Colorful escrita por Isabelle


Capítulo 12
Capítulo 11 - Noah


Notas iniciais do capítulo

Apenas um jovem coração confundindo
Minha mente, mas estamos ambos em silêncio
— Daughter



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O sol despertou, e eu me incomodei com a certa claridade que dominava o quarto. Abri os olhos e encontrei um espaço vazio ao meu lado. Procurei dos dois lados e vi que as coisas dela permaneciam como eu havia deixado na outra noite, o que significava que ela não havia voltado para o quarto.

Espreguicei todos os meus músculos escutando todos os ossos da coluna estralando, soltei um sorriso para a janela e me encaminhei para o banheiro. Depois que voltei me joguei na cama novamente, aquele dia seria bem longo já que teria que esperar até a noite para fazer qualquer coisa.

Não havíamos recebido nenhuma notícia do departamento de análise, e isso estava me deixando agoniado. Esse cara estava solto por ai, planejando mais um assassinato, enquanto todos nós brincávamos de pega-pega atrás dos nossos próprios rabos.

Passei as mãos pelo cabelo e escutei a porta se abrindo, abrangendo o franjão alaranjado de Carla, que estava usando um vestido florido largo, com um cinto marrom a cintura. Ela sorriu para mim ao me ver acordado e entrou no quarto. Tinha certeza que era Sally e estava até um pouco desapontado por não ser ela.

― Queria ir no centro hoje, ou no cinema, podemos ir juntos, o que acha? ― Ela disse e eu pensei por alguns segundos.

Carla e eu já tínhamos estado em um relacionamento, e eu sabia bem como era ela, mas ela realmente parecia diferente desta vez, ela parecia mais madura, e confiante, como se estivesse pronta para aceitar não tem nada sério comigo, só deixar as coisas acontecerem. E isso, era exatamente o que eu estava procurando.

― Seria uma boa.

― Só nós dois? ― Ela disse e jogou o franjão para trás.

― Por que não? ― Eu disse e joguei um sorriso de lado para ela. ― Quando terminar de rondar o turno com Sally, volto aqui para te buscar, tudo bem?

― Tudo ótimo. ― Ela sorriu alegre, e depois disso saiu do quarto.

Meu telefone começou a dançar em cima da minha escrivaninha, e eu senti meus músculos pesarem de preguiça para ir pegá-lo, mas fiz um esforço e me encaminhei até lá.

O número na tela era desconhecido, e eu coloquei na orelha em um gesto inconsciente.

― Então como esta a viagem? ― A voz de Cely soou calma do outro lado da linha, o que era incomum, mas fez com que nós pudéssemos manter um diálogo

― Esta ótima, acredito. ― Peguei o controle da minha televisão e voltei a me deitar na cama, brincando com os canais. ― E como está tudo ai?

― Ah, bem no habitual, acredito. ― Ela disse, e murmurou alguma coisa para Will. ― E você não foi sozinho, né? ― Ela disse, soando preocupada.

Celeste, as vezes, podia ser bem desagradável, irritante, e a pessoa mais briguenta de todas, mas todas essas suas desvantagens me faziam a amar mais. Quando havia chegado no apartamento, logo tínhamos encrencado um com o outro, mas com o tempo, mesmo com as desavenças, havia sentido afinidade por eles. Como se fossem minha segunda família, e sabia que eles também me consideram assim.

― Claro que não. ― Eu disse como se fosse óbvio. ― Trouxe uma pessoa comigo, e ela está sendo bem produtiva.

― Fico feliz, quero muito que se de bem nessa tarefa, missão, sei lá.

― Não sou uma das três espiãs demais, Cely. ― Disse, zoando-a.

― Ah, e eu vou lá saber o que você é. ― Ela disse e deu uma risadinha. ― Will está dizendo que você tá mais pra uma das meninas super poderosas com esse corpo.

― Isso foi um insulto? ― Perguntei desentendido.

― Claro que não. ― Escutei Will murmurando em seu habitual sarcasmo.

― Também sinto sua falta, Will. ― Eu disse rindo.

― Espero você em minha cama, amor. ― Ele disse me caçoando novamente.

― Cala boca. ― Eu disse, e todos eles riram.

― Então como estão indo, já encontraram alguém, uma pista, alguma coisa? ― Ela perguntou enquanto mexia com alguns papéis, conseguia escutar o som.

