Evil Ways escrita por Moonlight


Capítulo 33
Hay


Notas iniciais do capítulo

Olá pesssooooaaas!
Eu demorei para postar sim? Claro! Mas eu terminei esse capítulo uma semana atrás.
"E porque não postou rápido sua filha duma puta?" Porque eu fiquei uma semana sem internet (joinha aqui).

Sobre o capítulo, eu sempre gosto de pensar em qual momento as coisas começam a desandar e eu aposto que TALVEZ seja esse aqui ou no próximo cap, que será FIELMENTE POSTADO NO SÁBADO DIA 23 AMÉM.

Perdoa a demora. Beijo. Amo vocês.
Ah, quase me esqueci: Além do ensino médio, curso técnico e TCC, agora eu estou estagiando nos laboratórios de química da minha escola, consertando coisas. Então assim, não é desculpa, mas perdoem aí nas demoras tá? Eu garanto que só largo Evil Ways no ponto final do epílogo (QUE EU AJ PLANEJEI É MARAVILHOSO).

Agora sim, beijinhos.



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Naquela noite, quando Katniss chegou à casa de Peeta de mãos dadas com ele, ambos encontraram Haymitch, em pé, no meio da sala. Os olhos de Katniss arregalaram-se, apavorados, porque ela sabia muito bem o que Haymitch estava fazendo ali. Effie Trinket estava sentada no sofá quando o filho chegara, e levantou-se logo em seguida, ficando em pé ao lado de Abernathy.

— Haymitch quer conversar com você, Peeta. — Foi o que Effie disse.

O rosto de Effie Trinket estava calmo e conformado, mas um pouco preocupado, de maneira que Katniss não sabia dizer se Haymitch já contara a ela sobre a dívida ou se, assim como Peeta, ela também estava no escuro sobre o que Haymitch fazia lá. Então Katniss começou a antecipar em sua pobre cabeça o momento em que Haymitch contaria a seu filho que deve dinheiro a uma máfia cubana e que pensou em indenizá-lo. O momento em que contaria que era um bosta e, principalmente, o momento em que o nome de Katniss estaria no meio da história toda, como cúmplice número um. Assim ela começou a odiar Haymitch, por estar fazendo a coisa certa no momento errado, estragando toda a felicidade recente que ela finalmente tinha conseguido sentir.

Foi então que Katniss soltou-se da mão de Peeta.

Mas antes de antecipar as coisas – da mesma forma que Katniss fez em sua cabeça – vamos ao momento que levou a este.

Haymitch estava dentro de um ônibus. Era tão estranho para ele pegar o transporte publico tão bem vestido como estava, mas só fizera aquilo porque queria usar a fortuna que gastaria no táxi com Effie. Ele queria ser ‘o cara da grana’ pela primeira vez numa saída dos dois, e se Effie fosse gentil, quebraria esse galho pra ele e deixaria sua masculinidade um pouco mais reforçada, sabe?  Estava cansado de ser bancado por ela.

Ele desceu um ponto antes do condomínio fechado onde Effie e seu filho moravam. Decidiu que andaria devagar, calmamente, rezando a deus pra não soar embaixo daquela blusa social quente e para que o perfume não saísse, afinal, ele gastou dinheiro com um frasco cheio de liquido e álcool e não era nenhuma bebida. Quando finalmente alcançou a portaria, ligou para Effie, que autorizou sua entrada.

Haymitch não subiu para o apartamento. Primeiro porque era de seu conhecimento em muitos anos no ramo para saber que é uma zona de perigo subir no apartamento da garota antes do encontro, porque honestamente, ele não saberia se estariam sozinhos e se conseguiriam controlar certas vontades. Também a inevitável chance de Peeta estar lá fazia seus pelos se arrepiarem, porque sua estadia de quase uma hora no ônibus o fizera encostar sua cabeça na janela e repensar, passar e repassar em sua mente todas as frases e palavras da conversa que tinha acabado de ter com Johanna em seu apartamento.

 Não foi a pedido de Johanna nem de Katniss contar a verdade a Peeta. Foi uma decisão que Haymitch tomou quando viu que, de uma maneira ou outra, estava um homem tão sujo quanto Snow. Qual era a diferença entre grandes e pequenas corrupções, no fim das contas? Effie e Peeta certamente não culpariam Snow por criar o jogo – e sim quem foi idiota o suficiente de jogá-lo.

