Rota 12 escrita por Miller


Capítulo 1
Único.


Notas iniciais do capítulo

Hey amores, tudo certo?
Então, eu sei que deveria estar escrevendo para minhas longs, mas a ideia desta fanfic surgiu e eu não consegui ignorá-la, sério.

Acho tão bonitinhas aquelas paixões de ônibus, então porquê não escrever algo relacionado e que fosse Jily?

Eis que surgiu Rota 12 rsrsr

Ela não é muito explicativa nem muito aprofundada na vida de James ou de Lily, apenas narra como se conheceram até o momento em que se beijaram pela primeira vez.

Adorei escrevê-la, mesmo sem saber se ficou algo bom de ser lido ou não.
Escrever PoV James é sempre um desafio para mim e eu amo fazê-lo.

Saiu maior do que o imaginado, mas eu espero que gostem e que, se lerem até o fim, contem para mim o que acharam, certo?



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SETEMBRO, 21, 2003.

Cuidado com a rota, James.

Era o que repetia a mim mesmo ao subir para o ônibus da Rota 12 e sentir o primeiro solavanco quando o mesmo deu a partida.

Procurei com os olhos um assento vazio onde pudesse me sentar e encontrei junto a uma garota colorida de cabelos curtos e ruivos. Por colorida me referia as suas meias arrastão listradas em rosa e laranja, all star vermelho, sua camiseta branca com detalhes em roxo e azul e uma mochila preta com listras vermelhas.

É claro que, embora eu estivesse vestindo uma camiseta um pouquinho chamativa de Digimon (em preto, verde e azul claro com uma estampa do Agumon), meu anime favorito, nada se comparava com o choque ao olhar na direção da garota.

Ignorando sua escolha de cores obviamente espalhafatosa, encaminhei-me para o assento vazio ao seu lado. Estranhei o fato de ela estar sentada para o corredor e não na janela, mas agradeci internamente, pois adorava olhar a paisagem.

– Com licença – pedi ao apontar para o assento vazio recebendo um breve aceno de concordância enquanto ela sentava de lado para dar espaço à minha passagem.

Sentei ao seu lado e me ajeitei um pouco incerto de como me comportar perante aquela situação.

A garota, porém, ignorava-me completamente, seus olhos focados em um livro que não percebera estar em suas mãos.

Dei de ombros internamente e voltei a concentrar-me nas palavras de minha mãe antes de sair de casa.

Cuidado com a rota, James.

Ela tinha começado a trabalhar em turno integral, o que significava que não poderia mais me acompanhar no caminho até a escola. É claro que ela estava extremamente preocupada, afinal de contas deixar um garoto de dez anos andar sozinho de ônibus em Londres não era uma coisa com a qual ela ficava feliz em fazer.

Mas, bem, não era como se tivéssemos muita opção. Meu pai saia muito cedo para o trabalho e levava o carro, portanto minha mãe e eu dispúnhamos apenas de trens e ônibus para fazermos nosso caminho escola/trabalho/casa.

Eu adorei a ideia de poder, finalmente, andar sozinho. Era um sinal de responsabilidade e eu me sentia orgulhoso de mim mesmo por estar fazendo aquilo por três dias sem me perder.

Minha mãe trabalhava na estação Waterloo e minha escola, Hogwarts, ficava próxima à Praça Trafalgar Square, o que significava que teria de pegar o Rota 12 para descer em frente à praça e, na saída da escola, pegar o ônibus no mesmo lugar e descer no final da Ponte Westminster, caminhar sete quarteirões e chegar ao Waterloo para esperar minha mãe sair do trabalho e caminharmos mais três quarteirões até chegarmos a nossa casa.

Amava demais a sensação de liberdade que aqueles momentos, antes de chegar em casa ou à escola, me proporcionavam.

Era quase como ser um adulto. Quase.

A garota ao meu lado soltou um risinho e eu voltei meus olhos – que antes estavam observando o rio um pouco ao longe sem nem mesmo perceber – para ela.

Ela pareceu perceber meu olhar e então me encarou.

Suas bochechas sardentas ficaram em um tom de vermelho escarlate enquanto ela rolava os olhos para mim e dava de ombros.

– Estou lendo – falou de forma explicativa e baixou seus olhos novamente para o livro em suas mãos.

Franzi meu cenho ao perceber que era uma edição de Sakura Card Captor, um de meus mangás favoritos embora, é claro, jamais fosse admitir para qualquer pessoa, afinal era coisa de meninas.

Antes que eu pudesse comentar qualquer coisa sobre o mangá, porém, a menina levantou-se repentinamente, lançando um olhar rápido em minha direção antes de se afastar para esperar a próxima parada.

Ela desceu próximo ao Big Ben, uma parada antes da minha.

Dei de ombros para a garota colorida estranha, voltando meus olhos para a janela enquanto observava o rio meio alaranjado devido ao pôr do sol enquanto o ônibus fazia seu caminho pela Ponte Westminster.

SETEMBRO, 22, 2003.

Mais uma vez, ao entrar no ônibus, avistei a garota. Ela ainda estava com a mochila da tarde anterior, mas havia trocado sua meia arrastão e saia por uma calça jeans cor-de-rosa e sua camiseta por um casaco lilás enquanto seus cabelos curtos estavam presos de qualquer jeito em um coque engraçado no lado de sua cabeça.

