Mais uma chance escrita por Carcata


Capítulo 1
Papéis invertidos


Notas iniciais do capítulo

quis fazer uma fanfic desse tipo desde que o filme lançou, e finalmente tomei coragem o/
preparem-se para os feels ;--;



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Com um gemido de cansaço, Hiro mudou de posição na sua cama. Provavelmente já era hora de acordar, mas como o despertador não tinha tocado ainda, ele tentou relaxar. O dia anterior fora mais que cansativo, com o garoto tentando passar despercebido pelas ruas de San Fransokyo. Agora que era um tipo de herói era difícil não ser notado. Ele só rezava para que ninguém descobrisse.

- Ei, Hiro, acorda. – Uma voz o chamou, e ele nem se incomodou em responder. Estava tão cansado...

- Ei, cabeção, já ta na hora de sair da cama. – A pessoa insistiu e Hiro franziu as sobrancelhas. Desde quando tia Cass tinha uma voz tão... máscula? E o único que o chamava de “cabeção” era...

Ele abriu os olhos e encarou a pessoa que estava do seu lado, que era nada menos que Tadashi.

Hiro arregalou os olhos e congelou, fitando o outro por mais alguns segundos.

- Hiro, o que foi? – Lá estava a voz de novo, que vivia perturbando os sonhos de Hiro. Será que estava sonhando agora?

Tadashi, o irmão preocupado que era, colocou uma mão no ombro do menor quando este não respondeu e a reação foi instantânea. Hiro se afastou de repente da mão de Tadashi, como se tivesse tido queimado. Em seguida fez a única coisa que conseguia fazer naquele momento: ele gritou.

O berro desesperado do garoto fez com que o irmão mais velho ficasse mais preocupado ainda. Hiro estava tão pálido quanto papel e tentava se afastar ao máximo de Tadashi, pegando os cobertores como se fossem protegê-lo de todo o mal.

Tadashi implorava para que o outro parasse de gritar, e o menor gritava mais ainda. Então foram ouvidos passos apressados subindo a escada e a porta do quarto abriu de repente.

- O que aconteceu, pelo amor de deus?! – Cass perguntou super preocupada. Ela avistou Hiro gritando como um louco e se encolhendo o máximo que podia.

- Não sei, ele acordou e de repente começou a gritar! – Tadashi respondeu com o mesmo tom aflito. Ele detestava ver o seu irmãozinho com tanto medo, principalmente quando não sabia o motivo.

O mais velho tentou segurar Hiro pela quinta vez e este o empurrou e seus gritos começaram a ficar mais roucos. De repente começou a tossir e tentar mandar ar para os pulmões, que por algum motivo não queriam trabalhar direito.

- Hiro! Hiro!! – Cass se aproximou do sobrinho mais novo e tentou focar a atenção dele nela. Tadashi estava observando tudo com um aperto no coração. Hiro nunca tinha o evitado assim antes, e aquilo doía. – Você está tendo um ataque de pânico. Se acalma!

O garoto ouviu as palavras da moça e tentou respirar mais calmamente. Depois de alguns momentos percebeu que estava chorando e limpou as lágrimas, sentindo-se infinitamente melhor. Cass o abraçou e perguntou preocupada:

- O que foi tudo isso, Hiro?

Ele olhou para sua tia e depois para Tadashi, que o olhava com tristeza nos olhos. Aquilo era realidade? O que estava acontecendo? Tia Cass não parecia surpresa por Tadashi estar vivo, então... Seu irmão não morreu?

- Uh... Não sei muito bem... Acho que foi um pesadelo. – Ele murmurou incerto. Aquilo parecia bem real para ele. Como iria explicar isso para Cass?

- Oh, querido... Você quer conversar cobre isso? – Ela o olhou com simpatia, mas Hiro balançou a cabeça. Ele definitivamente não queria falar sobre isso. – Bem, eu vou voltar para a cafeteria e fazer algo para você se acalmar. Pode comer alguns donuts se quiser.

E com isso ela levantou e saiu do quarto. O garoto sabia que ela tinha saído assim para deixar os dois irmãos conversarem. Era só Tadashi e Hiro agora.

O mais velho não sabia se deveria falar com medo de assustar o irmão de novo, então Hiro quebrou o silêncio:

- Eu dormi... Por quanto tempo...?

O outro arqueou uma sobrancelha.

- Você foi dormir ontem à noite.