E o pior de tudo é ter exatamente a consciência do que faz até o momento em que Effie surge a sua frente quase sem maquiagem (Haymitch não sabia, mas Effie estava maquiada sim, com a base zero de beleza— que consistia em usar o primer, seguido da base, do pó e do corretivo. E ainda tinha um leve delineador e rímel nos olhos. Todos os produtos da Mahogany, claro, que além de ser uma marca de maquiagem muito boa, ela garante que não faz testes em animais.) e com uma saia até os pés marrom e uma blusa curta bem colorida (que Haymitch também não sabia, mas as mulheres chamavam aquilo de cropped*).

E então um ladinho egoísta seu não conseguia deixar de pensar no quanto ele não estava nem um pouco arrependido ao chegar até ali, porque meu deus, como ela era bonita.

— Uau, aonde você pensa que nós vamos? — Effie comentou rindo, enquanto olhava para Haymitch. Seria espantada a palavra? Chocada? Encantada? — Pro Oscar?Posse de um presidente? Outra formatura? — Ela finalmente alcançou Haymitch, dando-lhe um selinho. — Só vamos ao teatro, não precisava dessa superprodução.

— Bom, como eu não te trouxe flores, eu te trouxe eu mesmo. — Haymitch abriu os braços, num gesto confiante para se exibir. — E perfumado.

Effie gargalhou, jogando a cabeça para o lado.

— Eu não vou mentir. — Seguiu-se um tempo de silêncio, enquanto Effie olhava maliciosamente para a cara de Haymitch. — Eu gosto de você, mas... Eu também gosto de lírios. Eu adoraria alguns lírios brancos.

— Não se preocupe, quando eu fizer alguma coisa errada eu te mando buques e mais buques pedindo desculpas. — Haymitch brincou, fazendo Effie dar um leve tapa em seu braço. E foi só isso.

Lógico que, segundos depois, enquanto seguiam silenciosamente até o carro de Effie, Haymitch pensou no quanto ele falava sério quando disse aquilo. Quantas flores seriam necessárias para desculpar um relacionamento de mentiras que começou assim quando Peeta apresentou-se como filho do Skywalker?

— E o que vamos ver nesse teatro mesmo? — Haymitch perguntou, desviando de sua cabeça as confusões que já começavam a pairar. Effie Trinket apertou o botão da chave de seu carro, destravando-o, e entrou do lado do motorista, sendo acompanhada por um extasiado Haymitch que entrava pela primeira vez em um porshe.

Mamma mia! — Ela respondeu.

Mamma Mia, Haymitch percebeu no fim da noite, era um musical sobre uma garotinha que, prestes a se casar, decide que convidaria seu pai. O problema é que na juventude, sua mãe não era muito moderada, de modo que a noiva tinha três grandes suspeitos ao posto paterno. Recheado de canções da carreira do ABBA (todas com direito a uma interpretação diferente de Effie), Haymitch realmente se divertiu. Mesmo.

Mas sua cabeça começou a formular comparações: Peeta era a garota atrás do pai. Effie seria a mãe leviana? E ele? Qual dos três pais Haymitch era? Bem, ao menos ele sabia que era um homem de muitas facetas. O pai texano rude. O Pai Sociólogo bem-sucedido. O pai que traça sua mãe e esconde de você. Ah, e o pai que deve a cabeça por causa de jogos e álcool.

— Eu nunca achei que ABBA fosse tão legal. — Haymitch admitiu, de baços dados com Effie em direção à saída do teatro, quase três horas depois.

— Você perdeu o melhor que nossa época pode nos dar. — Effie falou, certa de si, enquanto pegava os dois chaveiros de brinde que eram distribuídos no fim do espetáculo. Entregou um nas mãos de Haymitch, que sorriu.

— Não perdi não. — Ele falou. — Eu já fui a um show do Led Zeppelin, sabia?

Effie riu.

