Evil Ways escrita por Moonlight


Capítulo 21
Expectativas baixas geram conforto.


Notas iniciais do capítulo

HEY
mals galera
o Nyah só me deixou postar agora.
Beijo
Tia ama vcs



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O Dicionário define a palavra conforto como: “Atmosfera agradável que rodeia o ser humano. Pode ser material como também em ambiente emocional”.

— E então eu simplesmente os deixei no vácuo, porque não soube como responder. — Effie falou, entrando pela porta de seu apartamento com Cinna logo atrás. — Acho inclusive que foi uma gentileza minha ter pedido para Octávia transferir a ligação para mim. Se eu me baseasse naquela ultima entrevista em que eles distorceram tudo o que eu disse, não falaria mais com ninguém ligado aquela revista.

— A Capitol Couture não tem sido fácil de lidar, confesso. — Disse Cinna, abandonando sua carteira – que mais parecia uma bolsa feminina – no sofá. — Confesso que eles também já me tiraram do sério. Já publicaram visuais originais meus com os créditos de Portia Nouveau.

— Argh, Portia nem sabe o que faz com aqueles saltos Alexander McQueen. E o último vestido que ela desenhou? Deus, ela ainda é muito nova. — Effie largou seus sapatos do lado do sofá onde seu amigo acabara de se sentar, onde assistia com uma risada nos lábios a fofoca de Effie sobre a nova queridinha da moda. — Sabe do que ela precisa? De você. Ela precisa de você como você precisou da Tigris há uma eternidade atrás. Se lembra disso? Você vivia atrás do rabo dela. Literalmente, ela achava que vivia dentro dum mundo de quadrinhos que Peeta adorava ler...

— Minha nossa Effie, você realmente tentou falar da mulher gato? — Cinna ria, enquanto Effie soltava os cabelos loiros e se sentava no sofá, massageando os próprios pés recém libertados. — Sabe do que você precisa? De um banho. É sério, vai logo!

— Tá okay, eu me rendo. Ah, e se você vir Peeta por aqui, explica pra ele pra que os telefones servem. Eu liguei umas duas vezes e ele mal me atendeu! Queria que tivesse ido jantar conosco...

— É Effie, eu aviso sim. — Cinna ria, enquanto a moça se afastava corredor a dentro. — Eu juro que nunca mais vou te dar tanto vinho, mulher!

A risada embriagada de Effie fez um eco distante no corredor, e Cinna logo se vê sozinho na enorme sala desenhada, projetada e decorada por Effie. Ele se lembrava bem de cada detalhe que Effie aprimorava, dos desenhos que ela lhe mostrava e da dedicação quase obsessiva pela perfeição. As reformas trienais eram períodos de inferno para o pobre Peeta, que sempre via a mãe modernizar e reformar o apartamento a cada três anos. Mas tudo valia a pena depois do enorme sorriso satisfeito que Effie Trinket exibia nas festas sociais de “reinauguração do apartamento”.

A enorme porta de madeira maciça bege com vidros do apartamento de Effie, reformados em 2013, abriu-se num escancaro e de lá, entrava o jovem Peeta com um semblante mais desapontado do que cansado, no geral. Ele se surpreenderia ao ver Cinna jogado no sofá de sua casa àquela hora da madrugada, se não tivesse meses longe do amigo e se seu primeiro impulso não fosse abraçá-lo. Abraço esse que Cinna retribuiu, com carinho.

Hey boy. Há quanto tempo, não é mesmo? — Cinna levou as duas mãos ao rosto de Peeta, que o olhava com os olhos vermelhos.

— Valeu por aquele SMS, sabe? Eu acho que nunca te agradeci por aquilo. — Peeta tinha a intenção de agradecer Cinna por algo bem mais do que o SMS. A presença constante do melhor amigo de sua mãe em suas vidas era reconfortante. Cinna significava que não era Effie e Peeta contra o mundo. Mas suas palavras tinham limite de um sentimento por vez, e não o deixava expressar o que realmente queria. E, naquele estado, tudo o que Peeta pôde fazer era agradecer pela mensagem enviada há dois meses. Louco.

— Foi só o que eu pude fazer na época. Effie me contou hoje, num jantar maravilhoso que acabamos de ter, tudo o que aconteceu enquanto eu estive fora. Então, seu pai se chama Reinald?