Hiro tentou segurar as lágrimas que ameaçavam sair novamente e tossiu nervosamente.

- E-Eu acho que...

Antes de completar a frase o garoto saiu da cama e andou em direção a Tadashi, ignorando seu olhar preocupado. Se isso for real...

Ele encostou a cabeça no peito do irmão mais velho, esperando pela prova de que isso não era um sonho. Ele não deveria ser esperançoso. Já tinha se passado quase um ano, e estava cansado da lamentação, tristeza e dor.

Mas aí ele ouviu. A constante batida do coração de Tadashi. E dessa vez não conseguiu conter as lágrimas.

O mais velho estremeceu quando sentiu as lágrimas molharem sua camisa e não sabia o que falar, então simplesmente envolveu seus braços em volta de Hiro, tentando entender o que estava acontecendo quando o menor começou a rir alegremente, até começar a chorar de novo.

- Hiro, o que- Ele tentou perguntar quando Hiro tinha se acalmado, porém este o interrompeu com outra risada.

- Eu acho... – O mais novo começou, ainda não disposto a quebrar o abraço - ... Que eu tive o pior pesadelo da minha vida.

--

Logo depois do ataque de pânico de Hiro, Tadashi notou imediatamente que seu irmão estava o seguindo como um patinho perdido.

Não que ele não gostasse. Não, era o contrário. Se significasse que Hiro estava fora de problemas, estava mais do que bom. Só que isso o preocupava, ter seu irmãozinho tão dependente dele tão abertamente.

Hiro era uma criança orgulhosa. Ele era sarcástico e faria comentários importantes quando podia. Mas toda essa perseguição fazia Tadashi se perguntar que tipo de pesadelo o mais novo teve noite passada.

Sempre que tentava trazer o assunto à tona, o garoto franzia as sobrancelhas, seus olhos evitavam os seus e balançava a cabeça, recusando-se a compartilhar qualquer detalhe. Aquilo estava começando a afligir o jovem adulto.

Às vezes ele se pegava mandando olhares preocupados para o menor quando pensava que Hiro não estava olhando.

Tadashi sabia que isso era uma péssima hora para se preocupar. Eles iriam para a exibição na SFIT hoje à noite e estava ansioso para assistir Hiro arrasando com seus microbôs. Por enquanto ele deixou o assunto passar. Afinal, o garoto contaria para ele uma hora ou outra quando estivesse pronto.

... Não é?

--

O resto do dia se passou com Hiro se preparando para então sair de casa e ir à apresentação. Sua mente se enchia com detalhes de cálculos, especulações e hipóteses. Uma voz na sua cabeça dizia para apenas aceitar a realidade, que todas suas experiências foram todas sonhos, mas duas coisas particulares o incomodavam: a realidade e a repetição.

Ele queria acreditar que esse mundo era real, e que tudo foi só um pesadelo horrível, mas esses dias estavam correspondendo completamente com os “do sonho”. Tudo ocorria exatamente como lembrava, e isso só fazia o pobre garoto querer ter outro ataque de pânico.

Havia o medo persistente de cometer os mesmo erros como os de suas memórias. Aquele grande erro, especificamente. O que estava em todos os seus pesadelos. Ele não podia perder Tadashi. Não outra vez.

Então ele foi planejando em como sair daquela situação. Deveria destruir os microbôs? Não, isso iria magoar todos que o ajudaram no projeto, e Hiro não queria ofender o pessoal sem nem ter se tornado amigos direito. Deveria fugir com os microbôs e se recusar a ir à apresentação?

Hiro balançou a cabeça. Todo mundo iria ficar doido de preocupação, especialmente Tadashi, e o adolescente não queria fazer a tia ficar doente de tanto comer por causa do estresse. E além do mais, como conseguiria carregar todos aqueles barris de microbôs sozinho?

De repente outra ideia surgiu em sua cabeça de gênio.

E se conseguisse parar o fogo?

Callaghan foi o culpado pelo incêndio, então talvez se o impedisse, Tadashi não correria para sua morte como da última vez. Mas como faria isso? Sem falar que seria muito arriscado. Ele pegou sua mochila e enfiou o neuro-transmissor lá dentro, preparando-se para o show.

--

- Preparado para a apresentação? – Tadashi pôs um sorriso no rosto para tentar tirar o olhar preocupado de Hiro.

- Com certeza. Aquela carta de aprovação já tem o meu nome impresso nela. – Hiro deu um sorriso de lado.

