What If...? escrita por Miss Daydream


Capítulo 13
Capítulo 13 - Péssima ideia


Notas iniciais do capítulo

PRIMEIRAMENTE EU GOSTARIA DE AGRADECER PELA SEGUNDA RECOMENDAÇÃO DA FIC! Dreaming Girl você me fez tão feliz! Que recomendação mais linda! Chorei quando vi, muito muito obrigada! Este capítulo é especialmente dedicado a você!
SEGUNDAMENTE A FIC CHEGOU AOS 100 COMENTÁRIOS E ISSO ME DEIXA MUITO SATISFEITA! Vocês não tem noção do quão feliz eu fico em poder conversar com vocês! É ótimo poder ter leitores tão presentes quanto vocês, seus lindos!
TERCEIRAMENTE VOCÊS VIRAM O NOVO DESIGN DO LYSANDRE?! CARA EU MORRI O LYSANDRE TÁ SIJDHJIAJNDUSHNDJ LINDO ONTEM, HOJE, AMANHÃ E SEMPREEEEE!
Peço desculpas pela demora na postagem, na semana passada eu estava bem mal e chateada, e ler os comentários e a nova recomendação (além de reler a da Luna cullen) me deixou infinitamente mais feliz!
Aproveitem o novo capítulo e mais uma vez obrigada!



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Acordo com uma sensação estranha de que tem algo errado.

Minhas mãos estão frias como gelo, assim como a ponta do meu nariz. Não há luz no quarto e nem despertadores estridentes alheios.

– Argh... – resmungo tampando os olhos e enfiando a cara no travesseiro

Então eu sinto o cheiro dele. Num lugar onde realmente não deveria estar.

Os fatos me atingem feito uma coronhada na cabeça e eu sinto minha cabeça girar e girar, como se meu mundo fosse despencar. Na verdade, acredito que já tenha despencado, porque na noite passada eu beijei o Nathaniel.

EU BEIJEI O NATHANIEL!

Eu beijei o merda do representante de turma! O que é que eu vou fazer da minha vida agora?! Estou pensando seriamente em me bater ou me jogar de um penhasco!

Abro os olhos com cuidado, espiando o quarto. Como é que eu vou olhar na cara dele depois de... de... ARGH!

Suspiro de alivio ao perceber que ele não está no quarto, e percebo logo depois que estou atrasado. O que significa que a minha cabeça não está me pregando uma peça daquelas e o Nathaniel, provavelmente muito envergonhado e com aquela cara de bocó dele, já saiu do quarto faz um bom tempo, sem me acordar e sem me encher o saco, porque está tentando com afinco não deixar a situação ainda mais constrangedora.

Mas o grande problema é que não há como ficar mais constrangedor do que isto!

Levo a mão até meus lábios, como se ainda pudesse ter algum vestígio do que aconteceu ali. Eles estão inchados, mas até aí o meu rosto inteiro também está inchado. Levo as duas mãos até a cabeça e puxo com força meus cabelos.

Porque eu tenho que ser tão burro?!

Quer dizer, que é que eu estava pensando?! Com toda aquela pose de educação e gentileza, deixar ele deitar no meu braço e na minha cama, ficar se apoiando em mim e... Logo depois beijá-lo?!

Que caralhos eu estava pensando?!

E ele nem me afastou. Ele correspondeu! Acho que falo por nós dois quando digo que não faço ideia do que nos levou a isso.

Mas também há uma remota parte de mim que está gritando sobre como o representante de merda beija bem. E que talvez, apenas talvez, não fosse tão completamente repugnante como eu pensei que seria...

Ah, vai tomar no cu! Era só o que me faltava!

– Ok – puxo os cabelos com força novamente e me dou um tapinha na cara – Ok. A merda já tá feita Castiel. Vocês já... Já fizeram a merda. Então não tem com o que se preocupar certo?

Errado! Errado demais até pra mim! E ainda por cima falar sozinho?! Aquele imbecil deve ter me passado algum tipo de vírus de escrotisse enquanto enfiava aquela maldita língua na minha boca!

