"S-S-Seu filho da puta... Tá olhando o quê?? Quer brigar?!"

"O quê? Não, cara, eu..."

"Quer brigar, PORRA?"

Kasamatsu Yukio trupicava pela rua soluçando um pouquinho e andando meio torto. O passante atravessou a rua para evitar ser atropelado por aquele bêbado briguento.

Não é como se Kasamatsu fosse um alcoólatra, mas tomar uns drinks sempre é bom. Especialmente com seus amigos. Aqueles mesmos que te abandonam depois que "arranjam umas gatas, e vão dar umas voltas por aí com elas", esses mesmos. Filhos da puta...

Kasamatsu era o tipo de bêbado que gosta de arranjar encrenca, mas que com certeza tomaria mais do que daria e perderia um ou dois dentes e ficaria com um olho roxo no processo. Já aconteceu algumas vezes. Nada de mais. Ele sobreviveu.

Ele avista outra pessoa vindo pela rua e sorri consigo mesmo enquanto trupica na direção dela.

"Ei, tu!"

"Eu?"

"TU MESMO, VIADINHO. QUER APANHAR?"

"Mas... Ahn...?"

"Vem pra cima, moleque!" Kasamatsu afasta as pernas e estende os punhos na frente do corpo.

"Ai meu Deus, você tá bêbado. Olha, não quero brigar com você, cara..."

"Chega de lero-lero, seu loirinho fia da pulta. Vem prá cima que tu vai apanhar legal!"

"Mas...!"

Kasamatsu deu um passo pra frente e puxou o braço para trás para poder impulso e dar um soco no outro. Ele esticou o braço na direção do loiro, mas, de alguma forma não explícita, conseguiu se dar um soco na cara e caiu desmaiado no meio daquela ruazinha escura e fedida.

.

.

O teto parecia estar girando e a cabeça latejava de dor, mas não foi isso que acordou Kasamatsu Yukio naquela manhã de domingo.

Tinha um fucking gato no seu peito, e ele realmente não parecia a fim de sair de lá.

Ah. Ok. Kasamatsu lembrou que sequer tinha um gato e que o lustre do seu teto era azul, e não branco.

Ah.

"Adolfinho, desce daí!"

Kasamatsu Yukio definitivamente não tinha um gato chamado Adolfinho, nem um lustre branco, nem um colega de apartamento.

Ele ergue o tronco rapidamente, fazendo o gato voar de seu peito, e arrependendo-se no segundo seguinte. O estômago parece que deu duas voltas enormes e morreu, e Yukio realmente sentiu o mundo girando ao seu redor por pelo menos 15 segundos.

Aí quando seus olhos se normalizaram, ele viu um rapaz loiro, alto e bonitinho encostado contra um balcão que definitivamente não era o da sua casa. O rapaz o olhava meio preocupado e deixava evidente que estava com um pouco de medo.

"Ahn..."

Kasamatsu olhou ao redor tentando entender onde diabos estava.

"Você tá legal?"

"Já estive pior, acredite."

"Eu não sabia o que fazer, então..."

Kasamatsu voltou a olhar ao redor, pousando os olhos no gato cinza e branco que encarava-o como se estivesse pronto para cometer um assassinato.

"Eu meio que te trouxe pra minha casa. Espero que não seja problema."

"O que diabos aconteceu?"

Tudo o que Kasamatsu podia lembrar era Moriyama Yoshitaka, um dos seus melhores amigos, aos amassos com uma morena do lado do balcão, depois uma garrafa de sei lá o quê, um ou outro copo, alguns flashes de rostos que ele nunca tinha visto e só.

"Bom..." o rapaz começa visivelmente desconfortável. "Eu estava voltando pra casa e você começou a puxar briga comigo na rua, acabou se dando um soco na cara e desmaiou. Como eu não podia deixar você largado lá, acabei trazendo você pra cá e você vomitou no meu carpete todo."

"Puta que o pariu..."

Apesar de estar super tonto, Kasamatsu conseguiu ver as manchas no carpete e a cara de infelicidade do gato. Aparentemente o peito dele era um bom lugar para se dormir.

"Pelo menos Adolfinho gostou de você. Dormiu em cima de ti a noite toda."

O rapaz loiro sorri e Kasamatsu sente-se um pouquinho melhor. Caraca, era como se o rapaz a sua frente fosse a personalização do próprio Sol.

Os dois se encaram por alguns segundos. O loiro ergue as sobrancelhas e faz uma careta de desconforto.

"Ahn..."

Kasamatsu deixa a cabeça cair nas mãos e começa a pedir perdão por todos os seus pecados.

"Puta merda, eu sinto muito. Desculpa, pelo amor de Deus. Que coisa embaraçosa... Desculpa, sério. Eu quis te bater? Que bosta. Eu nem sei seu nome..."

"Pode me chamar de Kise..."

"Esse deve ser o dia mais constrangedor da minha vida, eu juro por Deus..."

"Relaxa, não foi nada."

"Eu vomitei no seu carpete."

"Vai ficar fedendo uma semana, mas não tem problema..."

Por que ele está sendo tão gentil? Isso meio que irrita Kasamatsu. Fala sério.

"Ah, eu fiz café da manhã. Não sei se você tem estômago pra comer agora, mas qualquer coisa está dentro do micro-ondas."

Kasamatsu Yukio realmente não merece tanta gentileza, mas fica feliz por ela mesmo assim. Esse rapaz Kise era bem legal e estava sendo gentil com ele.

Não era um domingo tão ruim assim.

"Bom, eu não sou muito de ficar arrastando gente bêbada pra dentro da minha casa, mas o Adolfinho gostou de você. Então acho que gostei de você também."