Distância — Presente para Endou Matsukaze Yuuna
Capítulo Único.

Mais uma vez olhou pela janela do quarto, observando a noite que aos poucos caia sobre Inazuma, envolvendo as casas com sua escuridão reconfortante. As luzes iam se acendendo lentamente, como se travasse uma batalha contra as trevas. Mas nenhuma luz artificial conseguia ser tão bela quanto as primeiras estrelas que apontavam no Céu noturno, quase que sorrindo para ela.

Deixou que um suspiro triste escapasse por entre seus lábios rosados, se jogando na cama, deitando-se sobre as roupas que ainda estavam ali, esperando para serem colocadas na mala. Olhou para o lado, a cama de sua irmã, com a bolsa completamente pronta, fechada. Em seu íntimo desejava ser como a gêmea mais nova, esta que parecia ter aceitado muito bem a mudança drástica.

Nunca se imaginou saindo do País após o Torneio Internacional, ou melhor, nunca se imaginou indo morar fora, na Europa. Era o outro lado do mundo! Aquela decisão a machucava de toda a maneira, porém entendia completamente as consequências da escolaha de seu irmão mais velho. Perguntava-se constantemente como ele ainda conseguia sorrir alegre com isso, em seu lugar já teria se desfeito em lágrimas.

Isto é, se toda a felicidade que o moreno demonstrava não passasse de uma forma de passar força para a família. Deixou que uma pequena gota salgada deslizasse pelo rosto de pele alva, seguida opor um soluço abafado pelo traveseiro. Como assim? Já ia chorar? Prometera a si mesma que não o faria!

— Yuuna-chan? — o chamado viera junto de umas poucas batidas na porta de madeira, a fazendo enxugar os olhos e murmurar um baixo 'Entre.' enquanto se colocava sentada sobre o colchão. — Já terminou de arrumar as malas? — a mulher de cabelos grisalhos perguntou docemente enquanto adentrava o local, via ainda as peças jogadas em qualquer canto.— Ah, vejo que ainda não.

— Desculpe, Serena-san. — pediu, baixando o olhar. Sentia aquilo como uma repreensão, mesmo sabendo que não o era. — Irei terminar logo... Eu só... — assim que sentiu as mãos suaves pelo rosto se calou, encarando o par de safiras que a mais velha trazia.

— Eu já disse que não é preciso formalidades, apenas Serena está bom. — gentil como sempre, como uma mãe mesmo sendo apenas sua cunhada.— Agora, não precisa ter pressa, só vamos sair daqui a dois dias, Yuuna-chan... Sem contar que... — baixou o tom, junto da cabeça. — Sou eu quem preciso pedir desculpas...

— Mas... Serena-s... Serena, você não tem culpa de nada... Não diga essas coisas ou o Nii-san vai ficar triste... Ele largou o time só para te acompanhar... E também tem o Shinta-kun...

— Quer me fazer chorar, menina? — perguntou, levando a mão ao peito, um tanto emocionada. — Eu já entendi... Não esperava que Mamoru deixaria o futebol de lado... Mas... — por um instante parou, encarava o teto como se ali estivessem todas as respostas que precisava. — Você a Yuumi-chan não precisam nos acompanhar... Podem ficar se quiserem....

— Nós não queremos! — mentira? Mentira. Mas prometera a si mesma que jamais abandonaria o irmão mais velho. — Afinal, confirmamos que iamos, não foi? A transferência já está até assinada pela mamãe... Foi uma decisão que tomamos juntas! — pela primeira vez desde que o dia amanhecera a jovem de cabelos dourados se permitiu sorrir verdadeiramente, sendo envolvida num abraço forte pela grisalha.

Como queria acreditar nas próprias palavras.

[...]

As duas ametistas percorriam todo o local em busca dos caracóis castanhos, encontrando apenas as pontas azuladas, permitindo um curvar de lábios de canto enquanto o garoto se juntava a ela, sentando-se ao seu lado. Ele sussurrou alguma coisa em voz baixa, fazendo-a apertar o copo entre suas mão com força, fitando o chão com incrível melancolia, coisa que não era acostumada, mas que há alguns dias se tornara tão comum.