Falando nisso, eu preciso me lavar! Levanto correndo e com a língua pra fora, chegando perto da pia do banheiro e enxaguando-a loucamente. Quando me olho no espelho percebo que tenho as bochechas coradas.

Isso não pode estar acontecendo!

Olho para o relógio e percebo que já perdi a primeira aula, e que se quero chegar a tempo para a segunda, e para a minha maldita prova, tenho que tomar um banho rápido agora mesmo e sair voando pelos corredores.

Tiro minhas roupas e as jogo em um canto do banheiro, derrubando alguns potes. Quando entro debaixo do chuveiro, tento esquecer o que o Nathaniel toma banho aqui também. E tento esquecer o Nathaniel também. E do fato de que a gente se beijou.

Um arrepio me sobe pela espinha e eu enfio a cabeça debaixo da água gelada, mesmo que estejamos no inverno.

Situações drásticas pedem medidas drásticas.

***

Encaro a porta por alguns segundos, antes de entrar na sala.

Tento andar o mais descontraído possível, mas quando encontro o par de olhos dourados que tanto me atormentam, é como se minha tentativa de compostura fosse jogada inteirinha pelo ralo.

Percebo sua pele um pouco mais bronzeada que a minha ficar em tom escarlate até que ele desvie o olhar para baixo, escrevendo avidamente e me ignorando. Desvio o olhar também, rezando para que ninguém nesta maldita sala perceba meu constrangimento.

As fileiras estão separadas, então eu tenho a desculpa perfeita para ficar na última carteira ao lado da janela, a mais isolada de todas.

– Você esqueceu isso no meu quarto ontem. – Lysandre me toca o ombro e eu dou um pulo com o susto

Olho para a chave em cima da minha mesa e a guardo dentro do bolso, tentando fingir casualidade.

– Você está bem, Castiel? – ele me pergunta, estranhando meu comportamento – Parece que algum bicho te mordeu...

Não chegou a este ponto, mas acho que é isso mesmo.

– Estou ótimo – rosno em sua direção – Melhor impossível. Agora quer sair da minha mesa? Tá me desconcentrando.

Lysandre me encara meio chateado e logo depois procura por Elizabeth do outro lado da sala, que parece ter um ponto de interrogação estampado no rosto.

– Você está chateado com a gente? – ele pergunta ainda muito polido apesar de minhas grosserias – Ou nervoso com a prova?

– Pedi pra sair. – respondo ainda mais irritado, virando a cabeça em direção à janela – Não me faça falar duas vezes.

Sinto seu olhar queimando na minha nuca, e finalmente ouço um suspiro e o ranger de sua cadeira se arrastando contra o chão.

– Muito bem, todo mundo quieto. – o professor baixinho de literatura fala calmamente, ajeitando os óculos – Espero que todos tenham lido de fato o livro, porque a prova se trata de assuntos bem específicos.

Um monte de gente na sala bufa e suspira, muito provavelmente porque nem se deram ao trabalho na verdade. Não estou entre eles pela primeira vez.

– Ah, qual é gente – Sr. Brunner dá um sorrisinho, ajeitando os óculos novamente – Quem leu sabe que apesar de a linguagem ser rebuscada e um saco, os contos são bem legais.

– São muito sem noção, se quer saber – Alexy fala emburrado, e Kentin lhe dá uma cotovelada – Ai!

– Bem, quem leu sabe dessas informações meu caro – o professor dá um sorrisinho para Alexy e Kentin, e o moreno sorri sem graça – 1, 2... Pegue uma e passe para trás Melody.

Brunner é um dos poucos professores que eu suporto. Porque ele não é hipócrita. Ele é engraçado e irônico, além de mostrar todos os dias o quanto ele não está nem aí pra gente. Ele nem me enche a paciência quando eu durmo em suas aulas.

Assim que as folhas de papel chegam às minhas mãos, não posso evitar lançar um olhar para Nathaniel, mas ele está concentrado e virado para frente, de modo que só consigo enxergar seus cabelos loiros e as costas da camisa.

