"We’re not, no, we’re not friends

[...]

Friends just sleep in another bed
And friends don’t treat me like you do
Well I know that there’s a limit to everything
But my friends won’t love me like you"

Percy já passara por diversas situações constrangedoras ao longo de sua vida, mas, dormir na mesma cama que uma garota bonita, só de camiseta e que, ainda por cima era sua amiga, com certeza iria para o topo de sua lista.

Ele ainda se perguntava o que acontecera com sua mente por ter o traído com uma proposta tão insana e indecente à Annabeth.

Mas ela não o tinha dado outra escolha. Qual é? Percy nunca a deixaria dormindo num sofá, se ele tinha que dormir na cama, pelo menos que ela fosse também. Era o justo.

Quando Annabeth finalmente cedera, eles se deitaram a quase metros de distância na cama de casal.

Pelo menos, eles ficaram assim até determinado momento da noite, porque não fôra exatamente dessa forma que se encontraram pela manhã.

Percy nunca, nunca mesmo, saberia dizer como, do nada, os dois chegaram numa posição em que Annabeth ficava deitada sobre seu peito e ele tinha as mãos envolvidas em torno da cintura dela.

Envergonhado. Era assim que Percy se sentira quando acordara.

E se ela pensasse que ele era um aproveitador ou algo semelhante?

Deus! Ele não era desse tipo.

Percy morreria, como o exato e perfeito virgem que ainda era, mas não encostaria um dedo sequer em uma garota sem seu consentimento.

E volta e meia, durante seu dia, ele pensou nessas coisas.

E quando fôra buscar Annabeth na Universidade, no fim da tarde , a mesma coisa.

De repente, era como se uma parede de vidro tivesse sido colocada entre os dois.

Percy não se atrevia mais a olhar para a amiga, e Annabeth se limitava a desviar os olhos cinzentos para todos os cantos possíveis, só para não vê-lo.

"Maravilha" - Pensava Percy em frente ao carro estacionado, esperando a saída de Annabeth - "Agora nós vamos nos tratar como estranhos de novo. Progredi imensamente."

(...)

Quando Annabeth desceu o último lance de escadas e pôde ver Percy do lado de fora, parado em frente ao carro, ela não conseguiu deixar de se sentir nostálgica. Na primeira vez que eles combinaram de sair, o que parecia ter acontecido há anos, ela o encontrara na mesma posição, com os braços cruzados, o cabelo bagunçado, as roupas sociais, só que dessa vez ele tinha um par de óculos escuros de marca escondendo as belas orbes verdes.

Luke, ao lado de Annabeth, murmurava algo que ela deixara de prestar atenção.

Percy Jackson, definitivamente, tirava sua concentração.

– Ahn, Luke? Eu tenho que ir. Tchau - Interrompeu ela se despedindo.

– Eu te acompanho até seu carro. - Sorriu ele

– Então... Não precisa.

– Eu faço questão.

Annabeth não queria parecer mal educada, então só assentira, desconfortável.

A situação a seguir fôra, no minimo, estranha.

Quando os dois chegaram ao carro, que na verdade não era o de Annabeth, Percy sorriu e a abraçou, enquanto o loiro que a acompanhara, Luke, ficara estático, observando a cena.

Annabeth teve a impressão de que deveria fazer as devidas apresentações, porque, os dois rapazes começaram a se encarar como se perguntassem o que o outro estava fazendo ali.

– Percy, este é o Luke -Annabeth os indicou - Luke este é o Percy.

Luke não pareceu satisfeito, mas mesmo assim murmurou um " E aí" para Percy, que se limitou a balançar a cabeça e passar um dos braços em torno dos ombros de Annabeth.

– Então, vamos? - O moreno se dirigiu à amiga.

– Ah, espere Annabeth - Interrompeu o loiro - Eu posso te levar para casa.

Percy arqueou as sobrancelhas:

– Tudo bem, não se preocupe, eu vou levar-la. Loopy, não é?

Os olhos azuis de Luke faiscaram.

– É Luke - Corrigiu ele.

– Tanto faz - Percy sorriu com indiferença.

– Eu vou com o Percy. Não se incomode, Luke - Annabeth interviu.

– Ah que pena! Eu achei que podíamos dar uma volta - Luke insistiu.

– Ah que pena! - Repetiu Percy, fingindo decepção - Annabeth e eu já temos planos.

Annabeth o encarou como se dissesse "Temos?" e Percy a ignorou, ocupado demais fuzilando o loiro a sua frente.

– Deixe para uma próxima, está bem, Luke? - Amenizou a garota.

– Está bem - Luke sorriu - Tchau.