Estava com uma nova edição de Sakura Card Captor nas mãos e seus olhos nem desviaram quando pedi licença para sentar no assento ao seu lado. Mais uma vez ela estava sentada ao corredor.

Não prestei muita atenção nela, nem em seu novo tênis esporte colorido que parecia brilhar cada vez que ela apoiava o pé no piso do ônibus.

Deixei meus olhos se perderem pela paisagem, desviando-os da janela somente quando a garota levantou-se para caminhar até a saída.

Meus olhos a acompanharam até o ônibus dobrar a esquina e eu perde-la de vista.

FEVEREIRO, 28, 2005.

– Ah cara, nem acredito que sua mãe conseguiu convencer a velha Walburga a me deixar passar o final de semana com vocês – Sirius comentou de forma alegre enquanto praticamente pulava para dentro do ônibus, segurando-se a uma das colunas de apoio para me encarar.

Sorri para ele enquanto atirava minha mochila sobre um assento vazio mais ao fundo do ônibus, sentando-me logo em seguida.

Sirius sentou ao meu lado.

– Você sabe que minha mãe faz mágica quando quer – disse-lhe de forma divertida.

– Amo aquela mulher! Livrou-me de um fim de semana inteiro com Regulus – Sirius fez drama, como sempre.

O ônibus então deu a partida, mas parou quase no mesmo segundo.

– O que será que aconteceu? – Sirius resmungou enquanto esticava o pescoço para ver o que estava acontecendo mais à frente. – Ah, é só um passageiro atrasado – disse e então voltou a se encostar de forma preguiçosa no banco. – Tá com seu CD player aí?

Assenti e busquei em minha mochila pelo aparelho, puxando-o junto de seus fones enquanto o atirava para Sirius.

– Fique à vontade, mas só tem o CD do Simple Plan aí dentro. Não quis trazer os outros – disse-lhe.

– Ótimo – ele respondeu de forma alegre enquanto ligava o player e colocava os fones no ouvido.

Estava prestes a voltar minha atenção para a janela – pois o ônibus tinha voltado a andar – quando meus olhos foram atraídos por uma cabeleira ruiva que se movia em direção ao fundo do ônibus.

Reconheci-a imediatamente.

Era a menina colorida, a qual só tinha visto duas vezes na vida. Só que então estava um pouco diferente.

Sua estatura tinha aumentado bastante desde a última vez que a vira, seus cabelos estavam mais compridos e presos em um rabo-de-cavalo. Suas sardas estavam menos aparentes, mas sua cor estava um pouco mais dourada, o que me fez imaginar onde ela poderia ter estado antes de Londres, afinal de contas não era como se alguém pudesse pegar qualquer bronzeado naquele frio invernal. Suas vestes, porém, continuavam nos mesmos tons berrantes de sempre.

Ela sentou-se no banco à minha frente, no lado do corredor, e colocou fones no ouvido enquanto observava o teto do ônibus.

Não deveria ter levado um mangá para ler então. Conseguia ouvir, mesmo à distância, os berros de uma Avril Lavigne cantando Complicated de seus fones.

Meus olhos passearam em sua direção diversas vezes, encarando seus cachos ruivos desfeitos no rabo de cavalo, enquanto tentava não imaginar muito onde é que ela tinha andado para ter sumido por tanto tempo da Rota 12.

Ela desceu no mesmo lugar.

MARÇO, 30, 2007.

– Tudo bem mãe, eu pego para você – falei enquanto fechava a porta de casa ainda ouvindo as últimas instruções de minha mãe. – Te amo!

Corri pelos degraus da entrada e acelerei ainda mais meus passos tentando ultrapassar os dez quarteirões que me separavam da parada de ônibus em menos de quinze minutos.

Quando cheguei, o suor escorria de minhas têmporas e minha respiração saia ofegante. Era um sábado bastante quente o que indicava que o inverno tinha mesmo ido embora para dar lugar à primavera.

Um minuto depois – ainda sem ter me recuperado da maratona – o ônibus despontou na esquina, parando logo em seguida a alguns passos de distância.

– Boa tarde James – Fred, o motorista, cumprimentou-me enquanto me encarava de forma divertida. – Teve de correr hoje?

– É que minha mãe tinha instruções demais para me dar – rolei os olhos enquanto sorria.

– Mães são assim mesmo – Fred disse e então voltou sua atenção para as marchas do ônibus.

Assenti em conformismo enquanto me afastava para o meio da condução. Todos os assentos estavam ocupados, portanto só me restou ficar em pé, apoiado em uma das colunas de ferro, olhando pela janela.

Minha mãe precisava que eu buscasse para ela algumas roupas na lavanderia, portanto antes de ir à casa de Sirius, precisaria descer na Oxford Street e fazer o mandado de minha mãe, caminhar mais algumas quadras, pegar o metrô e atravessar a cidade para poder jogar algumas horas da mais nova aquisição de Sirius, o Playstation 3, e então refazer todo o caminho novamente, até chegar a minha casa antes das oito e meia.

– Hey – alguém me chamou, arrancando-me de meus devaneios, e, ao virar-me para ver de quem se tratava, encontrei com um Remus sorridente.

