Beck Oliver amava a sua esposa de uma maneira estranha: ela era a sua vida, a sua musa, a sua razão de existir, essa luz... Ninguém para além de ela ocupava os seus pensamentos. O seu coração era exclusivamente para ela, ele vivia só por e para ela. Jade West era essa mulher que se tinha convertido no seu tudo e não havia lugar para mais ninguém, não existia ninguém mais além de ela.
Por isso, se entende o que ele fez quando a sua esposa morreu.

– E, o que se passa com este paciente? - Uma enfermeira perguntou ao percorrer os quartos da clinica psiquiátrica.

– Ah, ele... Ele está aqui desde um ano atrás, mais ao menos. - Respondeu Blake, a psiquiatra.

– E porquê ele está atado? - Insistiu.

– Para que não se machuque a si mesmo. - Respondeu Blake.

– Mas, ele não tem nada no seu quarto com o que se possa machucar. - Falou a enfermeira, um pouco confusa.

– Ele tentou machucar-se com as suas próprias unhas, por isso a ele as cortamos uma vez ao mês e atamos as suas mãos. - Falou Blake, entregando uma ficha médica à enfermeira.

A enfermeira todos os dias, desde a sua chegada a esse lugar, o observava. Em ocasiões, ela ficava em silêncio observando-o desde a pequena 'janela' que havia na porta de cada quarto.

– Eu vi que tu o observas por várias horas e, em muitas ocasiões, entras no seu quarto e passas mais tempo com ele do que com os teus restantes pacientes. Porquê fazes isso, Izzy? - Perguntou Blake.

– Não sei, acho que ele chama a minha atenção. - Murmurou, ficando em silêncio por um breve momento antes de continuar com a sua explicação. - Eu acho que gostaria de ajudar-lhe, é tudo. - Explicou Izzy.

– Izzy, deixa-o em paz. Ninguém deve aproximar-se dele. - Falou severamente Blake.

– Por quê? - Perguntou ela.

– Porque ele é muito perigoso. - Respondeu Blake.

– Sim, eu sei, já ouvi isso muitas vezes, mas... Porquê dizem que ele é perigoso? Ele só perdeu a sua esposa, é tudo, ele só necessita de um pouco de ajuda. - Falou Izzy.

– Ele está aqui por um homicídio de primeiro grau. - Explicou Blake.

– Todos merecem uma segunda oportunidade, Blake! Eu acho que com umas terapias poderia voltar à normalidade e conseguir liberdade condicional. - Resmungou Izzy.

– Não, ele não. Acredita em mim, ele jamais permitiria que tu ou alguém se aproxime dele, e muito menos para ajudá-lo. - Blake falou.

– Por quê? Eu acho que o problema é que ninguém soube como aproximar-se corretamente dele. - Falou Izzy, olhando para Beck pela pequena 'janela'.

– É estranho o jeito em que ele te interessa... Mas, de quê maneira ele te interessa exatamente, Izzy? - Perguntou Blake.

– Ele só me interessa como... - Houve um silêncio que durou apenas uns segundos. - Como um paciente. É algo professional. - Mentiu Izzy.

– Não, a tua obseção não é nada professional e eu pedirei que não cuides mais a Beck, antes de que cometas alguma imprudência. - Anunciou Blake.

– É que eu não entendo, por quê todos insistem em que ele é perigoso? Eu revirei várias vezes o seu historial e ninguém veio visitá-lo. Nada de familia nem amigos! - Sussurou Izzy.

– É por culpa do que ele fez. - Falou Blake.

– E o que foi tão grave o que ele fez? Ele passa maior parte do seu tempo sedado e... - Izzy começa a falar, mas Blake a interrompe.

– Ele não está sedado, esse é o seu estado natural desde que perdeu a sua esposa. - Falou Blake.

– Tu não me respondeste! O que foi a coisa tão grave que ele fez!? - Agora Izzy estava mais interessada em saber o que se tinha passado que havia causado um estado assim em Beck.

– Homicídio, eu já te disse. - Respondeu Blake.

– Sim, mas a quem ele asassinou? - Perguntou Izzy.

– Ao asassino da sua esposa, como ele mesmo disse. - Respondeu Blake.

– Então foi uma vingança muito natural, não é algo pelo que se condena. - Resmungou Izzy.

– Tu não entendes nada de isto Izzy. Ele está aqui por culpa de quem matou. - Murmurou Blake.

– Mas eu posso ajudá-lo, eu sei que posso e que eu conseguirei ajudá-lo. - Falou Izzy, levando a mão até à maçaneta da porta do quarto de Beck.

– Espera, tudo bem, tu mesma saberás a verdade. - Falou Blake, aproximando-se de uns enfermeiros que vigiavam o corredor onde estavam os quartos dos pacientes. - Levem a Beck Oliver à sala de interrogatorios e Izzy, vem comigo. - Falou, se dirigindo com Izzy à sala de interrogatórios logo depois.

