– Olá Sakura.

Eu não acreditava no que estava vendo. Era ele na minha frente, era o cheiro dele que eu sentia, era os olhos escuros dele que me olhava, era da boca levemente sorridente que meu nome tinha saído. Não intendi o por quê dele está aqui, o por quê de voltar pra vila tão de repente, o por quê de está alí, em pé ao lado de Naruto. Meu coração estava batendo em um ritmo descompaçado e meu estômago estava apertado, minha boca não se fechava, só tremia.

– O-o que você tá fazendo aqui Sasuke-kun? - perguntei tentando controlar minha voz assustada.

– Ué? Não te falaram Sakura-chan? Foi o Sasuke que te salvo na missão.

Olhei do rosto sorridente de Naruto para o rosto entediado de Sasuke, entediado não, apesar de sempre apresentar apatia, para mim aqueles olhos eram os mais profundo que podia se conhecer, porque eram naqueles olhos que ele, sem querer, transmitia tudo o que sentia. Agora entendi porque Tsunade-sama tinha dito que era uma surpresa quando perguntei aos meus pais quem tinha me salvo.

– Foi você Sasuke-kun? - minha voz não era mais que um sussuro.

– Foi o que Naruto acabou de dizer. - ainda sim, seu jeito de falar continua monótono como sempre.

– Bom Sakura. - interrompeu Kakashi-sensei enquanto olhava de mim para Sasuke. - Eu sei que você acabou de se recuperar, mas nós precisamos saber o que aconteceu com você depois que se separou de Sai durante a missão pra darmos continuidade as investigações. - afastei Sasuke da minha mente e me concentrei no problema.

– Não aconteceu nada de relevantes pra investigação, basicamente só tive de lutar, mas dá pra dizer que eles tem muitos homens a disposição. Entretanto um dos homens com quem lutei, não sei o que houve, eu estava correndo em sua direção quando ele engoliu alguma coisa seu chakra aumentou de forma absurda, na hora eu pensei que podia ser alguma pírula de comida como dos Akimichi, mas pelo que eu pude ver as reações biológicas era diferentes. Eu continuei avançando mas ele parou o meu chute simplesmente com as mãos.

– Sakura, quão forte era esse chute? - perguntou Kakashi-sensei.

– Forte o suficiente pra fazer o Choji voar várias metros mesmo usando o jutsu de expansão. - falei firme, e vi diversos olhares assustados.

– Isso é problemático…

– Foi assim que você quebrou a perna? - perguntou Sasuke.

– Hai. - falei encarando ele. - Ele quebrou ela com as mãos e me arremessou pra longe, eu pudia ter me curado, mas já tinha sido atingida pela kunai envenenada, então apaguei.

– E ai o teme te salvou… - falou Naruto com o sorriso no rosto.

– O que aconteceu com as pessoas que estava sendo feitas de experimentos? - perguntei para ninguém especificamente.

– O prédio explodiu depois que te achei. - respondeu Sasuke. Olhei um tempo para ele, não estava acostumada a ser respondida por ele.

– Sakura, eu preciso da sua ajuda pra avaliar aquelas fichas que você e Sai trouxeram, - Shikamaru me tirou dos meus pensamentos. - pedi para Tsunade-sama, mas ela me disse que você poderia fazer a avaliação das substâncias melhor que ela.

– Mas a Sakura-chan acabou de acordar! - protestou Naruto.

– Está tudo bem Naruto, meu cérebro ainda funciona muito bem. Sem contar que quem está por traz disso deve ser impedido o quando antes. - estretei os olhos para minha mão apoiada no abdomen.

– O que você quer dizer com isso Sakura? - minha preocupação não passou dispercebida de Kakashi-sensei.

– O veneno que estava em mim era muito diferente que qualquer outro. em geral venenos contém uma substância venenosa e as outras são para intencifiar e/ou alterar os efeitos colaterais para o que é desejado. Mas pelo o que Tsunade-sama me explicou esse era feito da reação de duas substâncias não venenosas que juntas formam um veneno, e mais algumas que intencificam os efeitos colaterais. É uma mistura muito arriscada de se fazer e mais difícil ainda de se achar a cura, e ninguém faz um veneno sem saber a cura.

– Mas se o veneno é usados nos outros, pra que se preocupar com cura? - perguntou Naruto.

– Não necessariamente Naruto, as vezes ninjas são envenenados e usam a cura como moeda de troca. - explicou Sai com um rosto pensativo.

– Seja quem for que fez esse veneno é extremamente inteligente, a própria cura que Tsunade-sama fez poderia ter me matado.