– Hey – retribui o cumprimento, sorrindo para meu amigo. – Nem me dei conta de que já tinha chegado à sua parada.

– Você parece entrar em um mundo aleatório cada vez que anda de ônibus Jay – Remus rolou os olhos e eu dei de ombros.

– Só gosto de observar a paisagem.

– Mas e aí, conseguiu locar os jogos? – o outro perguntou, mudando de assunto de forma abrupta.

Levantei meu pulso indicando a sacola que ali estava. Eu estivera uma longa hora naquela manhã no Game Place, uma locadora de jogos próxima a minha casa, escolhendo alguns para jogar com Sirius e Remus.

– Need for Speed, God Of War II, Super Mario – Remus observava os jogos de forma analítica ao me encarar com os olhos brilhando. – Super Mario World! Cara passam os anos e este continua sendo o melhor vídeo game do mundo!

– Concordo totalmente – assenti e então embrenhamo-nos em uma conversa intensa sobre jogos antigos versus jogos novos e o quanto os bits faziam diferença para os gráficos.

Foi num debate sobre os jogos de 8 bits serem muito melhores do que os de 16 que a vi novamente.

Estávamos cruzando a Piccadilly Circus quando seus cabelos ruivos brilharam em minha direção.

Foi rápido, mas o suficiente para reconhecê-la em seus jeans amarelos e camisa xadrez verde água, enquanto atravessava de forma apressada uma rua da qual não fazia ideia o nome.

Parecia com pressa, mas não pude ver mais nada, pois o ônibus fez uma curva e seus cabelos ruivos ao vento foram à última coisa que meus olhos registraram a seu respeito em um longo período de tempo.

ABRIL, 1º, 2014.

– Já disse que não quero nada com ela – murmurei de forma exausta ao telefone. – Peter, estou desligando, o ônibus está chegando. Tchau.

Encerrei a chamada em um movimento brusco dos dedos, dando alguns passos para frente e sinalizando para o motorista.

– Boa tarde James – Gerald cumprimentou-me assim que subi as escadas para dentro do ônibus. Retribui com um aceno de cabeça, não muito simpático depois da ligação de Peter.

Sentia-me irritado pela insistência de meus amigos em tentarem me empurrar uma garota pela qual eu não nutria nenhum tipo de atração ou sentimento. Para falar a verdade eu estava começando a odiá-la, mesmo que ela não fizesse ideia de que era o motivo para muitas discussões entre nós quatro.

Sentei-me de qualquer jeito em um assento próximo à janela mais ao meio do ônibus. Mais uma vez xinguei-me por não ter trazido os fones comigo aquele dia. Tinha acordado atrasado e não tivera muito mais tempo além do de me lavar rapidamente e sair desembestado pela porta da frente, correndo para não perder minha condução.

Senti o celular vibrar em minhas mãos e baixei os olhos para a tela.

Uma notificação de mensagem no Whatsapp indicava que Remus havia falado comigo.

Remie (Moony):

Jay

Taí?

Q q acha de irmos ao Três Vassouras hj?

James Potter:

Hey, to sim

Três Vassouras?

Tá querendo me importunar também com essa história da Emmeline??

E só para constar: isso daí soou muito gay

Remie (Moony):

Não soou coisa alguma, porque estamso no wpp

Estamos*

E não, não quero falar desse assunto

Para falar a vdd quero ri lá pq a Dorcas vai estar

Sacou?

Ir*

James Potter:

DORCAS? UUUUUI REMUXOO

Contanto que você pageu, porque to sem grana nenhuma

Pague*

To dentro

Remie (Moony):

Ok

Te ligo mais tarde

Abç

James Potter:

Abç???

Mais gay ainda!

HUHAUAHUAHUAH

Ta bom me liga babyyyy

Remie (Moony):

_|_

James Potter:

Sorri para o telefone ao perceber que ele não iria continuar a falar. Fiz questão de ignorar as 110 notificações de “Peter e Sirius // Aposta para amolecer o coração do Jayjay” e voltei minha atenção para o Instagram, rindo mais um pouco com uma foto ridícula de Remus comendo pizza com o irmão mais novo.

– Posso me sentar? – a voz rouca e feminina me assustou tanto que quase joguei o celular longe.

Ergui meus olhos para encontrar com orbes muito verdes encarando-me de forma divertida.

E, é claro, reconheci-a de imediato.

– Claro – falei com a voz um pouco falha, coisa que xinguei mentalmente enquanto puxava minha mochila do assento vazio ao meu lado.

– Obrigada – ela disse.

Estava muito diferente.

A garota colorida não mais vestia coisas coloridas. Suas calças jeans, all star preto e camiseta branca contrastavam de forma gritante com a última imagem que possuía dela em minha mente.

– Não tem de quê – falei e imediatamente senti-me desconfortável com sua presença.

Guardei o celular no bolso do moletom, sentindo-o vibrar – provavelmente mais notificações de “Peter e Sirius // Aposta para amolecer o coração do Jayjay” – e preparei-me para voltar (ou tentar) minha atenção para a janela quando a garota falou comigo novamente.

– Quer um? – perguntou, fazendo-me encará-la de forma confusa.

