Porque eu preciso de um intervencionista

Para intervir entre mim e esse monstro

E me salvar de mim mesmo e de todo esse conflito

Porque as coisas que eu mais amo estão me matando

E eu não posso reconquistá-las

~Pov Meg

“Filha,

Como estão esses primeiros dias na escola? Espero que tenham sido bons! Eu estava me lembrando da pergunta que me fez outro dia sobre estar gorda e resolvi te ajudar com isso. Atrás dessa carta há uma dieta pra você. Ouvi dizer que é ótima.

Beijos, Mamãe”

Olhei atrás e de fato encontrei a tal dieta. Sei que minha mãe só estava tentando me ajudar, mas aquilo não me deixou bem. Resolvi pegar a carta de Draco para ver se me animaria e sorri ao ver a letra de meu primo, que mostrava claramente o quanto ele estava cansado ao escrevê-la.

“Prima,

Como estão seus dias aí? Espero que bons! Aquele idiota do seu ex ainda fala com você? Ainda estou preocupado. Sabe que se precisar eu quebro a cara dele mais uma vez né? Ele não merece a vida que tem depois do que fez com você.

Você pode, por favor, escrever uma carta para o Liam dizendo que não o odeia e que não foi embora da festa por causa dele?! ELE ESTÁ ME ENCHENDO PERGUNTANDO DE VOCÊ!

Okay, nós dois sabemos que eu estou morrendo de sono mais uma vez e que está óbvio que estou escrevendo essa carta enquanto estou quase dormindo em cima da mesa.

Beijos, Draco”

Peguei um pergaminho e escrevi uma carta para minha mãe, agradecendo-a pela dieta e depois pensei em uma boa resposta para Draco, mas não me veio nada em mente.

Eu queria desabafar com ele, dizer que eu me sentia péssima e que eu queria muito que alguém se importasse comigo, coisa que só ele faz, mas isso só iria preocupá-lo e fazê-lo vir até aqui. Não, melhor não contar isso.

Primo,

Meus dias estão indo e os seus? Ainda implicando com Potter, Weasley e Granger? Luke não fala mais comigo – menti – por isso não precisa bater nele novamente. Não se preocupe, estou bem mesmo.

Sim, eu prometo que assim que tiver tempo mando uma carta ao Liam e digo que está tudo bem.

Boa noite e durma bem.

Beijos, Meg

Minha resposta foi curta e objetiva, assim eu não preocuparia ninguém, assim como eu não iria mandar uma carta para Liam. Não mesmo. Cansei de todos, cansei da minha vida, cansei de tudo. Não o quero perto de mim, afinal eu sei que mais cedo ou mais tarde terei que me preparar para o adeus, é o que sempre acontece. Quem vai querer a problemática esquisita e gorda? Com certeza não sou a garota certa para o Liam.

*-*

Eu estava na aula de Poções quando Karly jogou um pedaço de papel amassado em mim. Peguei e o abri e a mensagem nele fez meus olhos se encherem de lágrimas.

“Achei umas coisinhas escondidas no banheiro do dormitório e acho que pertencem a você. Na verdade, eu tenho certeza que pertencem. Só você é esquisita o suficiente pra fazer esse tipo de coisa. K.L”

Meus olhos correram em seguida para um desenho de lâminas que diziam “Por que não nos passa em seu pescoço Meg? Assim acaba com tudo de uma vez”.

A olhei magoada e queimei o papel, fingindo que ignorava tudo quando na verdade eu era despedaçada por dentro. Karly achou as minhas lâminas e pode muito bem ter sumido com elas. Como conseguirei lâminas novas agora?! Sem elas é impossível aguentar essa escola! Sem elas eu vou acabar me matando!

–Professora, eu não estou me sentindo bem, posso sair? –Pedi.

–Vá até a ala hospitalar senhorita Malfoy. O que está sentindo?

–Tontura. –Menti.

–Tudo bem, vá até lá. Melhoras.

–Obrigada.

Eu dei um leve sorriso e corri para o banheiro do meu dormitório. Procurei minhas lâminas, mas não as encontrei em lugar nenhum.

MEU MERLIN ONDE ESTÃO?! Tirei minha varinha e murmurei “Accio”, mas nada aconteceu. Karly deve tê-las escondido muito bem. Eu não posso ficar sem minhas lâminas! Como vou aguentar um dia nesse inferno?! Impossível!

Comecei a ficar nervosa e a me unhar no lugar das cicatrizes mais recentes, fazendo-as sangrar novamente. Eu precisava disso. Precisava da dor. Eu mereço a dor.

Só faço as coisas erradas, sempre estrago tudo, sou uma gorda ridícula. Ninguém gosta de mim, e se gosta eu sou só um fardo. Por isso mereço tudo. Mereço morrer para que eu não traga mais sofrimento a ninguém.

Não quero causar dor a Draco nem a minha mãe, mas é só isso que sei fazer, e sem as minhas lâminas para me punirem por tudo de errado que fiz, para aliviar a minha dor só resta o monstro que até então estava adormecido dentro de mim.

O mostro que acorda sempre que estou sozinha, que estou sem as minhas lâminas. Sempre que a dor emocional me consome, e ela vem me consumindo constantemente.

Eu sou um monstro, a garota inocente que vivia dentro de mim morreu. A garota que merecia a vida que tinha se foi. Ela se perdeu e pode nunca mais vai voltar. O monstro a espantou, levou-a para longe, e se ela fizer forças para voltar ela morrerá, porque ela sabe o quão fraca é. O quão inútil, ridícula, gorda, feia, idiota ela é.

O monstro aqui dentro mostra isso e a assusta. Talvez ela nunca volte. Talvez ela morra um dia, só assim ela terá paz e sossego. Só assim a garotinha vai conseguir sorrir novamente e ser feliz, porque ela vai saber que não está preocupando mais ninguém. Vai saber que o monstro não está mais a perseguindo e torturando-a, destruindo-a por dentro.

E tudo o que essa garotinha não quer é que os outros fiquem mal por causa dela. Ela só quer paz, e o único jeito de conseguir essa paz é deixando o monstro consumi-la, mas ela está com medo. Medo de que possa doer, de que nunca mais possa ver aqueles que ela ama.

Medo de que o monstro a consuma e que ele a faça ficar pior e a tire tudo, sem sentimentos, sem amor, sem paz, sem nada. Nada além da dor emocional e física que ela mesma provoca. A dor que está a consumindo e levando-a cada vez mais para a escuridão.

Sou amiga de um monstro que está debaixo da minha cama

Convivo com as vozes dentro da minha cabeça

Você está tentando me salvar

Pare de prender a sua respiração

E você acha que eu sou louca, sim, você acha que eu sou louca

Bem, isso não é nada