- Sim, eu sei que tem. – O mais velho bagunçou o cabelo do outro. – Mas não seja tão convencido assim.

- Ahh! Não bagunça o cabelo! – Hiro tirou a mão de Tadashi da sua cabeça de um jeito brincalhão.

- Você deveria cortar esse ninho de passarinho que você chama de cabelo.

- E arriscar parecendo com você? Não, obrigado. – Apesar do comentário, o jovem adulto deu outra risada, e depois ficou sério.

- Se não está preocupado com a apresentação, então o que foi? Tá com essa cara de aflito o dia inteiro.

Surgiu um silêncio esmagador.

- É por causa daquele pesadelo? – Tadashi continuou, e Hiro quase deu um pulo. O menor balançou a cabeça no sentido negativo, mas não conseguiu esconder o olhar de medo em seus olhos.

O mais velho estava quase desesperado por respostas agora. Hiro sempre foi sua preocupação número um. Sua saúde e bem estar eram sempre sua prioridade e não sabendo o que estava o fazendo ficar tão triste estava deixando Tadashi muito ansioso.

Um sentimento de inutilidade atingiu o irmão mais velho.

- Sobre o que era? Perder uma robô luta? Não entrando na universidade? – O silêncio reinou novamente. – Eu... Eu estava nele?

Hiro de repente fechou os olhos com o objetivo de esconder as lágrimas que queriam sair. Pesadelo ou não, pensar naquilo ainda machucava.

Aquilo com certeza chamou a atenção de Tadashi. Ele franziu suas sobrancelhas e começou a pensar. O pesadelo era sobre ele?

- O que eu fiz? Eu te machuquei?

- Deixa isso quieto, ta? – O menor cortou. A exaustão em sua voz estava bem escondida, mas ainda estava lá. – Eu não... Não quero falar sobre isso agora. – E com isso, começou a descer as escadas com a mochila nas costas.

Hiro estava com medo. Muito medo. A maneira que ele caía tão facilmente na velha rotina com Tadashi era inquietante. Ele pensava que ver seu irmão assim de novo mudaria alguma coisa no mais novo, porém era o mesmo de sempre. Seu irmão mais velho caçoando dele e o animando ao mesmo tempo, sendo seu suporte emocional sem nem perguntar.

Preocupando-se com ele quando não precisava.

Era como se aqueles nove meses nunca tivessem acontecido. O adolescente não conseguia tirar o sentimento de que tudo o que tinha acontecido era real. O que significava que Hiro não poderia contar a Tadashi sobre seus sonhos. Não ainda.

Mesmo não tendo uma resposta concreta, Hiro decidiu por enquanto aceitar que estava vivendo duas realidades.

Ter duas realidades fazia com que a primeira fosse o “pesadelo” em que Tadashi estava morto e Hiro tinha derrotado Callaghan e se tornado o herói de San Fransokyo.

A segunda realidade era que nada disso aconteceu e foi tudo um sonho.

E se a segunda fosse verdade, por que Tadashi ainda estava vivo? O garoto tinha voltado no tempo? Era por isso que os amigos de Tadashi não se lembravam muito de Hiro?

- Cabeção, a gente vai se atrasar! O que você ta fazendo parado aí? – A voz do mais velho tirou o garoto de seus pensamentos e ele se apressou para alcançar seu irmão.

Hiro decidiu não pensar muito nisso por enquanto. Tinha um show para apresentar.

--

A apresentação ocorreu tudo às mil maravilhas, afinal, já tinha feito isso antes. Só que foram nove meses atrás. Depois de receber a carta de apresentação, Hiro fitou Callaghan mais uma vez e depois observou Krei ir embora conversando com sua agente. O menor se perguntava se poderia mudar os acontecimentos do “pesadelo” se decidisse vender os microbôs para ele.

Hiro até considerou isso por um segundo, mas decidiu contra. Não iria mudar nada. Callaghan ainda tentaria roubá-los.

Quando o grupo saiu do prédio comemorando o sucesso de Hiro, o coração do garoto batia forte, pois sabia que estava na hora de colocar seu plano em ação.

- Ah, desculpa pessoal. – Ele exclamou, chamando a atenção de todos. – Eu deixei a minha mochila no prédio, já volto.

- Eu vou com você. – Tadashi interrompeu e Hiro engoliu em seco.

- Não, tudo bem. Podem ir na frente, eu alcanço vocês. – E antes que mais alguém protestasse, o menor entrou no Instituto.