Esticou a mão em minha direção e eu percebi que ela possuía dois chicletes coloridos ali.

Eram os meus favoritos, mas a lembrança de meu dentista resmungando e xingando quando fazia a obturação de um de meus dentes me fez hesitar.

– Meu dentista me mataria – falei e seus lábios abriram-se em um meio sorriso.

– O meu também – ela disse enquanto abria um chiclete e colocava na boca. – Mas ele é muito chato e eu realmente não me importo. Se eu fosse levar em conta tudo o que ele diz já teria batido recordes de operações bucais em menos de cinco anos – rolou os olhos. – Você usou aparelho? – perguntou de repente olhando para minha boca de forma analítica, deixando-me extremamente constrangido.

Senti vontade de franzir meus lábios e me encolher para longe de seu olhar, mas sabia que seria ridículo, portanto me obriguei a responder de forma simpática.

– Sim – disse e pareceu-me frio demais então continuei. – Por quê? – não precisava fingir que estava interessado, porque afinal de contas eu estava mesmo.

A garota voltou seus olhos verdes para os meus, sorrindo enquanto dava de ombros.

– Achei que sim – ela falou. – São bem retinhos.

Fiquei sem saber o que dizer, afinal de contas o que é que se dizia para uma estranha – tudo bem, nem tão estranha assim – quando ela perguntava sobre seus dentes?

– Obrigada... Eu acho – murmurei.

– Não tem de quê – retribuiu e então ficamos em um silêncio incomodo.

Pelo menos para mim estava sendo incomodo, então foi simplesmente muito mais forte do que eu ter de perguntar:

– Qual o seu nome?

A garota voltou a me encarar, desta vez suas bochechas coradas deixando suas sardas ainda mais nítidas.

Senti vontade de afastar o fio de cabelo ruivo que lhe caia por sobre a bochecha esquerda.

Ela o assoprou para longe antes de responder:

– Laura – falou. – E o seu?

– James – disse.

Laura. Parecia-me estranho. Não seria um nome que teria imaginado para a garota cheia de vida que curtia animes, mas, bem, não era como se eu fosse um expert em nomes.

– Prazer James.

– Prazer Laura – falei e ela sorriu ainda mais.

Tinha covinhas em cada uma das bochechas e seus olhos pareciam ficar mais verdes quando sorria.

Sacudi-me mentalmente por prestar atenção naqueles detalhes.

Um pouco mais de silêncio constrangedor. Comecei a sentir minhas mãos suarem, mas o que é que poderia falar para quebrar aquele clima?

E porque é que eu estava preocupado em quebrar aquele clima, afinal de contas?

Era só mais uma passageira normal, como qualquer outro que sentasse ao meu lado. Não era como se eu tivesse qualquer obrigação em manter uma conversa com ela.

Então, enquanto eu ainda estava perdido naqueles pensamentos confusos, a garota – Laura – se levantou de repente, virando-se para mim com um sorriso ainda nos lábios.

– Tchau James – falou e deu as costas, parando logo em seguida. – E, bem, meu nome é Lily.

Senti minha testa franzir em confusão.

– Lily? – perguntei.

– Feliz 1º de Abril – ela entoou com a voz divertida.

– Para você também! – não pude deixar de sorrir também. – E, para falar a verdade, acho que Lily combina mais com você – as palavras escaparam de minha boca. Que droga era aquela?

Seu sorriso aumentou ainda mais.

– Tchau.

– Tchau Lily – falei e a observei se afastar, descendo na mesma parada de sempre.

Até chegar em casa e um bom tempo depois meus dentes retinhos não pareciam querer se guardar dentro de minha boca, fazendo-me sorrir como um idiota o dia inteiro.

MAIO, 8, 2014.

Gata do Moony:

James, o Remus tá ai?

James Potter:

Oi Dorcas!

O Remus saiu daqui não faz muito, disse que tava indo p casa dormir pq não tinha dormido direito noite passada

( ͡° ͜ʖ ͡°)

Tadinho Dory, o cara tem treino de futebol hoje as 7

Gata do Moony:

Obrigada pela informação

Vou no treino falar com ele

E, ah, antes que me esqueça

Vá se ferrar!

_|_

~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

Six (Pads) mandou uma mensagem em “Peter e Sirius // Plano para amolecer o coração do Jayjay”

Six (Pads):

Emmeline maior gata, olha Jay

[Imagem]

[Imagem]

Fiquei um pouco mais para assistir as líderes do time

Olha q q isso amigo

Tá dando sopa pro Jayzão

Cadê teu lado homem?

Deixa de ser veado e pega logo!!!!

Franzi meu cenho ao abrir a imagem que Sirius me mandara. Era do ginásio da Universidade de Hogwarts. A grande área coberta com piscina era familiar para mim já que estava entrando em meu quinto semestre de Direito, assim como Emmeline Vance vestida de líder de torcida, minha colega – e também a garota que Sirius e Peter tentavam a todo custo empurrar para cima de mim em uma ridícula aposta entre eles de quem seria capaz de me convencer a gostar de alguém -, porém o que chamou minha atenção foram algumas mechas de cabelo ruivo no canto da imagem.

Não consegui ver direito, mas senti um solavanco no estômago.

James Potter:

Siiiiiiix, manda oura foto

Six (Pads):

Huuuuuum, se interessou é?