Quando estava sozinha, e se dava ao luxo de não pensar em sua carreira profissional, Effie pensava sobre Haymitch. Para começar, ele era engraçado. E ele também era bonito, especialmente nos últimos dias, quando se arrumava mais – aí ele ficava muito bonito. Não havia nada em Haymitch que a repelia, como ela já passou tantas vezes com tantos outros caras. Não é que ela não gostasse deles: Beijá-los era bom, e eles até eram legais, mas sempre havia aquele aperto no peito ao pensar no tempo que desperdiçou tentando aturar coisas que, ela nem sabia o porquê, mas a irritavam feito o cão: Uma banda que o cara gostava. A maneira de falar de seus problemas com naturalidade. A irritante forma de puxar assunto, tentando parecer natural. O jeito com que falavam “Então...”. Principalmente, gente que sabia se definir perfeitamente, em adjetivos que não te davam nem a chance de contestar.

E não interessa se o cara sabia que era sem compromisso ou estava realmente tentando algo. Effie se odiava por ao menos ter conhecido-os.

E Haymitch foi tão... Haymitch. Ela odiou tudo nele logo de cara, e agora parecia que o conhecia há 23 anos. Às vezes, parecia até que ele estava totalmente ciente de que ela e Peeta iriam aparecer, uma hora ou outra, em sua vida. Parecia que eles tiveram o acordo em ter Peeta quando trocaram olhares no show, uma eternidade atrás. E pela primeira vez depois de Plutarch, Effie achou um imã.

***

Katniss tinha os cabelos presos e usava um macacão jeans rasgado nos joelhos e uma blusa preta da lacoste suja de tinta laranja quando o celular tocou incessantemente. Ela jogou o rolo de tinta que segurava na lata e correu pela casa por tanto tempo procurando qualquer pano bom o suficiente para limpar as mãos que acabou perdendo a primeira chamada. Mas quando Girl On Fire da Alicia Keys tocou em seu celular novamente, Katniss não demorou nem dois segundos para atender a ligação que – agora ela sabia – vinha de Peeta.

Está ocupada hoje à noite? — Ele perguntou, pulando todas as formalidades.

Peeta e Katniss tinham uma relação tão simples que eles não se davam ao trabalho de ter as paranoias que Effie e Haymitch se metiam desde que cogitaram a possibilidade de se sentir atraídos um com o outro. Cinna tinha dito que Katniss e Peeta ignoravam a chance do relacionamento dar errado porque eles pensavam em fazer dar certo pelo resto da vida, mas a situação nem era realmente essa.

Eles também eram imãs um do outro, e sabiam que tinham alguma coisa tão boa que não poderia ser estragada por uma terceira, quarta ou quinta pessoa. Eram de alguma forma estranha, namorados. Não propriamente dito. Mas por qual motivo no mundo Peeta iria beijar garotas desconhecidas quando ele poderia ter o Furacão de Nebraska bem embaixo dos seus braços, o tempo que quisesse? Foi um acordo mútuo quando ambos decidiram que eram exclusivos por um tempo. Um do outro.

Numa maneira resumida, como Johanna diria: “Eu só beijo, não lido com as consequências”.

— Eu não sei, eu vou perguntar pra minha mãe se eu posso sair. — Katniss colocou o celular no viva-voz, propositalmente. — Johanna, eu estou liberada hoje à noite?

— Claro que está. — Johanna sorriu maléfica. — Mas apenas quando o santuário sagrado da abóbora estiver pronto. 

Naquela manhã, Johanna roubou e higienizou a máquina de cabelo e aparador de barba de Haymitch e raspou os cabelos na parte da nuca, num estranho e diferente undercut. Ela gritou algo como “salário” e “mudanças” antes de sair porta a fora, deixando uma Katniss ainda meio sonolenta em sua cama. Voltou uma hora depois com pó descolorante, água oxigenada, dois rolos de tinta e duas latas de tinta de parede laranja. Tudo isso antes das 8h da manhã.

— Se a gente não tomar controle da nossa vida Katniss, qualquer crise por aí vai. — Johanna filosofou, enquanto misturava o pó na água oxigenada.

— E desde quando pintar meu cabelo é tomar controle das nossas vidas!? — Katniss perguntou furiosa, sentada numa cadeira com uma toalha sobre os ombros e piranhas prendendo os fios ainda morenos em mechas.

