Acordei e vi os raios de sol brilhar pelas frestas da cortina. Ainda com sono lembrei do dia de ontem, senti me fraca sobre a cama, observei meu quarto e vi vestido preto rodado e curto de mangas longas e rendadas, mas muito discreto na opinião de Celeste, na qual deveria usar no enterro. Mary abriu a porta e vi seus olhos inchados:

—Ahh... Senhorita America- disse Mary surpresa- eu lhe trouxe seu café um pouco mais cedo, achei que ainda estava dormindo. Por que acordou tão cedo? O enterro do rei e da rainha só acontecerá depois do enterro dos empregados, daqui a três horas.

—Mary eu vou me despedir de Anne, ela não era só minha criada, ela era minha amiga também- é tão estranho dizer sobre Anne no passado.

—Claro!- Mary sorriu- chamarei Lucy para me ajudar com o vestido, tenho de fazer outro.

— Por que?- indaguei- por que outro vestido? Já tenho esse- disse apontando para o vestido dependurado, Mary me olhou incrédula:

—Esse é para o enterro dos reis, não pode usar para o enterro de criados...- me senti mal.. . por que não?

—Eu VOU usar esse vestido...- disse de pé, lentamente me movi para o banheiro- e não a nada que você possa fazer Mary- sorri para ela, não vou chorar mais uma noite por meus problema, e vou resolve-los.

...

Quando saí do banho Lucy e Mary esperavam-me já usando seus vestidos para o enterro. Me vesti enquanto conversava com Lucy sobre Aspen. Mary disse que Celeste também iria ao enterro, se entendi um guarda morreu, e adivinha? Os dois estavam juntos, e afinal ela sempre seria Celeste.

Já pronta, usando o meu vestido preto e o cabelo num coque alto e desleixado, com um véu preto de renda caindo sobre os olhos, encontrei-me com Celeste que usava um vestido preto colado, e quando entravamos no carro que Maxon nos deixou usar, o vi caminhando até nós, provavelmente estava passeando pelos jardins.

—Senhorita Celeste...- ele a olhou e depois a mim- Ame... Senhorita America, onde as senhoritas vão?- ele perguntou não me olhando nos olhos, graças a Deus, pois talvez assim ele não me visse lacrimejar. Não queria responde-lo, a ultimas que o vi ele tentava conter as lagrimas pela perda da mãe, e sabia que se lhe dirigisse a palavra eu cairia em lagrimas. Sua cabeça moveu um pouco vi que ele estava prestes a olhar para mim, mas a diva que é a Celeste salvou-me:

—Vamos a um enterro majestade, funcionários foram perdidos, muitos, mas isso nós iremos ao enterro dos reis.- Maxon nos olhou e dirigindo a pergunta a mim encarou-me:

— Seu namorado morreu Senhorita America?

Me desesperei ao ouvir a pergunta, não consigo responde-lo ainda, abri minha boca algumas vezes para dizer-lhe que Aspen não era meu namorado, quando Lucy timidamente se entrometeu para minha salvação

—Aspen?!- vi os olhos de Maxon caírem sobre Lucy, que sorria envergonhada-ele É O MEU NAMORADO. E não, está bem graças a Deus- ouvi a ênfase nas palavras 'é o meu namorado'.

Fiquei surpresa com a forma que ela agiu, nunca foi tão espontânea, pelo menos não comigo. Já Maxon, bem.. nele via confusão... duvida e receio talvez, mas tenho de tirar essas esperanças de mim, não voltarei a te-lo. Depois minutos nos encarando, Kriss chegou e levou Maxon para dentro, e enfim entramos no carro.

...

No enterro tudo agiu tranquilo, cada caixão foi descido um após o outro, não vi Celeste por um bom tempo e decidi que depois procuraria por ela.

No momento em que jogavam terra sobre o caixão de Anne, vi minha irmãzinha May acompanhada de minha mãe e ... Kotta, nervosa depositei uma rosa na lapide de Anne e fui até eles.

—Filha- minha mãe disse me abraçando

— o que ele faz aqui?- perguntei olhando para Kotta, que olhou pro chão e respirou fundo

—Sei que não foi escolhida e decidi vir te buscar com mamãe... E Ames... me perdoe, eu...- ele passou a mão nervosamente nos cabelos, procurando palavras- eu... eu quero mudar, eu vou!

Olhei em seus olhos, não estava em clima para brigas. Olhei em volta e vi Celeste se aproximando, eu ignorei Kotta por alguns minutos, queria conversar com May.

—O que acha May? Acredita em Kotta?- perguntei olhando-o enquanto conversava com Celeste

— Eu acredito- disse May, erguendo-se, ficando assim na ponta dos pés. Olhei com cara de interrogação- Ele mudou, sabe... nos visita todos os dias, pediu desculpas para todos e ele nos dá presentes, eu ouvi ele conversando com Gerard e ele disse para mamãe que faria tudo para ajuda-lo a seguir uma carreira que não é as artes, você sabe como o Gerard é... ele pode ser muitas coisas menos um artista.

Levantei meu olhar para Kotta e o observei, não sabia se era duradouro ou algo momentâneo, tenho de ver com meus próprios olhos.

...

Celeste e Kotta vinham conversando todo o caminho, enquanto Ames conversava com May e a mãe. Logo todos estavam no palácio, se preparando para o enterro dos pais de Maxon. A cerimonia foi curta pois o rei e a rainha foram cremados, Kriss se consolava nos braços de Maxon, enquanto seu vestido longo arrastava na terra recém molhada pela chuva.

No final todos voltavam para o palácio, America vestiu-se com uma das calças jeans dada a ela por Maxon, e vestiu uma blusa branca, prendeu os cabelos num rabo de cavalo. Ela desceu com um guarda que levava suas coisas, quando viu Kotta carregar as coisas de Celeste e acredite... não eram poucas malas.

Agora já alinhada ao lado de Celeste e outras duas ex-selecionadas, Maxon e Kriss, que já vestia um vestido Azul.

—Sentirei saudades da companhia de vocês- disse Kriss abraçando cada uma de nós, depositando em nossos ombros lagrimas de despedida. Maxon apertava nossas mãos, e em minha vez senti uma corrente elétrica correndo por meu corpo, tudo o que eu temia, eu continuaria ama-lo.

Kriss precisou sair para falar com o assistente de Maxon, e as outras garotas foram colocar suas malas nos seus respectivos carros, e então um silencio caiu sobre Maxon e eu, depois da saída de Kotta com minhas malas.

—Vossa Majestade...- disse- Bem, quando disse que esperava que eu encontrasse um motivo de permanecer nessa- procurei as palavras- bela jaula, e bem... eu encontrei meu motivo, mas... ele não me quer por perto, pois ele achou o seu motivo- disse olhando para a porta por onde Kriss saiu- e eu realmente espero que tal motivo o faça feliz- completei por fim

—Ela me fará feliz... ela já me faz- ele disse, e nada pode descrever a dor que senti, fitei a porta do carro, e quando uma lágrima estava fugindo, a porta por onde Kriss saiu tornou a abrir e de lá ela saiu. E com isso fui ate o carro, deixando para trás os dois sozinhos. Deixando o único lar que desejo e junto dele meus cacos que um dia chamei de coração.

Foi minha maior perda, minha maior dor, e com isso... nunca mais chorei.