Esse é meu garoto!

Peraí

...

[Imagem]

[Imagem]

Olha essas pernas!

Meus batimentos cardíacos aceleraram de forma desregulada quando abri a próxima imagem. Emmeline estava fazendo qualquer coisa com a perna para o alto, mas não prestei atenção.

A garota ruiva estava mais em foco, um pouco mais atrás, vestindo o uniforme do time feminino de futsal e eu tinha certeza de que a reconheceria em qualquer lugar.

MAIO, 10, 2014.

Mais uma droga de treino de futebol e me sentia exausto.

Não era como se eu não gostasse, mas naquele dia eu estava mais ansioso para o término do treino do que qualquer outra pessoa em qualquer outro lugar, portanto quando o treinador apitou em sinal de finalização, senti uma grande onda de alívio me percorrer.

Corri para o vestiário, tomando uma ducha e, logo em seguida, vestindo-me rapidamente na tentativa de sair dali antes que Sirius ou Peter interferissem meu caminho.

Passei voando pelos corredores, voltando para o campo e subindo as arquibancadas para enxergar melhor a quadra de futsal que ficava quase ao lado.

O que pretendia fazer era uma incógnita, afinal de contas não era como se a conhecesse.

Não realmente pelo menos.

Seus cabelos ruivos despontaram no lado oposto do campo e meus olhos de imediato fixaram-se sobre ela.

Era Lily Evans, estudante de Relações Internacionais, vinte anos e transferida de Cambridge para a universidade de Hogwarts no último semestre – todas estas informações retiradas do edital de transferência do site de Hogwarts (em uma pequena pesquisa feita no dia em que reconheci a garota na foto de Sirius).

A garota conversava de forma animada com outra - que reconheci como Marlene McKinnon, também minha colega em Direito – enquanto colocava uma mochila sobre as costas. Ambas vestiam o uniforme do time de futebol da universidade, embora Lily Evans utilizasse um colete de reserva por cima de suas vestes.

Ao perceber que o treino já havia terminado e que deveria sair dali antes que a garota percebesse que a estava observando, desci as arquibancadas o mais rápido que pude sem fazer muito barulho.

Minha sorte acompanhou-me até ali, porém, porque, ao dobrar o corredor que me levaria para o estacionamento da universidade, senti uma das alças de minha mochila arrebentar em meu ombro.

– Merda – xinguei enquanto me abaixava para juntar alguns papéis que haviam escapado com a queda.

– Quer ajuda? – como era possível que sua voz fosse tão familiar para mim sendo que ela só tinha falado comigo uma única vez dois dias atrás?

– Obrigada – murmurei quando ela estendeu alguns papéis para mim e os enfiei de qualquer jeito dentro da mochila, sentindo-me extremamente constrangido.

Era a primeira vez que a via sem estar dentro de um ônibus e seu rosto suado e corado – provavelmente devido ao treino – estava próximo demais, fazendo-me perceber pela primeira vez em anos o quanto ela era bonita.

– De nada – ela falou e então afastou uma mecha ruiva que insistia cair em seus olhos, encarando-me de forma confusa logo em seguida. – Você é o moço do ônibus! – sorriu.

– E você é a garota do ônibus – completei, sentindo-me corar com sua forma absurdamente natural de falar.

Como é que ela conseguia estar tão à vontade naquela situação?

É claro que não era ela quem passara anos e mais anos imaginando onde é que estaria uma pessoa que vira apenas algumas vezes em uma rota de ônibus qualquer.

– Eu mesma! – sorriu ainda mais. – Lily Evans – estendeu a mão em minha direção.

Segurei-a meio sem graça, sentindo-me a cada minuto mais idiota por não saber como reagir.

Deixe de ser um veado James, minha consciência – que por ironia do destino tinha a voz de Sirius – soou em minha mente, fazendo-me reagir, apertando a mão da garota com um pouco mais de firmeza.

– James Potter – falei.

– Muito prazer James Potter – ela disse e então soltou sua mão da minha, ajeitando a mochila nas suas costas e se afastando alguns passos. – Tenho que ir, estou quase atrasada – e então deu as costas.

Somente quando ela estava na metade do corredor é que me dei conta de uma coisa.

– Hey! – chamei-a, fazendo-a voltar-se para me encarar. – Você vai pegar Rota 12? – perguntei em um tom que pensei ser despreocupado enquanto segurava a mochila na mão para não correr riscos de outro acidente acontecer.

Lily Evans sorriu para mim de forma culpada.

– Hoje não, tenho de ir visitar minha irmã antes de ir para casa – rolou os olhos e sorriu mais um pouco. – Mas amanhã quem sabe não pego carona com você? Tchau James – e correu para longe.

– Tchau Lily – falei sentindo seu nome deixar um gosto doce em minha boca.

Que coisa mais gay.

JUNHO, 1, 2014.

– Acho que hoje vou aceitar sua carona James – falou enquanto arrancava um de meus fones de ouvido para que eu a escutasse. – Não te vi mais depois daquele dia.

Voltei meus olhos de forma confusa para a garota ao meu lado. Era Lily Evans. Seus cabelos ruivos soltos em sua volta enquanto seu habitual sorriso gigante estampava seus lábios.