― Não, na verdade, não sei bem se encontramos algo. ― Eu desliguei a TV, me levantei e coloquei no viva voz, para poder colocar uma roupa. ― Encontramos vestígios de D.N.A, mas não sabemos se é dele, e se serve para alguma coisa. A equipe de análise ficou de me ligar, mas, até agora, eu não sei de nada. ― Disse, tenso.

― Deve ser complicado. ― Ela disse e escutei a voz de Mandy do outro lado da linha, bem baixo, mas ouvi. ― Ele matou mais alguém?

― Duas pessoas, enquanto eu estou aqui, e nossa Celeste, não sei nem como explicar qual a sensação. ― Eu dei uma pausa voltando a me sentar na cama, depois de por uma blusa azul, e uma bermuda jeans. ― É horrível.

― Eu entendo. ― Ela disse brevemente e não deu mais detalhes. ― Mas, você é um garoto esperto, sei que vai encontrar algo logo logo e jogar esse patife na cadeia.

― Patife? ― Will soltou uma risada do outro lado da linha. ― Ai, eu não acredito que casei com uma mulher que fala patife.

― Você não casou com uma mulher que fala patife, você ficou quatro meses chorando feito um bebê por essa mulher. ― Ela disse, e ele cortou a risada, fazendo com que eu começasse a rir. ― Mas, como estava dizendo, Noah, vocês vão conseguir prendê-lo logo.

― Espero mesmo, Cely. ― Eu disse e soltei um suspiro, escutando a voz de Mandy novamente.

― Amanda quer falar com você, pode falar pelo menos um Oi para ela? ― Celeste perguntou.

― Claro. ― Eu disse e escutei a pequena Amanda falando. Ela balbuciou algumas expressões que eu não entendi, mas Cely traduziu-as para mim, e eu pude manter um dialogo normal com ela. Ela disse que estava com “aidadis” e eu pensei que ela estava com uma doença, mas depois de perguntar para Cely se ela estava com aids, e levar uma bronca de meia hora, entendi que a palavra era saudades.

― Como você pensa isso de uma criança? ― Ela perguntou indignada.

― Sendo sincero, amor, eu também pensei isso. ― Will disse e eu ri.

― Você é tipo, deixa eu pensar em qual é a palavra, ― ela fez uma pausa, ― tipo, o pior pai do mundo. ― Ela gritou essa última parte.

― Obrigada. ―Ele respondeu em sarcasmo total.

Neste momento alguém abriu a porta.

Sally estava usando uma blusinha de coração, e um shorts de pijama bem curto. Seu cabelo estava preso em um coque bem mal feito, e ela ainda tinha uma expressão adormecida no rosto. Nem olhou para mim, para dizer onde havia dormido, mas apenas foi direto para sua mochila pegar uma blusa nova e uma calça jeans que eu já havia visto ela usando. Cely continuava falando pela linha, alguma coisa sobre Amanda sentir minha falta, e Will não parar de falar sobre a festa de Halloween.

― Não fazemos isso há anos, sabe? Já fomos em outra festa juntos, mas desde que Mandy nasceu tudo ficou mais difícil, e queria saber se você não podia voltar amanhã só pra ajudar na decoração? ― O eco do viva voz me fazia escutar duas vezes mais, além de escutar o som de uma colher batendo rápido contra uma vasilha

― Claro, vou ver com Sally e voltamos amanhã a tarde. ―Eu disse e ela paro para olhar para mim.

― Sally? ― Cely disse e ao mesmo tempo Sally apontou para si mesma, mas eu apenas desviei o olhar.

― Sim. ― Eu disse com uma voz baixa.

― Noah. ― A voz de Cely soou calma. ― Você não pode levar uma menina qualquer, só porque você quer trepar com ela, ou já trepou, tem que entender que não se leva pessoas qualquer nesses tipos de coisa.

― Sally não é uma pessoa qualquer, confio nela, e ela está me ajudando muito. ― Eu disse ainda sem olhar para ela.

― Então, vocês já…

― Não, nós não nos entregamos aos prazeres carnais. ― Eu dei um sorriso de lado e olhei para Sally que me olhava. ― Ainda.

Ela revirou os olhos e foi até o banheiro trocar de roupa.

― Então, conto com você aqui, e fantasiado, por favor.