Haymitch. — Peeta o corrigiu. — E ele acabou de saber que é meu pai.

Então, sem antes perguntar, ou se importar com circunstancias como tempo, local e condições físicas e emocionais, Peeta se pôs a fazer exatamente a mesma coisa que Effie fez há horas atrás: Confessar. Contou, em detalhes, toda a aproximação com seu pai e como lhe deu a noticia da paternidade. Cinna não era somente um mero espectador (como vocês) mas também era o ombro amigo de mãe e filho. Cinna sabia dos dois lados da história, aqueles que Effie não pode saber e aqueles que Cinna não pode sonhar em contar a ela. Peeta contou tudo, até mesmo sobre o detetive particular e sobre seus olhos pairando em Katniss Everdeen de tempos em tempos. Mas ele mal sabia se teria ou não Haymitch. Quanto mais a moça com olhos tempestuosos.

— Peeta, ele lhe pediu para não afastar. Então amanhã, (não tão cedo, nem tão tarde) você vai ao apartamento desse cara, e vão conversar de homem para homem. Ouça-o, e antes mesmo de ouvir o que ele tem a dizer, abaixe suas expectativas para não aumentar suas ilusões. A vida é toda sobre expectativas baixas, esse é o grande truque, porque quando algo for maior do que a encomenda ou finalmente fizer sentido, você sorri.

— Isso não é meio cruel? — Peeta cospe as palavras com sua dicção ruim, quase num tom inconformado. — Quero dizer, baixar as expectativas meio que mata toda a esperança que possa vir junto dela, não acha?

— Expectativas baixas geram conforto, Peeta. — Cinna diz, sabiamente. — Você sempre vai carregar as esperanças, principalmente durante a espera em ver se a vida vai surpreender ou não. E talvez eu tenha colocado de má forma, porque você pode ter um pouco de conforto em expectativas altas. Mas, por enquanto, seu conforto será num abraço no seu velho tio e em um descanso. Quem sabe, um banho? Incrível como tenho que mandar os membros dessa família tomarem banho quando estão bêbados.

— Effie está no banheiro? — Peeta riu num tom embriagado, levantando-se do sofá depois de abraçar Cinna quando o mesmo dizia.

— Sim, digo a ela que esteve dormindo o tempo todo com seu celular na sala. Agora vá, Peeta. Vá descansar.

Então, mesmo com os ombros pesados, Peeta despediu-se de Cinna e deu passos leves até seu quarto, onde tomaria banho no banheiro posto lá por Effie na reforma de 2004.

***

Katniss acordou num colchão no chão da cozinha de seu apartamento. Johanna a chamara de maluca diversas vezes, mais como uma forma carinhosa de se tratar uma a outra do que realmente fazer valer o que diz. Naquela noite, depois de discutir com Haymitch, Katniss sentiu pavor de se trancar no seu quarto. Pegou o colchão de sua cama de solteiro e o jogou no chão da cozinha, o que fez Johanna reconhecer que aquilo era um raro, porém ainda existente dramavindo da parte de Katniss, fazendo-a ignorá-la como uma criança levada e indo dormir no conforto de seu quarto mofado de janelas emperradas. Já a Everdeen comeu bolachas sem recheio até seu sono vir, e pensou que um maldito colchão na cozinha não faria diferença alguma, visto todas as coisas que estavam fora de lugar ultimamente. Era a primeira vez que Katniss enlouquecia.

Porém esse período durou menos do que 12 horas, quando ela abriu seus olhos e viu Haymitch sentado a mesa da cozinha.

— Eu dormi na cozinha uma vez, mas se eu fosse esperto como você, teria levado um colchão junto. Se eu não estivesse bêbado, teria pensado nisso. — Haymitch sorriu, levantando-se da cadeira e obrigando Katniss a se sentar no colchão para poder sentar-se do seu lado. — Você sabe o que eu quis dizer quando....

Você — Interrompeu Katniss — sabe o que eu quis dizer quando...

— Sei! — Haymitch interrompeu-a de volta. — Eu não tive a intenção de desmerecer você. Você é a razão pelo qual eu ainda permaneço aqui. Eu prometi ao seu pai que cuidaria de você quando ele me pediu. E depois que você me deu um safanão... vi que estava certa.