Beck foi levado a uma pequena sala, pintada de branco e com uma enorme janela de vidro numa das paredes, pela qual ele não podia ver nada, mas mesmo assim ele sabia que o observavam desde o outro lado da janela.

– Bom, diga-me o seu nome, por favor. - Falou Blake.

– Beck Oliver. - Respondeu Beck.

– E o nome completo da sua esposa. - Pediu.

– Jadelyn West Oliver. - Beck respondeu.

– Sabe porquê está aqui, Beck? - Perguntou.

– Sim. - Respondeu.

– Porquê? - Perguntou Blake.

– Porque asassinei ao culpado pela morte da minha esposa...

Blake dirige o seu olhar para Izzy antes de continuar com o seu interrogatório. - Conta-nos o que passou e porque.

– Jade era o meu mundo, era tudo para mim, mas ele tirou-a de mim... Esse maldito tirou-a de mim e por isso, uma noite em que cheguei a casa, depois de ter deixado a Jade em esse caixão, sozinha, fria e morta... Subi as escadas daquele de casa e ele gritava e chorava e talvez entre os seus gritos, ele me pedia não o escutei, não valia a pena. O único que fiz foi apontar-lhe com a arma e apertei o gatilho e o matei. E, depois, me sentei sobre a cama que tinha compartido tantas vezes com ela e comecei a chorar, enquanto me lembrava de ela e... Depois tu sabes a história, Blake.
Izzy seguia sem entender o que havia de tão horrível nisso para que houvesse um escandalo.

– Não é de extranhar, ele perdeu a sua esposa e por isso fez o que fez. - Falou Izzy.

– Não é tão fácil assim, Izzy. A pessoa que ele asassinou... Se essa pessoa pudesse pelo menos ter suplicado pela sua vida, mas ela não podia fazê-lo e isso foi porque a pessoa pela qual a sua esposa morreu, tinha acabado de nascer. - Izzy olhou para Blake muito surpreendida e, em silêncio, ouviu a última pergunta de Blake.

– Beck, diz-me a quem asassinas-te.

– Ao meu filho. Ele matou a minha esposa! Esse maldito asassino tirou-a de mim para salvar a sua própria vida! Ele asassinou o amor da minha vida! - Gritou Beck.

Depois do interrogatório, Beck é levado de volta para o seu quarto e Izzy, em silêncio, muda de opinião e desiste da ideia de ajudá-lo.

Flashback

– Beck, Beck! É um menino! É um menino muito lindo! - Tori fala emocionada. O parto de Jade tinha sido prematuro e muito dificíl para Jade.

– E Jade? - Ninguém respondeu. - E Jade? Está bem? Ela está bem, certo? - Falou um pouco alto demais Beck, sacudindo violentamente Tori. - Onde está Jade? - Gritou Beck. A alegria se estava convertindo em angústia e depois...

– Está... Está morta. Não puderam salvá-la, perdeu muita sangue durante o parto e... A placenta se deslocou, mas o bebé está bem, ele está vivo... - Falou tori, vendo que a expressão de dor de beck se transformava em ódio.

– Viremos amanhã pelo bebé e por ti, precisarás de ajuda, Beck. - Falou André.

[…]

– Eu preciso de só mais um dia, uma noite... Por favor. - Pediu Beck, terminando de beber mais uma garrafa de vodka.

– Tudo bem, amanhã e manhã estaremos aqui. Trata de descansar e deixa de beber. - Pediu Cat saindo de casa de Beck, deixando-o sozinho com o bebé.

Uns minutos depois, Beck pude ouvir o choro do seu filho vindo desde o andar de cima.

– Jade, Jade, Jade... Tu... O que eu vou fazer sem ti? - Se perguntou Beck.

Suspirou e lentamente subiu as escadas e entrou no seu quarto, chorando. Se aproximou da pequena caminha que estava em um dos cantos do seu quarto e olhou para o bebé que chorava. Ele se afastou e tirou uma arma de dentro do seu criado mudo e voltou para perto do berço, apontando a arma para o seu filho.

Ele fechou os olhos e apertou o gatilho da arma, disparando ao seu próprio filho. Logo o choro diminuiu e em pouco tempo acabou. Beck deixou a arma cair ao chão e se deitou na sua cama, aquela cama que antes compartia com Jade, pedindo que Jade voltasse para ele.

Flashback

– Agora entendes tudo? - Perguntou Blake a Izzy.

– Sim, perfeitamente. Ele tem tudo o que se merece. - Falou Izzy friamente.

O que ele fez, ele fez por amor. Pelo amor que sentia e sente em relação a ela. Em realidade, ninguém sabe até onde é capaz de levar-te a loucura da obseção por um amor, sobre tudo se o que era a tua esperança de vida termina com a morte do teu amor.