Volto meu olhar para a prova.

É agora ou nunca. Não vou deixar que tudo o que aconteceu ontem tenha sido em vão. Espero que Nathaniel também saiba disso.

***

Saio acabado da sala. Fui um dos últimos a entregar a prova, e nunca imaginei que viveria para que esse momento acontecesse. Nunca escrevi tanto na minha vida...

Massageio os nós dos dedos com força, tentando me livrar das câimbras. Ao menos, eu sabia quase todas as questões e dei o meu melhor, o que não é muito, mas já vale alguma coisa.

– Castiel! – sinto as mãos pequeninas de Elizabeth nos meus ombros, e desvio rapidamente fazendo-a bambear e quase cair de cara no chão

– Não me encosta... – bufo de maneira irritada e continuo andando

– A TPM atacou feio hoje ein? – ela diz fechando a cara – Você foi malvado até com o Lysandre! O que ele te fez? O Lysandre é tão amável...

– Achei que a sua quedinha fosse pelo Nathaniel – sorrio com escárnio, olhando de canto para ela

– Não estou falando do Nathaniel! – ela grita, com a voz esganiçada de vergonha – Não meta-o nisso.

– Então não meta o Lysandre no meu mau humor. – replico irritado balançando a cabeça – Me deixe em paz.

– Só queria saber se você tinha ido bem na prova! Não seja tão estúpido o tempo todo! – ela ralha comigo, me fazendo parar no lugar e virar lentamente para ela

– Ora me desculpe se não sou tão “amável” quanto Lysandre ou Nathaniel para você, mas é assim que eu me viro! – grito chegando mais perto dela, que não parece se intimidar de jeito nenhum – Se você não sabia disso, é porque é mais burra do que eu imaginei. Agora vê se larga do meu pé, garota.

– Não vou “largar do seu pé” – ela faz aspas com as mãos, numa tentativa fajuta de imitar minha voz – coisa nenhuma! Sou sua amiga, poxa! Me preocupo com você Castiel.

– Ah é?! – grito, sem nem sequer cogitar abaixar a voz ou me controlar, porque tem muita raiva acumulada – Sério mesmo?! Legal essa sua preocupação toda! Engraçado é que até ontem, ela não existia! Porque quando eu precisei vocês sequer moveram um dedo para me ajudar, tanto que o único que fez alguma coisa foi o Nathaniel!

Elizabeth parece querer retrucar, mas então se cala. Ela me olha incrédula.

– O Nathaniel? – pergunta num misto de incredulidade e curiosidade – Vocês... É... Se resolveram...?

Tenho a sensação de que acabei falando demais...

– Não é da sua conta.

– Desculpe Castiel, não pensei que você fosse ficar tão chateado assim! – ela apóia a mão em meu ombro novamente – Era só você ter pedido, afinal somos amigos!

– Você não é minha amiga – solto um muxoxo irritado – Você é só uma bisbilhoteira que adora saber da vida dos outros.

Elizabeth me olha bastante magoada, como se eu tivesse lhe dado um tapa na cara.

Saio pisando forte, e dessa vez ela não me segue.

***

Passei na cantina, peguei o meu almoço e saí quase correndo dali. Ninguém se atreveu a falar comigo, provavelmente não querendo atiçar mais ainda a fera.

Quando passo pelo corredor, rumo ao meu esconderijo no final do corredor perto do porão, pego um pequeno vestígio da conversa entre Kentin e os gêmeos, que não parecem me perceber.

–... realmente estúpido – o azulado diz indignado – Nunca vi isso, que será que aconteceu?

– Talvez tenham brigado? – Armin palpita – Todos nós sabemos que aqueles dois no mesmo cubículo nunca dariam certo.

