James desligou o celular com um "Droga!" e teclou furiosamente uma mensagem para Vargas enquanto caminhava novamente para a cozinha. Recebeu a resposta imediatamente, o carro chegaria em quinze minutos. Escreveu outra mensagem para Remo, mas não obteve resposta

—Sinto muito Lili, tenho que ir embora, teve um problema com o...

—Sirius Black?- Ela completou olhando pro seu próprio celular

—Sim, sim. O Six aprontou e... Como sabe disso?- Olhou confuso para a ruiva

Lilian virou a tela do celular para ele

—Está em todos os noticiários

Na tela do celular aparecia um vídeo mostrando Sirius segurando uma garota (que James constatou com um sobressalto ser Marlene, a amiga de Lilian que ele havia conhecido mais cedo), a morena se debatia e gritava por socorro

—Caraca mano! Aquele não é o Sirius Black?- uma voz jovem e masculina indaga no vídeo

Um cara de terno entra no campo de visão da câmera e segura Sirius até a chegada da polícia. Quando o guarda algema e coloca Sirius no camburão da viatura o vídeo é posto no zoom máximo, mesmo não sendo a melhor imagem, James conseguiu ver claramente o olhar de desespero no rosto do melhor amigo

—Mano do céu! É ele mesmo!- O garoto (que James deduziu ser o mesmo que gravava) segue a viatura com a câmera até ela dobrar a esquina. Fim da gravação.

James amaldiçoa silenciosamente Sirius

Lilian se levanta rapidamente digita alguns números no celular e coloca o aparelho no ouvido

—Um táxi na Rua dos Alfeneiros N°4 por favor... Sim... Lilian Evans... Dinheiro... Para a delegacia

—Quem vai para a delegacia?- Petúnia desceu as escadas, a maquiagem perfeita novamente

"Aposto que ela esfrega os olhos para lacrimejarem" James pensou, notando que o rosto dela não estava inchado, como fica quando realmente choram. Ele mesmo usava aquele truque quando precisava chorar nos videoclipes quando necessário

—Eu, a Lene está lá- Lilian manteve o telefone no ouvido e não fez contato visual

Um sorriso maldoso surgiu no rosto de Petúnia

—Finalmente prenderam aquela marginal? Já era tempo...

—Quem está presa?- Helena desceu as escadas e parou logo atrás da filha mais velha

—A MacKinnon- Petúnia respondeu pela irmã

—A Lene foi presa?!- Helena parecia realmente preocupada, como se falasse de uma filha

—Não mãe, não é nada disso a Lene...- parou de falar e voltou a tenção para o celular-Quarenta minutos? Moço, eu preciso de um táxi urgente... Sem carros disponíveis?

James puxou o celular da mão de Lilian e cancelou o táxi

—Vem comigo. Estou indo pra lá também- puxou Lilian pelo pulso e foi em direção a porta, parou quando Petúnia praticamente se jogou na sua frente

—Eu quero ir também!- Fez um biquinho para James

—Ok, Vargas deve chegar em instantes- Lilian fez uma careta quase imperceptível, por algum motivo o fato de James concordar com a companhia da irmã lhe incomodou muito

—Eu vou junto. Provavelmente Lene vai precisar de mim para sair de lá, só vou pegar meu casaco- Helena subiu as escadas correndo

...

—Quem é mãe?- Remo reconheceu a voz imediatamente, era Camille, a terceira mais velha

A mãe de Remo continuou o encarando, como se ele fose desaparecer em fumaça se ela desviasse os olhos

Camille se aproximou hesitante

—Mãe?