Se suas memórias não o falham, o fogo começou logo depois que todos tinham saído do prédio, então Hiro se apressou para pegar sua mochila. Seu neuro-transmissor estava lá dentro, e teria que pegá-lo antes de Callaghan.

Como Tadashi não estava sozinho com Hiro da última vez, haveria alguém para impedi-lo de entrar no incêndio, e felizmente não acabaria queimando até a morte. O único que corria perigo desta vez era Hiro, mas Tadashi não sabia disso ainda.

O que era mais agonizante era que o garoto não tinha certeza se tudo ocorreria igual da última vez, mas ele sabia que se tivesse em posse seu neuro-transmissor, estaria seguro. Os microbôs o protegeriam.

Provavelmente.

Hiro estava tão perdido em seus pensamentos e preocupações que só percebeu o ar ficando mais quente quando o fogo já tinha se espalhado. Um dos laboratórios estava completamente em chamas e o garoto tentou não entrar em pânico. Ele já sabia que isso iria acontecer, mas reviver tudo outra vez não fazia a situação ficar melhor.

Algumas poucas pessoas corriam para fora do Instituto e Hiro tentou passar despercebido, e foi aí que ele avistou sua mochila em um canto da sala. Mas já era tarde demais. O fogo se alastrou até encher o cômodo inteiro de chamas e a mochila não era mais acessível.

- Não... – Hiro suspirou e não pôde conter uma série de tosse. A fumaça já estava em todo o lugar. Ele não conseguia mais ouvir os gritos abafados da multidão lá fora, e sua visão estava embaçada.

Desesperado, o garoto tentava sair do prédio quando percebeu que seu plano não ia mais dar certo. Ele passou em algumas frestas com dificuldade em situações em que as portas não eram mais acessíveis. Cansado e com medo, ele começava a perder as esperanças quando avistou uma forma por entre as chamas. Seus olhos se arregalaram quando suas suspeitas se tornaram verdade e pôde identificar a pessoa.

Callaghan.

- Professor, temos que sair daqui! – Hiro gritou na esperança de que o homem não o deixasse lá como fez com Tadashi. Porém era uma falsa esperança, ele sabia que isso não mudaria nada.

- Hiro?! – Callaghan correu em direção ao garoto e este percebeu que ele tinha seu neuro-transmissor em sua mão. – O que está fazendo aqui?!

Hiro não pôde responder devido à outra série de tosse que fez seu pequeno corpo tremer. Ficava cada vez mais difícil respirar e ele já não aguentava mais. Tentava focar seus olhos no professor, porém sentia um cansaço imenso só de tentar fazer isso.

Não muito depois, veio a escuridão.

--

Tadashi olhava o prédio em chamas com a visão embaçada por causa das lágrimas. Seu corpo inteiro tremia e ele não conseguia mais gritar enquanto tia Cass o abraçava, tentando consolá-lo.

Seus amigos e um bombeiro tiveram que segurar Tadashi enquanto ele tentava adentrar o Instituto por que seu irmãozinho estava lá ele tinha entrado no fogo por que ninguém estava fazendo nada?!

Ele tinha entrado no desespero e não conseguia parar de gritar enquanto as chamas dançavam dentro do prédio como se estivessem caçoando dele. Porém tudo ficou quieto quando a explosão aconteceu.

Foi então quando ele não conseguiu agüentar mais e caiu de joelhos, toda sua esperança quebrando em pedaços. Ninguém sobreviveria àquilo, nem mesmo o garoto mais corajoso que Tadashi conhecia.

Hiro era e sempre foi tudo para Tadashi. Claro que seus pais também eram importantes, mas desde que nasceu o garoto conseguiu um lugar especial no coração do mais velho. O lugar agora estava vazio e tudo o que o jovem adulto conseguia pensar era no quanto queria Hiro ao seu lado agora.

As chamas o mataram antes da explosão? Ele sentiu muita dor? Ele ainda estava sofrendo? As perguntas não deixavam a cabeça de Tadashi e estavam o levando à loucura. Só o que ele queria agora era abraçar o seu precioso irmãozinho e dizer o quanto ele o amava. Ele não deveria ter o deixado ir. Não deveria nem ter o levado à apresentação.

Ele deveria ter entrado no prédio em vez dele.


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Notas finais do capítulo

wow, ficou muito grande? sorry ;-;
Comentrios fazem uma autora feliz. :3