Katniss olhou para o rosto de Haymitch, com uma pose defensiva e olhos desconfiados.

— Katniss, você pode ajudar a me manter vivo? — Haymitch perguntou.

Katniss levantou-se do colchão. Ela andou até o sofá e pegou o moletom laranja florescente de Johanna e o vestiu. Cruzou os braços, e andou um pouco pela sala de seu apartamento, deixando Haymitch bufar sozinho no colchão. Quando voltou, disse um “Sim” sonolento para o velho amigo. Ela queria muito socar a própria cara por ainda sim cair na de Haymitch, mas não pode continuar pensando assim quando ele levantou e abraçou, ninando-a. Se eu fosse Johanna, daria um soco nele agora mesmo.

— Vem, eu fiz café.

Katniss seguiu Haymitch até a porta de seu apartamento. Quando aberta, ambos visualizaram Peeta Mellark sentado no sofá, mexendo no celular. Mellark, por outro lado, ao ver Haymitch e Katniss – com uma blusa laranja muito bizarra – levantou-se rapidamente do sofá e colocou o celular no bolso.

Essa era parte do encontro que ele não tinha planejado.

— Hãm... Haymitch, seu café é horrível. — Katniss falou, ainda olhando para Peeta. — Eu acho melhor ir ali, gastar uma fortuna ali num Starbucks. Até.

Katniss desceu as escadas até o andar de baixo numa calça cinza, moletom e pantufas e meias. Peeta, do lado de dentro do apartamento, sentiu-se culpado pela surpresa da moça e Haymitch, do lado de fora do apartamento, estava feliz por ver que o garoto não fora embora.

— Bom dia, Haymitch. — Disse Peeta, tendo remorso cinco segundos depois de dizer aquela frase estúpida. Você invade a casa dele e dá bom dia? Pensou. Haymitch, por outro lado, gargalhou.

— Bom dia, Peeta. — Respondeu.

Ele entrou em seu apartamento e seguiu para a cozinha, onde teve a sorte de encontrar duas xícaras inteiras e limpas para colocar o líquido preto, aguado e sem açúcar que ele tinha coragem de chamar de café.

— Me desculpe por entrar assim na sua casa, Haymitch. — Começou Peeta. — Eu até bati na porta, mas é que...

— A porta estava aberta, não é? — Haymitch perguntou, com as duas xícaras na mão, de costas para Peeta. Depois, virou-se para o garoto e sorriu. — E ela vai ficar sempre aberta pra você a partir de hoje, Peeta.

Haymitch tentou andar pelo apartamento sem derrubar as duas xícaras quentes na mão, enquanto Peeta – pobre Peeta – ainda processava o que ele dizia.

— Eu não quero saber como você descobriu tudo isso, garoto. — Haymitch começou. — Mas se você tem a certeza de que é meu filho, então você vai ser acolhido como um.

— Eu não estou pedindo pra você ser um pai, entende? — Peeta falou, tomando umas das xícaras de Haymitch e sentando-se no sofá. — Eu tive só minha mãe, e vivi muito bem assim. Não estou pedindo por feriados em família, nem que participe da minha vida, se não quiser. Eu só... precisava conhecê-lo, Haymitch. E eu o conheci. Vi que é um cara legal...

— Você quem é o cara legal daqui, Peeta. — Haymitch interrompeu, pensando no quanto era um cara legal que deveria 16 mil reais para Cuba — E eu não vou invadir seu espaço, nem sua família. Você tem irmãos, alias? — Haymitch perguntou, num sussurro. Peeta, do seu lado, gargalhou.

— Eu não sei.

— Certo, deixamos isso pra depois... Céus! — Haymitch falou, num surto de realidade. — Ok, voltando. Eu não vou invadir seu espaço. Mas eu estarei aqui, para participar do que você me permitir. Nada vai recuperar 23 anos perdidos, Peeta. Mas eu ainda quero ser seu amigo.

O Dicionário define a palavra conforto como: “Atmosfera agradável que rodeia o ser humano. Pode ser material como também em ambiente emocional”.

Peeta descobriu na prática, quando Cinna o confortou na noite anterior. Quando sua mãe o apoiou no jantar daquela noite. E quando Haymitch, seu pai, o abraçou depois daquelas palavras.


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