— Katniss você reparou o que todas essas mudanças que aconteceram na nossa vida tem em comum? A gente não pediu nenhuma delas. — Johanna continuou, penteado os cabelos da amiga. — Nem a PAREM, nem o Peeta, nem Effie, nem Gale nem nada. Foi tudo culpa de uma burrada do Haymitch que foi levando as coisas até onde elas estão agora, e nós duas — Johanna se virou frente à Katniss, apontando para si e para ela rapidamente. — Eu e você, nós só apanhamos e levantamos, aceitando. E eu decidi que eu NÃO VOU mais aceitar isso e que a partir de agora quem muda minha vida sou eu e minhas, MINHAS decisões. E você deveria fazer o mesmo.

— Ah, eu deveria fazer o mesmo? — Katniss zombou do uso de palavras de Johanna. — Então porque eu não posso tomar a minha decisão em não pintar o meu cabelo?

— Porque aí você não mudaria nada! Com você, Katniss, as coisas funcionam só no empurrão. — Johanna argumentou. — Eu te faço tomar a primeira grande decisão e você toma todas as outras sozinha.

— Porque eu tenho que tomar uma decisão!? — Katniss quase gritou, inconformada. — Porque eu tenho que mudar?

— Pra tomar controle da sua vida a partir de agora!

— Eu prometo pra você Johanna, que vou tomar controle da minha vida. Mas eu não quero mudar, muito menos ser loira!

— Aí ta vendo Katniss? Se você não fizer agora uma grande mudança que gere uma grande decisão, você não vai ter controle sobre nada seu! — Johanna cruzou os braços, irritada. — Olha vou te dar duas opções, e você vai tomar uma grande decisão sobre elas: ou você muda seu cabelo simbolizando uma mudança em você ou você muda de apartamento e vai morar com teu sogrinho.

Katniss encarou Johanna por longos e longos segundos. Seus olhos duros de diamante, descrentes e bravos encaravam Johanna, que batia o pé na teimosia de provar que tinha um ponto a defender. Entrar no meio daquela disputa era um suicídio para qualquer pessoa de fora, e aquilo só se resolveria quando ambas se cansassem ou ainda pior, quando uma delas perdesse.

Os olhos de Katniss a atacaram com raiva, mas Johanna tinha uma reserva de fúria, teimosia e determinação que enfraqueceu, mesmo que pouco, a ira de Katniss, que logo foi tomada por descrença total mesmo.

— Então segundo você, eu tenho que mudar alguma coisa na minha vida pra eu ter controle sobre ela e sobre as minhas decisões a partir dessa mudança?

— Exato.

  Katniss bufa.

— E porque tem que ser o meu cabelo? — Esse era um ponto que realmente intrigava Katniss no meio dessa loucura toda.

— Eu raspei o meu. Quer tentar? Vou só fazer umas luzes no seu, estou te oferecendo a saída mais light. — Johanna zombou, vendo que estava ganhando a discussão depois de derrotas acumuladas. Antes do mal entendido da PAREM e da prostituição, Johanna nunca ganhava nas discussões argumentativas de Katniss. — Vamos! Eu raspei meu cabelo porque eu quis, foi minha decisão. Você pinta o seu porque você quer, é a sua decisão. Nós mudamos algo em nós mesmas e a partir de hoje temos o controle sobre nossas vidas. Só vamos aguentar as consequências das nossas decisões, e nada de segurar o b.o das outras pessoas. Principalmente Haymitch.

— E então porque diabos nós vamos transformar nossa uma espécie de santuário sagrado da abóbora? — Katniss ainda manteve a cara fechada quando encarou a tinta laranja Tangelo*.

— Effie Trinket faz reformas a cada três anos no apartamento dela. — Johanna começou a explicação. — Ela diz que renova o ambiente e as energias do lugar, e trás bem estar. E como a gente é pobre e não podemos reformar, vamos só pintar com as cores bem fortes. Muda tudo, não é?