– Todos uma vírgula! Não se esqueça da nossa aposta. – Alexy mostra a língua para o irmão no gesto mais infantil de todos

– Estou ganhando, então. – o de olhos azuis desdenha

– Só sei que ele não precisava ter me tratado daquele jeito – Kentin diz com os braços cruzados na frente do peito e um biquinho estúpido – Era só me dizer que os papéis estavam no grêmio!

– Ele nunca age assim, então é estranho de verdade – Alexy volta a falar – Mas mesmo assim, todo mundo tem dias bons e ruins. Ele deve estar num dos ruins, só isso.

– Não era motivo pra gritar comigo na frente da sala! – o moreno continua emburrado – Todo mundo riu! Caramba ele parecia até o Castiel...

– Bom dia Nathaniel! – Armin diz segurando o riso

Kentin olha para trás com cara de idiota e completamente amedrontado, só para finalmente se dar conta de que não tem Nathaniel nenhum.

Os gêmeos caem na gargalhada, Alexy se apoiando nos armários e Armin segurando a barriga.

– Idiotas! Vocês vivem pra me atazanar!

– Agora além de morrer de medo do Castiel, ele também treme nas bases por causa do presidente do grêmio estudantil!

– Cuidado, eles podem fazer um complô pra te bater qualquer dia desses! – Armin ri descontroladamente

– Que besteira, ele não faz mal a uma mosca! – Kentin solta um suspiro nervoso, olhando para os lados só para se certificar – O que ele vai fazer? Jogar algumas papeladas em mim? Pfff...

– Se eu fosse você não teria tanta certeza assim – os olhos de Alexy brilham estranhamente – Ouvi dizer que ele luta boxe! E pelas observações da sua amada Lizzie, é o melhor dos lutadores da academia onde pratica!

– N-Não fale besteiras, Alexy...

Afasto-me com cuidado para não ser notado, ao perceber que o assunto ficou banal novamente.

Será que o fato de eu tê-lo beijado o deixou tão nervoso assim? Bem, deixou-o nervoso o suficiente para me evitar o dia inteiro então...

– Ahh, por favor Nath! – ouço a voz esganiçada da Ambre e me escondo de novo atrás de alguns armários

Que merda, será que eu não vou poder almoçar em paz?!

– Já disse pra você se virar, não tenho tempo para suas besteiras – a voz do representante sai irritada – Além disso, você não está sabendo? Eu e o Castiel nos detestamos.

– Não foi sempre assim!

– Mas agora é, então some daqui.

– É só uma perguntinha! – ela grita com a voz manhosa – Não vai te arrancar nenhum pedaço!

– Tratando-se dele é bem possível que me arranque sim. – Nathaniel rebate contrariado – E porque é que eu preciso perguntar? Faça você mesma.

– Vocês dividem o quarto, é bem mais fácil ele te ouvir do que me ouvir!

Nathaniel solta uma risada irônica, mas controlada, parecendo utilizar todos os nervos do seu corpo para não gritar com a irmã ali mesmo.

– Acho que você não tem muita capacidade de percepção... – ele diz com escárnio e ouço o pé da Ambre bater forte contra o chão

– Espera só até eu contar para o papai que você está sendo mal comigo! – ela grita como uma criança mimada – Você vai ver.

– Será que você não sabe argumentar sozinha? – a voz dele está nervosa agora, como se a ameaça da Ambre fosse realmente algo muito sério

– Você é um péssimo irmão!

Ouço passos ecoarem pelo corredor.

– Não vai mesmo me ajudar?! – Ambre grita irritada e começa a sair para ir atrás do irmão quando eu me revelo do meu esconderijo

– O que você quer comigo?

***

Entro no quarto escancarando a porta com força, de modo que ela bate na parede e assusta Nathaniel em sua escrivaninha.

Ele nem me olha nos olhos, apenas balança a mão na minha direção enquanto segura um papel muito conhecido meu.

– Que é isso? – pergunto, apesar de já saber a resposta

– Folha de ausência – ele responde, me evitando a todo o custo

– E porque eu tenho que assinar? – nem sei o porque de eu puxar papo, mas o faço

– Você não foi à primeira aula hoje. – o loiro revira os olhos e balança a mão com o papel novamente

Ergo a minha para pegar a folha, e nossas mãos se encostam minimamente. Ele me olha assustado e recua, com as bochechas vermelhas.