"A Camille não me reconhece" Remo constatou levemente surpreso

Vivian finalmente saiu do transe em que havia entrado com a reaparição do filho e puxou Remo para um abraço. Todos os músculos de Remo se tencionaram, sua mãe era vários centímetros mais baixa, mas de repente ele se sentiu uma criança novamente. Abraçou-a forte sem se incomodar com o corte ardendo no antebraço e voltou no tempo para a única vez que se lembrava ter sido abraçado pela mãe

FLASHBACK ON

Remo tinha 6 ou 7 anos Kinzie e Teresa, as duas mais velhas, estavam fazendo-o chorar dizendo que ele não pertencia aquela família, que ninguém o amava e destruindo a cidade de lego que ele havia demorado horas para fazer

Com lágrimas escorrendo ele correu para dentro de casa e pulou no colo da mãe que estava sentada assistindo um programa de perguntas e respostas, por puro reflexo ela o abraçou . Depois de uns cinco minutos chorando com a mãe acariciando distraidamente seus cabelos, Remo levantou os olhos e perguntou para a mãe se ela o amava. Ela finalmente tirando os olhos da televisão e o encarou como se tivesse o notado apenas naquele momento

"-Por que está chorando Remo?"

Ainda soluçante remo contou que as irmãs disseram que ninguém o amava e que ele não era parte da família. Vivian respirou fundo como quem diz "Crianças!" e voltou os olhos para a TV com um

"-Não ligue para elas, vá brincar"

Apenas horas depois (com a cidade de Lego quase pronta novamente) ele se deu conta que a mãe não disse que o amava

FLASHBACK OFF

Foi arrancado do devaneio por outra voz feminina

—Mãe! Quem é esse cara que você está abraçando? E por que ele está sangrando?- era Kinzie, a mais velha, e a que sempre começava a provocar Remo

—Sangrando? Aonde?- a mãe segurou Remo pelos ombros e o afastou, inspecionando-o de cima a baixo, parando os olhos no corte em seu braço e nos joelhos rasgados de sua calça- Meu Deus! como você fez isso Remo? Entre, temos que fazer curativos nisso!

Remo foi puxado para dentro de seu antigo lar passando por Camille e Kinzie, ambas boquiabertas

O garoto foi empurrado para o sofá pela mãe que saiu murmurando que ia pegar a caixa de primeiros-socorros. Remo estava surpreso demais para seguir seu lado racional que gritava para ele sair correndo daquela casa o mais rápido possível. Olhou ao redor, tudo estava tão igual... e ao mesmo tempo tão diferente! Aquela mancha de suco de uva (que ninguém sabia como foi parar lá mas jura que não é o culpado) ainda estava no tapete da sala, a estante da TV ainda estava entulhado com bugigangas artesanais que a mãe comprava em camelôs. Remo olhou para a porta, quase esperando ver as irmãs entrarem com as botas enlameadas e sorrisos enormes, voltando de mais uma aventura para a qual Remo não fora convidado por ser menino

—Kinzie! Se você pegou meus brincos de argola de novo sem pedir eu juro que eu vou...- Tereza, a segunda mais velha, estancou no meio das escadas quando Remo se virou para ela

"Pelo menos ela se lembrou de mim" Remo pensou amargamente

—Hey! Quem é o bonitinho sangrando no nosso sofá?- uma Gêmeas (provavelmente Victoire) saiu da cozinha carregando um copo de suco

—Quem está sangrando?- Alice entrou na sala logo atrás da Gêmea identica um minuto mais nova, enérgica como sempre

Jéssica desceu as escadas correndo e quase tropeçou em Tereza

—Tereza! Saí do meio do cami...- Remo olhou para ela, que arregalou os olhos- Remo?

Todos os olhares o encaravam, os olhos de suas irmãs que variavam de castanho escuro ao cor-de-mel-quase-verde do mesmo tom que os dele de todas as seis irmãs estavam arregalados em sua direção

Vivian finalmente voltou com o a caixa de primeiros socorros, ajoelhando-se na frente dele e pegando esparadrapos e álcool

—Mãe, o que o Remo está fazendo aqui?- Victoire foi a primeira a perguntar, com a voz esganiçada

Como que atraído pelo seu nome, o pai de Remo desceu as escadas

—O que esse moleque está fazendo na minha casa?