Infelizmente, para seu orgulho e sanidade, Katniss não poderia deixar de concordar. Era bom, de vez em quando, mudar as coisas por sua própria vontade. Tudo bem que laranja Tangelo não era a melhor opção, poderia ser uma tinta azul clara, mas ela provavelmente ia perder tempo discutindo com Johanna sobre seu radicalismo. Além do mais, era a primeira vez que ela se jogava em coisas absurdas, e a primeira vez desde que colocou seu colchão na cozinha que tinha uma manha. Embora a ideia tenha saído da cabeça de Johanna, Katniss gostaria de tomar um passo para si, principalmente nos últimos tempos. Gale decidiu cancelar o divórcio e avisar por telefone. Até Peeta, que foi uma mudança positiva, foi iniciativa dele. Que decisão ela tomara por si?

— Sabe o que eu mais odeio em você, Johanna? — Katniss falou. — Todas essas merdas que você falou fazem sentido.

Johanna liberou um sorriso de orelha a orelha como se estivesse com abstinência de maldade.

— É porque você é louca como eu. — Johanna deu meia volta e pegou o pote com a mistura já quase transbordando em suas mãos com luvas azuis de plástico.

— Johanna... Katniss suspirou, tomando a decisão. — Pode ir. Pode pintar tudo. Nada de luzes, pode pintar todos os fios e deixe o mais claro possível.  — Katniss fechou os olhos e respirou fundo antes de concluir. — Let it Blond*.

— Você ouviu minha mãe, não vou sair daqui tão cedo. — Katniss respondeu para Peeta, que ainda estava do outro lado da linha. — Castigo.

E qual é o seu castigo? — Peeta pergunta.

— Pintar meu apartamento.

Então eu chego aí em meia hora. — Ele disse, terminando a ligação.

Katniss colocou o celular de volta no bolso do macacão rasgado e ajeitou os fios de cabelo, agora loiros, que insistiam em cair nos olhos. Pegou o rolo de tinta e da lata e jogou a manchar a parede bege com aquela cor berrante.

— Peeta vai vir aqui daqui a pouco. — Ela avisou a Johanna, despreocupadamente.

Johanna arregalou os olhos.

— Porque você convidou Peeta?

— Eu não convidei Peeta. — Katniss respondeu, colocando os fios loiros atrás da orelha. — Ele se convidou.

Não demorou mais do que meia hora para Peeta aparecesse a porta do apartamento, com uma blusa da campanha para doação de sangue em nova York e um jeans com um rasgo considerável no joelho – coincidentemente, onde o macacão Katniss também tinha.

— Peeta, eu adoro você. — Johanna falou. — Mas é muito cedo pra passar a noite na casa da namorada, se é que vocês se chamam assim. — Johanna implicou, olhando pra mochila que ele carregava.

— Não... Não, isso é... é para...

Na primeira vez que viu Katniss, Peeta demorou dois segundos para assimilar tudo aquilo. E quando dizemos “tudo aquilo”, estamos mencionando a garota a sua frente. Ela tinha aquele sotaque diferente, uns olhos duros de esmeralda e um shorts curto demais num apartamento quente que, subitamente, ficara ainda mais quente. Peeta se viu num djavú ao ver a garota daquela forma: Os cabelos claros só deixavam os olhos de diamante de Katniss ainda mais valiosos, e por mais que nunca vá admitir, Peeta imaginou Katniss daquela mesma forma pintando o futuro apartamento dos dois juntos com cachorros ao redor de seus pés e o filho mais velho, o de 3 anos, pedindo para ser sujo pela tinta amarela (uma cor casual para um apartamento onde se vai passar o resto da vida).

— Peeta? — Katniss chamou. — Você está bem?

Você é tão bonita. — Ele sussurrou.

Peeta a tomou pela cintura, envolvendo-a num beijo.

— Argh, eu não vou ficar no mesmo cômodo que vocês. — Johanna resmungou antes de sair da sala por alguns minutos.

Katniss deixou-se envolver por mais alguns minutos nos braços de Peeta. Fazia-lhe carinhos nos ombros, na nuca, bochecha e quando tinha a chance, o olhava nos olhos. Inicialmente, para Katniss, fora muito difícil se acostumar com o jeito ultracarinhoso do Peeta, daquele que sempre interrompe um beijo pra soprar um elogio que às vezes, Katniss simplesmente ignorava e voltava a procurar os lábios silenciosos. Era ótimo ouvir o quanto era bonita, ou o quanto beijava bem, mas odiava quando era interrompida no meio do beijo, porque lá era o momento de esquecer todas as coisas que odiava em Peeta – que por sinal, era basicamente isso mesmo – e simplesmente se entregar ao momento. Katniss tem o histórico de fugir de vários Peetas ao longo da vida, mas aquele era um que ela não deixaria escapar nem se fizesse esforço.