Ficamos todos em silêncio, eu sabia que era um golpe de sorte estar viva, e agora todos pareciam estar tão preocupados quanto eu. Olhei novamente para Sasuke, ele estava com a testa franzida olhando para a minha mão em cima da atadura do meu abdomen, fiquei quieta observando seu rosto, era a mesma expressão da nossa época de genins que ele usava quando e ou Naruto nos feríamos no meio da missão, mas carregada de dor. O rosto dele, cada linha de expressão, cada nuance era marcado pela dor. Ele levantou o olhar e ficamos alí, parados, nos olhando, tentando entender um o pensamento do outro, até que um ANBU apareceu na janela.

– Hokage-sama, Capitão Yamato pediu para comunicá-lo que outras vilas já mandaram os documentos pedidos.

– Tudo bem, Sasuke vamos voltar para terminar logo, Sai você pode ajudar o Sasuke?

– Claro.

– Bom Sakura, estamos indo. Até mais.

Kakashi saiu sendo seguido por Sai que acenou antes sair, e Sasuke simplesmente foi embora, Naruto saiu atrás correndo e prometendo trazer Hinata pra me vistar mais tarde, tinha coisas que nunca iam mudar. Shikamaru puxou um pergaminho e com um jutsu de invocação apareceram diversos papéis, colocou a mesa do meu lado e pegou uma cadeira, começamos a trabalhar.

~#~

– Naruto-kun, será que é mesmo uma boa ideia ir ver a Sakura-san agora?

– E por que não seria?

– Você não disse que o Shikamaru e ela estão trabalhando, e se atrapalharmos? - ah merda, tinha me esquecido que o Shikamaru estava lá.

– Não tem problema Hinata-chan, está quase na hora do almoço, eles vão ter que parar para comer.

Continuamos andando de mãos dadas pela vila, quando olhei para Hinata não pude deixar de sorrir, o cabelo dela ficava muito bonito conforme balança e se destacava na neve, aquela era uma época do ano que nós amavamos. Quando chegamos no quarto estava lendo alguns papéis enquanto Shikamaru fazia algumas anotações.

– Hey minna!

– Bom dia Sakura-san, Shilamaru-kun.

– Oi Hinata. - como até falando era preguiçoso!

– Hinata, quanto tempo! - Hinata foi até Sakura e as duas se abraçaram, eu gostava da amizade das duas. - Como está esse bebê?

– Tá ótimo Sakura-chan, eu tô cuidando muito bem da Hinata-chan, dattebayo!

– Bom, já que você chegaram vou ir almoçar, eu volto a tarde Sakura.

– Está bem.

Peguei a cadeira para Hinata se sentar e fiquei em pé ao lado da cama, ficamos um tempo conversando como costumávamos fazer diversas vezes, Sakura e Hinata se davam muito bem, aliás a minha amiga era uma das poucas pessoas com quem Hinata se sentia a vontade para falar do mesmo jeito de quando estávamos sozinhos, a timidez dela tinha melhorado muito com os anos.

– Naruto, como o Sasuke-kun me encontrou? - quando ela ficava daquele jeito, sabia que não estava animada.

– Bom Sakura-chan, pelo o que ele me contou foi depois que você desmaiou.

– Ah, ele deve ter me achado uma fraca…

– Imporssível Sakura-chan! Ontem nós estavamos conversando e falando o quanto você tinha ficado forte!

– É verdade Sakura-san, - Hinata tentou me ajudar. - nós estavamos no Ichiraku e acabamos falando o quanto você tinha ficado forte, ele prestou atenção em tudo.

– Sasuke-kun prestando atenção enquanto falavam de mim?

– Hai! - respondeu Hinata com um lindo sorriso. - Você não tem com o que se preocupar Sakura-san.

– O que você quer dizer?

– N-nada. Quando vai receber a sua alta?

– Amanhã de manhã.

– Seus pais vão vim te buscar? - por que Hinata estava sendo tão curiosa?

– Não, eles tinham que viajar hoje, a viage tinha sido adiada por minha causa, mas como eu estou bem convenci eles que poderiam ir tranquilos.

– S-se você quiser o Naruto-kun pode vim te buscar.

– Eu agradeceria.

O que? Mas amanhã Hinata tinha médico e eu ia com ela! Quando fui abrir a boca para lembra-la sentir ela apertar a minha perna, o que era aquilo? Nesse momento uma enfermeira veio trazer a comida da Sakura.

– Naruto-kun podemos ir almoçar?

– Claro Hinata-chan.

– Até mais Sakura-san! - falou Hinata dando um abraço. - Vamos Naruto-kun.

– Tchau Sakura-chan!

– Arigatou pela visita. - ela falou acenando.

Hinata andava apressada pelo corredor do hospital, e eu ainda estava tentando entender o que ela tinha na cabeça para falar aquilo para Sakura.

– Hinata-chan, por que falou aquilo? Esqueceu da sua consulta de amanhã? - perguntei enquanto faziamos o caminho para a churrascaria.