Todos ficam em silêncio olhando para o homem com uma considerável barriga de cerveja, o cabelo já meio grisalho e um cigarro preso nos lábios encarava Remo esperando uma explicação. Quando o garoto ia abrir a boca pra falar seu telefone tocou, "She Looks So Perfect"* o mais novo lançamento da banda preencheu a sala

Remo pega o celular e "Número Desconhecido" brilha na tela. Provavelmente alguma fã descobrira seu número. Desligou a chamada sem atender e colocou o aparelho no vibra call, se ela ligou uma vez, ligaria de novo

—Vou repetir mais uma vez moleque, o que está fazendo aqui? Eu lhe disse para NUNCA mais por os pés nessa casa!

Jéssica, que sempre foi mais gentil com Remo, (provavelmente por ser a mais nova entre as meninas e apenas dez meses mais velha) interveio:

—Calma pai, deve ter uma explicação lógica. Você não está feliz que seu filho voltou?

—Esse garoto não é meu filho. Um filho de verdade não renegaria a própria família. Aonde está o maldito Potter agora? Ele e todo seu dinheiro? Ele não era mais se pai do que eu?  

Remo engoliu o medo e encarou o pai

—Charles Potter foi e ainda é mais meu pai do que você- rosnou para Marcus e voltou a atenção para  caixa de remédios

O celular deu duas vibradas curtas, sinal que uma mensagem chegou, mas Remo ignorou

A mãe estava estática à sua frente, então ele mesmo pegou o álcool e começou a limpar o ferimento, todos na sala o encaravam enquanto ele passava a faixa em volta do ferimento dava um nó na ponta

Mais uma mensagem, Remo cogitou quebrar o chip ali mesmo, era o processo padrão quando as fãs descobriam o número

—Fique tranquilo papai, se depender de mim eu nunca mais volto para essa casa- Levantou-se e foi em direção a porta

Jéssica deu a volta em Tereza e no pai e correu na direção do irmão, segurando-o pelo ombro tirou uma caneta da bolso

—Me ligue- ela pegou a mão de Remo e tomando cuidado para não encostar no ferimento que se estendia até o pulso escreveu o seu número nas costas da mão dele- Vê se não some de novo

Ela o puxou para um abraço forte. Ele a correspondeu e deu um beijo no topo de sua cabeça

—Jéssica! Largue esse traidor de sangue sua peste!- era Kinzie- Ele nos abandonou quando ficou rico!

Os irmão abraçados ignoraram a mais velha

—Senti sua falta Remo- Jéssica acariciou seu rosto- Entendo porquê você foi, mas senti sua falta

O celular de Remo vibrou com uma ligação

—CHEGA! SAIA DA MINHA CASA!- o pai de Remo se descontrolou- JÉSSICA! LARGA ESSE BASTARDO! NÃO QUERO VÊ-LO NUNCA MAIS!

Remo desvencilhou-se da irmã com um "Eu te ligo" virou as costas e foi embora, desviando de Kinzie e Camille, que ainda ladeavam a porta. Olhou para trás a tempo de ver seu pai vermelho de raiva e Jéssica estufando o peito, pronta para a briga, a mãe chorando e as outras irmãs tensas pela discussão eminente antes de Camille bater a porta.

O celular vibrava insistente no seu bolso, Respirou fundo para se acalmar e tirou-o do bolso, O nome de James brilhou na tela e Remo atendeu a ligação

—Fala James

—Remo? Aonde você tá cara? Por que não atendeu o telefone?

Remo olhou para a faixa ensanguentada no braço

—Longa história

—O que você...? Esquece, aonde você está?

—Na frente da casa dos meus pais, por que?

—Estou passando aí te buscar, vamos para a delegacia, o Six se meteu em encrenca

—Delegacia? Como assim?

—É complicado pra explicar por telefone, em três minutos estou passando aí

—Ok, vou esperar na calçada