Jogo-me na minha cama, onde ainda há o cheiro dele.

O silêncio começa a ficar constrangedor (até mesmo para o nosso nível) e eu decido falar algo.

– Eu acho que fui bem pra cacete na prova hoje – anuncio exibido

– Hm.

– Sabia todas as questões.

– Ainda bem, pelo menos minha garganta não está doendo em vão. – ele nem tira os olhos de seus papéis

Silêncio constrangedor novamente.

Solto uns grunhidos ininteligíveis, me remexendo na cama incessantemente.

– Castiel, será que você pode parar, por favor? – ouço-o dizer – Está me atrapalhando.

– Não.

Ele vira-se de lado incrédulo.

– Como assim “não”?

– Olhe para mim.

– Você não pode estar falando sério...

– Olhe para mim cacete!

Ele ergue o olhar e finalmente seus olhos dourados encaram os meus. Há constrangimento. Arrependimento. Incredulidade. E alguma coisa que eu não sei definir.

– O que você quer?

– Obrigado. – forço a palavra pela garganta, e percebo que não a uso faz um bom tempo

Nathaniel me olha muito surpreso.

– Obrigado por ter me ajudado... – coço a cabeça – Aprecio muito o seu gesto.

– Você...

– Não fala nada, já está sendo complicado sem você abrir essa sua boca. – bufo irritado – Posso não ser a pessoa mais educada do mundo, mas o que você fez por mim não tem tamanho. Te devo uma.

– Ora, você não me deve nada. – ele franze os lábios

Depois de alguns minutos de um jogo de encarar que parecia interminável, finalmente ele desvia o olhar e se volta para a escrivaninha.

– Nathaniel, escuta. Sobre ontem...

– Já te disse que não precisa me agradecer por ler pra você. E você não me deve nada, não importa. – ele continua de olho nos papéis

– Não sobre isso, é sobre... Argh. – tampo o rosto com as mãos

– Já sei Castiel. – ele replica com a voz chateada de um modo que eu só ouvi uma vez – Não aconteceu, não será levado em conta. – ele diz com palavras duras – Não fará diferença nenhuma na sua vida ou na minha. A gente já pode voltar a se odiar e fingir que não aconteceu.

Isso me atinge mais do que deveria, e é como se eu tivesse sido acertado em cheio no estômago.

– Nathaniel eu não ia...

– Eu não vou te atrapalhar, e nem interferir na sua vida. – Nathaniel continua e eu lentamente perco a paciência – E muito menos você na minha. Esse assunto morreu assim que começou.

– E quem é você pra decidir isso?! – grito com raiva, porque ah... Porra

– Não que isso importe para você de qualquer maneira, mas a minha opinião é bem importante num assunto em que eu estou envolvido. – ele aperta os papéis

– Então fique o mais longe possível de mim a partir de agora, representante! – minhas palavras saem carregadas de ódio – Aliás, jamais deveria ter se aproximado de novo. Eu juro que se você...

– Eu não vou contar nada. – a voz dele vacila – E é melhor você ficar calado também.

– Eu sei o que faço ou deixo de fazer. – sorrio com descaso – Fique longe de mim, está ouvindo?! Se você respirar perto de mim, eu nem sei o que sou capaz de fazer!

Ele me encara novamente. Com repugnância e chateação no olhar. Seu rosto fica vermelho, mas dessa vez está bem claro que é por causa da raiva.

– A gente divide o quarto, delinquente. – sua voz é quase mecânica – Se eu pudesse, sequer olharia para essa sua cara até o fim da minha vida.

– Então tá! – grito, catando as minhas coisas

– Então tá.

Bato a porta com força assim que saio, ouvindo o que parece ser um soco na parede em resposta, mas não olho para trás.

Porque decidi aceitar o convite da Ambre.