– N-não Naruto-kun, é que eu só achei que você poderia dizer para o Sasuke-kun no treino de hoje que tinha se esquecido da consulta e pedir pra ele buscar a Sakura-san no seu lugar. - ela estava vermelha e mexia nos dedos um contra o outro.

– Hinata-chan, não acredito que você está fazendo isso.

– Gomenasai Naruto-kun, eu só achei que seria uma boa ideia. - ela já estava vermelha de vergonha.

– Foi uma ótima ideia! Você é genial, dattebayo! - puxei ela e dei um selinho em sua boca, fazendo-a ficar ainda mais vermelha.

Mais tarde eu e Sasuke fomos para o campo que costumávamos usar para treinar quando mais jovens, era uma sensação boa estar alí, mesmo que sentisse falta de Kakashi e Sakura, porque ai sim estaria completo. Resolvemos praticar somente Taijutsu, e dispensamos Sussanoo e a Kurama para evitar estragos maiores. Fiquei impressionado com o braço mecânico de Sasuke, por mais que o tempo passasse ele ainda conseguia ficar mais forte. Era quase de noite quando resolvemos parar, voltávamos caminhando lentamente pela vila, Sasuke irritado com as minhas piadas sobre a sua tosse, mas pude ver que ele também estava incomodado com os olhares de algumas pessoas da vila. Quando me aproximei da minha casa resolvi que era hora de dar uma de ator.

– Como eu fui esquecer disso! Eu sou mesmo baka! - falei dando um tapa na minha cabeça pra dar realismo a atuação.

– Sempre te disse isso.

– Teme, não falei assim! Ei, será que você poderia me fazer um favor? - coloquei a mão no pescoço.

– O que você quer?

– É que eu tinha prometido a Sakura-chan que ia buscar ela amanhã no hospital, mas eu esqueci que tenho que ir ao médico com a Hinata-chan, você poderia ir buscar ela no meu lugar?

– Como você foi esquecer uma coisa dessas? Retiro o que eu disse sobre você ser um bom pai dobe.

– Como é? Eu vou ser um pai excelente! Mas você vai? Ela recebe alta de manhã.

– Tudo bem. - é isso, consegui!

~#~

– Ai estão os últimos mapas. - entreguei para Kakashi.

– Estão ótimos, acabei de mandar uma equipe ANBU para o esconderijo encontrado aqui no País do Fogo, o Kazekage enviou duas equipes para as áreas que você apontou no País do Vento, agora é só esperar.

– Que seja. - e fui me dirigindo pra fora da sala.

– Tem algum compromisso Sasuke? - me perguntou com o sorriso no rosto. Tsc.

– Vou buscar Sakura no hospital.

Pouco tempo depois cheguei no hospital, fui indo diretamente para o quarto de Sakura. Quando cheguei fiquei parado na porta entre aberta observando, estava vestida uma calça clara e uma blusa de frio, e ia de um lado para o outro arrumando uma pilha de papéis em pastas e colocando dentro de uma caixa, a mesa ao lado da cama tinha algumas manchas de tinta, e alguns papéis amassados no chão. Bati discretamente na porta chamando sua atenção, quando se virou estava com uma cara surpresa e quase deixou um vidro cair na sua roupa por conta do susto que tinha levado.

– Sasuke-kun, o que você está fazendo aqui?

– Naruto teve um compromisso e pediu para te levar pra casa. - falei entrando no quarto.

– Ah, aquele baka! Como foi esquecer uma coisa dessas! - Disse colocando as últimas pasta na caixa - Mas é que antes eu tenho que deixar isso no setor de inteligência. - apontou para a caixa. - Então não precisa você se… - ativei o braço mecânico e peguei a caixa.

– Vamos indo.

– Hai!

Ela vestiu um casaco e pegou sua mochila, segurando o vaso com a flor que eu tinha deixado me acompanhou. Estávamos andando em silêncio, particularmente não me incomodava em ficar calado, mas era atípico de Sakura ficar calada, pelo canto do olho observei ela mexendo sem parar no zíper do casaco, e olhava para os pés. De certo modo estava estranho aquele comportamento, quase como se ela estivesse envergonhada por alguma coisa. Fomos parados algumas vezes durante o caminho por pessoas que procuravam saber como Sakura estava, até que chegamos numa parte mais tranquila da vila e ela começou a falar.

– Sasuke- kun… - sentir seu olhar em mim, enquanto eu olhava para frente

– Hm.

– Quanto tempo você pretende ficar na vila?

– Ainda não sei.

– Você vai voltar a viajar?

– Também não sei.

Eu realmente não sabia, se voltar alí naquele momento não estava nos meus planos, ficar muito menos. Aliás, eu mal podia dizer que tinha planos, já que desde o fim da guerra ninja tenho evitado pensar em alguma expectativa futura de vida, eu simplesmente andava por aí pensando e fazendo aquilo que queria, quando queria. Chegamos no departamento de inteligência, e Sakura foi a procura de Shikamaru, como ele não estava no lugar, deixamos a caixa com um dos ninjas responsáveis pela investigação e voltamos a caminhar pelas ruas.