– Tchau - Falou ela e Percy abriu a porta do carro preto, no qual ela entrou.

Mesmo do lado de dentro, Annabeth pôde notar o sorrisinho debochado e vitorioso que surgiu nos lábios de Percy ao passar pelo loiro.

(...)

– Sabe - Começou Percy enquanto dirigia - Não gostei desse tal Luke.

– Qual o problema com ele?

– Você não viu aquele maldito sorriso convencido dele?

– Não, Percy. Não vi.

– Annabeth, você só pode estar cega.

– Ele é legal. - Disse Annabeth.

– Não é nada. Vocês têm aulas juntos?

– Não. - ela negou rápido, mas se corrigiu na mesma velocidade- Quer dizer, algumas aulas... porque ele é de Engenharia Civil.

– Quanto menos contato, melhor - Respondeu Percy de forma séria. -

– Por que?

– Apatia, talvez? - Sugeriu Percy.

– Percy, não estou te entendendo. Nunca vi você falar com alguém da forma que falou com o Luke.

– Quer dizer que, agora, eu sou o vilão e ele o mocinho da história?

– Eu não disse isso.

– Ele te chamou pra sair na minha frente! - Reclamou o moreno.

– Ele não fez isso.

Percy revirou os olhos:

– O quê foi aquilo, então? "Eu achei que podíamos dar uma volta" - Ele fez uma terrível imitação da voz de Luke.

Annabeth não queria, mas teve que rir da voz fina que Percy fez.

– Não é para rir! - Ele ralhou - Foi exatamente assim.

– Tudo bem, Percy - Annabeth se controlou - Vamos mudar de assunto.

– Tá.

– Você baba quando está dormindo - Soltou ela.

Percy freou o carro de uma vez no sinal vermelho e a encarou, chocado:

– O quê?

– Você. Baba. Enquanto. Dorme - Pronunciou ela, pausadamente.

Percy passou uma das mãos pela boca, como se temesse ter qualquer vestígio de baba por ali.

– Isso é mentira! - Teimou ele.

– Não é não. Eu vi ontem à noite - Ela sorriu.

Ele fechou a expressão do rosto.

– Ah, Percy! É até fofinho! - Annabeth justificou.

– Eu não babo enquanto durmo, está bem? - Disse ele formando uma biquinho nos lábios.

Annabeth riu e ele, visivelmente , não gostou.

– Tá bem. Esqueça Cabeça de Alga.

– Cabeça de Alga? - Repetiu ele, incrédulo - Quer que eu me sinta melhor com isso?

– Vai ser seu apelido toda vez que for idiota. - Concluiu ela

– É assim? Vou procurar um para você também. - Desafiou Percy.

– Nada vai superar "Cabeça de Alga" - Se gabou ela.

– Ah, é mesmo, Sabidinha?

– Isso não me ofende realmente - Sorriu Annabeth - Você é péssimo com apelidos, Percy.

– Sabidinha é mesmo muito carinhoso - Reconheceu ele - Mas eu não vou mudar.

(...)

Annabeth achava que explicar as coisas para Thalia era uma das tarefas mais difíceis do mundo.

A cada vez que a loira abria a boca, sua amiga a interrompia.

– Foi por causa da chuva que dormi fora de casa, entendeu? - Disse Annabeth deitada no sofá para Thalia, que estava sentada no tapete.

– Mas você dormiu no Percy?

– Sim.

– Onde, exatamente?

– Na cama. Que ideia, Thalia.

– Na cama dele?

– Ahn... foi.

– E ele?

– Hum... na cama também.

– Em outra cama? - Thalia perguntou.

Annabeth se remexeu desconfortável no sofá:

– Bem, na verdade não.

– Mas você disse que ele dormiu na cama e você também, mas não era outra... Ah meu Deus! Vocês dormiram juntos - A morena percebeu - Na mesma cama e agarrados!

– Eu não disse essa última parte! - Annabeth reclamou se sentando.

– Vocês são tão lindos! - Thalia cantarolou

– O quê?

– Eu sabia que mais cedo ou mais tarde o amor ia falar mais alto!

– Thalia! Não é nada disso!

– Eu e o Nico apoiamos o casal - Thalia declarou, ignorando Annabeth.

– Não tem nenhum casal!

– Mas... você e o Percy...

– Não existe eu e o Percy! Que saco! Por que ninguém me ouve? - Annabeth se indignou.

– Porque todos sabem que é mentira.

Annabeth atirou uma almofada na amiga:

– Eu não minto!

– Mente sim - Thalia riu - Mas mente mal. Muito mal mesmo, Annabeth.

