Três dias.

Eu poderia conviver com isso.

Eu sei que posso. Só não sei como.

Avisar á meu pai que ficaria longe de casa por um período de tempo fora tenso, mais tenso que quando anunciei meu namoro com o lobisomem – ou sourwolf, o que preferir – Derek Hale. Ele não podia nem reclamar da cara de surpresa do meu pai, porque Derek possuía um certo histórico e nada bom, por sinal.

Balançando a cabeça, estacionei o Jeep em frente á mansão Hale – recém-reformada – e desci do mesmo, abrindo o porta-malas para pegar as coisas que havia comprado. Meio minuto depois, a porta da casa se abriu e tudo o que pude ver foram quatro pequenos vultos antes de se agarrarem em minhas pernas, fazendo-me cair.

-- Ok, galerinha, eu cheguei!

-- E demorou demais. – Scott foi o primeiro á reclamar. O garoto em nada diferenciava do Scott mais velho, exceto pelas bochechas mais rechonchudas. Parece que o feitiço que a tal bruxa havia jogado neles não havia aceitado seu cérebro diretamente, pois todos eles tinham consciência total do que estavam dizendo e fazendo, diferente de crianças normais de três anos. Ah, tá. Como se eles fossem normais. Boa, Stiles. – Você trouxe?

-- É claro que eu trouxe. – Tratei logo de me defender, tentando sentar, porém sem sucesso graças á Isaac sentado em cima de minha barriga. – Isaac? – O pequeno garoto apenas corou e saiu de cima de mim, dando lugar para sentar. Levantei-me, em seguida, e acabei sendo quase empurrado de volta ao chão por Erica, que ainda estava agarrada á minha perna. – Erica, eu preciso andar, sabia?

-- Não precisa, não. Derek pode te levantar. – Ela soltou-se de mim e pôs as mãos na cintura, olhando com a cabeça torta para cima, na direção meus olhos. – DEREK!

O lobisomem apareceu na porta, camisa toda destruída e Boyd correu para ficar em seu colo, junto com Isaac. Os dois chegaram aos pés dele e começaram á brigar sobre quem ficaria “no alto”, como eles diziam. Derek apenas bufou e pegou cada um com um braço, descendo o pequeno lance de escadas.

Consegui fazer com que Scott ficasse em meus ombros enquanto pegava as sacolas com uma mão e a outra tentava apoiar Erica, que mordia confortavelmente minha camisa. Ele aproximou-se de mim e me deu um beijo no rosto, se inclinando para pegar duas sacolas pesadas demais com as mãos. Tentei argumentar, já que ele tinha Boyd e Isaac no colo e eles não eram pesos leves e ele fez aquela careta meio lobo meio humano de sempre e começou á andar, comigo em seu encalço.

-- Comprou tudo? – Ele perguntou e quando virei o rosto para o lado para responder, me deparei com Isaac dormindo em seu ombro. O loiro ressonava, alto demais para uma criança, e uma de suas mãos encontrava-se enroscada no colarinho da camisa verde e rasgada dele e a outra estava ocupada demais enquanto ele chupava dedo. Fofo era pouco para descrever tal cena.

-- Camisas, calças, blusas, shorts, calcinhas, cuecas, sandálias, brinquedos e muitos filmes de super-herói para assistirmos. Afinal, por que eu iria ao shopping com seu cartão de crédito sem comprar algo pra mim?

Ele revirou os olhos e eu ri, o que fez com que minha cabeça movimentasse um pouco e o pequeno Scott quase caísse se não fosse suas mãos que agarravam meu cabelo. Ao entrar dentro da mansão, joguei as sacolas no chão e os pequenos betas correram para abrir os embrulhos e pacotes. Aproveitei o momento e fui buscar água na cozinha, já que tinha passado duas horas numa loja e eles não tinham um bebedouro. Vai entender.

Ao voltar da cozinha, o “awm” que escapou de meus lábios foi inevitável. Derek estava no meio dos betas, com roupas e brinquedos em cima dele, enquanto as crianças corriam ao seu redor. O alfa não tinha nenhuma daquelas expressões azedas em seu rosto, ao contrário, ele sorria e parecia estar se divertindo.

Sutilmente, sentei perto deles, porém com o máximo de cuidado possível e tirei o celular do bolso. Até parece que eu não ia filmar esse momento épico de Derek Hale. Abri a câmera e primeiro tirei uma foto da cena em que eu me encontrava, para depois mudar para “modo vídeo” e começar á gravar. Os pequenos não paravam de pular e correr e o pobre lobisomem nada podia fazer, até que ele viu a pequena luz vermelha vinda do meu celular e ele levantou-se, sacudindo-se para que as roupas pudessem sair de cima de seu corpo.

-- Stiles...

-- Por favor, sourwolf. O vídeo estava lindo!

Derek olhou torto para mim antes de virar-se para ouvir o que quer que Erica estivesse lhe falando enquanto eu salvava o vídeo e ia preparar o jantar de quatro pequenos lobisomens famintos mais um macho alfa.

*

-- Acho que acabou por hoje.

Ficamos em silêncio por mais um tempo antes de nos jogarmos no sofá. Derek estava ao meu lado, agora com uma outra camisa só que molhada, enquanto a minha estava toda suja de molho de tomate. Acho que foi uma péssima ideia preparar macarrão.

Estávamos no quarto do lobisomem. As crianças não conseguiam dormir separadas, então o jeito foi fazer com que dormissem no quarto de Derek. Boyd e Erica estavam jogados na cama, o moreno estava esparramado – mãos e pés para todo canto – enquanto a loira encontrava-se também assim, porém mais “normal”; Isaac e Scott estavam abraçados, um de frente para o outro. Os cachos de Isaac cobriam o rosto bochechudo de Scott, fazendo com que só seu queixo torto fosse visível.

Pus minha cabeça no ombro de Derek e ele pôs a dele em cima da minha, entrelaçando nossas mãos enquanto passava a outra em meus cabelos.

-- Acha que conseguiremos passar por esses três dias?

-- Acho.

-- Você daria um bom pai.

-- Não poderia falar o mesmo de você.

-- Tá dizendo que sou inepto para adestrar crianças meio humanas meio lobisomens?

-- Não. Eu estou dizendo que você não daria um bom pai, e sim uma boa mãe.

-- Ah.

O silêncio voltou outra vez e eu sabia que aquilo estava incomodando Derek.

-- Fala logo.

-- Está zangado comigo?

-- Por ter dito que eu era a “mãe”? - Falei, o sarcasmo tomando conta de minha fala. - Não, imagina!

-- Stiles, eu sinto muito.

-- Ei. – Tirei minha cabeça do encosto confortável que era o ombro de Derek e fitei seus lindos olhos esverdeados. – Eu te amo, ok? E eu não tenho problema algum em ser a mãe, você é azedo demais para fazer esse papel mesmo.

-- Eu também te amo. – Ele respondeu e sorriu e eu sabia que estávamos de bem.

Voltei ao meu encosto e suspirei.

-- Derek?

-- O quê?

-- Você quer ter filhos?

-- Céus, não!

-- Ah, bom!

Silêncio constrangedor de novo.

-- Derek?

-- Sim?

-- Quer pensar em nomes para nossos futuros filhos?

-- Pensei que não iria perguntar.