Foi por isso que os meses angustiantes que ela passou longe de Peeta foram tão cruéis, especialmente quando se lembrava de que... Espera. Não estamos nessa parte da história ainda.

Para chegarmos lá, Peeta teria quefazer um convite, inicialmente inofensivo à Katniss. E para ele se soltar dos braços dela e lembrar que tinha um propósito ao visita-lá no apartamento naquela tarde, Johanna teria que voltar da cozinha com a ultima garrafa de cerveja e fazer piadas grosseiras.

— Então, ele vai ficar mesmo né? — Johanna perguntou, com um sorriso malvado. — Eu já vou logo avisando que meu quarto é meu quarto, e eu não saio de lá nem que me paguem! Quer dizer, talvez, se me pagarem...

— Sossegue Johanna, eu não vim morar aqui. — Peeta falou, depois de dar o ultimo selinho em Katniss e se virar para Johanna, ainda agarrado à cintura da ficante, que passou seu braço pelo ombro dele. — Eu trouxe porque sei que vocês vão ficar muito tempo aqui e porque eu vou levar Katniss para sair mais tarde. Pensei que eu poderia ter a ousadia de usar seu chuveiro e me arrumar aqui mesmo, eu posso?

— Depende. — Johanna falou. — Para onde você e Katniss vão?

— Para um bar karaokê com Finnick e Annie. Tá afim?

— Com vocês dois e Fannie? Deus me livre, não, muito obrigada.

— Então cale a boca e volte a pintar essa droga, Johanna. — Katniss cuspiu, soltando-se de Peeta e mergulhando novamente o rolo na lata laranja de tinta.

— Então, porque vocês escolheram essa cor? — Peeta perguntou.

Foi então que Katniss começou a contar a história sobre como Johanna acordou disposta a criar a própria ceita, obrigando a amiga interromper e explicar, detalhadamente – omitindo a parte que Haymitch, cubanos e o próprio Peeta têm culpa, claro – e o porquê da mudança de cabelo e o santuário sagrado da abóbora.

— Não posso discordar de Johanna, Katniss. — Peeta falou. — Quando as maiorias das pessoas tomam uma mudança drástica assim, elas geralmente ganham controle das próximas emoções que possam vir adiante. Elas se sentem mais preparadas para o que a vida venha a oferecer, pelo fato de que simplesmente elas mesmas já fizeram o que mais de radical poderia fazer. É como se estivessem vacinadas.

— Viu? Peeta psicólogo falando. — Johanna comemorou, olhando para Katniss com um sorriso vitorioso.

— Ótimo, agora o que o Peeta psicólogo pode fazer pra ajudar vocês aqui, damas? — Perguntou ele.

— Ir pra cozinha fazer comida pra gente. Eu to morrendo de fome. — Johanna respondeu, num desses tons tão naturais que pareciam uma de suas ironias.

E foi por isso que Peeta gargalhou, com vontade, quando se virou para Katniss e viu seu rosto sério olhando para ele em expectativa.

— Não foi uma piada? — Peeta perguntou, vendo Katniss negar com a cabeça. — Sério Katniss?

— Eu também to morrendo de fome. Vai pra cozinha, por favor, Peeta?! — A nova Katniss loira resmungou, dando beijinhos em sua bochecha.

E é por se derreter feito manteiga que Peeta foi para cozinha fazer macarronada com margarina no molho de tomate.

***

O sabonete de erva doce tinha palavras francesas no rótulo, e Haymitch estava há quase 10 minutos encarando-as.

