Tinha poucas coisas que Kise Ryouta odiava, e uma delas era cebola.

Outra era pombas.

A principal era ver Kasamatsu Yukio chorando escondido no vestiário.

Partia o coração dele toda vez. E estava ficando cada vez mais frequente. Óbvio, o pessoal do time não se importava, mas Kasamatsu não suportava, não conseguia conviver com a ideia de ter nascido daquele jeito.

–Senpai, por favor. Não chora.

–Kise, eu odeio isso. Kise, eu não aguento mais. Me tira daqui.

–Senpai...

Kasamatsu continuava apoiado contra os armários, ainda usando aquelas bandagens apertadas. Kise sabia que aquilo machucava, mas seu capitão faria de tudo.

–Por que, Kise, eu tive que nascer com isso? Por quê?

Kasamatsu vira e encara Kise com lágrimas nos olhos, os braços apertando os peitos contra si.

–Senpai, tira essas bandagens. Todo mundo já foi embora. Isso deve estar apertado pra caramba.

–Eles ficam aparecendo na camisa do colégio...

–Vem cá.

Kise senta no banco de madeira e puxa Kasamatsu pela mão. Kise tenta desfazer o nó sobre as costelas e puxa as faixas. Marcas profundas aparecem pela pele do capitão, e seus peitos caem quando a última bandagem desprende.

–Isso é tão constrangedor. - Kasamatsu resmunga, ainda fungando.

–Não precisa ter vergonha.

Kise encara os peitos de Kasamatsu. Eles não são tão grandes e estão com as marcas das faixas. Mas são bonitos. São redondos, e Kise tem a impressão de que o esquerdo é levemente maior do que o direito.

Kise ergue as mãos.

–O QUE VOCÊ PENSA QUE TÁ FAZENDO

Kasamatsu soca o nariz de Kise, que recua rapidamente, cobrindo a face.

–Ai, meu nariz! Poxa, senpai!

Kasamatsu fica com as bochechas extremamente vermelhas e cobre-se com os braços, virando o rosto.

–Que pervertido!!

–Não, senpai! Eu só tava olhando... Seus peitos são bonitos.

–Eu odeio eles. Eu odeio eles mais do que tudo. - a voz do capitão começa a ficar embarganhada de novo - Kise.

–Oi.

–Você sabe, né? Você sabe que eu sou um garoto no corpo de uma garota, né? Você sabe que eu me sinto aprisionado aqui. Você sabe... V-Você sabe que eu daria de tudo p-pra ter nascido homem...

–Eu sei, senpai.

Kise estica as mãos e pega gentilmente nos peitos de Kasamatsu, sorrindo.

–Mas você sabe que eu te amo tendo peitos ou não, sendo garoto ou garota, não sendo nenhum dos dois, ou sendo os dois. Eu te amo de qualquer jeito, senpai.

Uma ou duas lágrimas escorrem e pingam nas mãos de Kise.

–E seus peitos são bem macios hehehe

–TIRA A MÃO DAÍ SEU ABUSADO!

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.

Quando Kise voltou pra casa, passou a noite inteira no computador ao invés de fazer a lição. Mas tudo bem. A quinta-feira da semana seguinte foi totalmente recompensadora.

–Ei, senpai! Vamos tomar sorvete hoje.

–Não posso. Tenho que estudar.

–Mas é importanteeeeeeeee...

Kise encheu tanto o saco que Kasamatsu acabou concordando em ir. Os dois seguiram para aquela sorveteria do final da rua e sentaram numa mesinha no fundo da loja, longe dos olhares do pessoal da rua.

–Tenho uma coisa pra falar.

–Ih...

Kasamatsu meteu a colher na boca e já se preparou pra ouvir alguma merda.

–Tava lendo uma coisas na internet... - Kise pega seu celular e mexe nele por alguns segundos. Ele continua falando sem tirar os olhos da tela - Sobre esconder os peitos e tal... Ai! Não me chuta!

–Aqui não é lugar pra essas coisas!

–Mas, senpai, é importante!

Os olhos de Kise estavam estranhos, por isso Kasamatsu deixou que ele continuasse.

–Enfim... Eu estava lendo sobre como isso pode ser perigoso, senpai. Se você não fizer direito, pode dar muita encrenca e você pode ficar doente. Usar essas faixas que você usa faz mal. Eu sei que faz mal pra você - Kise pega na mão de Kasamatsu embaixo da mesa - Senpai, eu percebo que você tem perdido o fôlego e nem consegue respirar direito de tão apertado que as bandagens estão.

Kasamatsu respira fundo sem querer, mas percebe que não consegue direito.

–É-É que o verão tá chegando e não consigo usar casaco por muito tempo...

–Eu comprei isso pra você.

Kise abre a mochila e tira de lá uma caixa branca e preta.

–O quê-

O garoto abre a caixa e pega uma coisa que parece com uma regata.

–Pra você. Presente - Kise sorri tanto que seria capaz de cegar uma pessoa.

Kasamatsu revesa os olhos entre o sorriso de Kise e a regatinha branca, ainda não acreditando muito no que estava vendo. Ele pega a roupa com as mãos e a aproxima de si.

–Kise...

–Ah, olha, eu comprei duas versão esporte, aí tem mais segurança e tal e dá pra lavar uma enquanto você usa a outra. Peguei branco e bege. - seu rosto ficou levemente vermelho enquanto ele pega mais regatas na mochila - G-Gostou?

Kasamatsu continua encarando as coisas em cima da mesa e não diz uma palavra.

–E-Eu nunca gostei do fato de você usar faixas pra fazer binding, por isso eu quis comprar um binder que não te apertasse nem machucasse. Sei que seus hormônios não fazem os peitos desaparecerem completamente. Não quero que o senpai fique doente...

Kasamatsu apoia a cabeça contra o ombro de Kise e chora um pouquinho.

–Obrigado, Kise. Obrigado de verdade.

–Imagina, senpai. Eu só quero que você se sinta bem consigo mesmo.

Kasamatsu funga e enfia uma colher de sorvete na boca.

–E seus peitos são macios hehe AI MEU JOELHO

–Pode ficar com eles se quiser. Babaca.