***

Não acredito que aceitei o convite da Ambre.

Pessoas com raiva não deveriam ter o direito de tomar decisões impulsivas. Mas até acho que posso tirar proveito se sumir da vista dela.

Estamos na parte de trás de uma caminhonete abarrotada de gente. O vento castigando meu rosto e meus cabelos. Tem no mínimo cerca de dez pessoas amassadas com a gente.

Só para variar, a insuportável trouxe as amigas imbecis. Li é tão besta quanto o projeto de Regina George. Charlotte é no mínimo misteriosa, chegando a ganhar do Lysandre nos quesitos de quietude. Nada contra ela até agora, parece até ser legal. Trocamos algumas palavras, antes de Ambre se enfiar no meio da gente e acusá-la de “ladra de namorados” achando que eu não estava ouvindo.

Tem cada gente esquisita aqui que até me surpreendo. Adolescentes dos mais variados tipos, desde os mauricinhos iguais à Ambre até uns caras que parecem estar saindo da condicional. Desde que entrei aqui tenho a loira e um cara muito esquisito se esfregando em mim. Chego até a sentir nojo.

Se arrependimento matasse...

Fecho os olhos e tento me concentrar no vento gelado e noturno. Mas assim que o faço, o rosto de Nathaniel vem a minha cabeça e quase consigo sentir um de seus suspiros em meu rosto. Sorrio amargamente e sinto uma pressão esquisita no estômago, até perceber o quão isso é bizarro e abrir novamente os olhos.

Assim que chegamos a tal casa noturna, eu praticamente me jogo para fora do veículo, em busca de espaço pessoal.

Mal consigo respirar direito e já sinto um puxão forte no meu braço esquerdo. Ergo a mão em forma de punho, e percebo que Ambre se enroscou em mim.

– Nem acredito que isso está acontecendo. – ela me olha sonhadora – Tenho que agradecê-lo depois.

– Que?! – exclamo com repugnância, até perceber que algumas pessoas nos olham com curiosidade – Me agradecer pelo que exatamente?

– Não você – ela solta uma risadinha esganiçada e insuportável, recebendo um sinal de positivo da Li – Quero dizer, você também. Mas não pensei que o Nath ia realmente interferir em algo e conversar com o ex melhor amigo dele.

– Que porra você tá dizendo?

– Você sabe muito bem – ela me cutuca e eu rezo para que a fila ande logo – O Nath não falou com você?

– Ah falou sim – reviro os olhos só de lembrar, sentindo um aperto no peito – Falou muito. Até demais.

– Ah isso é ótimo! – ela solta um berro estridente – Como recompensa não conto que ele não me ajudou com o livro ou com as colas.

– Contar a quem? – puxo papo contra a minha vontade, porque talvez essa seja minha única chance de descobrir porque de ele agir tão estranho em relação à vida pessoal

– Ao meu pai oras – ela sorri maldosa – Seria um final de semana terrível para ele se eu dissesse qualquer coisa.

– Como assim, terrível? – pergunto genuinamente confuso

– Ah você sabe como, bobinho. – ela ri novamente, e me pergunto se ela está bêbada

– Não.

– Ora, é que... – ela começa a dizer, mas então um burburinho acontece e todos começam a correr e nos empurrar para dentro do local

Mal iluminado, mal cheiroso e com música ruim. O lugar tem um aspecto terrível e abandonado, mas não é como se eu nunca tivesse visto nada pior. Esgueiro-me para longe de Ambre na primeira oportunidade, indo direto para o bar mal cuidado e sujo.

– Me vê duas doses aí. – ergo os dedos indicador e médio para o barman e coloco o dinheiro em cima do balcão – Da coisa mais forte que você tiver, não me importo com o que.

O cara nem me pergunta nada, só desaparece lá dentro, indo buscar o que eu pedi. Pego um dos meus cigarros e acendo com meu isqueiro negro, pouco me importando de estarmos em um lugar fechado porque tem coisas bem piores do que a fumaça de um cigarro rolando aqui dentro.