― Espera, fantasiado? ― Eu ri. ― Eu me recuso a isso, você é louca?

― Claro que não. ― Ela disse. ― Tenho que desligar, os homens dos enfeites chegaram. Saudades, vejo você amanhã. ― E desligou.

Sorri de lado tentando pensar em qual fantasia iria, e vi Sally ainda na mesma posição me encarando como se eu devesse respostas a ela. Meu sorriso abriu ainda mais ao ver que ela segurava um biquíni. Ergui as sobrancelhas, e ela revirou os olhos bufando de um jeito engraçado.

― Senti sua falta a cama, querida. ― Disse me levantando e indo até meu guarda-roupa para escolher uma bermuda. Não perderia a chance de dar um mergulho com ela.

― Dormir no quarto de Ali noite passada, estava lhe contando uma história e quando vi, já estava dormindo. ― Ela sorriu e se levantou.

― E agora vai dar um mergulho? ― Eu sorri com malícia.

― Vou, com Ali, espero que não me siga. ― Ela disse e entrou no banheiro.

Enquanto ela se trocava, tentei me trocar o mais rápido que podia, e consegui minutos antes que ela saísse de lá. Ela usava uma toalha fina envolta do corpo, e eu conseguia ver a alcinha do biquíni rosado que ela tinha colocado. Seus cabelos estavam soltos e chegavam quase em sua cintura, e seus olhos verdes resplandeciam um olhar envergonhado. Meus olhos não conseguiam deixar de encarar seu corpo, e isso a deixou em partes irritada e envergonhada.

― Tire os olhos do meu corpo. ― Ela revirou as esmeraldas, e saiu andando.

Segui-a pelo corredor ainda seguindo o movimento de seu corpo. Ela andava meio desajeitada, e aquilo me fazia rir.

― Você está uma graça. ― Eu disse e ela nem me deu ouvidos. ― Sabe quando você rebola, e seu corpo faz esse movimento e…

― Noah! ― Ela se virou brava e manteve os olhos grudados aos meus. ― Eu vou te chutar até você sangrar.

― Você é uma garota muito, muito violenta, alguém já te disse isso? ― Eu disse ainda sorrindo.

Nós estávamos próximos a piscina, e não tinha mais ninguém ali. Os olhos dela focavam os meus, e eu podia ver as chamas deslizando por ali.

― Sim, então você não vai querer…

― Sabe, fico imaginando se uma garota que gosta tanto de violência por algum acaso...

― Cala! ― Ela me deu um tapa de leve e eu ri.

Passei os braços por sua cintura e a ergui, deixando-a de cabeça para baixo, com o corpo, agora sem a toalha, jogado por cima de meu ombro. Ela começou a se debater incansavelmente, mas eu apenas sorri e comecei a rodar no ar. Ela riu e se debateu mais, mas aquilo só me dava mais motivação para girá-la e provocá-la. Quando meu braço começou a doer, eu sorri e a joguei com tudo dentro da piscina. Depois de segundos ela finalmente emergiu, eu realmente vi as chamas berrantes em seus olhos, mas ela estava rindo. Quando do nada ela parou. Toda a atmosfera ficou silenciosa, e ela apenas subiu pela escadinha e mal olhou para mim, apenas passou reto e pegou a toalha no chão, se retirando.

―Sally, você está bem? ― Eu perguntei, mas ela apenas balançou a cabeça e seguiu em frente.

Fui atras dela, mas ela se virou rapidamente quase trombando comigo, e olhou nos meus olhos.

― Preciso ficar sozinha, tudo bem? ― Ela sorriu de lado e entrou no quarto, domada por um silencio.

Passei o resto da manhã com Ali e Carla na piscina, e depois na hora do almoço me reuni com todos, mas não tivemos a presença de Sally. Tentei ir ao quarto de Ali verificar como ela estava, mas ela apenas permanecia quieta e trancada, se recusando a soltar uma palavra qualquer.

Mais a tarde, fui ao meu quarto e tomei banho, colocando o uniforme. A porta se abriu minutos depois, com Sally também utilizando o uniforme, com os cabelos presos em um coque. Ela abriu um sorriso fraco para mim, e eu me senti derrotado por não saber o que tinha de errado com ela.

― Você quer comer alguma coisa antes de sairmos?