– Hey! Não te vi também, andou muito ocupada? – cumprimentei-a sem jeito, vendo-a aproximar o ouvido do fone e franzir o cenho para o que ouvia, sem se dar ao trabalho de responder minha pergunta.

– Arctic Monkeys? – ela perguntou ao voltar a me encarar. – Que estranho.

– Estranho? É uma das melhores bandas da atualidade – retruquei. – E você é uma intrometida – mas eu estava sorrindo então meu tom não saiu ríspido como pretendia.

– É o que minha queria irmã vive falando – deu de ombros. – Não que me importe muito.

– Você tem irmãos? – perguntei com a curiosidade falando mais alto do que qualquer senso de formalidade que pudesse ter.

– Uma irmã só, que eu juro, parece um cavalo. Mas minha mãe insiste em dizer que nasceu de parto normal – rolou os olhos. – Se ela prefere mentir para si mesma...

Ri com aquilo. Lily parecia ser uma daquelas pessoas fáceis de manter o diálogo.

– Mas e você, tem irmãos?

– Não, sou o único e maravilhoso – disse de forma descontraída, fazendo-a bufar.

– E modesto.

– É o que dizem – falei.

– Você não parecia assim quando usava aquela camiseta do Agumon – ela comentou de forma distraída, parecendo completamente alheia à minha expressão de choque ao ouvir suas palavras.

Senti-me completamente sem fôlego por alguns segundos ao perceber que não fora o único tão perceptivo ao longo dos anos com relação à “moça do ônibus”.

– Bem, suponho que você não parecia alguém tão legal também, levando em conta que você mais parecia uma árvore de Natal do que uma pessoa com tênis brilhantes e mangás – retruquei, fazendo-a ficar da cor de um tomate.

Achei aquela cor tão bonita em sua pele que me peguei observando suas bochechas mais do que seria considerado o normal, portanto desviei para seus olhos que expressavam descrença.

– Pelo menos meu gosto musical era melhor que o seu naquela época – falou de forma ríspida, suas orelhas avermelhando ao assoprar uma de suas mechas rebeldes para longe do rosto.

– Está se referindo à Avril Lavigne em Complicated? – falei e ri de forma sarcástica – Nem pensar.

Lily abriu a boca para responder, mas então o nosso ônibus parou bem à nossa frente, espalhando um pouco de água da chuva do dia anterior aos nossos pés.

Fiz sinal indicando para que ela entrasse na frene, recebendo um rolar de olho muito característico seu enquanto subia logo atrás.

– Sabe, só não digo que você é um pervertido porque eu realmente adorava Digimon – ela falou ao parar ao lado de um banco duplo e indicar para que eu sentasse.

– Não gosta de sentar na janela? – fiz a pergunta que há muito me corroía.

– Tenho labirintite aguda quando se trata de observar paisagens que passam por mim um pouco acima de quarenta quilômetros por hora – falou e sentou ao meu lado esticando as pernas e colocando a mochila no colo.

– E ainda assim joga futsal? – perguntei.

– Ah, não é como se eu fosse correr muito mais rápido do que isto – deu de ombros. – E você joga futebol? Quando entrei para Hogwarts tinham muitos comentários sobre o novo capitão do time James Potter. Não sabia que era você. Pensei que nerds não gostassem de esportes.

– Eu não sou nerd.

– Suas roupas antigas indicavam o contrário.

– E suas roupas antigas indicavam que você era uma louca psicodélica – encerrei o assunto fazendo-a rir.

Continuamos o caminho até a parada em Big Bem, onde Lily sempre descia, falando qualquer coisa sobre qualquer assunto de forma animada e fácil. Era como se nos conhecêssemos há muito tempo.

O que, aparentemente, era a verdade.

Lily me deu um beijo na bochecha antes de se levantar e sair.

– Obrigada por me distrair na viagem, esqueci meus fones – e sorriu, caminhando até a porta e descendo em sua parada.

SETEMBRO, 1º, 2014.

Minha mochila pesava em minhas costas com os vários cadernos sem necessidade que minha mãe comprara para que levasse para a aula. Como se eu fosse mesmo utilizá-los.

Caminhava de forma lenta pelos corredores em meio à aglomeração de alunos que percorriam os corredores antes da primeira aula.

– Jay! – ouvi Sirius me chamar e voltei-me na direção de sua voz, encontrando-o apoiado à porta de um dos armários de vassouras.

– E aí – cumprimentei-o, puxando a mochila para minha frente, abrindo-a e retirando um caderno de lá. – Tome um presente de minha mãe – falei.

Sirius pegou o caderno e franziu o cenho, encarando-me logo em seguida.

– Não uso cadernos – ele disse, mas guardou-o mesmo assim em sua bolsa.

– Não a deixe ouvir isto. Às vezes acho que uma das maiores realizações da vida dela é poder comprar materiais escolares para mim imaginando que ainda sou uma criança.

Sirius riu do comentário no exato momento em que Peter chegava até onde estávamos.

– James, sinto em informar, mas Emmeline Vance está oficialmente namorando com Edd Prince – falou de forma funesta.

Senti um sorriso se formar em meu rosto.