Primeiro, porque era um banheiro muito luxuoso. Dourado reinava ali, e era quase uma ofensa usar aquele recinto como meio de descarte de restos orgânicos do corpo. Effie com toda certeza não faria nada naquele lugar que não fosse um banho relaxante e uma lavagem de pés com os cremes esfoliantes e outros diversos tipos que Haymitch também havia encontrado na prateleira ao lado do espelho. O espelho, esse também, tinha seus lados brancos com desenhos dourados que ele sabia lá no interior da alma que era mesmo feito de ouro. Na categoria ‘banheiros’, era o mais lindo que ele já tinha entrado.

Segundo porque ele entrou no apartamento de Effie pela segunda vez na vida, e dessa vez ele tinha a confirmação de que Peeta não estava lá, provavelmente estaria transando com Katniss naquela noite. Mas então ele pensou na possibilidade de não estar, e na pior das hipóteses, de Peeta trazer Katniss para o apartamento – dando de cara com a não agradável surpresa de seu pai estar lá sem ser convidado por ele – fazendo então eles terem aquela conversa sobre em que momento da vida Haymitch e Effie se aproximaram o suficiente para estarem sozinhos, no apartamento dela, as 23h57 da noite.

Terceiro porque Haymitch e Effie estavam sozinhos no apartamento dela as 23h57 da noite. E se ele saísse daquele banheiro, o mínimo que aconteceria ali seria sexo. Um bom e velho e gostoso sexo, do tipo que ele não tem há uma eternidade desde Seeder (a professora de física que ele traçou há seis meses, quem sabe).

Por isso Haymitch ficara ali, encarando o sabonete francês com a palavra luxuria em francês (ou ao menos ele achava que fosse). E como já ditava a regra masculina, os dez minutos de demora aceitáveis no banheiro da casa da namorada já estavam esgotados e, com uma decisão tomada ou não, Haymitch saiu do banheiro.

Ele cruzou o corredor que levava o banheiro para sala quando seus ouvidos captaram a música do Velvet Underground.

Effie estava descalça, e Haymitch olhou seus delicados pés como uma cena de filme do Tarantino. Uma das mãos levantava, até a altura dos joelhos, a longa saia que usava. A outra mão estava ocupada demais segurando uma taça de vinho recém aberta e depositada na mesinha de centro, junto com uma garrafa aberta e outra e convidativa taça cheia. Tinha os cabelos soltos em ondas, já estragados de estarem perfeitos por tantas horas. Effie rejuvenescera 10 anos, e Haymitch estava no auge dos seus 17 ao ver o primeiro grande amor de sua vida sendo tão... tão...

Embora a canção “Oh! Sweet Nuthin” diga “Oh, doce querida, ela não tem nada de mais” Haymitch sentia como se estivesse sentado de pernas cruzadas na porta do paraíso, esperando o momento em que seus enormes portões seriam abertos pelos anjos.

E quando Effie olhou para ele e sorriu, depois piscou um dos olhos e continuou a dançar feito uma hippie, o próprio deus o convidou para dar um passeio pelo jardim do éden. 

— Vamos dançar juntos. — Haymitch reagiu, desviando da taça de vinho posta para ele na mesinha da sala.

— Que música? — Effie perguntou, sorrindo feito boba. Aquela altura, as canções já não importavam mais: Ela só queria estar ali, falando qualquer coisa, ouvindo qualquer palavra. Effie não sabia ao certo em que momento da noite se tornou tão embriagada pelo nervosismo, mas depois dos beijos que ela e Haymitch trocaram frente ao prédio dela, viu que ele não tinha nenhuma outra saída que não fosse pegar o elevador e continuar com aquilo lá mesmo, mãos na parede, mãos nas costas, mãos nos braços, mãos nos seios, mãos na bunda, mãos na nuca, mãos nas mãos.

— Escolha. — Ele disse. As próprias mãos estavam na altura das coxas, procurando por um bolso que não existia. Os olhos na boca, os olhos nos seios, os olhos nos cabelos, os olhos nos olhos.

Haymitch Abernathy não sabe que mulher no mundo iria colocar Bob Dylan e Johnny Cash num dueto, mas Effie o fez, e fechou os olhos quando a canção ressoou no apartamento todo — havia caixas de som em todos os cômodos. A cada segundo Haymitch sentia que realmente era ela, a maldita que deveria ter aparecido na vida dele 20 anos antes para consertar tudo, para deixar mais bonita, e ele tinha certeza que era Effie mesmo aquela coisa que as pessoas chamam de alma gêmea ou anjo gêmeo ou sabe-se lá o que. Ele abria cada sorriso incrédulo que fazia Effie sorrir ao repará-lo. Sorrisos nos Sorrisos.