Paro para pensar do que disse para o representante e me arrependo quase instantaneamente. Não sei o que ele fez com a minha cabeça, mas com certeza não foi coisa boa. Sinto-me estranhamente mal com o que tive que ouvir. Ele deve estar tão enojado que nem deve ter pensado antes de dizer aquelas coisas. Logo ele, que é tão centrado e estupidamente perfeito em tudo o que faz. Que é tão bom com as palavras.

Dou um soquinho no balcão, com raiva.

– Castiel! – Ambre grita no meu ouvido e eu me controlo ao máximo para não brigar com ela – Acabamos nos perdendo, mas ainda bem que eu te achei! Você gostaria de vir comigo para um lugar mais... Reservado?

Assim que ela diz isso, o barman chega com dois copos.

Viro os dois de uma vez e a sigo pelo salão.

***

– Nem acredito que isso está acontecendo... – Ambre diz sofregamente entre um beijo e outro

Ela me trouxe até a maldita caminhonete, mas desta vez estamos fechados no banco da frente. Assim que entrei na caminhonete, ela me empurrou e subiu em cima de mim, praticamente me atacando.

Tudo o que consigo pensar é em como o gosto dela é diferente do irmão, e em quanto é enjoativo ouvi-la gemer sem motivo nenhum no meu ouvido.

– Castiel... – ela sorri para mim, abaixando a blusa e revelando metade de seu sutiã escarlate

Logo depois, ela ataca meu pescoço e eu abro os olhos, olhando para fora do carro.

Uma silhueta se aproxima, encostando-se na janela e abaixando o tronco lentamente. Quando percebo a quem a silhueta vestindo uma camiseta azul pertence, já é tarde demais.

Nathaniel nos olha divertido, como se me tivesse pego no flagra. Ambre nem parece perceber, só se importa em deixar marcas pelo meu pescoço.

– Olha só, decidiu vir é? – o loiro fala divertido, apoiado na janela

– E-Eu posso explicar. – tento me recompor inutilmente, ignorando os chupões da Ambre

– A Ambre tem medidas de modelo sabia? Muito bonita, é verdade – ele afasta o cabelo dos olhos, abrindo ainda mais o sorriso – Mas é engraçada essa sua escolha sabe? Porque ela é tipo 50% geneticamente idêntica a mim.

– Nathaniel, espera aí... – tento falar, afastando o pescoço da irmã dele, de modo que ela sobe para minha orelha, atacando meu lóbulo esquerdo

– É que, você sabe, nós somos gêmeos. – ele ri – Que conveniente pra você. Além do fato de ela ser menina né, o que te livra um pouco do constrangimento.

– Ei!

– Enfim, divirta-se pegando minha irmã – ele faz sinal de continência sorrindo um sorriso tão cínico que me deixa arrepiado – Só avisando que, se você continuar, eu nunca, mas nunca mesmo, vou gostar de você. Em hipótese alguma. Sem chance.

– Não Nate, não!

– Continue com isso e tenha em mente que eu nunca mais vou olhar pra essa sua cara de delinquente. Nunca! – ele se afasta um pouco do carro e faz um sinal estranho com as mãos – Idiota!

Logo depois uma fumaça vermelha e laranja o envolve, e ele desaparece com uma explosão muito estranha de fogos de artifício.

Acordo do meu devaneio (que no mínimo pode ser considerado esquisito e doente) com os lábios colados aos de Ambre, que continua me puxando.

– A-Ahm, dá licença aqui rapidinho – afasto-a com a mão esquerda com mais força do que eu esperava, e ela bate as costas contra o banco do passageiro

– O que aconteceu? – ela pergunta fazendo bico

– Eu não sei o que me trouxe aqui, mas ficar com você com certeza não estava nos meus planos – começo a ajeitar a jaqueta e limpo minha boca

– Mas você me seguiu! Aceitou todas as minhas insinuações! Castiel... – ela tenta subir em cima de mim novamente, mas eu estou tão assustado com a perspectiva do Nathaniel de verdade aparecer, que a empurro novamente e ela bate a cabeça no volante, tocando a buzina

– Sai daqui! – começo a abrir a porta, ainda meio tonto – E é melhor não contar isso para ninguém entendeu?!