Sentiu os dedos dele repousarem sobre os ombos delicados da dama, fazendo-a lhe encarar pela primeira vez, a seriedade no olhar de Kariya era impressionante — por que tipo, era o Kariya, poxa!! —. Assentia devegar, como se lhe desse permição para fazer algo, o que a surpreendeu por um alguns momemntos, hesitando de primeira. Porém logo estava correndo sem rumo, atravesando o salão do time as pressas, deixando tudo e todos para trás, sem se importar com o que as pessoas pensariam. Tirando um sorriso de certos presentes, principalmente de Mamoru Endou.

Sua menininha estava crescendo.

[...]

Em passos apressados a dama deixou o lugar, parando para dar uma última olhada antes de seguir seu caminho, já certa do que deveria fazer. Com a determinação pulsando em seu peito voltou a correr, mesmo com pensamente pertubados não iria recuar em momento algum. Fora sua escolha. Apenas sua escolha.

Em sua cabeça lhe vinham as memórias de dias mais felizes, quando uma decisão 'mal tomada' não podia lhe tirar o jeito alegre de ser, de viver. Riu internamente consigo, tentando descobrir onde conseguira coragem para ir até ele depois de avisar que partiria para a Inglaterra. Uma súbita dor invadiu seu coração, mas esta logo foi reprimida pela imagem da torre de metal, tão perto.

Subiu as estadas o mais rápidos que podia, estancando assim que viu o garoto de cabelos castanhos claros — ou nem tão claros assim, eram mais um marrom cocô, como dizia Yuumi — olhando perdidamente para a silhueta da cidade de Inazuma, iluminada pelo alaranjado daquele Crepúsculo.

Não conseguiu dar mais uma passos sequer diante a visão, era como se fosse a própria no dia anterior, refletindo sobre tudo e todos. Não pode se controlar, dessa vez a risada veio alta, assustando o outro e o fazendo se virar, a observando enquanto ria tentando secar as lágrimas.

— O... O que... Você? — tentou dizer, mas foi interrompido por um grito embargado por choro.

— Tenma, seu idiota! O que pensou que ia fazer? Não ia comparecer mesmo nas minha despedida? — fungou uma ou duas vezes, com certa dificuldade. Não conseguiu ver o menino recuar um pouco. — Por acaso sabe o quanto está doendo? Sabe o que é deixar o País que cresceu? A pessoa que gosta? Sabe o quando essa maldita distância dói mesmo que eu ainda não tenha ido embora? — soluçou alto, o peito subia e descia sem um ritmo certo, a deixando em dúvida se era pela corrida ou pelo berreiro. — Idiota, idiota, idiota! Tenma idiota!

A loura continuava a repetir as 'ofensas' sem parar, colocando toda sua frustração para fora da maneira mais simples possível. O outro, por seu lado, achava melhor vê-la chorando do que em silêncio. Pelo menos assim sabia o que sua menina sentia. E podia machucar-se com ela.

Tenma não percebeu quando a envolveu em seus braços, muito menos quando ela repousou a cabeça em seu peito, deixando sua dor escorrer pelas jóias que chamava de olhos, sendo acompanhado pelo Endou em miniatura, que também deixava as lágrimas caírem enquanto sibiliva palavras de conforto.

Levantou o queixo de Yuuna, olhando-a docemente por poucos segundos antes de tomar as lábios rosados, os unindo com os seus num beijo apaixonado. Num talvez último beijo apaixonado.

E ali, ao cair do anoitecer, um nova promessa fora feita, a promessa de que iriam se encontrar novamente, sem se importar com quanto tempo se passaria. De testemunhas tinham o luar e as estrelas — e um casal curioso e nada discreto que inventou de tirar trezentas e cinquenta e sete fotos dos adolescentes —. Mas mesmo assim valera a pena.

No dia seguinte ela estava partindo, com a distância novamente a lhe machucar. A saudade fora a única coisa que lhe restou.

...

...

...

...

...

Fim?