‘Cause she was once, a true love of mine. A canção estava ali entregando tudo. À Haymitch, só faltava se ajoelhar aos pés da idolatrada Effie. E Effie só dançava, como nunca dançou com Plutarch.

Quando Effie o beijou, sua boca tinha um delicioso gosto de vinho, Haymitch reparou. Mãos na cintura. Mãos nos ombros. Quando aprofundava cada vez mais o beijo, as mãos trocavam de lugar. As mãos nunca se procuravam, e procuravam sabe deus o quê, mas ah! se procuravam. As mãos de Haymitch estavam nas coxas de Effie, e em dois segundos, as coxas de Effie estavam na cintura de Haymitch. A playlist aleatória de Effie colocara em “Love me Tender” de Elvis Presley, mas caralho, a música era sobre amor eterno enquanto Haymitch e Effie estavam com mãos em lugares apropriados, inapropriados, mãos nas mãos. Segure aqui, acaricie aqui. Me toque. Me toque. Me toque. Como uma oração silenciosa, Touch me do The Doors ressoou enquanto a saia de Effie voou tão longe que quase foi janela abaixo.

As palavras vinham acompanhadas de arrepiantes sussurros, e uma incessante busca de ar que fazia de Haymitch um louco. As palavras viraram gemidos, e as palavras viravam suplicas. As palavras nunca saiam completas da boca de Effie. Hay. Hay.

Hay.

Depois de reparar que ‘Hay’ não era “Hey”, e sim, seu próprio nome, Haymitch perdeu o senso. Mãos no quadril. Dedões que puxavam as laterais da calcinha. A música estava rápida, Haymitch estava rápido, mãos na virilha, Effie estava rápida, mãos no volume e Haymitch parou do nada.

A respiração de Haymitch se acalmou. Os beijos de Effie não foram mais retribuídos e sua ereção havia desaparecido de onde ela podia sentir.

— Não podemos, Effie. — Ele sussurrou. — Não sem contar a Peeta antes. Preciso conversar com meu filho.

Effie finalmente sentiu o sofá que a sustentava, sem nem ao menos ver o momento que havia parado ali. As calças de Haymitch estavam abaixadas, até os joelhos – ela não sabia se tinha desabotoado ela mesma ou não. Estranhamente, ela ainda estava de cropped, mas o sutiã que usava estava jogado no chão, do lado de um dos sapatos de Haymitch (o outro par não estava em seu campo de visão). Geralmente, Effie é do tipo que ama que interrompam o beijo para sussurros. É sempre bom saber que ela beija bem ou o quão bonita é. Mas Haymitch a fez odiar aquilo.

Effie se sentou no sofá, tentando disfarçar a decepção, porque tudo o que Haymitch fez e disse era o certo.

— Eu vou fazer um jantar para nós. — Foi assim que ela foi para a cozinha, de calcinha mesmo, e começou a preparar um yakissoba.


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Notas finais do capítulo

*Cropped - Tem o link do modelito de Effie Trinket no asterisco azui do lado ♥

→ Mahogany: É uma marca de maquiagem de verdade, mas parece que é exclusiva do Brasil (mas essa fanfic não se passa nos eua Thay? - Caguei). É MAHOGANY GENTE. EFFIE. EU TIVE QUE FAZER O TROCADILHO (Aliás, a Mahogany é uma das marcas que realmente NÃO fazem teste em animais).

→ Mamma Mia: É um musical de verdade, e tem filme com a Meryl Streep, GENTE.

→ Santuário Sagrado da Abóbora: É inspirado no livro "O céu está em todo lugar", onde a protagonista chama assim o quarto laranja que a irmã mais velha obrigou a pintar.

* Laranja Tangelo: É uma tonalidade forte de laranja.

* Let it Blond: É um trocadilho/referência as canções "Let it Be" dos Beatles e "Let it Bleed", dos Rolling Stones. Let it Blond é traduzido como "Deixe loiro", só que com mais determinação.



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