábios estavam ali, prestes a se encontrar, faltavam poucos centímetros, mas parecia uma eternidade, o mundo parou, os olhos esmeraldas, tão perto, tão belos. O rosto dela. Todo bem desenhado, como se tivesse sido programado, e desenhado minuciosamente. Os lábios dela. Vermelhos. Meu Deus. Eu estava pensando demais. Nunca tinha ficado nervoso para beijar uma garota. Lá estava. Era a hora, e bem no momento do encontro dos lábios, Cely nos interrompeu. Bem na hora do ato. Vou ser bem sincero, eu quis mata-la.

― Vocês viram o Will? ― Ela perguntou séria.

― Não, ― eu fiz um barulho com a garganta, despertando daquele estado de transe, ― nós não vimos o Will.

― Bem, vocês podem me ajudar a encontra-lo? ― Ela disse.

― Claro, Cely, vocês estavam juntos? ― Sally disse se afastando um pouco de mim, e seguindo-a.

― Não, a gente estava naquele jogo de ignorar ainda, ele disse que ia buscar mais gelo, mas isso já faz bastante tempo. ― Ela disse preocupada.

Nós nos dividimos e procuramos por todo apartamento por ele. Perguntamos as pessoas, mas ninguém parecia ter visto o Will recentemente, então fomos todos para fora.

A noite toda se arrastava, e o céu era iluminado por poucas estrelas. Haviam alguns barracões como o que estávamos na extensão da rua, mas todos eles pareciam não conter nenhuma festa. Os postes de luz iluminavam fracamente a rua, o que era difícil ter uma melhor percepção. Aquele apartamento era um otimo apartamento, mas era localizado em uma rua muito ruim. A iluminação era pessima, e havia um lago dois quarteirões mais abaixo.

Procurei por mais algum tempo, com o coração batendo forte ainda por causa da dança com Sally. Meu Deus. Tudo estava tão confuso em sua mente. Ela era um tempestade em todo seu mar calmo. Ele estava acostumado a não ter aquele sentimento. Não tinha ciumes, não precisava de ninguém dessa maneira. Amor era coisa muito dificil. Alguma coisa que eu estava disposto a evitar. Ele nunca havia conhecido duas pessoas, que se amavam, que nunca haviam se machucado.

Balancei esses pensamentos, e me coloquei em busca de Will novamente, ele com certeza não deveria estar longe. As vezes saira apenas para dar alguma volta, ou comprar mais alguma coisa, não deveriamos nos preocupar, Will era grandinho e sabia cuidar de si mesmo.

Cely estava com os olhos preocupados em busca dele, mas não conseguíamos ver nada. Andamos um pouco, e tentamos nos separar para procurar, mas eu juro que não devíamos ter o feito. Sally foi para o lado oposto de Cely, e eu caminhei até uma beirada do lago, ver se não estaria sentado pensando, já que ele e Cely haviam brigado. Procurei um pouco, mas não encontrei nada, principalmente por conta de escuridão profunda no entanto, em poucos segundos um grito de Cely cercou o local.

Corremos até ela e o vimos jogado na beirada no lago. Seu corpo parecia estar desconectado de sua cabeça, e Cely se jogou nos braços de Sally sem querer olhar.

― Will! ― O grito que saira de sua garganta fez eu querer desabar ali bem no chão.

Meu coração disparou, e eu senti as lágrimas queimando no fundo de minha garganta. Haviam milhares de pontos pretos nos meus olhos, me fazendo perder o equilíbrio, mas mesmo se fosse meu amigo, deveria manter a calma. Olhei para Sally e vi ela falando palavras acalmantes para Cely, mas também vi que seus olhos, os lindos olhos verdes, estavam transbordando em lágrimas.

Celeste não conseguia nem fazer barulho ao chorar, ela apenas chorava nos braços de Sally, enquanto todo o seu mundo parecia estar desmoronando. Era Will, ele era o homem de sua vida. Eu consegui ver todas as memorias caindo por cima dela. Meus próprios olhos estavam coberto por lagrimas.

Não conseguia, não estava bem. Aquilo era culpa minha. Eu deveria já ter descoberto quem era aquele cara, já deveria te-lo jogado atras de uma cela a muito tempo. Agora por conta disso. Tudo estava uma merda.

Will.

Will estava morto.

Passado meia hora, todos os policiais, já cercavam o lugar, junto comigo e Sally como se estivessemos a frente do caso. Ela ainda chorava muito, e colocaram Celly em uma ambulancia para tomar alguns calmantes, e soro, pois ela estava totalmente desidratada. Ela também chorava muito, mas muito menos do que na hora do choque.

Não conseguia me conformar ainda. Não o conhecia a tanto tempo, não tinha tido uma historia com ele, nem nada disso, e mesmo assim sentia como se algo dentro de mim tivesse sido despedaçado. Até mesmo, Sally se sentia assim. Imagina como Celeste estava.

Celeste que como eu sempre vira, era incodicionalmente apaixonada por Will, e ele por ela. Celeste que tinha uma filha para cuidar sem o marido. Celeste que pelo que eu presenciei, tinha falado, como ultimas palavras ao seu marido “Cala a boca”. Celeste que parecia ter perdido todo o chão, quando o vira.