― Ali me deu alguns biscoitos, estou bem. ― Ela disse levemente, e meus músculos enrijeceram ao ouvir sua voz tão fracamente.

Saímos no carro aquela noite, achei que seria mais aconchegante e teria um espaço melhor para dialogar com Sally. Tentar fazer ela falar alguma coisa.

O cabelo dela que antes estava preso em um coque, agora estava solto e escorrido, e tão escuro quanto o céu a nossa frente. Os olhos dela pareciam vibrar com a excitação e todos os músculos de seu corpo estavam revirados em uma posição que fazia seu corpo ficar de costas para os meus, apenas com metade do rosto virado para frente observando a imensidão estrelar.

A noite passada agora refletia em meus olhos, já que estávamos novamente rondando a mesma área, atrás de um cara que estava nos transformando em idiotas. Agradecia por Sally estar comigo e conseguir entrevistar aquela menina. Ela tinha um jeito tão mais sutil. E conseguira não assustar a menina, algo que eu faria em poucos minutos de conversa. Eu ainda conseguia me lembrar de seus olhos juntos com os da menina. Ela a lia. Ela tinha o costume de ler as pessoas. Isso devia ser exaustivo.

― Você acha que devemos ir pra Zona Norte ou Sul? Não temos um rastro certo..

― Você quem sabe. ― foram suas únicas palavras ditas em sons abafados.

―Tudo Bem. ― Eu passei a mão lentamente pelo volante e suspirei, virando para ir a uma zona desconhecida.

Dirigi por alguns minutos, e fiquei incomodado com toda aquela situação, e mesmo sabendo que tinha que seguir um horário por conta de meu encontro com Carla, sabia que aquela noite Sally merecia. Segui por uma rua, até um campo um tanto afastado da cidade. Os olhos de Sally me olharam rapidamente, mas ela não questionou daquela vez, apenas confiou em mim.

― Sally, qual foi a primeira coisa que leu em mim quando me conheceu? ― Perguntei sabendo que ela havia feito aquilo comigo.

Ela se virou para mim, e deu um sorriso leve.

― Percebi que gosta de ter o que quer, e luta por isso. ― Ela sorri. ― Também achei que era gay, mas eu acho que errei um pouco. ― Não tinha certeza se ela tinha dito aquilo de brincadeira, mas olhei torto para ela do mesmo jeito.

― O que pensou sobre mim? ― Ela disse.

― Que era marrenta, e suicida. ― Eu disse e me recordei daquela noite que já havia acontecido a tanto tempo, e mesmo assim não parecia tão distante.

Parei o carro em um campo baldio, onde conseguíamos ver exatamente quase todas as estrelas, e ela sorriu. Saiu do carro e deitou no capô, ficamos ali, observando as estrelas em silêncio, com as respirações em sintonia. Ela tinha o peito mais carregado de dores do que eu pensava, e queria realmente que ela se abrisse comigo.

― Você já parou para pensar... ― Ela começou lentamente e focou os olhos em outra dimensão. ― Que neste exato momento uma pessoa está prestes a se matar se jogando de uma ponte. Que uma pessoa está prestes a ser estuprada, que alguém no mundo está morrendo de câncer, enquanto uma mulher está dando vida a outro ser. Que alguém está chorando num canto, e que alguém está festejando e rindo. Que uma pessoa está passando fome, enquanto outra está jogando comida fora. Que estão transando. Que talvez o nosso assassino está planejando outra morte. Que alguém acaba de descobrir que está apaixonada por aquela música. Que alguém acabou de terminar um livro muito bom ou um muito ruim. ― Ela olhou para mim, encarando não meus olhos, algo mais além. ― Que uma pessoa está tendo o coração ferido, e outra está se apaixonando.

Ela soltou um suspiro.

― Tem tanta coisa acontecendo, enquanto a gente tá aqui deitado. ― Seus lábios se abriram, mas se calaram. ― O mundo é um caos eloquente.

Ela começou a cantarolar uma melodia que eu não conhecia, parecia francês, e eu apenas fechei os olhos e deixei a voz dela me levar. Senti um frio se espalhar pela minha coluna. Alguma coisa dentro de mim havia mudado muito desde que eu havia conhecido aquela garota. Ela estava provocando alguma coisa em mim. Alguma coisa que eu fui idiota demais para perceber. E estraguei tudo.




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