(...)

Percy não teve uma noite tão agradável quanto a anterior.

Seu apartamento e, principalmente, sua cama, não pareciam tão convidativos sem ela. Sem Annabeth.

O que uma presença feminina não fazia com um lugar?

Já passava das 23:00h e ele ainda não conseguia dormir.

Percy olhara inúmeras vezes para o lado direito de sua cama, se perguntando como seria se Annabeth estivesse ali.

Não. Percy não deveria sequer se atrever pensar em coisas do tipo. Ele e Annabeth eram amigos.

Amigos não dormiam juntos.

Amigos não deveriam dormir juntos.

Mas eles dormiram.

E agora, mesmo que não devesse, ele não conseguia deixar de sentir falta dela ao seu lado durante a noite.

Era errado. Sabia que era.

Mas, ficar ao lado dela era sempre tão fácil, tão natural... que ele já não conseguia imaginar ficar longe da garota.

Estava viciado e não queria encontrar nenhum tipo de cura para seu vício.

Era horrível, mas era a verdade.

A situação era, definitivamente, uma espécie de droga. Uma droga maravilhosa, da qual ele queria mais e mais, não tinha limite.

Não sabia se aquilo tudo era bom ou ruim. Se devia parar ou continuar. Se preocupar ou deixar para lá. Só sabia que, de alguma forma, sem Annabeth não conseguiria mais viver.

Era dependente. E já era tarde demais para voltar atrás.

(...)

– Daí, esse idiota chamado Luke, apareceu e estragou tudo. Quer dizer, quem ele pensa que é, para chegar assim, do nada, querendo levar a Annabeth para casa?! - Falava Percy, completamente indignado, para Nico, num intervalo de consultas, sentados numa mesa da lanchonete da clínica médica.

– E o que você fez? - Nico perguntou.

– Eu queria ter arrancado a cabeça dele, mas só trocamos uns olhares de puro ódio e então eu abri a porta do carro pra Annabeth e nós fomos embora.

– Cara, é estranho você querer matar esse Luke aí, porque você é umas das pessoas mais equilibradas e pacíficas que eu conheço. - Esclareceu Nico.

– Para você ver a gravidade da situação - Percy concordou - Eu poderia ter começado uma, sei lá, Terceira Guerra Mundial ali mesmo.

– Percy, seu ciúme é terrível.

– Não era ciúme.

– Você é um psicólogo formado e eu ainda faço residência de psiquiatria, mas também não sou tonto o bastante para não saber que você estava sim, com ciúme. Você entende dessas emoções melhor do que eu.

– Ciúme? Essa é sua teoria brilhante?

– É sim. Pode negar, não me importo, você sabe bem que é verdade.

– Bobagem.

– Então por que você não deixou esse Luke levar a Annabeth? - Nico o pressionou.

– Porque ela é minha!

Nico arregalou os olhos escuros diante da repentina declaração do amigo.

– ... Amiga! - Percy acrescentou rápido - A Annabeth é minha amiga, claro. E eu não gostei do cara. É isso.

– Tente de novo, Perseu. Você não me convenceu.

– Você tinha que ver aqueles olhos azuis do mal, prontos pra enganar qualquer garota inocente.

Nico riu:

– Eu não quero mesmo ver.

– Torça pra Thalia não ver também - Percy comentou.

– Ei! - O outro reclamou.

– Só estou te alertando.

O celular de Nico tocou e ele olhou para Percy antes de atender:

– É a Thalia.

– Vai lá atender a namorada - Percy o incentivou.

Ele assentiu e se afastou, deixando Percy sozinho.

O moreno suspirou com um café diante de si.

"Ciúme". Refletiu ele.

Estaria, talvez, Nico certo?

Ele duvidava mas, se não era ciúme, o que era?

A noite inteira sentira falta da garota e, de repente, queria partir para cima de um loiro aguado, só por estar perto dela.

O que, por Deus, era isso?

Percy só queria saber, porquê diabos, adorava tanto tudo em Annabeth.

Por que gostava tanto de seu cabelo liso ondulado, as vezes bagunçado, ou de suas roupas clássicas e ao mesmo tempo modernas. Por que ficava fascinado por seus sorrisos, como um idiota. Por que ficava confuso quando ela olhava para baixo e desviava seus olhares. Por que amava tanto seus fios cor de caramelo, ou seu aroma doce e floral. Por que queria tanto a proteger.

Eram muitos e diversos "Por que's" na cabeça de Percy.

"Por que's" que tinham que ter uma resposta. Uma boa resposta.

E que ele não descansaria enquanto não descobrisse e, por fim, entendesse.