Todos cercaram o corpo e o colocaram envolta daquele saco preto, a cabeça estava em outro lugar, em uma caixa meio vermelha, que eu acreditava ter gelo dentro. O braço de Will ainda era possível ver, já que estava fora do saco, e entortei a cabeça ao ve-lo.

Sally olhou para aquilo e parecia como eu estar entendendo. Nós dois fomos nos aproximando dos peritos que pareciam analisar, mas eles não nos deixavam chegar próximos por ser zona de crime. Sally me chamou para ultrapassar por outro canto, e nós conseguimos nos aproximar mais.

Ela chegou ao lado de corpo, e as lagrimas começaram a se formar novamente. Entrelacei meus dedos a ela, e me senti em uma zona mais segura e lentamente puxei o saco. O meu estomago pareceu se contorcer ao ver o corpo sem a cabeça, mas nem fora isso que mexeu com meu psicologico. Fui andando para trás totalmente sem chão, tentando fazer com que tudo aquilo fosse apenas uma mentira.

Sally olhou horrorizada, e segurou meu corpo pressionado contra o dela, pois ela sabia que eu não iria aguentar. Sabia que a qualquer momento tudo iria se dissipar, e aquilo foi mais rapido do que eu pensei.

Acordei no outro dia, Sally estava deitada em mim, e meu braço passava por cima dela. Ela não tinha dormido a noite toda, pude ver, quando ela se levantou e olhou para mim com aqueles olhos totalmentes vermelhos e inchados. Minhas lagrimas voltaram ao perceber que aquilo não era um sonho, e ela se deitou em mim de novo. Nós dois ficamos ali em silencio por mais de horas, enquanto as lagrimas dos dois eram uma boa companhia.

Depois, resolvemos finalmente comer alguma coisa, sendo sincero, Sally me obrigara a comer, mas nada parecia parar no meu estomago. Tudo que eu comia, acabava sendo vomitado. Então Sally, apenas preparou um suco, e ficou conversando comigo sobre algumas coisas que ela achava que iria me tranquilizar; contudo, nada conseguiria tirar aquela imagem de minha mente.

Assistimos um pouco de televisão, e recebemos algumas ligações, principalmente da delegacia, mas tirando isso, eu apenas queria ficar ali, sentado, com os dedos entrelaçados aos de Sally. Ela me dava a paz que o mundo tirava. Tudo estava um caos, uma bagunça. Tinha até mesmo mandado Carla de volta para casa, ela havia se recusado, mas achava melhor, que ela ficasse longe de tudo aquilo. Ficar ali com Sally, somente com Sally, já estava ótimo.

Sally achou que deviamos ir na casa de Celeste, mas eu não queria, não estava nenhum pouco disposto a ir até lá, e olhar para ela. Não estava bem o suficiente, mas Sally me convenceu, dizendo que era o minimo que eu deveria fazer.

Entramos em seu apartamento, e ela estava encolhida no sofá, com um copo de água parado ao seu lado. O choque da noite passada ainda não havia passado, e até mesmo lagrimas ainda ocupavam seus olhos. Sally sentou ao seu lado, e passou os braços envolta dela, a trazendo para um abraço, e Cely se deixou levar.

― Como você está? ― Sally sussurou, sabendo que ela ainda deveria estar um caco.

― Uma droga. ― Ela disse, e encostou a cabeça no sofá. Ela estava usando um moletom cinza, e uma blusa de frio de “O incrivel mundo de gumball”. Haviam olheiras em seus olhos, e parecia que um dementador havia sugado toda a felicidade que ela tinha na vida.

― Imagino. ― Sally disse, sem saber o que dizer ao certo.

Ela ainda não havia buscado Amanda, e eu também achava melhor, a menina passar esse fim de semana em São Paulo com a avó. Tudo estava muito turbulento.

― Ele dormiu? ― Cely perguntou, olhando para mim.

― Não conseguiu pregar os olhos. ― Ela disse e as duas soltaram um suspiro em conjunto.

Minhas mãos ainda estavam entrelaçadas as de Sally, mas Cely nem mesmo achou estranho.

― Ei, Noah, sinto muito cara. ― Will disse saindo do quarto.

― Obrigada. ― Disse me lembrando do alivio, e ao mesmo tempo da pancada que fora olhar o corpo que estava ali. O corpo todo vestido de preto, com a cueca preta por cima. Eu quis chorar, eu quis gritar, mas só senti todo meu mundo desabar.

Meu melhor amigo. Ali estava. Meu melhor amigo morto. Com a cabeça fora. Ele tinha sido morto, e eu não pude fazer nada, absolutamente nada. Além, do que, lamentar sua morte.

― Foi ao mesmo que um alivio, uma porrada. ― Eu sorri de lado, e Sally apertou minha mão.

Ficamos ali conversando. Eu não sabia bem como iria ser dali pra frente. Não queria ir no enterro de Elliot, mas sabia que teria. Sentiria muito sua falta, e tudo seria um pouco mais sem graça de agora em diante. Não teria mais aquele garoto alegre, sempre disposto a me dar conselhos. Havia sido meu primeiro amigo na academia, meu primeiro parceiro. Sentia uma dor, um pedaço sombrio dentro de mim. Mas Sally estava ali. O sorriso dela. Os olhos. E mesmo que uma dor muito grande me invadisse, ela conseguia me anestesiar, toda vez que eu olhava para seus olhos.






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