– Ino me contou que você estava morrendo quando chegou na vila. - ela dirigia um olhar desconfiado para mim.

– Eu estava bem. - paramos em frente uma casa, devia ser a dela.

– Sasuke-kun eu vi a sua ficha, se você tivesse demorado mais algumas horas teria morrido. - falou se virando pra me encarar, era estranho e bom ver o quão firme ela tinha se tornado.

– Não morri Sakura.

– Mas poderia Sasuke-kun, você não devia ter feito isso.

– Eu não deveria ter salvo a sua vida? É isso que você está querendo dizer? - perguntei estreitando meu olhar pra aqueles olhos verdes.

– De certo modo, sim. É isso que eu quero dizer.

– Sabe, não dá pra entender. Há alguns anos atrás você estava chorando porque eu tentei te matar, e agora está reclamando por que eu te salvei? - tentei disfarçar a irritação da minha voz.

– Então você fez isso por culpa… - ela olhou pro lado emburrada.

– Tsc. Não foi por culpa. - fechei a mão com força, enquanto ela volto a me olhar de forma mais leve.

– Então foi por que Sasuke-kun? - sua voz acompanhou a leveza do olhar.

– Porque era o que eu deveria fazer. - falei virando o rosto.

– Não Sasuke-kun, se isso custasse a sua vida você não deveria.

Olhei para os olhos tristes e irritados que miravam a mão que mexia na flor. Então esse era o ponto pra ela, eu ter arriscado a minha vida pra salvar a dela.

– Eu não preciso da sua preocupação Sakura. - falei fazendo ela olha novamente pra mim. - Até mesmo porque eu não iria morrer.

– Você não podia ter certeza disso, Sasuke-kun.

– Eu tinha certeza que só iria parar quando deixasse você na vila. - falei firmemente

Ela levantou novamente o olhar para mim, e ficamos do mesmo jeito de quando a vi naquela vez no hospital: nos encarando como se pudéssemos adivinhar o que passava pela cabeça do outro, fui o primeiro a cortar o contato visual me virando para ir embora quando Sakura me impediu. Ela colou o rosto em meu peito e jogou os braços ao redor de mim, algumas pessoas que passavam na rua observavam a cena. Ia pedir pra Sakura me soltar, mas ou ver se rosto preferir ficar quieto. Suas bochechas estavam mais vermelhas do que o normal, e ela apertava o olhos enquanto algumas lágrimas desciam até seu queixo, e mesmo que estivesse chorando ela sorria, seu rosto era calmo e ela respirava profundamente como se fosse para decorar o meu cheio. Ela abriu os olhos e mirou seu rosto para o meu, talvez fosse por ter chorado, mas seus olhos de certa forma parecia brilhar.

– Arigatou, Sasuke-kun. - disse com um tom doce saindo do seu sorriso. - Seja bem-vindo de volta.

– Acho melhor eu ir. - falei virando a cabeça de lado.

– Ah sim. - e de forma envergonhada me soltou. - Até mais, Sasuke-kun. - me virei e sai andando.

– Hm, até.

~#~

Entrei em casa, fazia quase uma semana que não pisava naquele piso de madeira, por mais que já estivesse me acostumado a passar muito tempo longe de casa, voltar era sempre bom. Fui até o quarto, coloquei a flor na mesinha de cabeceira depois devolveria o vaso. Fiquei deitada na cama pensando na conversa com Sasuke, no hospital eu tinha ficado horrorizada com a quantidade de problemas que tinha na ficha médica que Ino tinha me entregado, ele não tinha noção do estado delicado que estava. Se por um lado eu tinha ficado contente em saber que Sasuke se arriscou tanto para me salvar, por outro fiquei horrorizada em imaginar que ele podia ter morrido no meio disso, como shinobi eu conseguia aceitar o meu sacrifício, mas não dos meus companheiros. Mas não tive como não ficar feliz com a determinação que encontrei no olhar dele, era algo que não encontrei nem mesmo depois do fim da guerra.

Olhei novamente para flor, tinha perguntado a Ino quem tinha deixado ali, mas ela não sabia dizer. Era engraçado de certo modo, aquela flor era justamente a que eu sempre levava para o Sasuke quando ele estava no hospital, foi ai que eu tive uma ideia, peguei a flor e comecei a verificar todas as assinaturas de chakra que tinham tocado nela, era um técnica bem útil para autópsias, e o que senti me surpreendeu, afastei a mão depressa, eu devia estar enganada, concentrei novamente o chakra na mão e pousei sobre a flor, senti a mesma sensação, aquele chakra diferente era do Sasuke.