– O quê? – Sirius perguntou e então deu um tapa em minhas costas. – Você é um veado mesmo! Deixou de pegar aquele pedaço de mau caminho! Perdeu para o Prince! Já teve dias melhores Prongs – falou.

Revirei os olhos para os dois, abrindo a boca para responder, mas então meus pensamentos ficaram confusos quando Lily Evans passou correndo por onde eu estava, sem nem se dar conta de que batera em meu ombro na passada.

Meus olhos a acompanharam todo o caminho até que seus cabelos ruivos sumiram pela porta de entrada.

– Já volto – falei ignorando completamente os olhares confusos que Sirius e Peter lançavam em minha direção.

Corri então – minha mochila bem mais leve depois de me livrar de um dos cadernos -, desviando de pessoas seguindo os passos da garota ruiva que parecia estar com pressa.

Fui avistá-la somente algumas quadras depois, correndo em direção à parada de ônibus de Trafalgar Square.

– Lily? – chamei-a quando finalmente consegui alcança-la. – Pensei que não conseguisse ver paisagens acima de quarenta quilômetros por hora.

A garota virou-se para mim, seus olhos muito verdes inchados no que, obviamente, era uma expressão de choro.

– Aconteceu alguma coisa? – perguntei, sabendo que era idiota perguntar, até porque não éramos amigos nem nada do tipo.

– Eu só... Bem, estou indo para casa – murmurou enquanto suspirava.

– O que aconteceu? – perguntei enquanto me aproximava um pouco.

– Não – ela disse e então suspirou, passando a mão pelo rosto, espanando as lágrimas remanescentes e me encarando novamente. – Na verdade é minha irmã. Ela consegue estragar meus dias quando quer.

– A que parece um cavalo? – perguntei tentando fazê-la sorrir. Percebi que não gostava nenhum pouco de vê-la naquele estado.

– É – ela concordou sorrindo fracamente. – Está para se casar e ontem... Bem, ontem era o dia da segunda prova do vestido e ele acabou não fechando – deu de ombros. – Ela começou a colocar a culpa em mim, como sempre...

– Em você? – perguntei em confusão. – Mas o que é que você tem a ver com ela estar gorda demais para não entrar no vestido.

Lily soltou uma risadinha.

– Talvez eu tenha alguma culpa por fazê-la sair para comer sorvete frequentemente a fim de acalmar os nervos – deu de ombros. – Mas ela foi mais cavala que o habitual.

– Por isso estava correndo?

– Sim – assentiu. – Ela cursa o último semestre de Letras em Hogwarts e decidiu dar o seu show em local público desta vez – fungou.

– Que idiota – falei já odiando aquela irmã de Lily.

– É – a garota concordou. – Mas logo passa. Eu só pensei que fosse ter um primeiro dia letivo melhor, mas tudo bem.

– Talvez possa mandar bombons para ela para se desculpar – sugeri de forma divertida, fazendo-a rir mais uma vez.

– Ótima ideia James – e sorriu mais. – Lá vem meu ônibus. Nos vemos – e então se afastou para subir na lotação, deixando-me sozinho e observando-a se afastar.

SETEMBRO, 21, 2014.

Peter (Wormail):

Vou saindo aki Jay

Segunda levo o pen drive com as músicas

Tchau

James Potter:

Obrigada Pet

Nos vemos

Tchau

~~~~~~~~~~~~~~

Gata do Moony:

James, estamos indo para o Três Vassouras daqui a pouco

O que acha de ir conosco?

Sirius vai ir também

James Potter:

Encontro vocês lá Dory

Bj na bochecha se não o Remie fica com ciúmes

Gata do Moony:

Você precisa de uma namorada, sério.

– Mãe – gritei de meu quarto enquanto levantava-me da cama e me encaminhava para o banheiro a fim de tomar um banho rápido.

– Sim Jay?

– Vou ir ao Três Vassouras com o pessoal – gritei.

– Tudo bem, só não se esqueça de trancar tudo antes de sair. Seu pai e eu já estamos de saída. Te amo!

Pude ouvir o barulho de carro enquanto entrava para o banho.

Meu pai e minha mãe iam sair em uma de suas noites de casal. Eu estava programado para ficar vegetando em cima das cobertas assistindo Game of Thrones toda a noite, mas então a proposta de Dorcas parecia muito mais convidativa.

Fechei as janelas e as portas, trancando a casa com minha chave extra antes de sair e me encaminhar até a parada de ônibus.

Eu poderia pegar um táxi, mas sempre gostara muito de andar de ônibus, isto para não falar que era muitas libras mais barato do que uma corrida.

Faltavam apenas algumas quadras quando a ouvi.

– Hey! – virei-me para ver Lily correndo em minha direção. – Vai pegar o ônibus?

– Lily? O que é que está fazendo por aqui? – perguntei ao vê-la arfar devido à corrida.

– Vim à casa de uma amiga. Não sei onde fica a parada – e sorriu de forma culpada. – Queria me livrar, o namorado dela chegou e eles estavam começando a se agarrar seriamente.

– Ugh – resmunguei e ela assentiu com a cabeça. – Eu te levo até a parada, estou indo para lá também.

– Não sabia que morava por aqui – ela comentou, seus cabelos ruivos cheios de frizz devido à corrida.

– Sim, moro perto da Waterloo – falei. – E você?

– Quatro quadras do Big Ben – respondeu. – Vai sair?

– Encontrar uns amigos no Três Vassouras – falei.

– Legal – Lily comentou e afastou aquela mecha rebelde que sempre caia sobre seus olhos.

Ficamos em um silêncio amigável até chegarmos à parada, Lily olhando para os lados em observação.

O vento estava meio forte para aquela noite de outono, portanto os cabelos de Lily pareciam não querer ficar no lugar.

Minha mão esticou-se de forma automática até aquela mecha, colocando-a atrás de sua orelha fazendo-a encarar-me em surpresa.

Ao toque, senti como uma corrente elétrica perpassar por minha espinha.

Mesmo àquela hora da noite era possível ver a vermelhidão do rosto de Lily.

– Desculpe, eu só... – mas não soube o que falar ao vê-la esticar-se e passar as mãos pelos meus cabelos também. – Quê?

– Sempre quis fazer isso. Agora vi a oportunidade. Que shampoo você usa? São macios – falou e eu senti meu rosto esquentar tanto que parecia prestes a derreter.

– É genética – falei e ela rolou os olhos.

– Você é sempre tão modesto? – perguntou.

– Às vezes sou um pouco menos – sorri.

O Rota 12 parou em nossa frente e nós subimos, ainda sorrindo de minha piadinha idiota.

Sentei num dos bancos traseiros, ao lado da janela enquanto Lily sentava ao meu lado, para o corredor.

– Está a fim de ir ao Três Vassouras comigo? – perguntei sem conseguir me conter. Não quis olhar para Lily para ver sua reação, sentia-me constrangido o suficiente só por ter perguntado.

– Estou sim – ela disse, fazendo-me virar para encará-la.

– Sério? – perguntei com a incredulidade estampada em minha voz.

– Porque não quereria? – ela perguntou e sorriu. – O moço dos dentes retinhos e cabelos macios parece uma boa companhia para um sábado à noite. Sem falar que minha irmã está em casa, não estou com vontade de vê-la.

– Fico feliz em saber que sou uma distração – comentei de forma falsamente irritada fazendo-a corar.

– E não foi assim por anos? – ela murmurou mais para si mesma do que para mim.

Fiquei quieto por alguns segundos, tentando entender o que aquelas palavras implicavam.

– Como assim? – indaguei.

Lily se era possível, ficou ainda mais vermelha, suas sardas absurdamente parecidas como rubis contra sua pele.

– Eu sempre prestei muita atenção em você, desde aquele primeiro dia – ela disse e deu de ombros tentando ocultar sua mortificação. Senti-me corar também.

Ficamos em silêncio novamente, mas então já não era mais tão amigável.

– Lily – chamei-a quando cruzávamos a ponte Westminster.

Ela voltou seus olhos verdes para mim e eu percebi que eles tinham alguns minúsculos pontinhos dourados que ressaltavam ainda mais a cor exuberante. Seu rosto ainda estava corado.

– Eu te chamava de garota colorida – falei, fazendo-a arregalar os olhos e sorrir logo em seguida. – E toda vez que via alguém com aqueles tênis brilhantes ou as meias arrastão ficava me perguntando por onde você estaria andando.

– Comprei uma blusa igual a sua do Agumon – falou fazendo-me sorrir. – Eu realmente gostei daquela camiseta.

– Ela era legal mesmo – falei. – Ainda tenho.

– E eu sabia que você tinha usado aparelho quando perguntei, ainda lembrava que seus dentes da frente eram um pouco mais proeminentes...

– Ei! Está me chamando de dentuço? – perguntei fingindo irritação.

– Não mais – ela riu.

Seus dentes, porém continuavam perfeitos desde a primeira vez que a tinha visto. Sua bochecha formando covinhas quando sorria e seus olhos estreitando-se ao fazê-lo.

Foi apenas muito mais forte do que eu – assim como várias outras coisas quando se tratavam de Lily – aproximar-me e beijá-la.

Lily retribuiu de imediato fazendo com que milhares de sensações que pareciam choques elétricos percorrerem meu corpo, fazendo-me suspirar quando nossos lábios se separaram.

– Sabe, acho que é até um pouco engraçado isso tudo – Lily disse ao se afastar, seus lábios um pouco inchados enquanto sua respiração saia ofegante. Eu não estava muito diferente.

– O quê? – perguntei sem entender onde ela queria chegar.

– Hoje faz onze anos desde a primeira vez que te vi – ela falou fazendo-me arregalar os olhos.

Sorri para ela.

– Pensei que não lembrasse – falei.

– Eu sempre me lembro das coisas relacionadas a você. É só muito mais forte do que eu – falou e rolou os olhos.

– Digo o mesmo – e então a beijei novamente.

Imaginei a expressão de surpresa de Dorcas ao me ver chegar ao Três Vassouras acompanhado de uma namorada.

– Eu acho que estou apaixonado por você há muito tempo Lily – falei quando nos separamos novamente.

Ela sorriu então e deu de ombros.

Digo o mesmo.


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Notas finais do capítulo

Nada de leitores fantasmas! Abram o coração na caixinha ali embaixo amores!

Faz bem para a consciência do leitor e do coração da autora *pisca*

Beijinhos ♥