Saio correndo pela rua escura sem dar nenhuma chance de ela me responder. Eu preciso encontrar um ônibus ou um táxi para voltar pra escola...

Ah tá, voltar pra escola?! E dormir no mesmo quarto que o representante depois de... Depois de... Eu nem sei dizer o que foi aquilo porra!

Passo as mãos pelos cabelos, meio sem rumo e repenso tudo.

Não sei o que mais me assusta: a pequena possibilidade de eu estar remotamente começando a gostar de Nathaniel ou o fato do meu subconsciente ter a forma dele e saber que gêmeos bivitelinos são 50% idênticos uns aos outros.


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Notas finais do capítulo

Me desculpem se tiver algum erro, fui escrever uma redação em inglês e agora meu Word aderiu ao dicionário internacional! Tá uma tristeza corrigir erros e concordância :c
E AÍ?! Vocês tavam achando que eles iam se pegar de novo né? Desculpe decepcioná-los (eu também adoraria que eles se pegassem de novo ;-;) mas eu queria algo mais realista entre os dois. Comentem o que vocês estão achando (insira um coração aqui porque o Nyah tá de palhaçada comigo)
Gente, gostaria de compartilhar algo com vocês! Eu sou atriz, e neste ano estamos produzindo uma adaptação do livro O Cortiço do Aluísio de Azevedo (aquele do vestibular mesmo), que acontecerá nos dias atuais! Quem já leu sabe que no livro existe uma personagem chamada Pombinha, que é chamada de "a flor do Cortiço". O Cortiço é praticamente uma favela, e a Pombinha não se encaixa lá. Ela é de origem muito pobre, mas a mãe gasta tudo o que elas tem em investimentos na menina. A Pombinha é a única no lugar que usa vestidos de renda e que sabe ler e escrever. Na adaptação, a Pombinha ganhou o nome de Paloma, e eu vou interpretá-la! A Paloma é estudante de Letras e está no quarto ano da faculdade, tendo apenas 20 anos. No livro, ela tem um pretendente rico com quem vai se casar para sair daquela miséria, mas não pode se unir a ele porque ainda não menstruou. Já na nossa adaptação, ela tem um namorado a quem não ama, que é muito frio e insensível. Então ela conhece a Graziela (que seria a Leónie, uma prostituta na história original e na adaptação) e acaba se envolvendo com ela (aquela carinha).
Agora a parte boa: A Paloma é como uma versão feminina do Nathaniel! Ela é muito fechada e um pouco solitária, além de inteligentíssima e de saber falar quatro línguas diferentes. Ela viveu pouco, porque está sempre de olho na prima, que vive quebrando a cara por querer ser modelo. Quando ela conhece a Grazi (que é o OPOSTO dela em todos os sentidos) ela acaba conhecendo muitos outros lados da vida hehehehe
"E o que você quer com esse texto inútil todo, ein Daydream?" Se você chegou aqui, peço para que me envie sugestões para cenas! Acho vocês muito criativos, e adoraria ler o que vocês pensam! Estamos lutando muito para que relações homossexuais sejam mais aceitas na sociedade, e pode até não parecer tão ruim visto daqui, mas a luta tá sendo mais difícil do que muitos imaginam! Esperamos com a Paloma e a Grazi, fazer com que as pessoas aceitem melhor toda essa história. Então se tiverem ideias e quiserem compartilhar, me avisem! Eu aviso para o meu professor que foram meus leitores maravilhosos que deram as ideias ~coração aqui de novo~
Agora, mudando bruscamente de assunto: QUANDO O CRUSH DIZ QUE SONHOU QUE VOCÊ ESTAVA NAMORANDO COM ELE É UM BOM SINAL??? PORQUE EU FIQUEI NAS NUVENS VIU!!!!!